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4. REGISTO FOTOGRÁFICO

4.2. Processamento da Imagem Radiográfica

(SOARES 2001)

O processamento de um filme radiográfico75

4.2.1. Revelação

é composto por quatro etapas distintas de um processo físico-químico complexo. Em cada etapa é utilizado um conjunto de químicos que actuam sobre o filme sensibilizado, de modo a que se tornem visíveis e permanentes as alterações produzidas nos cristais dos haletos de prata presentes na emulsão. (SOARES 2001) É necessário que quem efectue este processo conheça os princípios básicos que o governam, bem como os agentes químicos utilizados para esse fim, uma vez que se tal não se verifique, será difícil localizar e corrigir erros ocorridos na sua execução. Por exemplo, no início da Radiologia, eram utilizados diferentes tipos de reveladores e as quantidades utilizadas não estavam padronizadas, pelo que a execução da revelação baseava-se na experiência e preferência do operador. (WENDELL 1919)

As quatro etapas do processamento da imagem radiográfica são: revelação, fixação, lavagem e secagem.

Um revelador é um agente químico que vai actuar como redutor dos iões prata a prata metálica. Quando se coloca a placa ou filme de raios-X anteriormente exposto à radiação em contacto com o revelador, a imagem surge gradualmente. A imagem

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Quando são considerados os aspectos referentes à maior capacidade de absorção de luz visível, verificou-se que para produzir o mesmo grau de enegrecimento do filme em dispositivos com ou sem ecrã, seria necessário um aumento substancial na dose de radiação aplicada no paciente quando não se utiliza um ecrã, situação que deve ser sempre evitada.

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revelada surge com uma coloração negra, devido aos grãos da prata metálica serem pequenos e de forma irregular. Dos vários agentes redutores químicos, apenas alguns podem ser usados para fins radiográficos, pois a sua função é reduzir o brometo de prata que foi exposto, mas se forem muito fortes poderiam atacar também o brometo de prata que não foi sensibilizado pelos raios-X. Alémdos redutores, diversas substâncias eram usadas nesta etapa, possuindo uma função bem definida no processo: redutores, aceleradores, conservantes e moderadores.(WENDELL 1919)

Os agentes redutores mais frequentemente usados na revelação de placas de raios-X eram soluções alcalinas, como o metol (C14H20N2O6)76 e a hidroquinona (C6H4(OH)2), normalmente usados em conjunto. No entanto, uma vez que a combinação destes dois reagentes não é suficientemente energética para penetrar na emulsão, era necessário adicionar um outro composto que permitisse a penetração dos agentes redutores através dos poros da gelatina, para que pudessem ter acesso aos grãos de prata que absorveram radiação. Geralmente, usava-se uma base, como o carbonato de sódio (Na2CO3)77

Dado que o revelador sofre rápida oxidação, era necessária a adição de um conservante, normalmente, sulfito de sódio (Na2SO3), um composto químico com grande afinidade para o ar sem influenciar a função dos outros químicos. Um revelador contendo os dois agentes redutores, o acelerador e o conservante, podia ser tão forte que produzia uma nuvem de vapor envolvendo o filme, restrigindo, assim, a acção do revelador; de modo a diminuir este efeito, juntavam-se alguns grãos de brometo de potássio (KBr), que funcionava como moderador

, conhecido como acelerador, cuja função era acelerar a acção do agente redutor. (CHRISTIE 1913, KASSABIAN 1907, WENDELL 1919)

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76 O metol (sulfato de N-metil-p-aminofenol) foi durante anos o revelador padrão utilizado. No entanto,

existiam disponíveis outros químicos de acção semelhante, como rodinal, acido pirogálico, ortol, amidol, entre outros.

77 Também era usado carbonato de potássio (K 2CO3).

78 A água era um elemento sempre presente neste processo de revelação como solvente, diluindo a

concentração dos produtos químicos e como auxiliar do transporte dos compostos químicos para próximo dos micro-cristais.

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Durante o processo de revelação, o operador deveria utilizar materiais de protecção das suas mãos, não só para as proteger dos químicos, mas também para evitar a inutilização dos negativos (Figs. 87 e 88). Na camara escura, quando a placa é colocada no tabuleiro (Fig. 86) contendo o revelador, a solução penetra na gelatina e ataca os grãos de brometo de prata que foram expostos e converte-os em grãos de prata metálica de cor negra, formando, deste modo, a imagem sobre a placa. Com o decorrer desta acção, ocorre a oxidação do revelador e, ao perder o seu poder de redução, é necessário um fornecimento constante de solução do revelador. (CHRISTIE 1913, ISENTHAL 1901)

Deste modo, o processo de revelação leva algum tempo, aumentando a densidade da imagem ao longo desse período. Era necessário dar algum tempo para o revelador actuar, mas se a placa se mantivesse muito tempo em contacto com o mesmo, estaria demasiado revelada – a maior parte do brometo de prata seria reduzido a prata metálica, pelo que não só a imagem resultante apareceria muito densa, mas também pouco nítida. Por outro lado, se a placa não fosse revelada durante o tempo suficente, estaria insuficientemente revelada, isto é, apenas a parte superficial dos grânulos de brometo de prata seriam convertidos em prata metálica, enquanto a porção inferior não seria revelada e dissolver-se-ia no banho de fixação. (WENDELL 1919)

Figs. 87 e 88: Materiais protectores das mãos utilizados no processo de revelação dos negativos. Luvas (imagem da esquerda) e dedeiras. (THE KNY-

SCHEERER COMPANY 1905) Fig. 86: Tabuleiro para uso no processo de

revelação. (THE KNY-SCHEERER COMPANY 1905)

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De modo análogo, quanto à exposição, as placas definem-se comoplacas com excesso de exposição e com exposição insuficiente, determinando a velocidade com que a imagem surge na radiografia obtida no processo de revelação, bem como a sua qualidade: exposições insuficientes resultam numa revelação da imagem mais lenta, surgindo apenas como a definição de uma silhueta do objecto radiografado (Fig. 89), enquanto que o excesso de exposição resulta no aparecimento imediato da imagem quando revelada, exibindo contraste reduzido (Fig. 91). (BOTTONE 1898)

Antes de ter sido submetida ao processo de revelação, a imagem latente é constituída por cristais que contêm agregados de prata de várias dimensões, consoante correspondam a zonas de maior ou menor iluminação. Assim, a zonas de maior iluminação correspondem agregados maiores e as zonas escuras correspondem a cristais de brometo de prata que não foram transformados em prata. (CALADO 1989)

Verificou-se que determinadas propriedades dos átomos isolados são diferentes das dos pequenos agregados de átomos, e diferentes ainda da substância microscópica. Este facto está na base da razão pela qual o revelador não actua sobre todos os iões Ag+ de todos os cristais, não gerando, desta forma, um negativo completamente enegrecido. Entre as propriedades que variam está, por exemplo, a energia necessária para remover um electrão ao átomo de prata para o transformar em Ag+ (ou a energia libertada quando se fornece um electrão ao ião para o transformar num átomo electricamente neutro, Ag0). Para que o revelador possa actuar como dador de electrões é necessário

Figs. 89, 90 e 91: Radiografia com exposição insuficiente (imagem da esquerda) e com uma exposição excessiva (imagem da direita). A imagem central corresponde a uma radiografia

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que o seu potencial electroquímico seja superior ao da Ag+/Ag0 no agregado, o que acontece a partir de um determinado número de átomos no agregado. Pelo contrário, os iões Ag+ em agregados inferiores ao anterior número de átomos, são estáveis em relação ao revelador. Tal explica a razão pela qual o revelador actua sobre os iões Ag+ em agregados de maior dimensão, acabando por transformar todo o cristal em prata, enquanto deixa inalteráveis os agregados mais pequenos. (CALADO 1989)

4.2.2. Fixação

Após a revelação da placa ou filme de raios-X, é necessário proceder-se a um outro processo químico antes se obter o negativo (a radiografia); isto é, a placa deve ser “fixada” a fim de se remover o brometo de prata que não foi sensibilizado pela exposição e tornar a imagem permanente. Para tal, antes da fixação, deve-se proceder a uma lavagem com água corrente.

O principal químico da solução do banho de fixação é o tiossulfato de sódio79

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Vulgarmente designado hipossulfito de sódio.

(Na2S2O3), que tem a capacidade de fixar a imagem metálica, ao mesmo tempo que solubiliza o brometo de prata não sensibilizado. O átomo terminal do enxofre em S2O32- liga-se a metais com alta afinidade. Os haletos são, assim, dissolvidos, de acordo com a equação:

2S2O32- + AgBr → [Ag(S2O3)2]3- + Br- (3)

O processo de fixação está completo quando nenhuma parte branca existe à superfície da placa ou filme de raios-X, o que se vê melhor por transparência na parte sem gelatina. (ABRANCHES 1897, KASSABIAN 1907, KNOX 1916, WENDELL 1919)

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4.2.3. Lavagem

Após fixação, a placa ou filme de raios-X deve ser lavado com água corrente, a fim de se remover a solução fixadora do mesmo. (KNOX 1916)

4.2.4. Secagem

A etapa final do processo de revelação é a de secagem, a qual deve ser feita num local bem ventilado e com uma temperatura adequada, livre de poeiras, até a placa estar completamente seca (Fig. 92). (KASSABIAN 1907, KNOX 1916)