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1. Metodologia

1.2. Procedimentos de recolha e análise de dados

Para a colheita de dados utilizamos uma entrevista estruturada – formulário (Anexo I), composta por três partes: a primeira alude aos dados sóciodemográficos, a segunda engloba as variáveis comportamentais relacionadas com a saúde, problemas de saúde existentes e exposição tabágica e a última corresponde à caraterização do consumo tabágico, na qual utilizamos o teste de Fagerström, para avaliar a dependência tabágica e o teste de Richmond, para avaliar a motivação para deixar de fumar.

A caraterização do consumo de tabaco engloba informação sobre o início do consumo, o número de cigarros/dia, a carga tabágica, as tentativas anteriores para deixar de fumar, a dependência tabágica e a motivação para a cessação (Fagerström, 2003).

A avaliação do grau de dependência é fundamental para o próprio fumador constatar o seu nível de dependência e é um procedimento essencial nos fumadores que querem

parar de fumar, já que influencia o tipo de intervenção (Fagerström, 2003; Palomares & Garcia, 2000).

A dependência pode ser avaliada através de questionários ou da medição de marcadores biológicos. Dos questionários disponíveis, o teste de Fagerström adaptado é atualmente o principal instrumento utilizado para avaliar o grau de dependência tabágica, estimando o grau de dependência nicotínica (Ferreira, Quintal, Lopes & Taveira, 2009). Consiste num questionário de fácil aplicação, que requer para o seu preenchimento cerca de 3 minutos. Inclui seis questões relacionadas com a dependência nicotínica e pretende ser o reflexo fidedigno do comportamento face ao tabaco, independentemente de interpretações pessoais. De acordo com o score obtido definem-se quatro níveis de dependência: 0-3 pontos, dependência fraca; 4-5 pontos, dependência moderada; 6-7 pontos, dependência elevada e 8-10 pontos, dependência muito elevada Heatherton, Kozlowski, Frecker & Fagerström, 1991). A pontuação final deste instrumento correlaciona-se significativamente com os níveis dos marcadores biológicos de elevada sensibilidade e especificidade para o tabagismo (Heatherton et al., 1991).

A motivação para parar de fumar resulta da conjugação de dois fatores: a importância atribuída à mudança de comportamento e a perceção sobre a capacidade para mudar, autoconfiança ou autoeficácia (Santos, 2006). A prontidão ou forte motivação para parar são cruciais para o sucesso da cessação tabágica. Existem múltiplas formas para avaliar a motivação na cessação tabágica, contudo isoladamente, não existe nenhum instrumento de medição que seja completamente sensível ao grau de motivação do fumador (Pamplona & Mendes, 2009).

Dos instrumentos disponíveis para a avaliação da motivação para deixar de fumar, o teste de Richmond é o que reúne mais consenso. Consiste num questionário de fácil aplicação, que requer para o seu preenchimento cerca de 2 minutos. Inclui quatro questões relacionadas com vontade de parar de fumar e a previsão sobre a cessação tabágica. De acordo com o score obtido definem-se três graus de motivação: 0-5 pontos, motivação fraca; 6-8 pontos, motivação moderada e mais de 8 pontos, motivação forte (Richmond, Kehoe & Webster, 1993).

A avaliação do consumo de tabaco, do grau de dependência e do grau de motivação são fulcrais para caracterizar o fumador, situando-o no processo de mudança

comportamental e planeando a intervenção para uma cessação tabágica de sucesso (Nunes et al., 2007a).

O formulário foi aplicado aos inquiridos selecionados, de acordo com os critérios mencionados no ponto anterior, sendo a sua aplicação realizada pela investigadora. Não é de excluir que o preenchimento do questionário na presença da investigadora tenha aumentado o risco da perceção de perda do anonimato por parte dos inquiridos, podendo as respostas destes ser influenciadas. Contudo, optou-se pelo preenchimento do instrumento pela investigadora dadas as caraterísticas específicas da nossa população, com grande percentagem de indivíduos com fraca escolarização. Assim, a construção do formulário já foi pensada para um preenchimento técnico pela investigadora, o que facilitou também a aplicação e codificação do mesmo.

De forma a limitar o viés à investigação, determinado pela presença da investigadora, procuramos cumprir todos os pressupostos de informação, confidencialidade e empatia com os participantes, assegurando que a informação recolhida seria para tratamento estatístico exclusivo.

Antes de proceder à aplicação do instrumento de colheita de dados na amostra selecionada, submetemo-lo a um pré-teste, aplicado numa amostra constituída por 50 sujeitos pertencentes ao concelho de Bragança, mais precisamente na cidade de Bragança e nas aldeias de Zeive e Vilarinho, nos dias 21 e 22 de Janeiro de 2012. A população escolhida apresenta caraterísticas sociodemográficas semelhantes às da população em estudo.

Após a execução do pré-teste não verificamos nenhuma questão ambígua ou que apresentasse dificuldades de compreensão do ponto de vista semântico, pelo que não existiu necessidade de reformular o instrumento de colheita de dados. O tempo médio de preenchimento de cada questionário foi de aproximadamente 10 minutos, variável de acordo com o indivíduo ser ou não fumador (entre os 7 e os 15 minutos).

O tratamento estatístico dos dados foi efetuado através do programa informático SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 20.0, para Windows, utilizando-se também o programa Microsoft Office Excel 2007, para a elaboração das tabelas e gráficos de apresentação dos resultados.

Relativamente à análise dos dados, realizamos numa primeira fase, uma análise descritiva em função da natureza das variáveis. Recorremos às medidas estatísticas: frequências absolutas, frequências relativas, média, desvio padrão, mínimo, máximo e gráficos de barras de forma a descrever as caraterísticas sociodemográficas, comportamentais e clínicas, exposição ao tabaco e caraterização do consumo de tabaco. Utilizamos ainda a análise inferencial, através de tabelas de cruzamento de variáveis com aplicação do teste do qui-quadrado, com o objetivo de avaliar a associação das variáveis. As condições de aplicação do teste de independência do qui-quadrado nem sempre são verificadas e nessas circunstâncias recorreu-se ao teste exato de Fisher. Posteriormente recorremos ao cálculo dos odds ratio de forma a especificar os indivíduos com maior/menor risco associado ao consumo tabágico, tendo-se procedido à prévia dicotomização das variáveis.