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Como foi apresentado, esta dissertação analisa as relações entre os retornos futuros e passados das ações, através das suas decomposições no que foi aqui definido como retornos tangíveis e intangíveis, em busca de evidências da sobre-reação do mercado à informação intangível. O componente tangível é aquele que está fundamentado pelos relatórios contábil-financeiros publicados pelas empresas que têm suas ações negociadas no mercado, ou seja, fundamentados por informações tangíveis sobre as atividades correntes das empresas. O outro componente, ortogonal ao retorno tangível, é o retorno intangível, obtido pelo resíduo da estimativa do valor de mercado a partir de uma regressão multivariada, que tem do lado direito da equação o retorno sobre o retorno patrimonial e o índice B/M. É o retorno não esperado pelo crescimento das métricas fundamentais de desempenho e que está relacionado às perspectivas de crescimento e rentabilidade das empresas, e não dos seus resultados conhecidos.

Este capítulo descreve os procedimentos metodológicos que são adotados para analisar estas relações, apresentando o método de pesquisa, hipóteses, amostragem, operacionalização das variáveis e os resultados obtidos.

3.1. Método de pesquisa

É utilizado o método quantitativo, comum em estudos descritivos orientados para a verificação da existência de relações entre variáveis ou então de relações de causalidade entre fenômenos, a partir da análise das freqüências de incidência e correlações estatísticas (RICHARDSON, 1999). O método utilizado na construção desta dissertação enquadra-se, sob o enfoque de seus objetivos, como uma pesquisa descritiva. Sekaran (1992) afirma que uma pesquisa descritiva é elaborada para verificar e ser capaz de descrever as características de variáveis em certas situações. O objetivo de um estudo descritivo, portanto, é descrever aspectos relevantes do fenômeno de interesse do pesquisador sobre um indivíduo, organização, indústria, ou outra perspectiva.

Bryman (2000) afirma que uma grande preocupação dos pesquisadores é a demonstração da causalidade. Hair, Babin, Money e Samouel (2006) afirmam que quando há uma ligação coerente e sistemática entre as variáveis, dizemos que existe uma relação. Utilizam-se as técnicas associativas de correlação e regressão para se determinar se há esta relação coerente e sistemática entre duas ou mais variáveis. Alertam que é importante

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compreender que a relação não é necessariamente causal, ou seja, não se pode dizer que uma variável causa a outra.

Muitas hipóteses, segundo Bryman (2000), contêm implicitamente ou explicitamente afirmações sobre causas e efeitos e pesquisas subseqüentes são frequentemente elaboradas para demonstrar a validade da causalidade. Alerta que a conotação de causa como alguma coisa que determina outra é inapropriada e o correto é que a mudança em uma variável provoca uma mudança em outra variável. Esta pesquisa introduz importantes questões dos mercados financeiros, estabelecendo a presença de relações entre a variável B/M e outras variáveis como retorno das ações, decompostos nos seus elementos tangíveis e intangíveis.

3.2. Hipóteses de pesquisa

Para a construção das hipóteses da pesquisa, são consideradas como variáveis dependentes o retorno futuro, ou os retornos mensais durante o período de um ano. As variáveis independentes ou explanatórias são os retornos passados (tangível, intangível e total) acumulados no período que os antecedem. Consistente com os demais estudos sobre o tema na literatura acadêmica, este período é estabelecido em cinco anos, período que os estudos mostraram que os efeitos B/M podem ser observados de maneira significativa. Além destas, são analisadas como variável dependente o índice B/M futuro e como variáveis independentes o índice B/M e retorno (tangível e intangível) passados.

As relações entre as variáveis são confirmadas pela significância dos coeficientes das regressões lineares, através de estatísticas-t, e os sinais dos coeficientes das equações de regressão nos fornecerão os sinais destas relações. Obedecendo-se ao critério de falsificabilidade, procura-se rejeitar as hipóteses nulas (H0) e assim confirmar as hipóteses

alternativas (H1).

As hipóteses estão construídas para verificar se há relações significativas entre o índice B/M e os retornos tangíveis e intangíveis passados. É a forma de se estabelecer em que medida o valor patrimonial das empresas escalado ao seu valor de mercado está relacionado aos resultados passados. Procura-se estabelecer se o índice B/M é um bom indicador da informação intangível das perspectivas de crescimento das empresas e que não estão refletidos nos seus resultados passados. Outras hipóteses procuram estabelecer se os retornos mensais, considerados neste cenário como retornos futuros, estão relacionados aos resultados

dos retornos tangíveis e intangíveis passados. Além disto, analisa-se o relacionamento das variáveis indicativas dos retornos e os índices B/M.

As hipóteses testadas são:

Hipótese 1: o índice B/M está correlacionado negativamente ao retorno passado. O significado desta hipótese é que empresas com altos índices B/M são aquelas que experimentaram baixos retornos no passado e vice-versa. Com isto verifica-se se nossa amostra, para o período selecionado, é consistente com as pesquisas anteriores sobre o efeito B/M.

H0,1: o coeficiente de correlação linear entre o índice B/M e o retorno passado

é maior ou igual a zero.

H1,1: o coeficiente de correlação linear entre o índice B/M e o retorno passado

é menor que zero.

Hipótese 2: o índice B/M futuro está correlacionado positivamente ao índice B/M passado. O significado desta hipótese é verificar se há persistência dos índices B/M.

H0,2: o coeficiente de correlação linear entre o índice B/M futuro e o índice

B/M passado é menor ou igual a zero.

H1,2: o coeficiente de correlação linear entre o índice B/M futuro e o índice

B/M passado é maior que zero.

Hipótese 3: o retorno do período está correlacionado positivamente ao índice B/M passado. Esta hipótese verifica a existência do efeito B/M na nossa amostra e sua consistência com pesquisas anteriores, ou seja, altos índices B/M estão relacionados com altos retornos no período subseqüente.

H0,3: o coeficiente de correlação linear entre o retorno do período e o índice

B/M passado é menor ou igual a zero.

H1,3: o coeficiente de correlação linear entre o retorno do período e o índice

B/M passado é maior que zero.

Hipótese 4: o retorno do período está correlacionado positivamente ao retorno