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2. Em busca da leitura na tela na escola

2.6 Procedimentos e instrumentos para coleta de dados.

Os sujeitos foram observados em situação de leitura no impresso e na tala. Estas situações foram planejadas e executadas com vistas a criar uma atmosfera de pesquisa escolar, pois assim seria criada uma situação mais ativa de leitura, em que o sujeito leva questões ao texto, busca respostas e apresenta os resultados. Trata-se de uma nova forma de entrada no texto, de um novo espírito de leitura.

Contudo, antes de nos aprofundarmos nesse ponto, é preciso dizer que todos os sujeitos participantes da pesquisa responderam a um questionário fechado e foram entrevistados anteriormente às observações. Os questionários foram aplicados e as entrevistas realizadas no segundo contato que tive com os sujeitos, lembrando que o primeiro foi o que se deu a escolha dos participantes.

Os questionários fechados foram empregados no intuito de se levantar dados preliminares sobre o uso e conhecimento que os sujeitos possuíam sobre o computador e a Internet. O questionário foi apresentado aos sujeitos na própria escola, anteriormente às entrevistas. O questionário do modo com que foi empregado nesta pesquisa, isto é, constituído por questões fechadas, de múltipla escolha, em que o indagado assinalava uma alternativa ou mais de uma por ordem de importância, é um instrumento simples, utilizado em complemento às entrevistas.

Sobre o uso da entrevista, é valido assinalar que ela é um dos principais instrumentos de pesquisas qualitativas. A sua utilização, segundo Zago (2003), não segue receitas prontas. A regra é respeitar princípios éticos e de objetividade na pesquisa, bem como garantir as condições que favoreçam uma melhor aproximação da realidade social estudada [...] (ZAGO, 2003, p.294).

A entrevista não é uma simples técnica da qual o pesquisador lança mão para acessar dados sobre seu objeto de pesquisa. Ela é muito mais do que isso, ela é “parte integrante da construção sociológica do objeto de estudo” (ZAGO, 2003, p.295).

Nas entrevistas realizadas neste estudo, utilizei um roteiro semi-estruturado de questões. A opção por essa modalidade de entrevistas e não somente pelo questionário fechado ocorreu em razão desta última impedir “todo o imprevisto e o desencadeamento de uma dinâmica que é própria de cada encontro” (ZAGO, 2003, p.305).

Tratando-se de uma relação social, temos que contar com esta realidade viva sujeita a imprevistos, os quais, com freqüência, oferecem pistas importantes para a compreensão do fenômeno estudado. Essas pistas revelam a singularidade de cada entrevista. Dependendo da importância que sentimos em esclarecê-las e aprofundá-las, vamos além do que foi previsto no roteiro inicial. Porém, cuidados são sempre necessários. Não se trata simplesmente de estender a entrevista a todas as direções. O interesse é acrescentar questões que a situação sugere quando estas têm relação com a problemática de pesquisa [...] (ZAGO, 2003, p.305).

Com as entrevistas, tentou-se investigar o que era a leitura para os sujeitos, a relação deles com essa prática, bem como os procedimentos de pesquisa escolar por eles adotados e a relação que possuem com o computador e a Internet.

Retomando a organização das observações, os temas selecionados para as pesquisas escolares, em que os sujeitos seriam observados lendo, eram de natureza histórica. A escolha se deu na tentativa de demonstrar aos sujeitos a importância de se historicizar os problemas e questões do presente, além disso, tentei despertá-los para o fato de que o conhecimento hoje existente é uma construção histórica. Por isso, em todas as ocasiões de coleta era mostrado aos sujeitos que o conhecimento do passado pode nos levar a não cometer erros já cometidos outrora. Ou seja, tentei dar início a um processo, que é longo, de construção de uma consciência histórica.

Dessa forma, as atividades de pesquisa escolar eram sempre iniciadas com uma problematização de questões do tempo presente, obviamente relacionadas ao tema histórico a ser pesquisado. Depois dessa etapa, da qual os sujeitos podiam participar livremente, seja com perguntas ou comentários, eram fornecidas a eles duas perguntas relacionadas ao tema da discussão para as quais deveriam buscar respostas na leitura do material impresso e na tela on-line.

Todas as atividades foram registradas em vídeo. Os sujeitos foram observados em situação de pesquisa escolar/leitura nos dois suportes, impresso e tela, pois era objetivo desta pesquisa tentar identificar comportamentos levados do suporte mais antigo, o livro impresso, para o mais recente, a tela do computador. Os registros em vídeos auxiliaram nessa tarefa, sobretudo no que diz respeito aos gestos e às posturas do corpo no momento da leitura. Contudo, foi um software instalado nos computadores que contribuiu decisivamente para o mapeamento da leitura na tela.

O software, chamado wisecam, sobre o qual os sujeitos foram devidamente avisados, registra todos os passos do sujeito no computador. Em outras palavras, trata-se de um software de tutorial que registra, em forma de vídeo, a trajetória percorrida pelo sujeito no computador, tendo ele executado qualquer tarefa. No caso desta pesquisa, o software possibilitou uma rigorosa análise posterior de todos os sites visitados, o trajeto percorrido com o mouse, os toques na barra de rolagem e as palavras-chave pesquisadas. Este recurso ainda permitiu a observação da tomada de decisões dos leitores, os momentos de indecisão, a seletividade e a objetividade da leitura.

Por fim, sobre as filmagens e o software, é importante dizer que eles forneceram os elementos não-verbais das situações, possibilitando a identificação de comportamentos não percebidos durante a observação e o confronto desses com os dados com as anotações de campo.

O último procedimento empregado foi o grupo focal. Trata-se de um instrumento utilizado em pesquisas com grupos de pessoas, em que elas são escolhidas segundo critérios específicos e o problema proposto para estudo.

Segundo Powell e Single, citados por Gatti (2005), “um grupo focal é um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal” (POWELL E SINGLE apud GATTI, 2005, p.7). Nestas reuniões o grupo desenvolve discussões acerca de algum tema de naturezas diversas a partir de uma atividade desencadeadora, como a leitura de um texto, de artigo de jornal, assistir a um filme ou documentário, entre outras.

O grupo focal foi utilizado com o objetivo de se discutir os temas das pesquisas escolares, isto é, sondar a compreensão das leituras realizadas pelos sujeitos; bem como discutir temas relacionados ao próprio ato de ler, ou seja, as percepções dos sujeitos com relação as leituras realizadas nos diferentes suportes. O grupo focal foi, ainda, importante para o aprofundamento da compreensão dos dados oriundos dos procedimentos anteriores. Na pesquisa empírica, essa atividade era dividida em dois momentos: no primeiro era realizada uma discussão sobre os temas das pesquisas escolares (verificação/sondagem da compreensão das leituras) e no segundo uma discussão sobre o uso da Internet como fonte para as pesquisas escolares, bem como a atitude do leitor diante dos diferentes suportes, tela e material impresso, e as atitudes em relação à leitura na tela e/ou do texto eletrônico.

Os procedimentos aqui descritos foram testados em uma pesquisa-piloto, tendo sido um importante momento para confirmação e ajustes de alguns deles.

Os dados coletados encontram-se expostos nas próximas páginas organizados em seções norteadoras. No interior dessas seções organizam-se categorias, formuladas consoante os postulados da análise de conteúdo, analisadas com base em bibliografia especializada. Por fim, é preciso assinalar que os dados foram categorizados e expostos

separadamente, em seções norteadoras, por uma questão didática, visando a uma melhor organização, mas o vínculo teórico entre eles não foi negligenciado.