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CAPÍTULO 4 OS EDIFÍCIOS PÚBLICOS DE ESCRITÓRIOS DO PLANO PILOTO

4.1. PROCEDIMENTOS DE ESTUDO

4.1.1. A localização dos edifícios públicos de escritórios no Plano Piloto de Brasília A criação de Brasília foi um processo lento que durou mais de duzentos anos e teve início a partir da necessidade de interiorização da capital durante o Período Colonial, por motivos de segurança e, principalmente, econômicos. O projeto de construção da nova capital iniciou-se somente no governo de Juscelino Kubitschek (1955), por fazer parte de seu plano de metas. O concurso para a elaboração do plano urbanístico da cidade foi ganho por Lúcio Costa e os edifícios públicos, do eixo Monumental, foram confiados ao arquiteto Oscar Niemeyer.

O projeto do Plano Piloto nasceu de um gesto primário, através do cruzamento de dois eixos, onde buscou adaptar-se à topografia, seguindo a melhor orientação e escoamento das águas (COSTA, 1995). A intenção era criar algo novo, diferente do existente, conferindo um caráter monumental, que o arquiteto considerava como necessário para uma capital.

Para isso, adotaram-se as diretrizes da Carta de Atenas58 (1933), privilegiando o automóvel, realizando o zoneamento funcional, limitando o tamanho das construções, concentrando-as

58 Documento redigido por Le Corbusier, que continha as idéias discutidas no CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna.

em cinturões verdes, eliminando a idéia de rua-corredor e criando vias de circulação sem cruzamentos com mudanças de níveis, etc.

Essas, dentre outras diretrizes, foram organizadas em quatro escalas (Figura 4-1): Residencial, Bucólica, Monumental e Gregária (COSTA, 1995). A escala Residencial é definida por 12 km no sentido norte-sul e abriga a superquadra, com gabarito uniforme. A escala Bucólica é marcada pela presença da área livre e verde, com o objetivo de oferecer um espaço de contemplação aos cidadãos. Já a escala Monumental corresponde ao Eixo Monumental, no sentido leste-oeste, indo da praça dos Três Poderes até a Rodoferroviária. Por fim, a escala Gregária, se compõe dos quatro cantos resultantes do cruzamento dos Eixos Monumental e Rodoviário, representando o centro da cidade e concentrando os setores de serviço.

Figura 4-1- Escalas Monumental, Residencial, Gregária e Bucólica. Adaptado de Pessoa, 2005, p. 83

A escala Residencial absorve o Setor de Habitação Coletiva Norte e Sul (SHCN/SHCS). Já a escala Monumental e a escala Gregária concentram, entre outras funções, os setores onde estão localizados os edifícios públicos de escritórios, conforme verificado em levantamento in

loco: Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios, Praça Municipal, Setor Bancário Sul

e Norte (SBS e SBN), Setor de Autarquias Sul e Norte (SAUN e SAUS), Setor Comercial Sul e Norte (SCS e SCN), Setor de Rádio e Televisão Sul (SRTVS), Setor Hoteleiro Sul (SHS) e Setor de Administração Federal Sul59 (SAFS). Nos demais setores existem edifícios públicos, mas que não se destinam às atividades de escritórios ou que apresentam atividade de comércio no pavimento térreo.

Muitos desses edifícios foram projetados por Oscar Niemeyer, no período de inauguração da cidade, ou por arquitetos influenciados pelas idéias modernistas. Dessa forma, os edifícios públicos de escritórios apresentam uma leitura visual semelhante, onde através de um levantamento fotográfico, buscou-se caracterizar as fachadas e brise-soleils dos mesmos.

4.1.2. Os edifícios analisados

Fez-se um levantamento fotográfico e quantitativo das fachadas dos 138 edifícios60 públicos de escritórios (Figura 4-2) localizados nos setores apresentados anteriormente na escala Gregária e Monumental (Tabela 4-1), durante o mês de novembro de 2005, a fim de se obter informações para a caracterização das fachadas e brise-soleils utilizados.

59Este setor na verdade localiza-se na Escala Bucólica, mas foi acrescentado à pesquisa pela proximidade com os demais e por seus edifícios serem representativos na cidade.

60 Os 138 edifícios não representam a totalidade de edifícios existentes nas escalas Monumental e Gregária e sim o total escolhido para análise. O levantamento por meio de observação não foi possível em alguns edifícios, como os anexos do Senado e Palácio do Planalto, por exemplo.

Tabela 4-1- Relação do número de edifícios públicos de escritórios estudados nos setores situados nas Escalas Gregária e Monumental do Plano Piloto de Brasília

SETOR Nº DE EDIFÍCIOS SETOR Nº DE EDIFÍCIOS

Setor de Autarquias

Norte (SAUN) 4 Setor de Autarquias Sul (SAUS) 38 Setor Bancário Norte

(SBN)

10 Setor Bancário Sul (SBS)

12 Praça dos Três Poderes/

Esplanada dos Ministérios (PTP/EMI)

42 Setor de Rádio e

Televisão Sul (SRTVS) 1 Setor Comercial Norte

(SCN) 2 Setor Comercial Sul (SCS) 4

Praça Municipal (PMU) 13 Setor Hoteleiro Sul (SHS)

1 Setor de Administração

Federal Sul (SAFS) 11 TOTAL 138

N

EMI/PTP SBN SBS SAUN SAUS SCS SRTVS PMU SAFS SHS SCN

Figura 4-2- Localização dos edifícios estudados nas Escalas Gregária e Monumental, identificados por cores, conforme o setor no qual estão inseridos.

4.1.3. Obtenção dos dados

Considerando as variáveis arquitetônicas que interferem no conforto térmico e luminoso da edificação, apresentadas no capítulo 2, buscaram-se os seguintes dados:

ƒ A forma do edifício, sendo consideradas as formas: quadrada, retangular, circular e irregular (que corresponde ao formato de H, cruz, curvada, etc.);

ƒ Orientação, tomada como a orientação das fachadas envidraçadas de maior comprimento, coincidindo com a fachada principal no caso dos edifícios de forma quadrada. Essa foi obtida com o auxílio de uma bússola e em seguida feita a correção do Norte magnético. Considerou-se para cada ponto cardeal, um limite de abrangência de 22,5 graus do sentido horário e anti-horário61, como na figura abaixo (Figura 4-3):

Figura 4-3- Limite de abrangência para cada orientação solar.

ƒ Altura do edifício, considerando apenas os pavimentos expostos à radiação solar, sendo excluídos os subsolos;

ƒ Os materiais de revestimentos dos fechamentos opacos, que foram acrescentados na tabela à medida que eram observados nas edificações.

ƒ O tipo de abertura das esquadrias, classificando-as em: basculante, máximo-ar, guilhotina, correr e pivotante. Como o levantamento de campo é baseado na observação das fachadas, não foram medidas as angulações das aberturas;

ƒ Os tipos de elementos de proteção, sendo considerados apenas os externos, que foram classificados em: brise-soleils, marquises62 e coloração nos vidros63, uma vez que não

61Essa solução foi baseada em Ghisi et al (2005).

se observaram nos edifícios os outros tipos, como os toldos e telas especiais. Nessa etapa de caracterização não se levou em consideração a vegetação;

ƒ Observou-se também a presença de aparelhos de ar-condicionado nas fachadas, com o objetivo de exemplificar a utilização dos mesmos nos edifícios e a poluição visual gerada através da aplicação, muitas vezes, aleatória.

A fim de complementar as informações sobre os brise-soleils, elaborou-se uma planilha, baseando-se na classificação apresentada no capítulo 1. No entanto, devido à quantidade de edifícios, à dificuldade em se obter alguns dados através da observação e à necessidade de uma caracterização mais generalizada, parte dos itens não foi utilizada nessa etapa.

Inicialmente, indicou-se a quantidade de fachadas envidraçadas64, especificando quantas e qual a orientação das fachadas com os elementos de controle solar. Em seguida, especificou- se o tipo quanto à: posição do brise-soleil (horizontal, vertical ou misto), à sua mobilidade (fixo ou móvel), dimensão (finito e infinito) e a cor65 .

A partir dos resultados do levantamento de campo foram calculados os percentuais indicativos da caracterização das fachadas e gerados os gráficos, através do programa Microsoft Excel.

4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS FACHADAS DOS EDIFÍCIOS PÚBLICOS DE