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Como vimos expondo no decorrer do trabalho, objetivamos realizar uma pesquisa com vistas à investigação dos usos de “foi quando” em situações reais, a partir do estudo de seus contextos de atuação. Nos contextos, conforme Heine (2002), observamos as mudanças construcionais que levam à construcionalização gramatical de “foi quando” como um conector.

Para tanto, procedemos a uma pesquisa de caráter principalmente qualitativo, observando usos de “foi quando” em perspectiva pancrônica. Neste capítulo, apresentamos os procedimentos metodológicos adotados tanto na coleta de dados e na constituição de nosso corpus, como também os procedimentos adotados na análise efetiva dos dados que compõem o corpus.

Sendo assim, dividimos este capítulo em duas seções. Na seção 3.1, procedemos à constituição e caracterização do corpus deste estudo. Mostramos todos os passos percorridos durante esse processo, abordando, inclusive, alguns caminhos que foram deixados de lado por verificarmos que não nos permitiriam alcançar os objetivos propostos na pesquisa. Na seção 3.2, apontamos os procedimentos de análise adotados na presente pesquisa.

3.1 Constituição e caracterização do corpus

A constituição do nosso corpus ocorreu em dois momentos, atendendo a duas perspectivas: uma sincrônica e uma diacrônica. Primeiramente, constituímos a parte sincrônica, através da coleta de dados de uso de “foi quando” em notícias. Optamos pelo gênero notícia, pois se trata de um texto de informação do tipo narrativo, sequência tipológica em que o uso de “foi quando” se mostra mais recorrente.

Começamos nossa coleta e análise através de notícias publicadas pelo Portal Globo em www.g1.globo.com. Separamos, inicialmente, todas as notícias que apresentavam usos de “foi quando”, independente do padrão, publicadas no período de 28/04/2011 até 28/07/2011.

Durante esse intervalo de três meses, foram coletadas 116 notícias, constituindo um material com total de 59.312 palavras. Nesse material, acusamos 120 ocorrências de uso de “foi quando”.

Posteriormente, decidimos observar como “foi quando” figurava em outro meio de circulação de notícias: o Jornal O Dia online, no site www.odia.ig.com.br. O objetivo era investigar a maneira como se dava o uso de “foi quando” em termos de padrões e de frequência, estabelecendo uma comparação com os dados anteriormente obtidos e compondo uma amostragem um pouco mais geral. Para isso, destacamos, em um primeiro momento, todas as notícias com “foi quando” publicadas em um período de três meses, de 29/01/2012 até 02/05/201277, independente do padrão de uso, cumprindo, assim, mesmo procedimento adotado para a coleta de notícias no portal Globo.

Durante essa primeira busca feita no site do jornal O Dia, conseguimos apenas 31 notícias que apresentavam usos de “foi quando”, compondo um material com um total de 13.043 palavras. Acusamos nesse material apenas 34 ocorrências de “foi quando”. Comparando esse quantitativo com o de notícias coletadas no Portal Globo, verificamos uma frequência token bem menor no Jornal O Dia. Pensamos em um possível motivo para isso: as notícias publicadas pelo O Dia apresentam, geralmente, uma quantidade de palavras inferior àquelas publicadas pelo portal Globo. Portanto, temos menos material de análise, considerando o mesmo intervalo de tempo.

Apurada essa baixa frequência, decidimos continuar coletando dados do jornal O Dia até que alcançássemos, mais ou menos, a mesma quantidade de palavras obtida na coleta de material no Portal de notícias da Globo. Nosso objetivo era obter uma equiparação, em termos de quantidade de dados, a fim de que pudéssemos fazer uma análise sincrônica de caráter qualitativo, com mais propriedade. Coletamos, desse modo, mais 98 notícias, no período de 09/08/2012 até 19/06/2013, compondo, junto com as 31 notícias citadas acima, um material com 59.359 palavras, totalizando 136 ocorrências de “foi quando”.

Assim, constituímos um corpus sincrônico com dados coletados no Portal Globo e no Jornal O Dia online, conforme o quadro 7:

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Destacamos as notícias de 29/01/2012 até 02/05/2012, ao invés de seguirmos somente até 29/04/2012, para compensarmos o mês de Fevereiro, que há apenas 29 dias.

Fontes Quantidade de notícias Quantidade de palavras Quantidade de ocorrências Período de publicação PORTAL GLOBO: www.g1.globo.com 116 59.312 120 28/04/2011 até 28/07/2011 O DIA online: www.odia.ig.com.br 129 59.359 136 29/01/2012 até 02/05/2012 e 09/08/2012 até 19/06/2013

Quadro 7: Representação dos dados sincrônicos obtidos através do Portal de Notícias da Globo e do jornal O

Dia online.

Em seguida, decidimos, ainda na sincronia atual, investigar o uso de “foi quando” em outros gêneros textuais nos quais a sequência tipológica narrativa não fosse predominante. O objetivo era verificar se “foi quando” era utilizado em outros gêneros e, principalmente, em outras sequências tipológicas, como a argumentativa, por exemplo, já que na pesquisa com as notícias acusamos o uso de “foi quando” como conector argumentativo. Para isso, selecionamos os gêneros editorial e artigo de opinião, publicados pelo Jornal O Globo, pelo Jornal O Dia e pela Folha de São Paulo, como material para análise.

Começamos essa busca pelo Jornal O Globo, no site www.oglobo.globo.com. Buscamos por usos de “foi quando” em todo o material online disponível78 e encontramos apenas duas ocorrências. A primeira delas, publicada em 05/07/2011, foi utilizada em um artigo de opinião escrito por um leitor do Globo79 chamado Sagrado Lamir David:

(11) Mas o que mais me faz agora, nesse momento de preito a um grande estadista, foi quando, em certa noite, assistindo ao famoso programa televisivo "Ferreira Neto", onde ele entrevistava, ao lado de outros, Itamar Franco e Ivete Vargas, a corajosa política, não satisfeita com uma declaração de Itamar, tentou diminuí-lo, dizendo que ele não passava de um senador de Juiz de Fora. Itamar, de modo simpático e educado, relevou a suposta ofensa, continuando a conversa como se nada tivesse ocorrido. (Jornal O Globo, publicado em 05/07/2011)

Observamos que o trecho acima não está bem escrito. Parece que falta alguma palavra em “Mas o que mais me faz agora”; ou há problema de concordância. Entretanto, é possível observarmos que “foi quando” figura em sequência tipológica narrativa, como um uso não integrado, composicional – padrão I.

A segunda ocorrência foi utilizada em um texto de autocrítica, publicado em 31/07/2012. Trata-se de um texto publicado pela redação do Jornal na seção de opinião, no qual há uma revisão / correção (em termos de concordância, regência, ortografia etc.) de

78

Busca realizada em 23/03/2013 às 13h43.

outros textos publicados pelo próprio Jornal. Em uma das correções apontadas, há um trecho, em sequência tipológica narrativa, que apresenta o uso de “foi quando”, porém esse uso não está em foco na correção:

(12) PAÍS – p. 6 – Juiz de Goiás acusa mulher de Cachoeira de chantagem logo depois: Foi quando eu perdi a paciência, abri a porta e pedi para ela sair...

Crítica: falta do “sic” ou erro de regência: “para” a mais

Certo: Foi quando eu perdi a paciência, abri a porta e pedi que ela saísse... (Jornal O Globo, publicado em 31/07/2012)

Apesar de o trecho acima não se prestar ao nosso objetivo de verificar o uso de “foi quando” em outra sequência tipológica – “foi quando”, nesse caso, figura em uma sequência narrativa – é interessante observarmos que tal uso não é vetado, mesmo em uma revisão mais apurada feita pela redação do Jornal. Trata-se de um uso de “foi quando” como conector, isento de correção pelo Jornal, ou seja, é um uso licenciado na escrita pelo Jornal.

Quanto ao Jornal O Dia, buscamos textos de opinião em todo o material disponível80 no site www.odia.ig.com.br e encontramos sete ocorrências de “foi quando” em cinco colunas, que são publicadas na seção de opinião. Destaca-se, no entanto, que apesar de esses textos serem publicados na seção de opinião, são textos que trazem observações do cotidiano, com um olhar não muito crítico sobre fatos da realidade, em linguagem de crônica; não são artigos de opinião prototípicos. Nesses textos, encontramos “foi quando” em sequências tipológicas narrativas, como exemplificamos abaixo. A primeira ocorrência foi publicada em texto assinado por Jaguar, pseudônimo de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, em 25/02/2012:

(13) Mas o melhor deste Carnaval foi quando eu tomava uma cerveja e lia jornal no Art Café, em Itaipava; levanto os olhos e dou com uma réplica de Frida Kahlo, atormentada pintora mexicana, de bigodes, sobrancelhas de Monteiro Lobato e até o macaquinho no ombro. Era a Jôse, que serve a cerveja mais gelada da Serra. (Jornal O Dia, publicado em 25/02/2012)

Trata-se de uma sequência tipológica narrativa em que o uso de “foi quando” se apresenta no padrão I, em uma leitura composicional.

A segunda ocorrência figura em texto assinado por Martinho da Vila, publicado em 31/03/2012:

(14) Gravei o “Pelo Telefone” do jeito que ele cantava e até hoje é um grande hit entre os meus sucessos. Toda vez que eu o canto fico emocionado e sinto uma imensa saudade do Donga, mas a emoção mais forte foi quando eu cantei com a mulher dele, a Vó Maria, em um show no extinto Canecão. Foi de chorar. (Jornal O Dia, publicado em 31/03/2012)

Como no exemplo anterior, “foi quando”, nesse caso, também se apresenta em sequência tipológica narrativa, no padrão I.

As outras cinco ocorrências encontradas foram utilizadas em colunas assinadas por Milton Cunha. Tais ocorrências também figuram em sequências tipológicas narrativas, conforme já mostramos acima, por isso não as transcrevemos aqui.

Como não havíamos conseguido alcançar nosso objetivo de analisar usos de “foi quando” em sequências tipológicas diferentes da narrativa, decidimos analisar o material de outro Jornal: A Folha de São Paulo, no site www.folha.uol.com.br.

Buscamos o uso de “foi quando” em todos os textos de opinião disponíveis81, que são divididos na Folha em editoriais, blogs, colunas e artigos de opinião. Essa busca foi bastante trabalhosa, uma vez que o site da Folha de São Paulo não dispunha de ferramentas para buscar mais de uma palavra. Logo, não conseguimos buscar diretamente a expressão “foi quando”; foi preciso analisar todos os textos de opinião que apresentavam a palavra “foi”, observando cada caso individualmente. Nesse sentido, foram analisados 573 documentos82, publicados de 21/06/2012 até 14/03/2013.

Dentre os 573 textos analisados, encontramos apenas uma ocorrência de “foi quando” logo no começo de um artigo de opinião cujo título é “Colarinho Branco: o mistério dos honorários”, publicado em 02/08/2012 e assinado por Vlamir Costa Magalhães:

(15) Crimes tipicamente praticados pela camada social mais poderosa, conhecidos como crimes de escritório ou gabinete, só passaram a ganhar atenção no início do último século.

Foi quando começou a se delinear o perfil de uma criminalidade mais

sofisticada, organizada, que abusava tanto da sua influência política como do poder financeiro.

Hoje, percebe-se que a criminalidade da violência foi progressivamente sobrepujada pela criminalidade da inteligência e da sutileza, com efeitos muito mais nocivos. (Folha de São Paulo, publicado em 02/08/2012)

No exemplo (15) acima, mesmo em um artigo de opinião, “foi quando” também foi utilizado em sequência tipológica narrativa para localizar um evento no tempo. “Foi quando”,

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Busca realizada em 14/03/2013 às 14h32.

nesse caso, apresenta-se no padrão II: verificamos integração pouco rígida entre os elementos, observando que “foi quando” retoma a expressão de tempo “início do último século” e a introduz no período seguinte, apresentando uma função conectiva importante tanto na narrativa como na argumentação proposta no artigo, em âmbito mais amplo. Podemos dizer que “foi quando” figura em um trecho narrativo que, de certa forma, serve de argumento.

Pudemos constatar através dessas buscas que os usos de “foi quando” figuram em sequências tipológicas narrativas e, sendo assim, a melhor forma de estudá-los e analisá-los é observarmos a atuação de “foi quando” em gêneros textuais nos quais a sequência narrativa seja predominante. Desse modo, decidimos manter como corpus para nossa análise dos dados sincrônicos o material coletado nas notícias publicadas pelo Portal Globo e pelo Jornal O Dia online.

Depois que obtivemos uma amostragem de dados da sincronia atual, sentimos a necessidade de observar os usos de “foi quando” em textos diacrônicos com objetivo de atestarmos, ou não, um processo de mudança gradual. Passamos, portanto, à constituição da segunda parte de nosso corpus, a parte diacrônica.

Nesta etapa, deparamo-nos com algumas dificuldades. A primeira delas diz respeito ao gênero estudado. Como trabalhamos, em perspectiva sincrônica, com textos do gênero notícia, tentamos, inicialmente, uma equiparação, fazendo uma busca por notícias em dados diacrônicos. No entanto, isso não foi possível, visto que quase não encontramos dados de notícia em sincronias mais antigas. Além disso, as notícias antigas que encontramos disponíveis, como por exemplo, as publicadas pelo Jornal do Brasil – material digitalizado, por volta da década de 30, século XIX, não configuram o gênero notícia, nos moldes de hoje. Tais notícias são, em sua grande maioria, pequenas notas divulgando casamentos, batizados, aniversários, nascimentos, falecimentos etc. Logo, essa equiparação de dados por gênero, mostrou-se inviável.

Diante disso, resolvemos buscar usos de “foi quando” em textos diacrônicos, cuja sequência tipológica predominante fosse a narrativa. Assim, estaríamos estabelecendo algum tipo de equiparação com os dados sincrônicos. Começamos essa busca pelo banco de dados do site Corpus do português, em www.corpusdoportugues.org, observando todas as sincronias disponíveis – do século XIII até XX.

Ressaltamos que encontramos usos de “foi quando” somente em sequência tipológica narrativa, em textos cujos gêneros são, de modo geral, romances, crônicas, notícias, contos, cantigas, biografias, hagiografias, epístolas e textos acadêmicos.

O Corpus do Português é constituído por aproximadamente 45 milhões de palavras, provenientes de pouco menos de 57 mil textos83. São 15 milhões de palavras dos séculos XIII até XVIII, 10 milhões no século XIX e 20 milhões no século XX. Trata-se de textos do Brasil e de Portugal. É importante mencionarmos que buscamos “foi quando” em todo o material disponível nos séculos XIII ao XIX. São todos textos escritos. No século XX, o Corpus do Português dispõe de textos escritos e de textos orais, mas nossa busca se deu apenas nos textos escritos.

Buscamos “foi quando” com a grafia atual e com as grafias seguintes: • “foy quando” – 21 dados;

• “foy quãdo” – 01 dado; • “foi quãdo” – nenhum dado; • “foi quãndo” – nenhum dado e • “foy quãndo – nenhum dado.

Encontramos um total de 164 ocorrências, distribuídas nos séculos XIII ao XX, conforme quadro abaixo:

Séc. XIII Séc. XIV Séc. XV Séc. XVI Séc. XVII Séc. XVIII Séc. XIX Séc. XX TOTAL 6 9 9 2 1 5 26 106 164

Quadro 8: Representação dos dados diacrônicos obtidos através do Corpus do Português.

Devido à dificuldade de encontrarmos dados diacrônicos, trabalhamos com tudo o que foi encontrado no Corpus do Português. Sendo assim, não controlamos quantidade de palavras. Como nossa pesquisa é de caráter predominantemente qualitativo, não consideramos problema em não fazer esse tipo de controle. Nosso objetivo era observarmos e analisarmos a maneira como os usos de “foi quando” figuravam em sincronias distantes.

Tentamos, ainda, coletar mais dados diacrônicos em outros corpora, mas quase não encontramos ocorrências de “foi quando”. Encontrávamos um dado ou outro, nada em quantidade significativa. Por exemplo, no Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, através do site http://www.tycho.iel.unicamp.br, buscamos “foi quando” em todos os vinte e três textos narrativos disponíveis – do século XIV até XIX –, um material composto por mais

de um milhão de palavras84, e apenas encontramos três ocorrências de “foi quando”. Diante disso, decidimos que a parte diacrônica de nosso corpus seria composta por todos os dados encontrados no Corpus do Português, considerando que a quantidade de 164 ocorrências nos possibilitaria uma boa análise.

Ratificamos, desta forma, que nossa pesquisa é de cunho principalmente qualitativo, que diz respeito ao caráter descritivo e interpretativo da análise baseada na observação dos dados coletados. No entanto, não podemos negar que os dados quantitativos, que se referem à natureza mensurável do material empírico tomado como amostra, em termos de frequência simples, fizeram-se importantes e necessários, contribuindo para a análise qualitativa que propomos.

Antes de passarmos aos procedimentos de análise, destacamos que durante a constituição de nosso corpus, alguns dados foram descartados. Descartamos os seguintes casos:

1) Trechos em que “foi quando” apareceu como resposta a uma pergunta. Ex.: Mas dá para acreditar que a musa da novela das 21h já chegou a pesar quase 20kg a mais? Foi

quando tinha 18 anos e ainda modelava.

2) Trechos confusos ou mal escritos. Ex.: A Variety disse que o novo filme é 'pouco mais que uma cópia pálida do primeiro', mas o Hollywood Reporter opinou que 'o que acontece em Bangcoc não é tão divertido quanto foi quando aconteceu em Vegas - mas vale a pena fazer a viagem, mesmo assim'.

3) Trechos com clivagem. Nesses trechos, os elementos “foi” e “que” são operadores que focalizam a oração temporal iniciada por “quando”. Ex.: Hinds descreveu o gesto como "desprezível" e disse que está chocado com o incidente e que nunca mais irá comprar no Tesco. "Minha noiva pensou que poderia ser pele dura ou uma cartilagem. Foi quando ela pegou que percebeu o que realmente era", relatou.

4) Trechos em que “foi” é o verbo “ir”. Ex.: Hebe se foi quando estava prestes a renascer. Carinho, amor e um selinho para Hebe, onde quer que ela esteja. Do seu eterno fã, Boni. 5) Trechos em que “foi quando” aparece após longa sequência descritiva de uma cena.

Ex.: Em Barcelos, cidade nas vizinhanças da urbe de Guimarães, tudo está correto. Bate vento ameno por corretivos que desembocam em planícies ribeiradas. O sonho do Sol é se pôr, já que cansado estava de iluminar tal pedaço de terra tranquila. Fazia verão nessa época pelas plagas oeste da península Portogalense. Foi quando o marquês de Santo Tirso, fincado

em seu castelo, nem a três léguas de Barcelos, desmontando de corcel zaino com sela marroquina, enviou a mensagem por alguém de confiança.

Para finalizarmos esta seção, ratificamos que formamos um corpus constituído por uma parte diacrônica – disposta no anexo I – e por uma parte sincrônica – disposta nos anexos II e III. Nossas fontes de pesquisa constam em três sites eletrônicos: www.corpusdoportugues.org, para os dados diacrônicos, e www.g1.globo.com e www.odia.ig.com.br, para os dados sincrônicos. Para esta tese, selecionamos, ao todo, 406 dados de uso de “foi quando”.

3.2 Procedimentos de análise

Como vimos expondo no decorrer do trabalho, objetivamos analisar os diferentes padrões de uso de “foi quando”, observando, à luz da Linguística Funcional Centrada no uso – LFCU, os graus de gramaticalidade sincrônica bem como o processo de mudança diacrônica a partir do estudo de “foi quando” nos contextos, conforme Heine (2002)85. Trata-se de uma perspectiva, portanto, pancrônica.

Nossa opção pela LFCU se justifica não só pelo fato de propormos uma análise com base em dados de uso, lançando mão de conceitos advindos do Funcionalismo Linguístico, como também pelo fato de nos apoiarmos nos estudos que compõem a Gramática das Construções, conforme destacamos no capítulo de Fundamentação Teórica. Entendemos que esse suporte teórico nos possibilita analisar os usos de “foi quando” com muito rigor.

No que se refere ao estudo dos contextos, trabalhamos na análise dos padrões de uso de “foi quando”, basicamente, com três contextos propostos por Heine (2002): contexto inicial, contexto ponte e contexto de mudança. Ressaltamos que o estudo dos contextos é realizado nesta pesquisa na perspectiva de construcionalização gramatical, proposta por Traugott e Trousdale (2013).

Desse modo, entendemos o contexto como um ambiente linguístico amplamente construído, incluindo propriedades sintáticas, morfológicas, fonológicas, semânticas, pragmáticas e discursivas, conforme propõem Traugott e Trousdale (2013). Assim, em cada

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