• Nenhum resultado encontrado

3 O PERCURSO DA METODOLOGIA DA AVALIAÇÃO DENSA DE

3.2 Procedimentos Metodológicos

Quanto às estratégias metodológicas, optei por adotar procedimentos quantitativos e qualitativos. Entendo por estratégia metodológica um conjunto de concepções e práticas que descrevem um percurso a ser construído na realização de pesquisas sociais e avaliativas. Na

38 Principais fontes virão da Secretaria de Segurança Pública e Defesa social do Ceará; Fórum Brasileiro de

Segurança Pública; Comitê Cearense pela Prevenção de homicídios na adolescência; Laboratório Conflitualidade e Violência (COVIO/UECE); Laboratório Estudos da Violência (LEV/UFC).

explanação do percurso metodológico desta pesquisa, foi direcionado pelas concepções de pesquisa em profundidade de Rodrigues (2008) e de avaliação das políticas públicas como um processo de natureza sociopolítica de Carvalho e Gussi (2011).

Para o desenvolvimento deste estudo avaliativo, optei pelo método não experimental ou quase experimental, em que os grupos pesquisados não foram escolhidos aleatoriamente sendo preciso aplicar esse método para estimar o impacto do Programa. O objetivo do método aqui utilizado foi consertar a direção produzida pela falta da aleatorização, ou seja, aproximar-se ao máximo de uma situação experimental, como salienta Ramos:

O ideal seria ter na pesquisa o sujeito atingido e seu clone exato. Como isso não é possível, um dos pontos mais delicados do desenho de avaliação diz respeito à tentativa de encontrarmos o grupo comparativo ou, como se chama na literatura sobre avaliação, o contrafactual. (RAMOS, 2009, p. 5).

Para entender as particularidades de um grupo atendido pela política em questão e outro grupo que não foi contemplado, carece-se de dados de crimes violentos letais e intencionais de antes e de depois do da política pública – (PP) para os dois grupos. Que aqui chamei de grupo de controle – o que não sofreu o impacto do evento e o grupo de tratamento – os atingidos pela política pública. Assim, esta amostra foi dividida em quatro grupos: o grupo de controle antes da PP, o grupo de controle depois da PP, o grupo tratamento antes da PP e o grupo tratamento depois da PP.

No método não experimental, precisou coletar/utilizar outras informações sobre os participantes e não participantes a fim de garantir grupos comparáveis e, assim, uma estimação com o menor viés possível. Para estimar o impacto considerei ver as diferenças dos percentuais do antes e depois do grupo de controle e tratamento.

Neste procedimento o avaliador compara o resultado a ser avaliado no grupo de tratamento (que recebeu o Programa) e no de controle antes (primeira diferença) e depois do Programa ter ocorrido (segunda diferença) controlando-se por características (variáveis de controle) que possam se diferenciar entre os grupos. (RAMOS, 2009, p. 19).

Segundo Ramos:

Sobre a necessidade do grupo de controle. Se analisarmos somente o grupo de tratamento (no nosso caso os atingidos pela política/Programa social), antes e depois teremos muita dificuldade de separar o impacto daquele Programa/ política do efeito de outros aspectos que interferem no resultado que está sendo investigado. (RAMOS, 2009, p.5).

Contudo, o emprego deste método foi de encontro a alguns contratempos práticos, políticos e operacionais, em que se buscou atingir um resultado plausível. Não me limitei em comparar apenas incidências criminais antes e depois da política pública implantada, pois seria insuficiente para calcular o impacto.

Compus os grupos onde o de tratamento foi composto com os bairros Vicente Pinzón, Cais do Porto e Mucuripe. Juntos, esses bairros formam o território do Vicente Pinzón, área de atuação da primeira Unidade Integrada de Segurança os quais identifiquei como UNISEG I. Já o grupo de controle foi composto pelos bairros Barra do Ceará, Bom Jardim e Conjunto Palmeiras. Os Bairros de controle39 foram escolhidos por terem alto índice de

criminalidade, como também baixo perfil socioeconômico os quais são comparados aos de tratamento, aqui, sua união foi identificada como Grupo Misto.

Compreendo que apenas comparar a incidência criminal antes e depois do Programa implantado seria manifestamente insuficiente para mensurar a densidade de impacto que gostaria, já que a evolução do impacto, de forma geral, deve ser estimada através de vários tipos de comparações e fatores antes e depois da implantação da política pública, fatores esses que influenciaram, de forma contundente, a configuração da ciência moderna, os quais levei em consideração:

a) hipótese que está sendo investigada; b) qual a teoria que está por detrás dessa hipótese e que fornece uma explicação para ela; c) que tipo de informações os dados que tenho em mãos podem me oferecer; d) de que forma eles foram coletados (e.g. amostragem representativa ou não, estratificada ou não, questionários anônimos ou não, quem foram os aplicadores, contexto da aplicação etc.); e) as distribuições de cada variável; f) as distribuições conjuntas dos pares de variáveis e as distribuições da variável dependente com as demais; g) que mecanismos a teoria introduz para relacionar os “controles” ou variáveis independentes que escolho colocar no modelo com a variável dependente. (COLLARES, 2013, p. 128).

Foi realizada a aplicação de um questionário semiestruturado por meio de uma entrevista, com os gestores e profissionais institucionais operadores da política pública. A entrevista foi gravada pelo investigador com autorização dos entrevistados e logo após foi transcrita para ser analisada. Os profissionais foram devidamente escolhidos pelos cargos que ocupam à frente da política pública, a entrevista (em anexo) possuía oito perguntas divididas em três blocos, os quais eram:

1. Governança em Segurança Pública;

39 Os dados coletados desses bairros foram quando os mesmos ainda não tinham UNISEG, pelo fato desta

2. Segurança Pública e Policiamento; 3. Segurança Pública e Perspectivas.

Verifiquei se o instrumento questionário era bom, mediante a realização de um pré- teste que me possibilitou detectar possíveis falhas que poderiam passar despercebidas, assim como, para estimar o tempo decorrido para a sua aplicação. Busquei a articulação com os objetivos da pesquisa e sua problematização teórica, procurando revelar padrões, conexões e contradições da política em questão. Tive a oportunidade de certificar se o que o questionado iria revelar as dimensões práticas da política pública avaliada mediante contato direto sob a perspectiva da compreensão dos sujeitos e grupos sociais.

O registro das entrevistas, com duração média de 30 minutos, se deu em áudio no ambiente de trabalho do gestor/operador, onde, de acordo com as respostas, guiei a conversa com os entrevistados com breves rascunhos e, posteriormente, registro em diário de campo, com a intenção de não causar desconforto ao entrevistado. A interpretação foi balizada pelos dados da entrevista.

Os dados quantitativos foram cruzados através do Software SPSS, tendo como princípio norteador Silva e Silva (2008, p. 89), que nos fala que “[...] a avaliação de políticas e Programas sociais deve ser percebida na relação dialética de duas dimensões a ela inerentes: a dimensão técnica e a dimensão política”.

O trabalho de campo foi realizado com observação direta, detalhando as conexões de sentido das áreas dos agentes e as dinâmicas espaciais no qual se efetivava o projeto, dinâmica em que usei ao contexto, segundo Magnani (2002), particularizado, minucioso e atento para cada detalhe dos achados da pesquisa, mostrando a importância de contextualizar com seriedade o espaço e as condições de produção da investigação com uma proposta de construir um olhar. O mesmo olhar que o antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira discorre em seu livro O Trabalho do Antropólogo (1998), em que descreve que o olhar é como uma ação cognitiva, mas que se recobre de um caráter exclusivo enquanto constitutivo do conhecimento sociológico e antropológico. O autor lembra que o olhar é disciplinado pela teoria e possui uma intencionalidade, isto é, é dirigido pela nossa formação e, portanto, é seleto.

Busquei, através de conversas, examinar os sentidos do segmento populacional que opera a política pública no território e que estão diretamente apoiados no contexto da política pública, com o objetivo de descrevê-lo a partir do problema.

A amostragem foi pequena e não aleatória e não probabilística devido ao curto prazo de tempo despendido e por se aproximar mais do objeto de pesquisa, uma vez que foram

escolhidos intencionalmente de forma objetiva gestores e operadores públicos que atuavam de forma direta e indireta no território do Vicente Pinzón e de forma subjetiva, através de conversas informais com os moradores locais, onde a política acontecia. Já as variáveis que foram utilizadas para a análise foram – os dias da semana, intervalos de hora, tipos de local do crime, sexo do preso, sexo da vítima, faixa etária da vítima, quantitativos de CVLI por mês no biênio de 2016-2017.

Para analisar essas variáveis, optou-se por trabalhar com a construção de tabelas e gráficos dos dados obtidos acompanhados de estatísticas descritivas, pois corroboro com Jannuzzi (2001), quando diz que a estatística é a matéria prima para a construção de indicadores. A qualidade de um indicador é outro fator importante em sua construção e utilização, que busquei tratar de forma responsável. Essa qualidade depende das propriedades dos componentes utilizados em sua formulação, tais como a frequência de casos, o tamanho da população etc. e da precisão dos sistemas de informação empregados como o registro, a coleta e a transmissão dos dados.

Trabalhei com redes de pessoas, tais como, moradores, ONGs e entidades aliadas ao Pacto por um Ceará Pacífico no território do Vicente Pinzón; gestores governamentais da política pública de segurança; atores institucionais – municipal e estadual – com atuação direta ou indireta no Pacto por um Ceará Pacífico; bombeiros, policiais civis e militares que trabalharam no Pacto por um Ceará Pacífico.