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4 CAPÍTULO III METODOLOGIA E INSTRUMENTOS DA PESQUISA

4.2 Procedimentos metodológicos

O caminho metodológico desta pesquisa parte da abordagem qualitativa, pois a preocupação central, não restrita a representações por meio de números e modelos únicos, é compreender e explicar aspectos reais – não quantificáveis – levando em conta os fenômenos como um todo - que produzam informações e ilustrações não reduzidas a operacionalizações. Optamos pela utilização desta abordagem em oposição à positivista, que utiliza instrumentos quantificáveis, divide a realidade em partes mensuráveis, centra os estudos no objeto para a construção do conhecimento, é objetiva e pressupõe a neutralidade do pesquisador.

A expansão na pesquisa educacional da chamada abordagem qualitativa veio no bojo de uma busca de métodos alternativos aos modelos experimentais, às mensurações, aos estudos empiricistas numéricos, cujo poder explicativo sobre os fenômenos educacionais foi posto em questão, como se pôs em questão os conceitos de objetividade e neutralidade embutidos nesses modelos. Mas, a opção quase total no universo dos pesquisadores em educação pelas abordagens qualitativas não esteve isenta de uma perspectiva que identificou essas abordagens como sendo as revolucionárias, as únicas transformadoras, condenando ao exílio do conservadorismo os tratamentos quantitativos. (ANDRÉ; GATTI, 2008, p. 7)

Foi realizada a análise do documento para que sejam sanadas as questões relativas ao problema da pesquisa, esta técnica possibilita a apreensão do social em determinado tempo, ou seja, contextualizado sócio historicamente.

O uso de documentos em pesquisa deve ser apreciado e valorizado. A riqueza de informações que deles podemos extrair e resgatar justifica o seu uso em várias áreas das Ciências Humanas e Sociais porque possibilita ampliar o entendimento de objetos cuja compreensão necessita de contextualização histórica e sociocultural. (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANE, 2009, p. 2)

A metodologia utilizada nesta pesquisa é o materialismo histórico-dialético, teoria empregada para se compreender a prática e, posteriormente, ressignificá-la, por meio da percepção do mundo em constante movimento e transformação. Parte

das ideias de Marx e Engels, que afirmam que os conflitos motivam o movimento do mundo – concepção dialética-, ao longo da história – histórico. O termo materialismo deve-se ao papel dos seres humanos em relação a suas forças geradoras dos conflitos e a identidade dos mesmos é compreendida em classes.

Marx e Engles, partem de pressupostos culturais e políticos para analisar criticamente e historicamente a sociedade e suas relações humanas, para José Paulo Netto:

Uma compreensão teórica rigorosa da sociedade só é possível à medida que o ser social pode aparecer aos homens como algo específico, isto é, como uma realidade que, necessariamente ligada à natureza (ao ser natural, orgânico e inorgânico), tem estrutura, dinâmica e regularidades próprias, (2009, p. 16)

No materialismo histórico-dialético, fundamentam a concepção de mundo as dimensões: antológica – dialética -; antropológica – práxis - e a epistemológica – concreto-pensado, sendo assim, esta concepção de mundo é entendida por uma “totalidade concreta”, ou seja,

Não é um "todo" constituído por "partes" funcionalmente integradas. Antes, é uma totalidade concreta inclusiva e macroscópica, de máxima complexidade, constituída por totalidades de menor complexidade. Nenhuma dessas totalidades é "simples"-o que as distingue é o seu grau de complexidade [...] (PAULO NETTO, 2011, p. 56).

Então, o concreto é a síntese entre o empírico e o essencial ou subjetivo e, por ser uma totalidade concreta, o real não se finda na aparência, no que é sensível, quantificável, experimental, material, tangível e, também, existe independente da consciência que se tenha dele.

Ainda sob esse aspecto, a totalidade é um conjunto de fenômenos que envolve o objeto, determinando-o e sendo determinante, também, e o real é a síntese dessas múltiplas determinações, no âmbito desta pesquisa, esta metodologia, denominada por J. P. Netto “método”, foi escolhida, pois o objeto pesquisado – fenômeno – não se explica por si mesmo,

Os fatos, a cada nova abordagem, se apresentam como produtos de relações históricas crescentemente complexas e mediatizadas — podendo ser contextualizados de modo concreto e inseridos no movimento maior que os engendra. É um método, portanto, que, em aproximações sucessivas ao real, agarra a história dos processos simultaneamente às suas particularidades internas. Um método que não se forja independentemente do objeto que se pesquisa — o método é uma relação necessária pela qual o sujeito que investiga pode reproduzir intelectualmente o processo do objeto investigado. (PAULO NETTO, 2009, p. 31).

Em suma, o materialismo histórico-dialético define o ser humano como produtor do real por meio de suas forças próprias – “tudo é construção humana” -, o presente – reflexo do encontro entre o passado (existente) e o futuro (projetado) – como totalidade em que o ser humano produz a realidade e, concomitantemente, produz-se – práxis - e a maneira de compreensão da realidade e do mundo como instâncias em constante movimento – dialética, de acordo com José Paulo Netto,

O materialismo dialético é uma teoria geral do ser que, em contraposição à "metafísica", privilegia o movimento e as contradições e toma o mundo material como o dado primário que, na consciência, dado secundário, aparece como reflexo. O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do materialismo dialético ao estudo da sociedade. (2012, p. 54)

Na presente pesquisa, para se contemplar o materialismo histórico-dialético, foi optada pela utilização da ADD, já exposta no capítulo 2. A utilização desta vertente como proposta para análise dos discursos expressos na BNCC apresentou-nos como uma alternativa viável, pois relacionamos dialeticamente os discursos presentes no documento com a esfera social e suas múltiplas vozes, para tanto, o radical -dialog foi selecionado com a intenção de se avaliar em que medida foi utilizado em uma perspectiva bakhtiniana e freireana.

5 CAPÍTULO IV – PRESENÇAS E AUSÊNCIAS DE BAKHTIN E FREIRE NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR DE LÍNGUA PORTUGUESA

O escopo deste capítulo é apresentar uma de análise de evidências das categorias dialogicidade e dialogismo, a partir do radical -dialog, na BNCC de LP para o EF II e investigar se os sentidos expressos no discurso do documento contemplam as acepções dessas categorias preconizadas pelos seus respectivos precursores: Freire e Bakhtin.