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O primeiro passo foi investigar na bibliografia existente, como acontecem as construções das hidrelétricas, os conflitos existentes neste tipo de obra e o desenvolvimento almejado no contexto da geração de energia elétrica. Para isso, realizou-se uma revisão bibliográfica por meio de estudos concretizados sobre o tema, a partir de documentos, livros, artigos científicos e sites.

A temática da implantação de hidrelétricas voltou à cena científica recentemente, assim, os esforços foram concentrados na busca de pesquisas realizadas nos últimos anos. “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2008, p. 50).

Com base nisto, buscou-se autores que já atuam na temática, com o intuito de aprimorar o conhecimento vivido em campo pela autora deste trabalho, que atuou por cerca de cinco anos em projetos na área de cumprimento da legislação socioambiental de implantações de hidrelétricas nos estados de Goiás e do Paraná. Fato que também instigou a realização deste estudo.

O segundo passo foi a pesquisa de campo nas comunidades rurais abrangidas pela Hidrelétrica Baixo Iguaçu. Primeiramente, durante a fase exploratória, objetivou-se conhecer alguns moradores e uma pequena parte da situação da área atingida.

Nesta etapa exploratória, que aconteceu em dezembro de 2012 e abril de 2013, também foi possível participar de reuniões sobre a implantação da Hidrelétrica, com as lideranças políticas municipais, agricultores atingidos e representantes da concessionária. Estas participações possibilitaram o esclarecimento de dúvidas e a coleta de materiais como documentos oficiais, fotos, listas e mapas.

O terceiro passo foi a aplicação das entrevistas semiestruturadas, utilizando- se um roteiro contendo questões fechadas e abertas. As entrevistas foram gravadas, com a autorização formal dos entrevistados, por meio de documento escrito,

assinado e lido em gravação de áudio durante a coleta das informações. Este instrumento metodológico foi utilizado para averiguar qual a perspectiva social dos moradores em relação à implantação da Hidrelétrica Baixo Iguaçu.

É importante acrescentar que tanto a pesquisadora, como o carro usado para acesso às comunidades rurais atingidas estavam identificados. Foram utilizados colete e “adesivo” referente ao programa de pós-graduação da universidade. A necessidade de identificação foi prevista pela organização dos moradores, a ADAHBI, e confirmada em campo e foi fundamental para a boa receptividade dos moradores, já que o assunto da hidrelétrica, para grande parte deles, está sendo um tema conflituoso e desagradável.

As pesquisas foram realizadas com aqueles moradores identificados pela ADAHBI, sendo que a pesquisadora se dirigiu sozinha até as casas das famílias, a fim de evitar interferências no posicionamento das mesmas, ocasionadas pela presença de outras pessoas.

Como já mencionado, para a escolha dos entrevistados, contou-se com o auxílio da diretoria da ADAHBI, a qual descreveu rapidamente as famílias. Foi utilizada uma listagem constando as famílias atingidas, a qual possuía informações como quantidade de terras e comunidade do estabelecimento. A partir desta descrição, procurou-se selecionar moradores que representassem diferentes comunidades impactadas e diferentes níveis econômicos.

No critério de diferentes situações financeiras, foi considerada, primeiramente, a quantidade de terra do estabelecimento. E, em segundo lugar, foi observada a variedade das atividades como: produção leiteira, avicultura, gado de corte, produção de grãos, etc. Buscou-se entrevistar famílias com diferentes sistemas produtivos e, também, as pluriativas, isto é, aquelas que possuem membros atuando em atividades agrícolas e não agrícolas.

Foram entrevistadas dez famílias atingidas de Capitão Leônidas Marques, oito de Capanema, quatro de Realeza, duas de Planalto e uma de Nova Prata do Iguaçu. A fim de preservar a identidade de todos os entrevistados, optou-se por nomes fictícios. Também, na identificação das falas das lideranças, foram citadas apenas as instituições que estas representaram.

4.3 O corpus da pesquisa

As entrevistas com os atingidos foram aplicadas durante o mês de julho de 2013, abrangendo 25 famílias atingidas pela implantação da Hidrelétrica Baixo Iguaçu. Do total, 21 famílias entrevistadas são proprietárias e 04 não são donas de terras. Entre os que não são proprietários, foram entrevistados dois arrendatários e dois funcionários. Entre os proprietários, encontraram-se casos mistos de três proprietários e arrendatários e um proprietário e um funcionário, simultaneamente. Também, em outubro de 2013, três lideranças foram ouvidas, a fim de complementar as informações anteriormente coletadas.

A maioria dos entrevistados diretamente atingidos reside na área, ou seja, 16 famílias do total de 25 famílias entrevistadas. Das 09 famílias que não residem no local, 04 residem em um estabelecimento rural próximo à área atingida e, as 05 restantes, na área urbana. Destas, 04 foram entrevistadas em Capitão Leônidas Marques e 01 em Capanema. Este resultado condiz com a realidade local, porque a área urbana de Capitão Leônidas Marques é próxima da área rural atingida, o que acaba incentivando as famílias a fixar residência nas cidades. Alguns estabelecimentos distam apenas 3 km da cidade, com fácil acesso, com estradas asfaltadas em plena área rural. Já, em Capanema, a situação é contrária, pois a área diretamente atingida fica localizada distante do centro urbano.

As comunidades rurais de Capitão Leônidas Marques foram representadas por: quatro famílias da Linha São Luiz; uma da Linha Porto Três Irmãos; uma da Comunidade São Braz; uma da Linha Capanema; uma da Comunidade São João; uma da Linha Hortelã; uma da Linha Alto Caçula; e uma da Linha Alto Alegre. Faz- se necessário observar que citam-se onze famílias das comunidades, mas apenas dez foram ouvidas. Explica-se o fato pois , o número de comunidades rurais é maior que o número de famílias pelo motivo de um proprietário possuir dois estabelecimentos em diferentes comunidades sendo que ambos serão atingidos.

Já em Capanema, foram ouvidas as seguintes famílias das comunidades: quatro da Comunidade Marechal Lott; uma da Vargem Bonita; uma da Linha Brizola; e duas da Linha Jacaré. Em Realeza, as comunidades foram representadas por: uma família da Linha Zutião; duas de Marmelândia; e uma de Vista Alegre. Em Planalto foram ouvidas duas famílias da Linha São Vicente e, em Nova Prata do Iguaçu, houve a participação de uma família da Barra do Quieto.