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Procedimentos da Intervenção Assistida por Animais, o bem-estar do usuário e do

I. Enquadramento teórico

1.3. Conceito Intervenções Assistidas por Animais

1.3.2. Procedimentos da Intervenção Assistida por Animais, o bem-estar do usuário e do

A segurança dos procedimentos utilizados nos programas de IAA envolve um conjunto de medidas e orientações a ter em consideração, no sentido de zelar pelo bem-estar do usuário e do animal. A este respeito, cabe destacar a importância da European Society for

Animal Assisted Therapy (ESAAT) que se evidenciou como a entidade europeia encarregue

de zelar pela proteção do animal durante o trabalho efetuado no decorrer das sessões, estabelecendo as linhas orientadoras dos programas, garantindo que se considerem a essência e as necessidades próprias dos animais (ESAAT, 2011).

Na utilização de animais com fins terapêuticos é inevitável o confronto entre os interesses dos participantes, pessoas e animais, e os princípios básicos da ética. No entanto, o ponto de partida pode encontrar-se na ponderação de igualdade entre os seres humanos e as outras espécies animais, o que perfaz a necessidade de distinguir características comuns entre o homem e o animal, para repensar e atribuir de forma igualitária às necessidades de ambas as espécies, prevalecendo a segurança e o bem-estar (Serpell, 2010).

Segundo a Farm Animal Welfare (FAWC, 1992), citado por Magalhães (2017), o bem- estar animal prende-se com “freedom from hunger and thirst, freedom from discomfort,

freedom from pain, injury and disease, freedom to express normal behaviour, freedom from fear and distress” (I Congresso IAAS, 2017).

Os animais utilizados nos processos de intervenção são devidamente treinados com os seus tutores, de modo a garantirem interações positivas, seguras e não disruptivas. Um animal de terapia deve ser calmo e inspirar confiança no usuário, uma vez que é um animal que pelas

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suas características comportamentais e morfológicas permite a recuperação de traumas e ajuda a ultrapassar barreiras físicas e sociais. Neste tipo de intervenção, como já foi referido, é fundamental uma pré-avaliação do utente, no sentido de respeitar a sua individualidade e adequar o seu plano de tratamento, bem como adaptar as características da personalidade do animal àquele caso clinico. Por outro lado, todo o procedimento terapêutico é documentado, avaliado e devidamente registado para se conseguir estimar o progresso do processo (Pet

Partners, 2017).

Como refere Magalhães (2017), um animal que experimenta situações de bem-estar durante as sessões pode facilmente acomodar-se a novas experiências, aumentado as oportunidades em contexto terapêutico. Com isto, percebemos as implicações que os procedimentos de segurança envolvem nas sessões de terapia, sendo que as organizações que promovem este tipo de serviço devem ser próativas e não reativas, em relação aos padrões de bem-estar do animal e do utente. Uma vez que, se os animais também beneficiam das interações com os seres humanos, o seu envolvimento como auxílio terapêutico em IAA pode ser eticamente justificável.

Um aspeto a salientar no âmbito do estatuto legal dos animais na nossa sociedade, referido em Bernardo (2016), é a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, emitido por

United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO, 1978), onde

considera que todos os animais têm direitos e que a negligência dos mesmos, por parte do ser humano, é considerada equivalente ao desprezo de um outro semelhante humano. Todos estes aspetos são tidos em consideração com o intuído de respeitar as Guidelines of Quality

Assurance (2012) definidas pela entidade reguladora ESAAT, onde mencionam:

Particular attention must be paid to protecting the animal during animal- assisted work. The animal used must not be instrumentalised, exploited or overworked. Species-appropriate care of the animals used in animal assisted interventions is not solely ensured by animal protection legislation or by satisfying basic needs. Species-appropriate care also includes feeding that imitates the animal’s natural forms of nutrition, freedom of movement in nature, and appropriate activities. (p.2)

Evitando assim a exploração do animal e promovendo os seus cuidados gerais, nomeadamente ao nível da higiene, das necessidades nutricionais, de movimentação, no contato com membros da mesma espécie, descanso, segurança e abrigo. Porém, para além de

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respeitar todos estes aspetos basilares do bem-estar fisiológico do cão, é fulcral ter em consideração a condição da socialização do animal e do respetivo treino.

Segundo algumas orientações cedidas por Magalhães (2017) da associação Ânimas, no I Congresso Internacional Animais de Ajuda Social, é importante o especialista/ treinador conhecer o seu cão e ter uma boa relação com ele, de modo a conseguir protegê-lo de situações que o próprio não consiga gerir e se sinta inseguro, bem como proporcionar-lhe diversas situações de socialização, para que o animal se sinta em segurança em contextos diferentes. Em situação de stresse o cão poderá evidenciar alguns dos seguintes comportamentos: salivação, tensão-muscular, inquietação, distração, agitação, voltar costas, esconder-se atrás do dono. Porém, sob uma situação destas será o dono o elemento de referência que lhe irá transmitir calma e segurança para que o animal possa reavaliar a situação e ficar mais tranquilo.

Dissertando sob a condição de treino do animal para IAA, o cão deverá ser bem treinado tendo sempre por base o reforço positivo. Um animal feliz e bem tratado é um companheiro mais seguro e com maior capacidade de trabalho (Magalhães, 2017).

O bem-estar animal revela-se como fator chave nas IAA, tanto quanto para a sua eficácia quanto para a segurança das atividades. As IAA podem ser verdadeiramente terapêutica para o humano se o animal também experimentar essa interação como benéfica.

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2.1. Descrição do Síndrome de Rett

Aquando os avanços da ciência em prol da cura para o Síndrome de Rett, e sendo que esta investigação recai sobre o estudo de caso de uma jovem portadora desta doença é fundamental dissertarmos sobre a patologia, no sentido de melhor compreender as suas características e particularidades, enquadrando com todos os fundamentos teóricos que defendem a fisioterapia associada à terapêutica assistidas por animais como uma mais-valia para a melhoria da condição de vida desta jovem.

Para Bruck et al. (2001), a Síndrome de Rett era uma condição cuja cura estava longe de ser descoberta pelos cientistas. Porém, com o passar dos anos a Rett Syndrome Research

Trust Organization refuta esta ideia, visível nas declarações de Adrian Bird, professor de

genética numa Universidade em Edimburgo, onde afirma que “By attracting the best

scientists and clinicians, RSRT is in pole position to deliver on the pre-clinical work showing that Rett Syndrome will be a curable disorder.” (RSRT, 2017. Para.7). Neste sentido, ao

longo dos últimos 17 anos diversos cientistas têm dedicado toda a sua atenção à procura de uma cura para a doença sendo perceptível inúmeros avanços. A Rett Syndrome Research

Trust Organization (2017) expõe diversos artigos com referência a esses estudos,

At the core of the plan are four cutting-edge priority approaches that are designed to cure Rett Syndrome by attacking the root cause of the disorder: MECP2. These approaches, pursued in parallel, are applicable to all MECP2 mutations and deletions. (Para.2)

Segundo a National Organization for Rare Disorders (NORD) descreve o Síndrome de Rett como “a rare genetic neurological disorder that affects primarily females, is

characterized by normal early development in the first year of life followed by a regression, which leads to severe handicaps by the age of three years” (NORD, 2017). A Internacional Rett Syndrome Association (2017) salienta ainda que o “Rett syndrome is caused by a pathogenic mutation in the MECP2 gene with major consequences for motor and cognitive development. One of the effects of impaired MECP2 function is reduced production of Brain Derived Neurotrophic Fator (BDNF), a protein required for normal neuronal development” (para.1).