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Procedimentos de Recolha e Tratamento de Informação

Capítulo II – Metodologia do Estudo

3. Procedimentos de Recolha e Tratamento de Informação

De acordo com Aires (2011), “A seleção das técnicas a utilizar durante o processo de pesquisa constitui uma etapa que o investigador não pode minimizar, pois destas depende a concretização dos objectivos do trabalho de campo” (p. 24).

Neste sentido, Máximo-Esteves (2008) adverte para o facto de que existem “métodos que se adequam mais do que outros à condição de um professor- investigador, uma vez que este desempenha o papel de participante completo, isto é, de investigador que estuda um contexto no qual participa integral e quotidianamente pela natureza do seu trabalho e não apenas para afectuar uma investigação” (p.87).

Assim sendo, as técnicas de recolha de informação que utilizei para a realização do presente projeto de investigação foram as seguintes:

3.1. Observação Participante

A observação é uma atividade espontânea, ocasional e comum a todos os indivíduos, porém, adquire maior importância quando usada nos contextos de educação de infância, uma vez que permite ao educador conhecer os interesses e necessidades das crianças, e recolher a informação necessária para poder avaliar as capacidades de cada uma delas.

Além disso, é também uma poderosa ferramenta de investigação e técnica ciêntifica de recolha de informação se “for orientada e focalizada para um objectivo concreto de pesquisa, previamente formulado”; “planificada sistematicamente em fases, aspectos, lugares e pessoas”; “controlada e relacionada com preposições teóricas”; e “submetida a controles de objetividade, fiabilidade e previsão” (Moreira, 2007, p. 177).

Nesta perspetiva, a observação permite-nos recolher informação de forma sistemática através do contacto direto com situações especificas; conhecer diretamente os fenómenos tal como eles acontecem num dado contexto; e compreender esse mesmo contexto, as pessoas que nele se movimentam e as suas interações (Aires, 2011; Máximo- Esteves, 2008).

Segundo Moreira (2007), “À partida, é a teoria que estabelece o que observar” (p.186). Neste sentido, é importante que o investigador tenha em atenção a literatura existente sobre o tema a ser estudado, pois é ela que o irá orientar sobre os aspetos mais importantes a ser observados (Idem, 2017).

Freixo (2012) distingue ainda dois tipos de observação: a observação não participante, em que “o investigador permanece fora da realidade a estudar” , não interferindo na situação que está a observar, assumindo apenas o papel de espectador; e a observação participante, em que “o investigador participa na situação estudada”, incorporando-se de “forma natural ou artificialmente no grupo ou comunidade estudada” (p. 224).

Na realização do presente projeto de investigação o tipo de observação que utilizei foi a observação participante, inserindo-me no seio de ambos os grupos com o qual estagiei, tornando-me um dos seus membros, e participando ativamente nas suas rotinas e atividades.

De acordo com Evertson e Green, citados por Lessard-Hébert (1994), existem dois tipos de observação participante, a ativa e a passiva. Na observação participante ativa, o investigador está totalmente envolvido nos acontecimentos, o que o impede de efetuar quaisquer registos no momento, deixando-os para mais tarde. Em contrapartida, na observação participante passiva, o investigador apenas assiste aos acontecimentos, o que já lhe permite efetuar todos os registos no momento (citados por Santos, 2018).

Assim, durante todos os momentos de estágio adotei uma observação participante ativa, dinamizando algumas atividades relacionadas com o tema do projeto e intervindo em certas situações de conflito entre as crianças, complementando também com alguns momentos de observação participativa passiva, onde procurei distanciar-me um pouco, ficando apenas a observar os comportamentos das crianças e dos adultos da sala em certas situações de conflito e durante os Conselhos de Grupo de sexta-feira, onde são discutidos os registos do Diário de Grupo.

3.1.1. Notas de Campo

Como forma de registo dos dados recolhidos a partir da observação participante utilizei as notas de campo, que são “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 150).

Estas têm um caráter descritivo, em que o investigador capta, pelo meio das palavras, a imagem do local, das pessoas e das conversas que observa. As notas de campo contêm, ainda, uma componente reflexiva, em que o investigador faz um relato mais pessoal do que observa, dando ênfase a especulações, sentimentos, problemas, ideias, palpites, impressões e preconceitos (Idem, 1994)

observadas entre as equipas pedagógicas e as crianças, as crianças entre si, e entre mim e as crianças (Ver Apêndices 1 e 2).

Nos momentos em que estava mais envolvida nas atividades e não me era me possível fazer o registo extensivo e detalhado do dialogo que ia tendo com as crianças, optei por fazer uma gravação áudio desses momentos, de modo a não perder as palavras exatas que foram ditas durante as conversas entre mim e as crianças. Durante os Conselhos de Grupo, realizados à sexta-feira, também utilizei a gravação áudio como forma de registo do que ia sendo dito, que depois transpus para um registo escrito, de modo a proteger a identidade das crianças.

3.1.2. Conversas Informais e Reflexões Cooperadas

Ao longo dos estágios tive também a oportunidade de realizar conversas informais e reflexões cooperadas com as educadoras. Estes momentos permitiram-me compreender melhor as conceções e práticas das educadoras relativamente à promoção da disciplina, e percecionar melhor algumas situações por mim vivenciadas e observadas a partir da observação mais experiente das educadoras.

3.1.3. Registo Fotográfico

As fotografias são documentos que contêm informação visual disponível para mais tarde serem analisadas e reanalisadas, e permitem, por exemplo, “inventariar rapidamente os objectos da sala – os produtos artísticos das crianças, os painéis de parede, a estante dos livros, a organização da sala, o registo do que está escrito no quadro, ou ainda actividades de encenação ou dramatização” (Máximo-Esteves, 2008, p. 91).

No presente projeto de investigação, este método de recolha de dados foi utilizado principalmente como complemento às notas de campo, tendo como finalidade ilustrar algumas das situações descritas.

3.2. Análise Documental

A análise documental baseia-se na “pesquisa e leitura de documentos escritos que se constituem como uma boa fonte de informação” (Coutinho, et al., 2009, p. 373). Estes “proporcionam informação sobre as organizações, a aplicação da autoridade, o poder das instituições educativas, estilos de liderança, forma de comunicação com os diferentes atores da comunidade educativa, etc.” (Aires, 2011).

Nesta perspetiva, para o presente projeto de investigação a análise documental incidiu sobre os documentos oficiais das instituições na qual estagiei, nomeadamente o Projeto Pedagógico da Sala de creche, em que tive acesso apenas às partes mais

relevantes, e o Projeto Educativo da Instituição, facultado, na integra, pela coordenadora pedagógica da instituição onde estagiei em Creche, e em Jardim de Infância, onde foram apenas facultadas as partes mais relevantes.

Em suma, procedi à análise destes documentos com o objetivo de obter uma melhor compreensão sobre as conceções e princípios das instituições e das educadoras relativamente ao tema deste estudo, a disciplina. Para além disso, a sua consulta também se revelou essencial para a caracterização das instituições, e compreensão das práticas e conceções pedagógicas das educadoras.

3.3. Questionário

O questionário é um instrumento de recolha de informação, habitualmente preenchido pelos próprios sujeitos e sem assistência do investigador, podendo ser enviado e recebido por correio. Este é constituído por um conjunto de questões “que permitem avaliar as atitudes, e opiniões dos sujeitos ou colher qualquer outra informação junto desses mesmos sujeitos” (Freixo, 2012, p. 225).

Geralmente, as questões colocadas são abertas ou fechadas. As questões abertas são respondidas como as pessoas inquiridas quiserem, “utilizando o seu próprio vocabulário, fornecendo os pormenores e fazendo os comentários que consideram certos” (Freixo, 2012, p. 228). As questões fechadas, por seu lado, implicam a escolha de uma resposta entre duas ou mais opções, que se designam, normalmente, por perguntas fechadas de escolha múltipla (Idem, 2012).

Neste sentido, para o presente projeto de investigação, elaborei um conjunto de quatro questões abertas, dirigidas às educadoras cooperantes de creche e jardim de infância, com o objetivo de conhecer as suas opiniões e conceções relativamente a alguns aspetos do tema em estudo.

Apesar de ter observado e conversado com as educadoras sobre as suas práticas e conceções acerca do tema ao longo dos momentos de estágio, optei por fazer este questionário de forma a complementar as informações que já tinha recolhido com os instrumentos abordados anteriormente, e confrontar as respostas dadas com o que fui observando das suas práticas.

As questões colocadas foram as seguintes: 1. Qual a sua opinião sobre a disciplina?

2. Que estratégias costuma utilizar para promover a disciplina?

4. Que estratégias costuma utilizar para gerir conflitos entre criança-criança e criança-adulto?

Os questionários foram enviados às educadoras por correio eletrónico (ver Apêndice 3), assim como as suas respostas (ver Apêndices 4 e 5) que, depois de recebidas, foram cuidadosamente interpretadas e analisadas através de uma grelha de análise organizada por categorias, que correspondem às temáticas das perguntas: conceção sobre disciplina, estratégias para promoção da disciplina, estabelecimento de regras e estratégias para resolução de conflitos (ver Apêndice 6).