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3 METODOLOGIA

3.3 Procedimentos de coleta de dados e composição do corpus

3.3.1 O Questionário

Para o desenvolvimento deste estudo, foram aplicados dois instrumentos de coleta de dados. O primeiro deles tratou-se de um questionário estruturado com perguntas objetivas e subjetivas, cuja finalidade foi elicitar dados sobre:

1) Identificação – nome; idade; gênero; nacionalidade; naturalidade; grau de surdez e como foi atestado; filiação com idades da(s)-do(s) genitora(s)-genitor(es); quantidade de irmãs-irmãos com idade(s); se irmãs-irmãos, posição na sequência de nascimento entre elas-eles; se genitora(s)-genitor(es) e irmãs-irmãos são ouvintes ou surdos; se surdos, surdez congênita ou adquirida e seu grau e se falam LIBRAS desde quando e como aprenderam; se falam Libras no caso de serem ouvintes;

2) O processo de aprendizagem da Libras – de modo natural no lar desde o nascimento; via instrução fora do lar e a partir de que idade; se a Libras é falada no lar; se sim, como língua predominante ou de apoio em decorrência de haver um membro surdo na família;

3) O processo de aprendizagem da língua portuguesa – se o português escrito é L2, sem ter havido nenhuma tentativa de oralização; se aprendizagem começou via instrução

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Os dados relacionados à fluência dos participantes em Libras foram baseados em suas respostas ao questionário, conforme Quadro 4.

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informal no lar; se aprendizagem tem sido exclusivamente via instrução formal no ICES e nas escolas anteriores; se estuda no ICES desde o sexto ano do Ensino Fundamental; se não, em que série entrou no ICES e em que escolas estudou antes; como avalia o próprio nível de proficiência leitora e escrita em português; frequência de leitura e de escrita em português na escola e fora dela e tipos de textos lidos e escritos, bem como as finalidades das leituras e textos escritos; se desenvolveu a habilidade de leitura labial; impacto da Educação Básica na leitura e produção de textos em língua portuguesa;

4) Grau de presença da Libras e da língua portuguesa nas relações interpessoais – no lar, no ICES e nos demais espaços sociais por onde circula o participante no cotidiano; o que faz quando tem que interagir oralmente com ouvinte(s) não falantes de Libras, sem a presença de outros falantes de Libras ou intérpretes.

O questionário para traçar o perfil foi aplicado a todos os alunos participantes nos três níveis de instrução. Sua aplicação foi intermediada por um intérprete de Libras a fim de garantir a clareza das informações coletadas. A entrevista foi realizada de forma individual, momento em que o participante respondeu às questões em Libras e o intérprete traduziu o questionário para o português. O registro das respostas foi feito pelo pesquisador. O objetivo do questionário (Ver Apêndice A) foi traçar o perfil dos alunos para que os participantes fossem selecionados.

Responderam ao questionário 4 alunos do 6º ano, 5 alunos do 9º ano e 9 alunos do 3º ano EM. Na pesquisa documental realizada na secretaria da escola, percebi que um aluno do 6º ano apresentava múltiplas deficiências, motivo que o desqualificou como participante por acreditar que esse quadro poderia afetar nos resultados da pesquisa. Com relação aos alunos do 9º ano, dois se recusaram a assinar o TCLE, não sendo contabilizados como participantes. Por fim, para equiparar o número de participantes do 3º ano ao das demais séries, foram analisadas as respostas aos questionários e as produções textuais deles, não sendo contabilizados 5 alunos. Assim, contribuíram com esta pesquisa um total de 10 alunos sendo distribuídos da seguinte forma: 3 alunos do 6º ano, 3 alunos do 9º ano (EF AF) e 4 alunos do 3º ano (EM).

3.3.2 As produções textuais

Um segundo instrumento aplicado nesta pesquisa foi uma proposta, elaborada pelo pesquisador, de produção textual em português escrito padrão. Cada participante

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produziu um texto escrito em língua portuguesa numa folha padrão contendo a proposta de produção textual bem como o espaço a ser utilizado pelo participante para a escrita.

A aplicação da proposta de produção textual se deu quando todos os participantes estavam reunidos por série em suas respectivas salas de aula nas dependências do ICES no horário da aula de redação. Esta foi uma decisão que se justifica pelo fato de garantir que a escrita do texto acontecesse em um momento da rotina pedagógica. Não apliquei a proposta no contra turno a fim de evitar que o aluno fizesse de forma descompromissada por querer retornar a sua residência. É comum que os pais dos surdos esperem seus filhos no final do turno para acompanhá-los no retorno para casa, fato esse que dificultaria a permanência dos participantes para o momento de elaboração do texto após o turno.

A proposta, que versou sobre a temática „relato pessoal‟ (Ver Apêndice B), foi lida em língua portuguesa e traduzida para a Libras, inclusive citando exemplos que serviram de parâmetro para a escrita do surdo, tais como o momento feliz da chegada de um filho ou o momento triste da partida de alguém. Na tentativa de deixar os participantes mais familiarizados nesse momento de produção textual, a temática versou sobre algo de domínio dos surdos, sendo um elemento facilitador para o desenvolvimento das ideias.

Foram dadas as seguintes orientações: o aluno deveria se sentir à vontade para escrever de acordo com o português adquirido até o momento da aplicação da proposta sem o receio de cometer erros; a tarefa não seria para nota e a professora de redação e de língua portuguesa não teriam acesso ao texto; apenas o pesquisador e os orientadores teriam acesso aos textos dos participantes; não haveria crítica aos participantes se escrevessem o texto fora do padrão da língua portuguesa; caso alguém afirmasse não possuir vocabulário suficiente para produzir o texto, seria livre o uso de outras estratégias, podendo utilizar o desenho para expressar a ideia quando não soubessem a palavra; caso tivessem a necessidade de mais folhas para a produção, poderiam solicitar ao pesquisador. Por fim, foi dito que seus textos seriam analisados para que eu pudesse entender o processo de aprendizagem da escrita em português como L2 por estudantes surdos, o que se reverteria em benefício para o ICES quando os resultados da pesquisa fossem divulgados.

Foi importante apresentar toda a orientação supracitada, pois amenizou os riscos aos quais poderiam estar sujeitos no processo de coleta do corpus, como por exemplo, o fato de que pudessem se sentir envergonhados, pressionados ou apreensivos por ainda não terem a habilidade da escrita ou por apresentarem desconhecimento do léxico de sua L2 ou até mesmo por acharem que os erros de sua produção textual seriam divulgados com identificação do autor para o público externo. A liberdade que eles tiveram para utilizar a escrita com base

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naquilo que sabiam bem como recorrer a outras estratégias de registro no momento da escrita teve o intuito de colaborar para a tranquilidade dos participantes ao longo da coleta dos textos. Assegurar o sigilo dos textos produzidos pelos participantes – até em relação a seus professores, visto que foi garantido que não seriam avaliados com nota –, também teve como objetivo deixá-los à vontade para se expressarem na modalidade escrita.

A fim de garantir que as instruções fossem claras e compreensíveis, novamente foi necessária a mediação de um intérprete. Para assegurar que as identidades e nomes dos participantes não fossem revelados, atribui códigos de identificação para cada um dos participantes, os quais são os seguintes: usei P para participante; os números 06, 09 e 03 como identificador da série (sexto e nono anos do EF AF e terceiro ano do EM); por fim, um numeral para identificar a ordem do participante, como por exemplo, P061 refere-se a um participante do sexto ano do EF AF, cujo texto foi o primeiro a ser catalogado.

Quanto à proposta de produção textual aplicada pelos professores em sala de aula com fins de avaliação, solicitei das duas professoras as avaliações bimestrais aplicadas no terceiro período de 2019. Ambas me forneceram prontamente; no entanto, a professora do nono e terceiro anos me passou apenas a folha da redação sem a identificação dos alunos. Quando solicitei dela a identificação de qual avaliação pertencia a qual aluno, ela já havia devolvido as provas aos estudantes, inviabilizando a utilização das avaliações bimestrais para esta pesquisa. Portanto, o corpus restou, então, composto apenas pelos textos produzidos pelos participantes a partir da proposta.

Quanto aos preceitos éticos em pesquisa com seres humanos, é importante ressaltar que cada participante, antes do início da coleta de dados, tomou conhecimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para os participantes maiores de dezoito anos e o mesmo termo com as adaptações para os participantes menores de dezoito anos, cujos responsáveis legais precisaram tomar conhecimento a fim de autorizarem a participação de seus filhos (Ver Apêndice D). Apenas dois alunos maiores de 18 anos se recusaram a assinar e esses foram imediatamente excluídos do processo de coleta do corpus. Como os participantes são alunos do ICES, foi necessária também a solicitação de permissão, por meio de Termo de Anuência (Ver Apêndice E), ao Núcleo Gestor da referida instituição para que fosse possível dar prosseguimento às ações de coleta.

Uma vez assinado o Termo de Anuência pela diretora da escola, esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará para aprovação. Isso se deu por meio da Plataforma Brasil e o parecer de aprovação foi emitido sob o número 3.688.045 e CAAE 19853219.0.0000.5054.

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