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Mapa 3 – Divisão do território pomerano em 1945

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A escolha da metodologia é de extrema importância para toda pesquisa científica, pois é nela que irá se delinear a produção de conhecimento que se deseja alcançar.

Fazer ciência é trabalhar simultaneamente com teoria, método e técnicas, numa perspectiva em que esse tripé se condicione mutuamente: o modo de fazer depende do que o objeto demanda, e a resposta ao objeto depende das perguntas, dos instrumentos e das estratégias utilizadas na coleta dos dados (MINAYO, 2012, p.622).

Como mencionado por Minayo (2012), o modo de realização da pesquisa depende de seu objeto e dos instrumentos utilizados para sua análise. Para cumprir com os objetivos de nosso trabalho, acreditamos que estudo qualitativo é o mais indicado para a análise proposta, e por isso, concordamos com Minayo (2012), ao justificarmos nossa escolha:

O verbo principal da análise qualitativa é compreender. Compreender é exercer a capacidade de colocar-se no lugar do outro, tendo em vista que, como seres humanos, temos condições de exercitar es se entendimento. Para compreender, é preciso levar em conta a

singularidade do indivíduo, porque sua subjetividade é uma

manifestação do viver total. Mas também é preciso saber que a experiência e a vivência de uma pessoa ocorrem no âmbito da história coletiva e são contextualizadas e envolvidas pela cultura do grupo em que ela se insere (MINAYO, 2012, p.623).

Assim como exposto por Minayo, consideramos que a compreensão é a base da análise qualitativa. Neste estudo, buscamos, sobretudo, compreender sob o olhar da glotopolítica, como se desenrolaram os fenômenos pesquisados através de uma perspectiva histórica. Para isso, faz-se necessário um estudo qualitativo, portanto fenomenológico, e descritivo do contexto linguístico, social, histórico e político do locus de nossa pesquisa.

Para atingir nossos objetivos de pesquisa, consideramos que qualquer ação da sociedade, relacionada à interação linguística, assume a forma do político, assim como postulado pelos estudos glotopolíticos (Cf. GUESPIN & MARCELLESI, 1986; LAGARES, 2011b). Portanto, iremos analisar as ações

relacionadas à(s) língua(s), não somente as institucionais, mas, também, as realizadas pela comunidade de origem pomerana;

Em relação ao campo glotopolítico de análise, nos deparamos com a problemática também identificada por Blanco: “vincular práticas e posições glotopolíticas, assumindo o risco de depararmo-nos, já de início, com domínios bastante amplos e cronologias bastante vastas” (BLANCO, 2016, p.50). Neste sentindo, é importante frisar a importância que a perspectiva histórica desempenha na análise glotopolítica. Em diversos momentos, são inúmeros os agentes glotopolíticos, que, institucionalizados ou não, no desenrolar dos atos linguísticos, sofrem e desempenham ações. Desta forma, entendemos que o percurso histórico das ações políticas sobre as línguas é pertinente para a compreensão dos fenômenos estudados e decisivo para as práticas glotopolíticas que resultaram na configuração atual do cenário linguístico de SMJ.

3.1 O locus da pesquisa

Localizado a 80 km da capital Vitória, o município de SMJ está na região Serrana do Espírito Santo. De acordo com dados levantados pelo IBGE, o último censo no município apontava uma população de 34.176 habitantes (IBGE, 2010) e conta com a projeção de população estimada de 39.928 habitantes no ano 2017 (IBGE, 2017). Formado principalmente por descendentes de imigrantes pomeranos, que mantiveram a língua pomerana viva no local, o município é hoje reconhecido, como afirma a home page da prefeitura, o “mais pomerano do Brasil”.25

Escolhemos SMJ como o locus de nossa pesquisa pela manutenção linguística do pomerano no local. A língua pomerana se manteve presente no local sobrevivendo às diversas intervenções proibitivas e às situações de CL ocorridas ao longo de sua história. Devido a essas características, tão particulares à comunidade de SMJ, buscamos compreender as ações glotopolíticas que se fizeram presente no local.

Em julho de 2017, visitamos o município estudado. Nossa ida ao locus foi essencial para a compreensão de diversas práticas linguísticas. Observações empíricas nos levaram a constatar a grande incidência de utilização da língua pomerana no cotidiano da comunidade e, também, a não inteligibilidade da língua alemã pelos falantes de pomerano que não tiveram contato anterior com a língua alemã.

3.2 Procedimentos de análise documental

A fim de lançar o olhar qualitativo acerca das ações glotopólíticas em SMJ, e com um recorte temporal extenso, a pesquisa documental e bibliográfica é relevante para nosso trabalho, pois consegue identificar satisfatoriamente o que Blanco cita como alvos de interesse26 da glotopolítica, na seleção de corpora na análise: “alvos de interesse [...] fornecem os traços pertinentes das lutas locais e focos particulares de poder que opõem e congregam agentes situados em diferentes posições desse mesmo espaço” (BLANCO, 2016, p.52).

Complementando a pesquisa bibliográfica disposta no item 2 deste trabalho, procedemos com a análise documental. Neste procedimento metodológico, coletamos registros e relatos históricos, que discorriam sobre os usos linguísticos no município, além de leis e decretos que proíbem ou legitimam práticas linguísticas em âmbito nacional, estadual ou municipal. Também incluímos materiais disponibilizados em páginas de internet que apresentam conteúdo em língua pomerana. Todo o material recolhido na pesquisa documental está disponibilizado no capítulo dedicado à análise.

Posteriormente, em nossa ida ao município, coletamos outros materiais que também foram utilizados para compor o nosso corpus de trabalho: informativos bilíngues em pomerano-português, fotos de cartazes, materiais expostos em museus de SMJ, DVD’s vendidos em língua pomerana e placas de ruas em que são observadas o uso das línguas pomerana e portuguesa.

26 Para Blanco (2016) os alvos de interesse são os objetivos e, também, possíveis consequências da práticas e ações linguísticas dos agentes glotopolíticos. Ou seja, segundo o autor, são os interesses socialmente constituídos (Cf. Blanco, 2016).

3.3 Entrevista com Ismael Tressmann

Durante nossa visita ao município em referência, realizamos uma entrevista com o prof. Dr. Ismael Tressmann, autor do “Dicionário Enciclopédico Pomerano-Português” de 2006 e responsável por ministrar a formação de professores do PROEPO. Tressmann, que é de origem pomerana e membro da comunidade local, é uma das maiores referências nos estudos sobre língua e cultura pomeranas.

A entrevista foi realizada de forma semiestruturada, por atender melhor os propósitos dessa pesquisa e para que o entrevistado tivesse liberdade para expor as informações.

A entrevista foi transcrita e será utilizada neste estudo em trechos dispostos ao longo da análise, que servirão para ilustrar aspectos da situação da língua pomerana e, principalmente, acerca da proposta de escrita elaborada pelo entrevistado, fundamentais para manutenção e revitalização linguísticas do pomerano.