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CAPÍTULO 2. Comunidades de Peixes Recifais da Plataforma

2.2. MATERIAL E MÈTODOS

2.2.2. Processamento e análise dos dados

Para análise da composição das capturas, diversidade e distribuição espacial da abundância relativa das espécies de peixes demersais capturadas durante os cruzeiros, foram inicialmente estimadas a profundidade e a latitude de cada grupo de anzóis (amostra), como a média aritmética das profundidades ou das latitudes inicial e final do grupo. As capturas em número de indivíduos (ind) e em peso (kg) foram padronizadas para capturas por unidade de esforço (CPUE). O esforço de pesca, medido pelo número de anzóis recolhidos, foi expresso em unidades de 1000 anzóis. A CPUE em número, definida como número de indivíduos capturados por 1000 anzóis (ind/1000anzóis), foi adotada como índice de abundância.

Nesse estudo foram selecionados apenas os grupos de anzóis com capturas registradas nas estações de amostragem realizadas na margem continental, excluindo-se as amostras com capturas nulas ou provenientes das estações realizadas nos montes submarinos, totalizando 1.555 amostras. Estas amostras foram usadas na análise dos padrões de distribuição batimétrica das principais espécies e famílias de peixes recifais e representadas através de boxplots (Fry, 1996) da profundidade média das amostras com ocorrência de cada espécie, agrupados por família. Como critério de classificação de peixes recifais, foi considerada a definição apresentada por Bellwood e Wainwright (2002), incluindo as famílias de teleósteos com espécies características dos ambientes recifais regionais.

Para verificar com maior precisão os limites batimétricos superiores e inferiores da ocorrência das espécies capturadas, as amostras foram analisadas individualmente,

tendo em conta a grande variação observada nas amplitudes batimétricas de cada grupo de anzol, nas diferentes condições topográficas dos locais de lançamento do espinhel, em cada estação de amostragem. Como critério mais conservativo, foram consideradas as amplitudes de profundidade de cada grupo de anzol, a partir das quais observou-se a amostra (grupo de anzol) com a maior profundidade entre os mínimos batimétricos das amostras (anzois mais raso de cada grupo), para estabelecer a profundidade máxima de ocorrência de determinada espécie. Da mesma forma, foi considerada a amostra com menor profundidade entre os máximos batimétricos das amostras (anzois mais profundos de cada grupo), para estabelecer a profundidade mínima da espécie. A apresentação desses resultados considerou a profundidade média da amostra selecionada, explicitando o erro estimado a partir da amplitude batimétrica do grupo de anzóis selecionado.

Para a análise da diversidade e associação de espécies, as amostras foram agrupadas por grau de latitude e por estratos de 40 metros de amplitude de profundidades (pós-estratificação considerando as profundidades e latitudes médias de cada grupo de anzóis), recalculando-se a CPUE média por espécie, por grupo, de forma a reduzir o ruído causado pelo grande número de amostras com ocorrência de poucas espécies. A matriz resultante totalizou 101 espécies distribuídas em 188 amostras. A diversidade de espécies nas amostras foi analisada em relação à profundidade de captura e à latitude, com base na variação observada nos índices de diversidade de Shannon- Wiener (H’), e pelo índice de riqueza de Margalef (d) (Magurran, 1988).

Para determinar os padrões de associação entre as amostras reagrupadas e analisar a distribuição espacial da ictiofauna recifal, foram realizadas análises de agrupamento (cluster) aglomerativo hierárquico e de ordenamento pelo método de escalonamento multidimensional (MDS), utilizando as rotinas disponíveis no pacote de

programas PRIMER (Clarke e Gorley, 2001). Da matriz reagrupada foram selecionadas as amostras com mais de cinco espécies, para reduzir as distorções geradas quando se utilizam amostras com baixa representatividade. A exclusão destas amostras ocasionou também a eliminação de 9 espécies. A matriz final incluiu 92 espécies distribuídas em 57 amostras. Os dados de abundância numérica (CPUE em ind/1000anzóis) foram logaritmizados (log CPUE+1), de forma a ponderar proporcionalmente as espécies raras. Em todas as análises optou-se por não excluir espécies deliberadamente, mesmo aquelas de hábitos predominantemente pelágicos ou demersais de substratos não- consolidados (que também exploram hábitats recifais ocasionalmente), de forma a manter a integridade das associações e sua co-ocorrência na área de estudo.

O índice de dissimilaridade de Bray-Curtis (Krebs, 1999) foi adotado para estabelecer uma matriz de dissimilaridade com base na abundância relativa das espécies, entre as 57 amostras consideradas, gerando valores entre zero (estações completamente similares) e 100 (completamente diferentes). Foi usado o método de agrupamento por média de grupo (WPGMA) na análise de cluster, complementado pela técnica de ordenação por escalonamento não-métrico multidimensional (non-metric MDS), para comparação dos resultados obtidos. A análise unidirecional de similaridade, ANOSIM (Clarke & Warwick, 1994), foi aplicada para testar a hipótese de diferenças entre as associações de espécies identificadas nas diferentes regiões da área de estudo. Esta sub- rotina compara níveis médios de similaridade dentro de grupos de amostras predefinidas, com a similaridade média existente entre os grupos. Valores próximos de 1 indicam uma forte diferença entre os grupos, enquanto valores próximos de 0 indicam que não existem diferenças significativas entre os grupos.

A análise de similaridade percentual SIMPER (Clarke & Warwick, 1994), foi realizada sobre a matriz de dados de abundância numérica logaritimizados (log

CPUE+1), para determinar a contribuição de cada espécie em relação às dissimilaridades existentes entre os grupos de amostras identificados na plataforma externa e talude superior da área de estudo. A identificação de espécies discriminantes foi realizada a partir da análise da contribuição de cada espécie para a dissimilaridade média calculada entre todos os pares de amostras intergrupos (cada amostra do 1º grupo com cada amostra do 2º grupo), considerando a razão entre média e desvio padrão como a melhor medida da consistência da contribuição de cada espécie na diferenciação dos grupos (Clarke e Warwick, 1994).

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