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4.1.1 O Estudo Empírico

Nos capítulos anteriores buscou-se demonstrar quais as implicações das mudanças incorporadas ao processo de trabalho sobre o conjunto das relações de produção. Entende- se que as relações de produção são sempre relações sociais e que o desenvolvimento científico e tecnológico, enquanto produto do trabalho humano, adquire, sob o capitalismo, uma especificidade inerente à dominação da classe dos capitalistas e dos gestores sobre a classe trabalhadora.

Neste sentido a mudança de paradigma na organização do processo de trabalho, especialmente no que concerne à tecnologia de base microeletrônica e às novas formas de gerenciamento da força de trabalho, traz repercussões sobre a natureza das qualificações requeridas dos trabalhadores.

Esta questão suscita a necessidade de se estabelecer uma relação com o empírico - mediante um marco teórico definido - para a partir do fenômeno tentar concretizar uma análise que auxilie na compreensão de como a questão da qualificação articula-se a lógica de valorização do capital, uma vez que a mesma constitui-se em um elemento do processo de trabalho capitalista.

Daí a fabrica capitalista constituir-se em um campo fértil para a investigação, uma vez que representa a versão mais completa e acabada da forma de organização do processo de trabalho na sociedade contemporânea.

No entanto, no caso específico deste trabalho, a dificuldade de enfocar a fábrica na sua totalidade trouxe a necessidade de uma delimitação; dentre os trabalhadores optou-se por analisar a qualificação daqueles vinculados diretamente à produção, uma vez que os mesmos representam a base da estrutura funcional e são, supostamente, os mais afetados pelo processo de modernização.

E ainda assim é importante frisar que como o presente trabalho trata-se de um estudo de caso, as análises e conclusões não são passíveis de generalizações, mas sim restritas ao universo da empresa investigada.

4.1.2 A coleta de Informações

Posto o problema para a investigação e as limitações para a sua análise, cabe esclarecer o procedimento metodológico adotado para a realização da pesquisa, que em síntese foi o seguinte:

Primeiramente houve um contato com o presidente do sindicato dos metalúrgicos da cidade de Ponta Grossa que apontou o perfil de algumas das empresas mais representativas do setor no que concerne ao grau de incorporação de novas tecnologias no processo de trabalho, indicando para alguns casos, as condições impostas ao acesso de pesquisadores.

Tomando-se por base essas informações, selecionou-se quatro empresas que melhor se adequavam aos interesses desse estudo, iniciando-se posteriormente, as tentativas de comunicação com os seus dirigentes, visando expor o objetivo da pesquisa e obter o consentimento para o ingresso na fabrica.

Dentre as empresas contatadas, uma indústria de autopeças - a empresa X - foi a que se mostrou mais receptiva à realização da pesquisa, embora impondo certas restrições, especialmente quanto ao tempo de permanência na fabrica e ao número de trabalhadores liberados para as entrevistas.

Dessa forma deu-se início ao desenvolvimento do trabalho de pesquisa, que ocorreu por meio de visitas diárias que duravam em média duas horas, durante a segunda quinzena do mês março de 2002.

O primeiro contato com a empresa X ocorreu por intermédio de uma visita ao processo produtivo conjuntamente com um grupo de trabalhadores de uma empresa distinta.

Tal visita, apesar de limitada quanto ao tempo de duração e às informações concedidas, possibilitou a obtenção de dados elementares acerca da empresa, que por sua

vez serviu como base à elaboração dos quatro roteiros de entrevistas que norteou à interlocução27

A necessidade de obter-se uma visão abrangente do processo produtivo, exigiu não apenas a análise dos depoimentos dos operadores de produção, que no caso específico desse estudo representam os trabalhadores ligados diretamente à produção, mas também de outros elementos pertencentes à categorias hierarquicamente superiores, uma vez que estes são os responsáveis por organizar, supervisionar ou acompanhar o trabalho executado pelos primeiros.

Daí justifica-se as entrevistas realizadas com o gerente de produção, com a supervisora de recrutamento/seleção/treinamento, com os dois encarregados de produção e com um operador-líder, conforme demonstrado no Quadro Geral dos Entrevistados da Empresa X.

Entretanto a apreensão da objetividade na relação trabalho/qualificação dos operadores, não se ateve às informações obtidas nas entrevistas.

Também foram utilizados outros procedimentos como a análise de alguns documentos cedidos pelo Departamento de Recursos Humanos, e principalmente a observação direta do trabalho executado ao nível de chão-de-fábrica. Depois da primeira visita retornou-se ao processo de trabalho por várias outras vezes para observá-lo no seu “acontecendo”.

E na medida em que a empresa liberou apenas dois operadores de produção para as entrevistas, procurou-se conversar informalmente com mais alguns deles no intuito de confirmar as informações prestadas pelos outros entrevistados.

Isto era possível especialmente no momento do retomo do trabalho, já que por diversas vezes teve-se a oportunidade de utilizar o mesmo meio de transporte dos trabalhadores.

Para orientar a coleta de informações e de opiniões, bem como o trabalho de observação direta do processo de trabalho, tomou-se por base os seguintes aspectos:

a) grau de incorporação de novas tecnologias nos meios de trabalho (maquinaria; equipamentos e instrumentos);

b) forma de gerenciamento da produção e das informações (compra de matéria- prima, volume de estoques, programação da produção);

c) forma de gerenciamento da força de trabalho (especialização, rotatividade interna, ampliação da tarefa, ritmo de trabalho, tipo de supervisão, autonomia ao nível da execução);

d) requisitos relativos à qualificação para o trabalho concreto (experiência, escolaridade, treinamentos, etc.).

4.1.3 QUADRO 1 - QUADRO GERAL DOS ENTREVISTADOS NA EMPRESA X

CARGO IDADE ESCOLARIDADE SETOR

Supervisora de

Recrutamento/Seleção/T reinamento

25

Curso Superior Completo - Administração de

Empresas

Departamento de Recursos Humanos

Gerente de Produção 27 Curso Superior Completo - Engenharia Mecânica

Departamento de Engenharia de

Processos

Encarregado de produção 25 Curso Superior Incompleto - Economia

Segmento de Produção do Chicote Elétrico

Principal

Encarregado de Produção 26 Ensino Médio Completo

Segmento de Produção do Chicote Elétrico

do Motor e Secundários

Operador-líder 31 Ensino Médio Completo

Segmento de Produção do Chicote Elétrico

do Motor e Secundários

Operador de Produção 22 Ensino Médio Incompleto

Area de Corte do Chicote Elétrico

de Motor e Secundários

Operador de Produção 20 Curso Técnico Completo - Contabilidade

Área de Montagem do Chicote Elétrico

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