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4 O FEEDBACK CORRETIVO ORAL NA AULA DE LE

5 O ARCABOUÇO METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO

5.5 PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados desta pesquisa adotou duas abordagens qualitativas: a análise de conteúdo (MORAES, R.,1994; 1999; BARDIN, 2011) e a análise da interação. (MCKAY, 2008).

A análise de conteúdo pode ser definida como uma técnica para compreender, interpretar e efetuar inferências sobre o conteúdo de textos, oriundos da comunicação verbal ou da não-verbal, extraindo-se tanto seu conteúdo explícito, quanto o implícito.

(MORAES, R.,1994; 1999; BARDIN, 2011). Para Moraes, R. (1999, p. 8), trata-se de uma metodologia de pesquisa empregada para “descrever e interpretar o conteúdo de toda a classe de documentos e textos. Essa análise [...] ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além da leitura comum”. Cabe ao analista, portanto, compreender o sentido manifesto da comunicação, como qualquer outro receptor de uma mensagem, e ir além, buscando encontrar outras significações da mensagem, ou seu conteúdo latente.

Neste trabalho, a análise de conteúdo foi empregada para analisar e interpretar os dados coletados por meio das entrevistas, das sessões autoscópicas e da mediação pedagógica, cujos áudios gravados foram integralmente transcritos pela autora deste trabalho.

As falas foram transcritas do modo mais literal possível, respeitando, inclusive, as marcas de oralidade e usando, por exemplo, as expressões com funções fáticas e, quando necessário, transcrições fonéticas. Saliento que, conforme sugerido por Marcuschi (1986), não houve ajustes lexicais ou gramaticais. As convenções de transcrição adotadas, adaptadas de Marcuschi, estão elencadas na seção pré-textual deste trabalho.

Assim que as transcrições das gravações das entrevistas, das sessões autoscópicas e da mediação pedagógica foram concluídas, li cada transcrição minuciosa e cuidadosamente, por diversas vezes, destaquei trechos e redigi anotações/reflexões nas margens dos textos relacionando-os às perguntas orientadoras desta pesquisa, apresentadas no capítulo introdutório deste trabalho. Em seguida, como sugerido por Bardin (2011), criei quadros e diagramas nos quais agrupei afirmações e comentários de cada professora-pesquisadora. As anotações, os quadros e diagramas colocam em destaque conteúdos explícitos relacionados aos objetivos desta investigação. As anotações, os quadros e os diagramas não estão incluídos na redação desta Tese, mas seus conteúdos são apresentados ao longo do capítulo dedicado à discussão e análise dos dados, pois, conforme Bardin (2011, p. 127), o pesquisador, de posse de dados tratados, “significativos e fiéis, pode então propor inferências”.

Cabe destacar que a análise de conteúdo, como proposta por Bardin em 1977, inicia a partir da organização do material a ser analisado, incluindo a transcrição dos áudios. Diferentemente de Bardin, considero que a análise de conteúdo principia ainda

na fase da coleta, quando o pesquisador deve estar atento, por exemplo ao tom emocional dos participantes da pesquisa durante as entrevistas e a qualquer linguagem não-verbal. A captação da comunicação não-verbal, apesar de tarefa hercúlea, é fundamental para a compreensão dos sentidos implícitos, do conteúdo latente de uma mensagem. A fim de analisar o conteúdo de textos oriundos de discursos orais - como se caracterizam a entrevista, a sessão autoscópica e a mediação pedagógica - e ir além da simples seleção de citações, exemplificadoras dos conteúdos explícitos das mensagens, é fundamental relembrar cada momento, cada fala, cada gesto, quase que viver novamente a experiência para compreender o que foi efetivamente dito, ou, em outras palavras, inferir o conteúdo implícito das mensagens.

O outro procedimento empregado para a análise dos dados foi a análise da interação (interaction analysis) que, de acordo com McKay (2008, p. 89), é um método específico para estudar o discurso oral da sala de aula por meio do uso de “algum tipo de sistema de codificação para investigar os padrões de comunicação que ocorrem em uma sala de aula”.48

McKay (2008, p. 90) distingue dois esquemas de codificação: os genéricos

(generic coding schemes), que visam a descrever todos os padrões de comunicação

existentes em uma sala de aula, e os limitados (limited coding schemes), que “lidam apenas com os movimentos usados em um tipo particular de interação na sala de aula, tais como a interação aluno-professor ou o trabalho em grupo”49, por exemplo.

Neste trabalho, a análise da interação foi empregada para analisar os dados coletados durante as observações das aulas; todas videogravadas. Foi adotado o esquema de codificação denominado limitado, que neste estudo envolve os movimentos do processo interativo na sequência iniciada pela produção do aprendiz que apresente erro oral, seguida pelo turno de fala das professoras-pesquisadoras, fornecendo ou não feedback corretivo. A Figura 3, a seguir, ilustra a codificação para a análise da interação.

48 “[...] some type of coding system to investigate the communication patterns that occur in a classroom.” 49 “[...] deal only with the moves that are used in a particular type of classroom interaction such as

Figura 3 - Ilustração do esquema de codificação

Fonte: Elaborada pela autora

Julgo pertinente esclarecer, neste momento, um inconveniente metodológico, pois o ruído e as falas sobrepostas dos aprendizes durante as aulas impossibilitaram que os quatro equipamentos usados para gravação em áudio captassem eficientemente todas as elocuções dos alunos. Esse contratempo teria sido evitado se tivéssemos pesquisado em uma turma com menor número de alunos ou em um espaço físico com menos ruídos. No entanto, esses aspectos não foram considerados em nossas escolhas metodológicas. Outra opção para solucionar esse inconveniente teria sido o uso de um maior número de equipamentos. Entretanto, essa ainda não teria sido a solução, pois os alunos das duas turmas conversam simultaneamente nas interações orais das atividades desenvolvidas em pares e em grupos. Saliento, assim, que a quantidade de turnos com erros verbalizados pelos aprendizes pode ter sido maior do que aquela que efetivamente foi captada.

As gravações das aulas, em áudio e vídeo, foram assistidas e ouvidas inúmeras vezes com a intenção de:

1. Identificar todas as ocorrências de elocuções errôneas dos aprendizes e distinguir o tipo de erro, conforme as categorizações de Lyster (2001). 2. Detectar se as professoras-pesquisadoras forneceram feedback corretivo e

identificar os tipos de feedback, de acordo com as categorias empregadas por Lima e Pessôa (2016).

3. Comparar os movimentos de fornecimento de feedback corretivo oral anteriores e posteriores à mediação pedagógica.

Erro oral, para fins de análise da interação, é qualquer elocução do aprendiz que a pesquisadora-mediadora considere que contém uso incorreto da LE, e feedback corretivo oral é qualquer movimento das professoras-pesquisadoras que a pesquisadora-mediadora julgue ser um movimento que objetiva a correção oral de um ou de vários aprendizes.

Uma vez que 21 horas e 20 minutos de aulas foram gravadas em áudio e vídeo, cujas interações nem sempre são pertinentes a este estudo, optei por transcrever apenas os episódios das aulas selecionados como relevantes para ilustrar a análise.

As convenções de transcrição empregadas são exatamente as mesmas daquelas utilizadas para transcrever as falas das entrevistas, das sessões autoscópicas e da mediação pedagógica. Recorri à transcrição fonética, sempre que necessário, para melhor aclarar a fala do aprendiz e/ou a da professora-pesquisadora, especialmente em turnos de erros fonológicos verbalizados pelos aprendizes e corrigidos pelas professoras-participantes.

Como explorei no Capítulo 2, o nível de desenvolvimento real de um professor de LE é determinado pelo que ele faz em sua sala de aula, fundamentado pelos conceitos cotidianos e científicos que possui. A ZDPD-LE caracteriza-se como o espaço metafórico apropriado para oferecimento de andaimento. O nível de desenvolvimento potencial é definido por aquilo que o professor pode fazer quando internaliza novos conceitos. Desse modo, a análise dos dados desta investigação considera os dados coletados no período anterior à mediação pedagógica como indicadores do nível de desenvolvimento real das professoras-pesquisadoras e os dados coletados após a mediação pedagógica como reveladores do nível de desenvolvimento potencial de Alice e de Heloísa.

Tendo finalizado a exposição dos aspectos metodológicos deste estudo, passo, em seguida, para o capítulo no qual os dados são analisados e discutidos.