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Processador Humano de Informação

No documento LIVRO - IHC (páginas 64-66)

3.3 Psicologia Cognitiva Aplicada

3.3.1 Processador Humano de Informação

Com base na psicologia de processamento de informações, Card, Moran e Newell (1983) propuseram o “processador humano modelo” de informações (Model Human Processor, MHP). Segundo eles, o uso de modelos que veem o ser humano como um processador de informações fornece um arcabouço comum nos quais modelos de memória, de resolução de problemas, de percepção e de comportamento podem ser integrados uns com os outros. Considerando a mente humana como um sistema de processamento de informações, é possível fazer predições aproximadas de parte do comportamento humano.

O MHP é composto de três subsistemas, cada qual com suas próprias memórias e processadores, juntamente com alguns princípios de operação (Figura 3.6): o per- ceptivo, o motor e o cognitivo.

Modelo do Processador Humano de Informações (adaptado de Card

Figura 3.6 et al.,1983).

O sistema perceptivo transmite as sensações do mundo físico detectadas pelos sis- temas sensoriais do corpo (visão, audição, tato, olfato, paladar) para representações mentais internas. A visão central, a visão periférica, os movimentos dos olhos e os movimentos da cabeça operam como um sistema integrado para nos fornecer uma

representação contínua da cena visual de interesse. Essas sensações são armazenadas temporariamente em áreas de memória sensorial (principalmente nas memórias vi- sual e auditiva), ainda codifi cadas fi sicamente e com um tempo de decaimento (ou esquecimento) rápido, conforme a intensidade do estímulo. Em seguida, algumas dessas sensações são codifi cadas simbolicamente e armazenadas na memória de tra- balho.

O processador cognitivo pode especifi car quais conteúdos das memórias senso- riais devem ser codifi cadas simbolicamente e armazenadas na memória de trabalho, principalmente quando o conteúdo da memória perceptiva for complexo ou perce- bido apenas por um período de tempo muito curto. O sistema cognitivo recebe a informação codifi cada simbolicamente dos armazenamentos sensoriais na sua me- mória de trabalho e utiliza informações previamente armazenadas na memória de longo prazo para tomar decisões sobre como responder aos estímulos recebidos.

Nosso pensamento é traduzido em ação através da ativação de padrões de mús- culos voluntários, em uma série de micromovimentos discretos realizados pelo sis-

tema motor.

Com relação às memórias, os parâmetros a serem considerados são: a capacida- de de armazenamento em número de itens, o tempo de decaimento (no caso, o tempo para o esquecimento) de um item e o tipo de código principal (físico, acústico, visual ou semântico). Já com relação aos processadores, o parâmetro mais importante é o tempo do ciclo.

Para algumas tarefas, uma pessoa precisa se comportar como um processador serial, ou seja, realizar uma tarefa de cada vez. Um exemplo desse tipo de tarefa é pres- sionar uma tecla em resposta a um estímulo visual, tal como o acendimento de uma lâmpada. Para outras tarefas, é possível que haja uma operação integrada e paralela dos três subsistemas, com informação fl uindo continuamente da entrada à saída, em um período de tempo tão curto que todos os processadores trabalham simultanea- mente. Por exemplo, digitação, leitura e tradução simultânea são tarefas desse tipo (Card et al., 1983).

Nas tarefas mais simples, o sistema cognitivo serve apenas para conectar as en- tradas do sistema perceptual às saídas adequadas do sistema motor. Mas a maioria das tarefas é complexa e envolve aprendizado, recuperação de fatos ou solução de problemas. A memória de trabalho retém informações em uso, e a memória de longo prazo armazena conhecimento para uso futuro. Os elementos ativados da memória de longo prazo consistem em símbolos ou grupos de símbolos, chamados de chunks (elementos de informação). O conteúdo de um chunk depende da tarefa, da pessoa e do conteúdo da sua memória de longo prazo. Quando um chunk na memória de lon-

go prazo é ativado, essa ativação se espalha para chunks relacionados (e.g., de um livro para a livraria onde foi comprado, para a viagem em que foi comprado, para as fotos que foram tiradas etc.). Miller (1956) mostrou que a capacidade da memória de tra- balho é limitada a 7 ± 2 chunks. Como ela é limitada, à medida que novos chunks são ativados, outros chunks que se encontram na memória de trabalho tornam-se menos acessíveis. Os itens armazenados têm uma determinada probabilidade de poderem ser recuperados mais tarde da memória de longo prazo. Quanto mais associações um item tiver ao ser armazenado, maior é a probabilidade de ele ser recuperado. Se uma pessoa quer poder se lembrar de alguma coisa mais tarde, a melhor estratégia é tentar associá-la a itens que já estão na memória de longo prazo.

Card e coautores (1983) calcularam o período de tempo aproximado do ciclo t para diversas tarefas comuns realizadas por pessoas com diferentes níveis de habili- dades. Eles mostraram como sua abordagem permite calcular a taxa de quadros em uma animação necessária para criar a ilusão de movimento, a taxa máxima de re- cepção de código Morse para permitir a sua decodifi cação por uma pessoa, o tempo entre dois eventos para manter uma ilusão de causalidade e o tempo que uma pessoa leva para ler um texto. Ainda com base no MHP, eles elaboraram um modelo de de- composição de tarefas chamado GOMS, amplamente utilizado até hoje em análise e design da interação humano-computador. O modelo GOMS é descrito na Seção 6.4.2.

No documento LIVRO - IHC (páginas 64-66)

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