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3 METODOLOGIA

3.1 Procedimentos metodológicos

De forma sintética, expõe-se na Figura 3, o fluxograma das atividades realizadas nesta pesquisa:

Figura 3- Fluxograma de trabalho

Fonte: Elaborado pela autora.

No primeiro momento da pesquisa, a delimitação dos objetivos da pesquisa e a revisão da literatura foram etapas que foram construídas com pouca diferenciação entre si, pois conforme eram levantadas novas informações e problematizações a respeito do tema, também se foi adaptando os objetivos da pesquisa para que esta se desenvolvesse de forma relevante para contribuir com o conhecimento a respeito da temática. A partir de então foi elaborada uma proposta de roteiro a ser utilizado como apoio para as entrevistas.

O plano para trabalho de coleta de dados iniciou com a consolidação do universo de possíveis participantes da pesquisa, realizada a partir dos estudos sobre esta atividade produtiva já realizados anteriormente (JUNQUEIRA; PEETZ, 2006; SEBRAE, 2015; TSUBOI; TSURUSHIMA, 2009), e pesquisa na internet para identificação dos locais de produção e agentes produtivos que integram a cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais na região periurbana de Belém, particularmente no município de Santa Bárbara (PA). Assim como ocorrido, por exemplo, na pesquisa de Landgraf e Paiva (2010) em Minas

Definição dos objetivos da Pesquisa Revisão da Literatura Pesquisa exploratória Delimitação do tipo de abordagem da pesquisa Elaboração de Roteiro de Entrevista Reunião com Secretário de Agricultura do Município Encaminhament o para a primeira produtora entrevistada Realização da primeira entrevista Ajuste do Roteiro de Entrevista Realização das demais entrevistas qualitativas Tratamento de Dados Redação do relatório da pesquisa Recomendações

Gerais, em Santa Bárbara também não foram encontrados cadastros ou registros unificados dos produtores de flores ornamentais, por isso partiu-se para a pesquisa exploratória.

Realizado o contato com o Secretário de Agricultura do Município de Santa Bárbara, solicitou-se que este estabelecesse o primeiro encaminhamento da pesquisadora com uma produtora de flores e plantas ornamentais do município, considerada como de relevância na atividade. Posteriormente, a seleção dos participantes seguiu a técnica “bola de neve” (YIN, 2016), na qual a primeira participante serviu de fonte de indicação para os demais entrevistados, permitindo assim revelar relacionamentos existentes entre os atores locais. O período de entrevistas ocorreu durante o mês de julho de 2017, durante visitas da pesquisadora às propriedades.

O foco das entrevistas concentrou-se em compreender a partir da visão do produtor e de sua experiência com flores e plantas ornamentais, identificar as possíveis contribuições e limitações que esta atividade produtiva apresenta com relação ao desenvolvimento local e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e famílias. A aplicação das entrevistas foi realizada de forma presencial, com opção primeiramente pela seleção intencional, em que foi procurado um participante que se destaque como possível fonte de dados relevantes para o entendimento do problema de pesquisa (CRESWELL, 2010; YIN, 2016).

A seleção da amostra foi não probabilística e teve como critério de interrupção o alcance da saturação teórica (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013). Deste modo, foram realizadas entrevistas até que já não havia mais contribuições percebidas em relação aos discursos anteriores. Portanto, para os produtores (floricultores) não havia tamanho de amostra previamente estabelecido. Neste caso, a abordagem qualitativa dos dados é importante, visto que para Yin (2016) ela supera outros tipos de método ao transpor possíveis limitações como: insuficiência de dados ou falta de abrangência de variáveis; dificuldade de extração de amostragem adequada; ou obtenção de taxa de resposta. Siqueira et al. (2012, p. 265) também defendem a importância da escolha da pesquisa qualitativa para investigação de qualidade de vida, mais precisamente para o caso do trabalhador rural:

Pesquisas qualitativas examinam a compreensão subjetiva das pessoas a respeito de sua vida diária e abordagens deste tipo auxiliam na interpretação e compreensão de dados quantitativos, desvelando áreas que não estão abertas ou receptivas às pesquisas quantitativas. Dessa forma, além de complementar o trabalho quantitativo, permite que informações sejam analisadas de maneira mais completa.

A condução das entrevistas foi auxiliada por um roteiro (ver apêndice), construído a partir de questões relevantes abordadas na pesquisa bibliográfica. O instrumento de pesquisa foi organizado de forma semiestruturada, de modo que o roteiro utilizado apresentou perguntas e assuntos, mas permitiu a liberdade do entrevistador em desenvolver outras perguntas a depender do andamento da entrevista (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).

E, conforme preconizado por Creswell (2010) e Yin (2016) a respeito das entrevistas qualitativas, a estrutura do roteiro priorizou perguntas abertas em detrimento das fechadas, para permitir liberdade ao participante, reunindo inicialmente informações gerais para identificação do respondente e, posteriormente, assumir tópicos pré-concebidos, constituído com base nas categorias estabelecidas a priori. No entanto, as questões puderam ser verbalizadas pelo entrevistador de forma diferente a depender do contexto encontrado junto ao participante, sem adoção de comportamento obrigatoriamente uniforme.

Ao fazer entrevistas qualitativas, o pesquisador tenta compreender o mundo do participante, o que provavelmente inclui esforços concentrados para dominar os significados das palavras e expressões do participante. A linha de questionamento não é controlada por um questionário, mas exige que o pesquisador aplique energia mental constante (YIN, 2016, p. 121).

Conforme demonstrado no quadro 3, para este estudo as categorias de análise estarão divididas em representações objetivas (dimensão econômica, de infraestrutura, biológica e educacional) e subjetivas (dimensão psicológica e cultural) que para Almeida, Gutierrez e Marques (2012, p. 62) tem como referências “a satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social de determinada sociedade”. Ainda para os autores, “o fato de existirem percepções mais voltadas à análise subjetiva e outras ligadas à objetiva são tendências que se complementam e, associadas, configuram o atual campo de conhecimento em qualidade de vida” (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012, p. 33).

Quadro 3- Dimensões de Análise

Dimensão Autores Objeto de análise

Percepção Objetiva

Econômica Herculano (2000), Organização Mundial de Saúde (2006), Magri e Kluthcovsky (2007), Trigo (2012), Mattos e Santana (2014)

Bens materiais, condições de moradia, rendimentos financeiros Infraestrutura Herculano (2000), Gonçalves e

Vilarta (2004), Organização Mundial de Saúde (2006),

Acesso a água tratada, energia elétrica, transporte, comunicação, mecanismo de acesso à produção

Almeida, Gutierrez e Marques

(2012), Mattos e Santana (2014) – financiamentos. Biológica Gonçalves e Vilarta (2004), Magri

e Kluthcovsky Organização Mundial de Saúde (2006), (2007), Almeida, Gutierrez e Marques (2012), Mattos e Santana (2014)

Acesso a cuidados de saúde, exigência física e postural.

Sustentabilidade Yong (2010), Lima Junior et al

(2015) Segurança biológica e manejo de agrotóxicos; biodiversidade Educacional Herculano (2000), Organização

Mundial de Saúde (2006), Almeida, Gutierrez e Marques (2012), Mattos e Santana (2014)

Acesso à educação, cursos, capacitação

Percepção Subjetiva

Cultural Minayo, Hartz e Buss (2000), Gonçalves e Vilarta (2004), Magri e Kluthcovsky (2007), Almeida, Gutierrez e Marques (2012), Mattos e Santana (2014) Relacionamentos sociais, cooperação e solidariedade, sentimento de pertencimento Psicológica Magri e Kluthcovsky (2007), Trigo

(2012), Mattos e Santana (2014) Satisfação com a vida, realização pessoal, bem-estar mental, reconhecimento

Institucional Herculano (2000) Existência de conselhos democráticos deliberativos, participação nas decisões que lhe dizem respeito, recursos

financeiros e de pessoal – governamentais ou não- governamentais – para apoiar a gestão dos demais itens.

Fonte: Elaborado pela autora

Para tratamento dos dados foi utilizada a análise de conteúdo, com intuito de incluir uma leitura entre os participantes da comunicação verbal e não verbal utilizadas durante a entrevista, incluindo suas entonações, pausas e ênfases (YIN, 2016); e ainda a codificação das respostas (YIN, 2016) com base no referencial teórico demonstrado no quadro 3. A repetida leitura das transcrições das entrevistas, assim como as notas da pesquisadora e a observação feita durante pesquisa de campo tiveram o papel de contribuir para que as respostas dos entrevistados pudessem ser codificadas com fidelidade ao significado atribuído pelo participante, e não somente pela interpretação unilateral da autora da pesquisa. A este respeito, é salutar relacionar ao postulado de Bourdieu (2000, p. 49) de que “a força do pré- construído está em que, achando-se inscrito ao mesmo tempo nas coisas e nos cérebros, ele se apresenta com as aparências da evidência, que passa despercebida porque é perfeitamente natural”.

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