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Ao iniciar essa seção, é preciso fazer um parêntese para ressaltar o desafio que representou para esta pesquisadora transpor a teoria – os conhecimentos adquiridos por meio de leituras anteriores, de trabalhos que usavam a fenomenografia e que continham orientações sobre como realizar o processo de análise – para a prática, a execução de fato da pesquisa, em especial sua análise. Todo o processo foi cercado de muitas incertezas, que pareciam ter várias origens e nenhum fim. Trabalhar na aplicação de algo tão novo trouxe uma insegurança que parecia inabilitar a mão a responder ao controle da cabeça. Entre cabeça e mãos, parecia haver muito mais que pescoço, ombros e braços; esse caminho pareceu ser muito longo.

Sobre a fase de análise na pesquisa fenomenográfica, Bowden (2005) afirma que seus controles envolvem: 1) o uso de nenhuma outra evidência exceto as transcrições das entrevistas; 2) o bracketing de relação própria do pesquisador com o fenômeno; 3) o uso de análise de grupo, a fim de garantir que os dois primeiros comandos sejam eficazes; e 4) a análise da relação estrutural entre as categorias de descrição a serem adiadas para depois que as categorias tenham sido finalizadas.

Assim como na etapa de coleta de dados, a relação entre o pesquisador e o fenômeno e a influência dessa relação nos resultados de pesquisa precisam ser minimizadas na fase de análise. O próximo passo é analisar essas transcrições de uma forma que permita o mapeamento das diferentes formas dos sujeitos se relacionarem com o fenômeno, sem que o mapeamento seja falseado pela relação do pesquisador com o fenômeno. A principal maneira de minimizar tal distorção é basear todas as análises sobre as transcrições: se não estiver no texto transcrito, não é evidência (BOWDEN, 2005).

Desse modo, as transcrições foram agrupadas de modo a unificar todas as entrevistas dos alunos de cada ano, que foram analisadas separadamente. Assim, as transcrições das entrevistas dos alunos do primeiro ano foram agrupadas e analisadas, assim como a dos alunos do segundo, terceiro e quarto anos. Primeiramente foi realizada uma leitura das entrevistas transcritas de cada grupo de alunos procurando identificar nos relatos de suas experiências diferentes significados atribuídos à sustentabilidade. Nessa etapa, com base em Lopes (2012), a leitura tinha como fio condutor a seguinte questão: “o que este relato me diz sobre o que ele/ela entende por sustentabilidade?”. Essa pergunta foi usada durante as leituras, então, para separar os trechos que seriam considerados centrais daqueles que não seriam.

Akerlind, Bowden e Green (2005) ressaltam que o significado do fenômeno para qualquer participante pode variar em diferentes circunstâncias. Desse modo, o significado pode variar dentro de indivíduos como bem como entre indivíduos, mas o intervalo de variação dentro de indivíduos é susceptível de ser abrangido pelo intervalo entre os indivíduos. O conjunto de transcritos como um todo representa um instantâneo das formas de experienciar o fenômeno por um determinado grupo de pessoas em um determinado tempo e em resposta a uma situação em particular.

Além disso, o foco da pesquisa fenomenográfica está nos participantes como um grupo coletivo, não como uma série de indivíduos. Logo, é improvável que qualquer parte da transcrição corresponda precisamente a qualquer uma das categorias de descrição, porque as categorias devem ser constituídas a partir de uma análise de todas as transcrições como um grupo. A partir dessa perspectiva, nenhum transcrito pode ser entendido isoladamente e só

pode ser interpretado em comparação com o resto do grupo de transcritos (AKERLIND; BOWDEN; GREEN, 2005).

A partir dos trechos identificados na primeira etapa, foi criada uma planilha, organizada de modo que ao lado de cada passagem extraída da transcrição fosse alimentada uma célula com as impressões relacionadas àquele trecho. Além disso, Gibbigns (2008), ao resumir as etapas da análise de dados da pesquisa fenomenográfica, destaca a necessidade de que os trechos das transcrições sejam organizados de acordo com o contexto da entrevista do qual foram retirados, uma vez que trechos parecidos podem ter significados diferentes dependendo do seu contexto. Dessa forma, as células que continham os trechos e as impressões a ele relacionadas eram preenchidas com cores diferentes que correspondiam à pergunta que os originou. É possível ver, a partir das Figuras 1 e 2, respectivamente, o layout das planilhas com os trechos e com a legenda indicando a qual questão eles estavam relacionados:

Figura 1 – Planilha com trechos das entrevistas destacadas por cores

Fonte: Elaborada pela autora.

Figura 2 – Planilha com legenda de cores por questão

A seguir, buscou-se comparar os entendimentos observados, procurando identificar uma relação entre eles. Os trechos das entrevistas foram agrupados e reagrupados com base na identificação de similaridades e diferenças na concepção dos estudantes sobre sustentabilidade, sendo sempre possível, pela cor da célula, identificar o contexto do qual foi retirado aquele trecho, independente do constante reagrupamento. O resultado desse processo foi uma pré-categorização, que foi continuamente revisada e debatida durante o processo de orientação deste trabalho, até que, após alterações e ajustes, chegou-se à definição das categorias de descrição e, consequentemente, das concepções. Nesse estágio, a cada novo olhar, voltava-se às transcrições na íntegra, a fim de identificar se havia algum trecho importante para a definição das concepções de sustentabilidade que porventura tinham ficado de fora dos trechos agrupados. Por fim, os trechos agrupados foram revistos para identificar citações que iriam apoiar cada uma das concepções encontradas, e a estrutura do espaço resultado foi confirmado, conforme apresentado no capítulo a seguir.

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A estrutura deste tópico conta, primeiramente, com a apresentação da instituição que serviu como ambiente de estudo para a aplicação desta pesquisa, a UFPB. Desse modo, pretendeu-se situar o leitor sobre as especificidades que tornam o ambiente dessa universidade diferenciado para a aplicação de uma pesquisa que trata sobre o universo da sustentabilidade. A seguir, são apresentadas as diferentes concepções de sustentabilidade encontradas em cada grupo de estudantes pesquisado e a variação dessas concepções ao longo do curso.