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Procedimentos para análise dos textos de campo: composição de sentidos

II. COMO CONTAR E RECONTAR MINHAS HISTÓRIAS?

2.5 Procedimentos para análise dos textos de campo: composição de sentidos

A análise dos textos de campo é realizada nesta pesquisa pela composição de sentidos atribuídos às experiências vividas por nós, participantes do curso de extensão, e que foram, também, narradas nesta dissertação; pois, segundo Connelly e Clandinin (2000, 2006), as nossas histórias contam verdades sobre nós mesmos, como espelhos.

Os textos e materiais construídos no ambiente em que se desenvolve a pesquisa, o campo, são denominados textos de campo. São denominados como tal uma vez que são construídos na relação que pesquisadores e participantes estabelecem uns com os outros. De acordo com Connelly e Clandinin (2000, p. 92): ―nós os denominamos textos de campo porque eles são criados, nem encontrados ou descobertos, pelos participantes e pesquisadores como meio de apresentar aspectos da experiência do campo36.‖

Os pesquisadores narrativos entendem, portanto, que os textos de campo são mais do que dados porque eles são frutos das experiências dos participantes envolvidos em determinada pesquisa, que são vividos e contados como composições narrativas (CAINE; ESTEFAN; CLANDININ, 2013; CAINE; CLANDININ, 2013).

Sendo assim, os textos de campo da pesquisa são frutos da relação entre os participantes do curso e das atividades realizadas nele; neles constam momentos de dificuldades, dúvidas, questionamentos, e aprendizado dos professores-participantes desta investigação. Eu, também, professor em formação e professor - participante no curso de extensão (re) conto as histórias que vivi juntamente com os outros participantes no contexto do curso.

Escolhi como método de análise dos textos de campo a composição de sentidos, conforme proposto por Ely, Vinz, Anzul e Downing (2001), pois, de acordo com Connelly e Clandinin (2000), esse método de análise nos possibilita refletir sobre quem fomos, quem somos, quem iremos ser, sobre nossas ações, sobre nossas concepções e, ainda, sobre nossos eus.

A composição de sentidos é o processo pelo qual os textos de campo são analisados pela (re) construção e (res) significação das experiências vividas pelos sujeitos quando as contam, recontam, vivem e revivem (ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, 2001).

De acordo com Ely, Vinz, Anzul e Downing (2001) compor sentidos sobre as experiências significa dizer que há uma ressignificação/reconstrução das experiências que os

36―We call them field texts because they are created, neither found or discovered, by participants and researchers

sujeitos vivem. Sobretudo, significa dizer que os significados compostos são frutos de uma interação entre as experiências pessoais e profissionais dos participantes da pesquisa e os textos de campo por eles produzidos. No entanto, como os autores afirmam, os significados não aparecem automaticamente dos textos de campo, é preciso que os participantes da pesquisa se envolvam em um processo de (re) escrita, reflexão, ressiginificação e reconstrução das histórias que viveram.

Ely, Vinz, Anzul e Downing (2001) afirmam, ainda, que o processo de composição de sentidos é mais produtivo quando os envolvidos na pesquisa se atentam para o que os textos de campo os possibilitam entender e não simplesmente quando se atentam aos textos de campo, nas palavras dos autores: ―ao invés de tentar encontrar ou ver significado ‗nos dados‘ é muito mais produtivo compor sentido sobre o que os dados podem nos levar a entender.37 (ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, 2001, p.19).

De acordo com O‘Connor (1985 apud ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, 2001) o processo de escrever e reescrever sobre o mesmo assunto nos possibilita descobrir novos modos de ver, dizer, e pensar a respeito do que estamos tentando entender. Dessa forma, quando escrevemos e reescrevemos nossas histórias nós criamos possibilidades para descobrir mais sobre nós mesmos e sobre os participantes da nossa pesquisa, ou seja, nós criamos possibilidades para compormos sentidos das nossas experiências.

Conforme Ely, Vinz, Anzul e Downing (2001),

[...] pela escrita, o foco e as ideais são pensados e repensados, e o entendimento do eu do escritor em relação aos dados está, também, em constante reformulação. Nós começamos a nos conhecermos melhor quando lutamos com o que os dados vêm a significar para nós (ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, p. 27) 38.

Portanto, sob essa concepção, é possível perceber que o processo de composição de sentidos engloba uma negociação entre os textos de campo e os participantes da pesquisa. Sobretudo, que os textos de campo nos possibilitam compreender quem somos e por que agimos.

Há de se ressaltar, contudo, que a composição de sentidos não se limita ou não está restrita àqueles que estão diretamente envolvidos em uma pesquisa, ou seja, a composição de

37 ―Instead of an attempt to find or see meaning ‗in the data‘ it is far more productive to compose meaning that

the data may lead us to understand.‖ (ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, 2001, p.19).

38―Through writing, the focus and ideas are figured and refigured, and the writer‘s understanding of self in

relation to the data is constantly re-forming as well. We get to know ourselves better as we wrestle with what the data come to mean for us.‖ (ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, 2001, p.27).

sentidos pode ser feita, também, por exemplo, por aqueles que leem a pesquisa e os textos de campo oriundos dela, de acordo com Ely, Vinz, Anzul e Downing (2001, p. 65):

A versão particular da história situa-se em algum conhecimento parcial, então não podemos dizer que a narrativa reflete a realidade, mas nós podemos dizer que, com o auxílio do leitor, a narrativa produz sentido e cria uma versão da realidade. O leitor participa vicariamente – vivendo na experiência imaginada pela narrativa ao invés de permanecer na periferia39.

Connelly e Clandinin (1994) compreendem esse processo de reconstrução das narrativas, composição de sentidos, e, consequentemente, das experiências vividas, como um elemento importante para o sujeito, pois é por meio dele que há a possibilidade de transformação e crescimento do sujeito. Os autores afirmam que nos processoes de (re) construção das narrativas das experiências de vida dos sujeitos há uma relação reflexiva entre o viver, o contar, o recontar e o reviver dessas histórias. (CONNELLY; CLANDININ, 1994). Há, portanto, um processo intrínseco à narrativa de uma experiência que possibilita o sujeito reviver, recontar e, dessa forma, reconstruir e ressignificar suas experiências de vida. Por isso, escolhi adotar este método para analisar as experiências que vivi com os demais participantes do curso de extensão narradas nesta dissertação.

No capítulo seguinte elenco as narrativas e os demais textos de campo produzidos por nós, participantes do curso de extensão, no desenvolvimento da pesquisa narrada nesta dissertação.

39―The particular version of the story is located in some partial knowledge so we cannot say that narrative

reflects a reality but we can say that, with the help of the reader, narrative produces meaning and creates a version of reality. The reader participates vicariously – living in the experience figured through narrative rather than standing on its periphery.‖ (ELY; VINZ; ANZUL; DOWNING, 2001, P. 65).

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