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Procedimentos de Coleta de dados

No documento 2007SibeleMacagnanCardias (páginas 82-84)

A coleta de dados foi orientada pelos fundamentos teóricos da técnica de Grupo Focal, considerada como uma estratégia metodológica qualitativa. A utilização desta técnica é algo um tanto recente e teve seu inicio na área da saúde, sendo que a partir da década de 90 também vem sendo usada entre os pesquisadores nas universidades.

Os grupos são constituídos por pessoas ligadas entre si que se propõe a uma determinada tarefa, ou seja, a discussão de assuntos e temas pré-determinados, com o objetivo de revelar experiências, sentimentos, percepções e preferências.

As discussões provocadas nos encontros seguem um movimento, que vai da indagação ao esclarecimento, isto é, parte-se daquilo que está explicito nas idéias principais acerca do assunto em pauta em direção ao implícito, com a intenção de clareá-lo ou explicitá-lo. No grupo cada participante desempenha seu papel grupal aberto a comunicação, à aprendizagem social, em relação dialética com o meio. Os integrantes do grupo aprendem não só a pensar, mas também a observar e escutar, a relacionar suas opiniões com as alheias, a aceitar pensamentos e ideologias diferentes das suas, integrando-se num trabalho em equipe (BLEGER, 1998).

Ressalta-se a existência de outras pesquisas na área educacional que se utilizaram da técnica de grupo focal como método de coleta de dados. Candau (2003) relata um estudo realizado com professores da rede pública de ensino do Rio de Janeiro, de diferentes áreas curriculares objetivando ampliar a discussão de como identificar e trabalhar a problemática da discriminação no cotidiano escolar. A técnica foi utilizada como um modo de compreender melhor como os professores se sentem em relação ao tema proposto, ou seja, a discriminação. Os participantes do grupo focal afirmaram, nas discussões que a discriminação está presente na escola e perpassa a sua rede de relações.

Entender o que significa reflexão, no cenário desta pesquisa, é relevante visto que as discussões do grupo focal objetivam conduzir os participantes a reflexão em torno dos assuntos em pauta. Segundo o mesmo autor “reflexão tem como propriedade ser em si enquanto se relaciona com o outro, produzir identidade justamente pela oposição” (p.102). Desta forma, os dois aspectos da relação consigo e da relação com o outro constituem a estrutura da reflexão que está na base da consciência.

As discussões no grupo se apresentam como um instrumento a mais para que ocorram rupturas de sentido e, consequentemente, a reflexão e a produção de novos

sentidos e de uma nova consciência. O desenvolvimento desta consciência, de degrau em degrau, representa o ato emancipatório do ser humano, meta principal dos métodos críticos que se constituem como momentos necessários para a construção da racionalidade nas ciências humanas.

Este método requer a participação de todos os participantes do grupo, sendo que esta se constitui como exigência do compromisso emancipatório dos educadores, tanto para com os alunos como para com eles próprios, pois,

Emancipação social é, em seu âmago, descobrir-se capaz de realizar o processo emancipatório por si mesmo, dentro das circunstancias dadas. Por isso, participação é a alma da educação, compreendida como processo de desdobramento criativo do sujeito social. Porque educar de verdade é motivar o novo mestre, não repetir discípulos. (DEMO, 1996, p.41).

O Grupo Focal, como instrumento de ordem qualitativa, caracteriza-se por buscar respostas acerca do que as pessoas pensam e quais são seus sentimentos, tendo indicações terapêuticas e educativas, sendo recomendado para a pesquisa de campo, visto que, em pouco tempo permite uma diversificação e uma aprofundamento dos conteúdos relacionados ao tema de interesse. Oferece várias vantagens se proporcionar um clima descontraído para as discussões, confiança para que os participantes expressem suas opiniões e possam participar ativamente do trabalho proposto.

A definição dos membros que farão parte do Grupo Focal é considerada tarefa relevante, uma vez que implica na capacidade de contribuição com os objetivos da pesquisa, que devem ser expostos pelo pesquisador no primeiro encontro, bem como a decisão de participar, ou não, deve ser livre e individual.

Para o desenvolvimento desta pesquisa foi formado um grupo constituído por 10 professoras da Escola Especial Deputado Carlos Santos-CIEP que aceitaram participar das atividades propostas, sendo discutidos temas determinados pelo pesquisador, pertinentes ao problema em questão. O número de encontros pode variar de acordo com a complexidade da temática e o interesse da pesquisa, bem como com a motivação dos participantes, podendo ser alterado após análise conjunta. O grupo formado para a realização desta pesquisa se reuniu em cinco encontros que foram realizados uma vez por semana de acordo com a disponibilidade das professoras partcipantes.

O roteiro dos temas debatidos e analisados no grupo é de suma importância na investigação através de Grupos Focais contendo, a priori, uma lista de temas e questões

qualitativas e abrangentes que favoreçam a discussão. Neste caso foram abordados temas pertinentes a Educação Inclusiva, Globalização e Escola Especial, na tentativa de analise do papel da Escola Especial no contexto social mais amplo e na realidade atual, marcada por inúmeras mudanças7.

A escolha destes temas, de ordens e hierarquias diferenciadas, se deu por acreditar que a escola especial encontra-se inserida em um contexto social mais amplo, marcado por contradições, pois, de um lado estão os movimentos excludentes resultantes dos processos desencadeados pela globalização e de outro as políticas de educação inclusiva que celebram uma educação para todos.

Também foram utilizados questionários como material complementar de coleta dos dados. Isto foi feito por sentir necessidade de ter acesso mais direto, ou seja, de forma escrita, as concepções que as professoras mantêm acerca dos temas que foram debatidos nos encontros do grupo, bem como para que as participantes pudessem expressar suas posições individuais quanto à função da escola especial face ao paradigma da inclusão e da globalização.

No documento 2007SibeleMacagnanCardias (páginas 82-84)