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CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO

3. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

3.6. Procedimentos de análise dos dados

Após a realização das entrevistas, estas foram transcritas do formato áudio para o programa Microsoft Office ® formato Word®, com o intuito de diminuir a perda de informação, preservando

os momentos de pausas, risos, bem como as anotações dos acenos de cabeça ou encolhimento de ombros, enquanto linguagem não verbal significativa. As entrevistas foram codificadas com a letra E, de entrevista, seguida de um número, do 1 ao 16, assim a entrevista E1 corresponde à entrevista número 1, garantindo a confidencialidade dos participantes. As narrativas foram revistas com a finalidade de assegurar a não identificação dos serviços e/ou profissionais de saúde que pudessem ter sido mencionados pelos entrevistados.

A análise dos dados qualitativos do estudo foi realizada através da análise de conteúdo, por ser a mais adequada para estudar opiniões, valores e motivações, tendo subjacente as perspetivas de Amado (2014) e Streubert e Carpenter (2013). A análise de conteúdo fornece informações complementares de uma mensagem ao leitor critico que deseja distanciar-se da sua leitura ‘aderente’, visando aprofundar o conhecimento do texto sobre o qual se debruça o seu estudo através da organização da análise; a codificação de resultados; as categorizações e as inferências (Bardin, 2018). As leituras inicialmente ‘flutuantes’, ou seja, em que o investigador hesita entre muitas possibilidades, mas seleciona em função do quadro de referência, tornam-se cada vez mais seguras, minuciosas e decisivas (Amado, 2014).

Este processo de análise de conteúdo assentou num movimento de vaivém, que se construiu do essencialmente do empírico para o teórico, num raciocínio mais indutivo contruindo a maioria das categorias à posteriori a partir da leitura do corpus documental. Procurou-se codificar este

corpus considerando a exaustividade; exclusividade; homogeneidade; pertinência; objetividade

e produtividade das categorias, através das leituras sucessivas (Costa & Amado, 2018; Amado, 2014). Estas leituras permitiram a diferenciação vertical através do recorte de unidades de significação, nas respostas a cada pergunta, documento a documento, no sentido de serem reagrupadas num sistema de categorias de conteúdo semelhante que traduzissem as ideias- chave (Amado, 2014). Deste modo, durante o processo de codificação, foram selecionados recortes correspondendo a unidades de significação posteriormente agrupadas em diferentes subcategorias, pertencentes às categorias organizadas pelos temas fundamentais. Neste processo os dados foram confrontados sistematicamente até alcançar uma matriz categorial satisfatória, para responder aos objetivos do estudo, recorrendo a investigadora a juízes especialistas, nas pessoas da orientadora e coorientadora, que procederam à validação das categorias apuradas, conforme preconizado por Amado (2014).

As entrevistas foram codificadas com recurso ao WebQDA®, enquanto software destinado à

investigação qualitativa que permite codificar e questionar os dados com o objetivo de responder às questões de investigação Amado, 2014; Souza, Costa, & Moreira, 2014; Costa et al., 2016). Constituíram-se os Códigos Árvore (Souza et al., 2014), isto é, a codificação em árvore cujos “ramos” incluem os temas, categorias e subcategorias de acordo com a taxonomia adotada por Streubert e Carpenter (2013) e Amado (2014). As descrições dos conceitos adotados, enquanto códigos referentes aos temas, categorias e subcategorias, encontram-se definidas no item “Detalhes” do WebQDA®, associando cada definição de conceito ao respetivo código para as

diversas unidades de recorte do corpus documental. O software possibilitou, assim, a indexação dos ficheiros das entrevistas, visando a seleção de partes do texto para respetiva codificação coerente com os objetivos previamente delineados (Costa & Amado, 2018), sendo identificadas as unidades de recorte com respetiva fonte, conforme anteriormente enunciado (E1; E2; etc.) ao longo do subcapítulo da apresentação das evidências afim de as fundamentar nas descrições dos participantes.

Toda esta descrição pretende contribuir para a explicitação e rigor empenhado na concretização deste estudo, sendo que a “finalidade do rigor na investigação qualitativa é representar rigorosamente as experiências dos participantes” (Streubert e Carpenter, 2013, p. 49), na tentativa de evidenciar a confirmabilidade deste estudo “de modo a que outro investigador possa seguir o mesmo percurso” (idem, p. 50). Procurou-se, assim, no decurso deste estudo, conferir- lhe credibilidade (Streubert e Carpenter, 2013), tendo verificado que os achados refletiam a visão dos participantes. Para tal, ainda que não tivesse sido possível aceder a todos os participantes entrevistados devido a restrições relacionadas com a pandemia por Covid-19, as evidências do estudo foram apresentadas ao mediador cultural de etnia cigana (mantendo a confidencialidade das fontes). Recorreu-se ao mediador cultural sustentando-se no facto de que na etnia destas famílias, o mediador cultural é conhecedor das situações e preocupações de toda a comunidade cigana e reconhecido pela Lei n.º 105/2001 de 31 de agosto que estabelece o estatuto legal do

mediador sociocultural, tornando-se um representante das vozes das famílias de etnia cigana das diversas comunidades sua região. Este mediador também foi um dos participantes desta investigação, estando mais contextualizado com o próprio estudo. O mediador cultural de etnia cigana de Águeda reconheceu todas as evidências deste estudo como verdadeiras e tradutoras da realidade das famílias de etnia cigana pertencentes à USF Águeda + Saúde. Este processo contribuiu também para a segurança dos dados.

Relativamente à transferibilidade dos achados, que implica a probabilidade destes terem significado para contextos semelhantes, convém ressalvar que, no âmbito da investigação qualitativa, a determinação das evidências serem transferíveis será dos potenciais utilizadores dessas evidências e não do investigador (Streubert e Carpenter, 2013). Assim, procurando conferir confiabilidade aos achados desta investigação através dos conceitos anteriormente mencionados, não se pode deixar de mencionar que o caráter qualitativo desta investigação, deixa de parte uma perspetiva positivista, podendo ser possível aceder a outras interpretações, pois como já foi referido anteriormente, o investigador torna-se instrumento na procura do conhecimento, tendo sempre inerentes as suas caraterísticas individuais (idem).

A técnica de análise de conteúdo assumiu-se como fundamental na compreensão da temática em estudo, sendo que ao tratar dados empíricos que refletem as vivências e necessidades das pessoas, é também produtora de resultados sensíveis ao cuidar em enfermagem, traduzindo-se em excelência no exercício da profissão, pois procurar-se-á adequar os cuidados à luz da interpretação dos dados analisados.