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O PROCEFET-2006: UM PROJETO DE EXPERIÊNCIA TRANSDISCIPLINAR NA EAD

DISTÂNCIA NO CEFET-RN

4. O PROCEFET-2006: UM PROJETO DE EXPERIÊNCIA TRANSDISCIPLINAR NA EAD

Apesar de alguns percalços, essas experiências embrionárias animaram- nos a ousar um programa transdisciplinar, envolvendo, não só Português e Cidadania, mas também Matemática, a terceira disciplina do Procefet.

Como o CEFET-RN oferece cursos em cinco áreas de conhecimento – Serviços, Recursos Naturais, Construção Civil, Indústria e Informática –, decidimos que seria interessante distribuir os conteúdos em cinco fascículos, que seriam entregues aos alunos que se inscrevessem no Procefet-2006, para ingresso na Instituição, em 2006, nos cursos técnicos integrados de nível médio. A escolha das áreas como tema nem foi arbitrária nem sua seqüência foi escolhida de forma aleatória. O tema sugerido leva em consideração o fato de o aluno inscrito no Procefet, necessitar escolher entre os cursos oferecidos pela Instituição nessas cinco áreas. Para isso, é importante que ele as conheça, saiba o que se espera de um técnico de cada curso, quais as possibilidades de trabalho e como está o mercado de trabalho para aquela área e para cada curso.

O grupo de professores decidiu também a ordem das áreas, começando pela Gerência de Serviços – GESEG –, passando pela Gerência de Recurso Naturais – GERN –, a Gerência de Construção Civil –a GECON –, a Gerência de Indústria – GETIN –, e, por último, a Gerência de Informática – a GEINF. Essa ordem leva em consideração a complexidade do raciocínio matemático exigido para a área e o fato de a informática servir de base para as tecnologias da informação e comunicação, sem contar que perpassa todas as áreas

anteriores como instrumento de trabalho. Dessa maneira, pode-se discutir o impacto das TIC na vida, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento, no fenômeno da globalização, entre outros.

Os aspectos culturais enfocados seguiram o critério de similaridade com a área tema do módulo Os aspectos culturais do RN foram tratados nas três primeiras áreas, e, em conseqüência, nos três primeiros fascículos; a cultura brasileira, no quarto e a cultura global no quinto. Partimos, assim, do local, na tentativa de afirmar a identidade, o sentimento de pertinência a uma região, para ampliar o sentimento de inserção do aluno no espaço de seu país e, em seguida, no mundo. Tratou-se de pensar a identidade planetária, partindo do conhecimento da realidade local para a global, de forma que o aluno pudesse sentir-se inserido culturalmente tanto local quanto globalmente. Além disso, era importante que o aluno percebesse a inserção do seu Estado em um espaço maior, o Brasil, e a inserção do seu país no mundo, para que compreendesse as inter-relações existentes entre o local e o global. Ficou claro que, conforme o tema trabalhado e as possibilidades de utilização dos diversos gêneros textuais, além da integração com as disciplinas de Iniciação Tecnológica e Cidadania e Matemática, poderiam surgir outros temas transversais não previstos inicialmente, os quais seriam abordados de forma assistemática ao longo da produção do material impresso. Além do mais, esses temas poderiam subsidiar a produção de edições extras que poderiam ser veiculadas tanto na mídia impressa quanto em outra mídia que se pudesse ofertar e que fosse acessível ao aluno do Programa.

Além disso, era importante que o aluno soubesse o que é ser estudante de educação a distância, quais os desafios que poderia enfrentar como aluno

dessa modalidade de ensino, que diferenças existem entre ela e a modalidade presencial, que características precisa ter e/ou desenvolver para conseguir êxito em sua empreitada.

Haveria dois outros temas transversais que perpassariam todos os fascículos: saúde, qualidade do meio ambiente e desenvolvimento sustentável – tema 5; e tecnologia, sociedade, ética e cidadania – tema 6, já que não se pode dissociar o ensino de uma profissão da discussão sobre que sociedade queremos, a quem serve a tecnologia, como atuar com ética, como ser cidadão, que atitudes devemos ter para construir uma sociedade mais justa, uma vez que, como dizia Paulo Freire (2001), não se pode dissociar o ser humano do profissional, porque antes de ser profissional, se é Homem e, portanto, comprometido com e responsável por outros homens. Nas palavras de Freire,

“Uma vez que ‘profissional’ é atributo de homem, não posso, quando exerço um quefazer atributivo, negar o sentido profundo do quefazer substantivo e original. Quanto mais me capacito como profissional, quanto mais sistematizo minhas experiências, quanto mais me utilizo do patrimônio cultural, que é patrimônio de todos e ao qual todos devem servir, mais aumenta minha responsabilidade com os homens. Não posso, por isso mesmo, burocratizar meu compromisso de profissional, servindo, numa inversão dolosa de valores, mais aos meios que ao fim do homem. Não posso me deixar seduzir pelas tentações míticas, entre elas, a da minha escravidão às técnicas, que, sendo elaboradas pelos homens, são suas escravas e não suas senhoras” (FREIRE, 2001, p.20).

De forma resumida, podemos dizer que houve um tema gerador para cada fascículo, relativo às áreas nas quais oferecemos cursos, e temas transversais que se distribuiram pelos 5 fascículos, conforme explicamos a seguir.

Tema Gerador: as áreas do CEFET-RN (GESEG, GERN, GECON,

Temas Transversais:

Tema 1: Aspectos culturais do RN Tema 2: Aspectos culturais do Brasil Tema 3: Aspectos culturais do mundo

Tema 4: O que é ser estudante de educação a distância

Tema 5: Saúde, qualidade do meio ambiente e desenvolvimento sustentável

Tema 6: Tecnologia, sociedade, ética e cidadania

De forma esquemática, a distribuição dos temas ocorreu como descrito na figura 2.

a) Trabalhando com os gêneros textuais de forma transdisciplinar

Figura 2: quadro esquemático da distribuição dos temas nos fascículos do Procefet-2006. Tema gerador - GETIN

Temas 2, 5 e 6

Tema gerador - GEINF Temas 3, 5 e 6 Tema gerador - GESEG

Temas transversais 1, 4, 5 e 6

Tema Gerador - GERN Temas 1, 5 e 6

Tema gerador - GECON Temas 1, 5 e 6

Primeira avaliação

A partir dos gêneros textuais mais comuns às áreas, foram discutidos os conteúdos de Língua Portuguesa, Matemática e Cidadania.

Em Língua Portuguesa, em cada grupo, entrariam vários gêneros mais comuns à área. Para cada gênero, fez-se a leitura, levando em consideração, além da compreensão do conteúdo, a estrutura formal do gênero e a comparação entre eles. A partir das estruturas lingüísticas características de cada gênero, fez-se a reflexão sobre a língua e os aspectos gramaticais.

Em Matemática, os conteúdos foram abordados, utilizando os temas- geradores dos fascículos como base para a elaboração de exemplos e exercícios, especialmente nos gêneros específicos da disciplina, como tabelas, gráficos, receitas, mapas, além de utilizar dados e outros gêneros como narrativas, para propor problemas, cuja solução exigisse raciocínio matemático aliado à compreensão da realidade, assim como à percepção da aplicabilidade dos conceitos matemáticos no cotidiano.

Em Cidadania, a partir dos temas transversais geradores de cada fascículo, e levando em consideração a área-tema, discutiram-se tópicos, como a ética profissional, a necessidade de se conhecer os direitos e os deveres para interagir na sociedade, a busca constante pelo aperfeiçoamento do profissional, a autonomia dos cidadãos e a consciência da responsabilidade social em busca de uma sociedade eqüitativa e democrática, o desenvolvimento dos valores humanos e dos saberes que permitam não só uma atuação consciente, como também a satisfação pessoal por poder contribuir para a construção de uma sociedade melhor.

Numa perspectiva transdisciplinar, e de acordo com a possibilidade oferecida pelo tema gerador de cada fascículo, tentou-se estabelecer o diálogo

entre as disciplinas, visando a dar ao aluno uma visão complexa (MORIN, 1992) do conhecimento, amenizando, assim, o pensamento simplista e redutor tradicionalmente presente no ensino.

No entanto, não se descartaram as discussões relativas a cada disciplina individualmente, sem esquecer, porém, de mostrar a relação desse saber com outros, com a realidade, com o cotidiano e com a vida profissional.

5. A NOVA POSTURA DO PROFESSOR-AUTOR DO MATERIAL