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Procedimentos técnicos para a coleta de dados: observação

CAPÍTULO 2 CAMINHOS METODOLÓGICOS

2.1 Delineamentos da pesquisa

2.1.4. Procedimentos técnicos para a coleta de dados: observação

A técnica do estudo de caso, segundo Bruyne (1982, p. 225), aponta como característica reunir uma grande quantidade de informações e detalhes, com a finalidade de apreender a totalidade de uma situação. Por isso, recorre a diversas técnicas de coleta das informações (observações, entrevistas, documentos, etnografias). Neste trabalho, o caminho metodológico a ser percorrido, como procedimento técnico de coleta de dados, será a realização de observação participante, de entrevistas com atores sociais representativos, além de aplicação de questionários, como consta detalhamento ao longo do texto.

85 A coleta dos dados por meio de observação participante consiste em observar a realidade para obter informações sobre o evento pesquisado, por meio de um formulário estruturado de observação participante (APÊNDICE A) estruturado previamente pela pesquisadora, permitindo o registro do comportamento no momento em que ocorre e o pesquisador vivencia a experiência do fenômeno. A descrição desta observação é apresentada no Capítulo 3.

A observação do evento funciona como um dispositivo de visibilidade que pretende descobrir as relações de acolhimento existentes (ou não), assumindo-se uma postura de observador participante, esforçando-se para que a presença do pesquisador não modifique o curso dos acontecimentos observados e sim, permita tornar visível o invisível. (LAPASSADE, 1998, p. 128).

Enfatizando este procedimento, Oliveira (2007, p. 79) salienta que a observação participante se realiza por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado a fim de obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seu próprio contexto, sendo um instrumento de análise da realidade que se percebe. Por conseguinte, a observação participante é designada a observar o objeto do estudo de caso desta pesquisa, o Evento L em sua estrutura física, procedimentos operacionais e os sujeitos imbuídos nos processos de acolhimento no decorrer do evento, como ressaltado por Oliveira (2007).

Com efeito, para esta autora, em pesquisa qualitativa os dados não podem ser considerados isolados, são observados a partir de sua múltipla relação com o contexto. Essa participação se torna mais intensa quando o pesquisador se identifica com o grupo pesquisado pelo cotidiano de vida, das ações e aspirações, e coopera com o grupo; como ocorrido neste caso.

Analisando outro aspecto, Paviani (2009, p. 55-57) menciona que é preciso aprender para observar, pois a teoria, os conhecimentos, mesmo sendo básicos, criam condições para observar e entender. Ou seja, observar depende da formação profissional, da educação, teorias e paradigmas que guiam nossa compreensão relacionada ao tempo e à sociedade em que estamos inseridos. O que demostra que neste processo científico, o observar, também não pode

86 ser considerado um ato isolado e mecânico. Ele é voltado aos fatos, fenômenos, eventos que constituem a realidade do mundo.

Neste contexto, o autor segue enfatizando a importância do saber científico, conduzido pelo método, com uso de instrumentos e procedimentos normativos, o que o diferencia da forma de observar comum.

Outro procedimento técnico aplicado é a entrevista, a partir do instrumento de pesquisa chamado formulário estruturado para entrevista que possui a função de conduzi-la, auxiliando o pesquisador, e que permanece de posse do entrevistador. Realizada com atores sociais representativos, que são as pessoas-chave, key informants. No evento pesquisado foram entrevistados o representante da entidade promotora do Evento L (Apêndice B – Formulário estruturado para entrevista com promotor do evento) e o representante da empresa organizadora do mesmo (Apêndice C – Formulário estruturado para entrevista com organizador do evento). (BRUYNE, 1982, p. 210).

O terceiro procedimento técnico utilizado foi a aplicação de questionários. Para Bruyne (1982, p. 210) o questionário é um modo ou técnica de coletas de dados em campo, que neste caso foi entregue diretamente a cinco participantes e a vinte e um recepcionistas do evento pesquisado e recolhidos em seguida, para evitar constrangimento ao responder. Os questionários contemplaram perguntas abertas e fechadas e estão disponíveis nos Apêndices D – Trabalhadores: Recepcionista do evento e Apêndice E – Participantes do evento.

Seguindo os preceitos teóricos de Bruyne (1982, p. 210), a coleta de dados obedece a critérios de fidelidade, validade, qualidade e eficiência; sua validade levanta questões de natureza epistemológica sobre o valor dos processos da coleta e do próprio dado.

Segundo Lyotard (2011, p. 40) a transmissão de relatos torna-se um fator importante para a construção de saberes. A tradição dos relatos define uma tríplice competência: saber-dizer, saber-ouvir e saber-fazer; em que se percebem as relações da comunidade consigo mesma e com o que a cerca. Pois, o que se transmite com os relatos é o grupo de regras pragmáticas que constitui o vínculo social. Pode-se fazer uma analogia a essa transmissão de relatos à pesquisa de campo, que coleta dados, observa as trocas sociais de

87 determinada situação em determinada comunidade, neste caso em um evento específico.

Outro aspecto importante da pesquisa é a administração das provas, pois parte-se do princípio de aceitar o novo, constatando-se um fato. Lyotard (2011, p. 80-83) faz questionamentos sobre “O que é uma constatação? O registro do fato pela vista, pelo ouvido, por um órgão dos sentidos? Os sentidos enganam, e são limitados em extensão, em poder discriminador”. Nesse ponto, o autor relata que o que intervém são as técnicas. E responde aos seus questionamentos dizendo que as técnicas são as próteses dos órgãos ou dos sistemas fisiológicos humanos que têm por função receber dados ou agir sobre o contexto, otimizando as performances. Este autor também alega que a necessidade de administrar a prova torna-se mais viva “à medida que a pragmática do saber científico toma o lugar dos saberes tradicionais ou revelados”. Da mesma forma, a administração das provas, a princípio, é a argumentação destinada a obter consentimento dos destinatários da pesquisa.

Segundo Oliveira (2007, p. 90) é importante testar os instrumentos, realizar pré-testes com os chamados instrumentos-teste; e após ser elaborado, pode contribuir para sanar possíveis erros como ambiguidades nas questões ou verificar a complexidade das mesmas e, ainda constatar o tamanho excessivo do instrumento; o que pode levar o entrevistado a desistir de respondê-lo, trazendo prejuízos à pesquisa.

Como pesquisa exploratória inicial e com o intuito de testar o instrumento de pesquisa, foi elaborado um formulário de observação para verificar elementos do conceito de acolhimento e suas categorias, destinado às áreas do evento, com o objetivo de testar os elementos escolhidos. Este processo de observação participante ocorreu pela primeira vez em um evento teste, de âmbito nacional, realizado em Brasília, de médio porte, no período entre 09 e 10 de Setembro de 2015.

Em outro momento, num segundo evento teste, para efetuar mais um teste do formulário de observação participante, o mesmo formulário foi aplicado em um evento de âmbito internacional, realizado em São Paulo, de médio porte, no período de 11 a 12 de Abril de 2016. Neste mesmo evento teste, com o intuito de testar o questionário piloto, foram aplicados quatro questionários aos participantes e aos recepcionistas.

88 Após a realização dos testes, o formulário de observação participante permaneceu no mesmo formato, pois atendeu às necessidades da pesquisa. E foi percebida a necessidade de ajustar o questionário em virtude de não contemplar algumas questões relativas aos objetivos da pesquisa e ao evento pesquisado.

Posteriori à aplicação dos instrumentos de pesquisa mencionados, iniciou-se sua interpretação utilizando-se como técnica de análise de dados a Análise de Conteúdo. Ancorada nos estudos de Gomes (1994, p. 74) esta técnica de análise tem como funções encontrar respostas para as questões formuladas, respondendo ou não as indagações estruturadas antes da pesquisa de campo e, de forma complementar, a outra função visa procurar respostas além das aparências e do óbvio que possa ser apresentado nos manifestos dos atores envolvidos no processo da pesquisa.

Esta técnica de análise de dados pode ser empregada de formas variadas. Para este estudo utilizam-se três macro-unidades de análise ou de registro, que consistem nos três campos de investigação: Turismo, Eventos e Acolhimento. Estas, por sua vez, são subdividas nos três objetivos específicos, que serviram de base para a elaboração dos instrumentos de pesquisa de campo e nas quatro questões de pesquisa levantadas, cujas palavras-chaves, coincidentemente, são: Turismo, Eventos e Acolhimento.

Assim, verifica-se a importância dos três campos de investigação.

O Campo de investigação Turismo, com base nos estudos de Beni e Moesch (2015), possui relevância devido à nova apresentação hologramática do SISTUR, de um Turismo ecossistêmico, fenômeno complexo harmônico, em que o indivíduo é o principal elemento para sua compreensão.

Intercalado a este fenômeno complexo, o campo de investigação Eventos, segundo Lemos (2002) e outros autores mencionados, pode ser visto como um campo que reúne agentes sociais de integração, propiciando oportunidades de encontros e gerando benefícios para a sociedade por meio dos processos de alteridade e acolhimento, ancorado na investigação científica para além de implicações superficiais.

O campo de investigação Acolhimento, de acordo com Avena (2006), propõe uma nova visão, mais aprofundada, para a sua aplicabilidade no Turismo e Eventos, também por meio da cientificidade, transpondo o senso

89 comum, muitas vezes focado na economia, dando prioridade às relações positivas com o outro, mas não excluindo o fator comercial e sim o ressignificando.

Para que se obtenha um olhar propositivo destes fenômenos, sob referências variadas, o texto seguinte apresenta o método deste estudo.