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2. A RELAÇÃO ENTRE A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E A AQUISIÇÃO DA

3.2 Procedimentos metodológicos

Neste estudo, ao aplicarmos um Teste Cognitivo de Leitura e Escrita, em que buscamos levantar os acertos e os erros dos sujeitos nas questões que envolviam habilidades fonológicas, leitura e escrita, adotamos como enfoque, neste primeiro momento, a pesquisa quantitativa, já que o objetivo desse tipo de pesquisa

é a predição, a testagem de hipóteses e a generalização. Nessa perspectiva, usa-se a forma de explanação chamada indutivo-estatística, que é de natureza probilística. O desejo de predizer e encontrar regularidades articula-se ao interesse na aplicação prática. (SANTOS FILHO, 2000, p.42).

Portanto, pretendemos produzir uma síntese que diferencia grupos, ignorando diferenças individuais dentro dos grupos. Por outro lado, como faremos análise dos resultados encontrados nas respostas ao teste aplicado, procuramos realizar a pesquisa qualitativa, preocupando-nos mais com a compreensão e a interpretação do fenômeno observado (SANTOS FILHO, 2000, p. 43). Sendo assim, estamos conscientes de que

(...) as investigações qualitativas, por usar diversidade e flexibilidade, não admitem regras precisas e aplicáveis a uma ampla gama de casos. Além disso, as pesquisas qualitativas diferem bastante quanto ao grau de estruturação prévia, isto é, quanto aos aspectos que podem ser definidos já no projeto (ALVES - MAZZOTTI, 2002, p. 147).

Como estamos lidando com o papel da consciência fonológica e suas relações com a aprendizagem inicial da escrita e da leitura, fenômeno sobre o qual já existe conhecimento acumulado por outras pesquisas, concordamos com Alves-Mazzotti (2002) quando afirma que, na situação acima relatada, “um planejamento pouco estruturado, altamente indutivo, resulta em perda de tempo e de profundidade. Além disso, trabalhar de forma altamente indutiva, deixando que o design e a teoria emirjam dos dados, é difícil até mesmo para pesquisadores mais experientes” (ALVES-MAZZOTTI, 2002, p. 148).

Alves-Mazzotti (2002) lembra que o planejamento em pesquisa qualitativa “não precisa e nem deve ser apriorístico no sentido mais estrito, pois nos estudos qualitativos, a coleta sistemática de dados deve ser precedida por uma imersão do pesquisador no contexto a ser estudado”. Fizemos, portanto, uma imersão no contexto a ser estudado, aqui representado pela Educação de Jovens e Adultos, com a aplicação do Teste Cognitivo de Leitura e Escrita do Programa Brasil Alfabetizado, elaborado pelo Centro de Alfabetização Leitura e Escrita (Ceale). Para aqueles que se dispuseram a colaborar com a pesquisa, foi apresentado o Termo Livre Consentimento (ver anexo 4). Com isso, realizamos observações durante as aplicações nas salas de aula, além de entrevistas com os aprendizes que estiveram envolvidos em nossa pesquisa.

No que se refere às observações em sala de aula, realizadas no momento da aplicação, utilizamos Vianna (2003) para fundamentar tal procedimento metodológico. Fizemos uso de observação estruturada, pois esta “procura determinar a frequência com que um comportamento ocorre ou como as coisas são ditas” (VIANNA, 2003, p. 18.).

Com vistas a realizar uma observação de fato estruturada, procuramos o que precisaríamos observar no grupo, durante a aplicação dos testes, os aspectos mais significativos para os objetivos desta pesquisa, traçando um planejamento para coleta e registro das observações. Buscamos captar, no momento da aplicação dos testes, as maiores dificuldades encontradas nas diversas questões da avaliação; as questões que eram mais facilmente resolvidas, as questões que davam margem para dúvidas; o tempo que os alunos levavam para realizar a atividade avaliativa; os recursos utilizados para responder às questões (muitos dos aprendizes escreviam palavras em suas carteiras) e, sobretudo, estávamos interessados na manifestação

da aprendizagem exteriorizada na resolução dos itens que envolviam leitura, escrita e consciência fonológica.

Além de estruturadas, fizemos observações sistemáticas, pois em todas as aplicações mantivemo-nos no papel de pesquisador e observador, afastando-nos da função de aplicador. Concordando com Vianna (2003), adotamos “procedimentos padronizados para obter os dados que podiam ser considerados como uma extensão da teoria” ((VIANNA, 2003, p. 46). Acreditamos que o “pesquisador deve definir categorias e unidades de comportamentos a serem observados e estabelecer meios de mensurá-los. Isso exige um período de observação inicial” (VIANNA, 2003, p. 46). Para melhor registrar as observações realizadas no momento da aplicação dos testes, fizemos registros por meio de áudios e vídeotapes que foram transcritos para análises.

A utilização de uma filmadora nos rendeu maior análise sobre como os sujeitos realizavam as questões do teste. Acreditamos que “a imagem, com ou sem acompanhamento de som, oferece um registro restrito, mas poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais – concretos, materiais” (LOIZOS, 2004, p. 137). Além disso:

o vídeo tem uma função óbvia de registro de dados sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivamente por um único observador enquanto ele se desenrola (...) não existem limites óbvios para amplitude de ações e narrações humanas que possam ser registrados, empregando conjuntamente imagem e som em um filme de vídeo (LOIZOS, 2004, p. 149).

Assim, procuramos contemplar tarefas sugeridas por Loizos (2004), como o exame sistemático do corpus de pesquisa, a criação de um sistema de anotações e o processamento analítico de informação colhida.

Devido à presença de equipamentos, como: câmera filmadora e MP3, uma vez que estes equipamentos foram utilizados para o registro de vídeo e áudio, respectivamente, em nossas observações, procuramos conscientizar os sujeitos de que estavam sendo observados e que seriam objetos de pesquisa, configurando uma observação aberta, na qual nossa presença era visível para os observados.

É importante ressaltar que as informações pesquisadas permaneceram restritas e confidenciais, sendo assim, não colocamos os nomes verdadeiros dos participantes da pesquisa, para que, assim, possamos garantir a proteção ética contra a identificação e no caso da exibição de parte de nossos vídeos, pretendemos inserir pequenas máscaras eletrônicas brancas sobre os olhos, objetivando disfarçar a imagem dos rostos (LOIZOS, 2004).

Ressaltamos que o uso de uma metodologia de observação, de acordo com Vianna (2003), não exclui, entretanto, o emprego de outros métodos de coleta de dados, sendo necessária a utilização de entrevistas.

Sendo assim, utilizamos as entrevistas, obedecendo a alguns dos procedimentos sugeridos por Bourdieu (1997) para a realização das entrevistas com os jovens e adultos:

levando em conta o mercado dos bens lingísticos e simbólicos inerentes à relação de entrevista, esforçamo-nos para fazer tudo para dominar os efeitos (sem pretender anulá-los); quer dizer, mais precisamente para reduzir no máximo a violência simbólica que se pode exercer através dele. Procurou-se então instaurar uma relação de escuta ativa e metódica, tão afastada da pura não - intervenção da entrevista não dirigida, quando do dirigismo do questionário (BOURDIEU, 1997, p. 695).

Considerando, ainda, as contribuições de Pierre Bourdieu, ao entrevistar alguns dos jovens e adultos, procuramos demonstrar disponibilidade total ao entrevistado, adotando sua linguagem, emergindo em seus pontos de vista e sentimentos.

Após a aplicação dos testes e as devidas observações, realizamos entrevistas com 10 sujeitos, envolvidos na primeira aplicação dos testes. Os 10 alunos envolvidos na entrevista pertenciam a quatro turmas distintas do PROEF. Nessas entrevistas, indagamos o que os alunos mudariam em seus testes e demos a eles a oportunidade de alterarem o que achassem necessário. Com isso, indagávamos o porquê da resposta de muitas questões, o que os levava a responder daquela forma, se achavam difícil ou fácil, se queriam alterar a resposta ou se estavam satisfeitos com a resposta que tinham dado no momento do teste.