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Recomendação 9: O impacto social deve ser positivo através da participação comunitária e melhoria das condições de trabalho do

3.8. O processo de concessão

Conforme referido, a experiência em concessões no país é ainda bastante reduzida. A Lei de Florestas e Fauna Bravia estabelece,

duma forma geral, os principios a observar no processo de concessão e remete ao futuro regulamento florestal os aspectos técnicos de detalhe, como por exemplo a organização e trami- tação do processo, o contrato de concessão, início de exploração, deveres e direitos do concessionário, auscultação das comuni- dades locais, etc. O regulamento não foi ainda aprovado e por isso, a DNFFB elaborou, com base na Lei 10/99 e no antigo regulamento florestal, um guião com as principais etapas a seguir no processo de concessão. O guião, denominado “Desenvolvi- mento do Processo de Pedido da Concessão Florestal por Arrendamento” define 14 fases no processo, a saber:

Fase 1. Requerimento do interessado

O processo começa com a apresentação de um requerimento às autoridades com as seguintes informações:

• Identificação da empresa;

• Indicação dos objectivos e destino dos produtos; • Indicação da área florestal pretendida;

• Apresentação da memória descritiva da floresta indicando as espécies, volume anual de corte e o tipo de produtos, grau de industrialização previsto, mercado de produção, equipamento de exploração florestal, instalações industriais e sociais previstas e estimativas de custos de produção. • Indicação de capacidade financeira ou industrial adequada

ao volume do empreendimento;

• Apresentação do relatório de consulta às comunidades locais residentes na área de concessão.

O início do processo de concessão é da responsabilidade do interessado, é este que identifica a área florestal e define a extensão da mesma em função da capacidade de exploração florestal e de processamento industrial. O requerimento é dirigido

a Sua Exa Senhor Governador da Província em que se localiza a área de concessão, quando a área pretendida é igual ou inferior a 10.000 ha e a Sua Exa Senhor Primeiro-Ministro quando a área é superior ao valor referido.

Fase 2. Análise preliminar do pedido pelos SPFFB

O processo é depositado nos SPFFB e aqui é analisado para determinar se o mesmo deve avançar ou propor logo o seu indefe- rimento. Os SPFFB analisam os seguintes aspectos:

• Existência de sobreposição de áreas; • Existência ou não de potencial florestal; • Idoneidade do requerente;

• Estudo preliminar da proposta do requerente relativamente à capacidade de exploração e processamento industrial.

Fase 3. Vistoria técnica

Caso o requerimento passe a análise preliminar, os SPFFB enviam uma equipa técnica à área proposta para verificar:

• os volumes existentes na floresta;

• a possibilidade de exploração dos volumes de madeira sugeridos e

• a composição florística da floresta. Fase 4. Despacho preliminar

Chegados a esta fase, os SPFFB preparam um parecer ao seu órgão superior. Áreas até 10.000 ha terão despacho preliminar do Senhor Director Provincial e Desenvolvimento Rural e o processo

volta ao SPFFB para prosseguir às fases seguintes. Para os casos de áreas superiores a 10.000 ha, os SPFFB preparam a proposta de despacho ao Senhor Director Provincial de Agricultura que envia à apreciação de Sua Exa Senhor Governador e o processo é enviado à DNFFB.

Fase 5. Aviso público

O aviso público destina-se a informar que a área em questão está sendo solicitada para concessão florestal por arrendamento. As cópias do aviso são afixados nas sedes dos SPFFB, na Admi- nistração do distrito ou localidade da área em questão.

Fase 6. Despacho

Caso não haver reclamações a atender em resultado das publi- cações dos avisos, os SPFFB ou a DNFFB preparam a informa- ção final para o despacho da entidade competente em função da área de concessão solicitada. Consta no despacho, as cláusulas e as regras técnicas a seguir pelo requerente no exercicio da actividade.

Fase 7. Adesão do requerente às condições de exploração

Nesta etapa o requerente é informado pelos SPFFB do despacho final do requerimento e das condições de exploração a observar. Caso aceite as condições assina o documento de aceitação e caso contrário o pedido é indeferido.

Fase 8. O requerente apresenta o plano de exploração detalhado Ao requerente é exigido nesta fase o inventário florestal deta- lhado, no qual constam entre outros os seguintes parâmetros:

• O volume global;

• O volume por unidade de área; • Distribuição diamétrica; • Dados sobre a regeneração e; • A composição florística.

Fase 9. Elaboração e assinatura do contrato de concessão

O contrato definitivo é assinado após aceitação pelos SPFFB ou DNFFB do plano de exploração. O contrato é assinado por Sua Exa Senhor Governador da província a que pertence a concessão, mesmo se o despacho for feito pelos órgãos centrais.

Fase 10. Publicação do alvará e pagamento da primeira renda anual

Após a assinatura do contrato a DPADR manda publicar o alvará no Boletim da República. O início das actividades terá lugar depois dos SPFFB verificarem o cumprimento das fases 11 a 14.

Fase 11. Delimitação periférica e balizagem da área de concessão

O concessionario é obrigado a fazer uma demarcação provisória dos limites da concessão, estabelecer o aceiro periférico e colocar tabuletas bem visíveis para a identificação da concessão. Ao mesmo tempo o concessionário deve contactar os SPGC para proceder a demarcação definitiva da área.

Fase 12. Delimitação de corte

A concessão deve ser parcelada para efeitos de exploração florestal. Este trabalho pode ser feito paulatinamente e a mudança nas parcelas de exploração carece da aprovação dos SPFFB.

Fase 13. Instalação industrial

A instalação da indústria é considerada crucial no processo de concessão. Em casos de indústria de raíz, o concessionário é obrigado a pelo menos iniciar a montagem da indústria antes de começar a exploração florestal.

Fase 14. Emissão da primeira licença de corte e início da exploração

O processo termina com início da produção. O processo de atribuição de concessões, da forma como está descrito, parece longo e pouco célere, existem ainda vários aspectos e procedi- mentos que precisam de ser definidos ou aclarados, especial- mente no que respeita ao tamanho da concessão, requisitos, tramitação e aprovação do processo de concessão, auscultação das comunidades locais, direitos e deveres dos concessionários, rendas e taxas a pagar e início de actividades.

No que respeita às comunidades não está clara a definição de “comunidade”. Na realidade, em alguns sítios existem várias estruturas tradicionais e administrativas incluindo os régulos e os grupos dinamizadores para além de comités de gestão que podem ser criados paralelamente a estas estruturas locais. A forma de beneficiamento das comunidades é também pouco clara uma vez que não se faz qualquer referência ao sistema de contabilidade dos valores dos quais as comunidades vão beneficiar. Na prática, a definição dos benefícios pode ser complexa uma vez que

existem benefícios pouco tangíveis tais como as vias de acesso que são utilizadas tanto pelo concessionário bem como pelas comunidades. O próprio processo de consulta às comunidades requerido para a autorização de uma concessão parece ser apenas um requisito burocrático e sem nenhuma utilidade prática. Dos processos de pedido de concessão pendentes na DNFFB, os documentos de consulta comunitária apresentam uma grande variabilidade. Cada província adoptou seus critérios específicos dependendo das iniciativas e capacidades locais. Em Sofala, por exemplo, adoptou-se o formato da Lei de Terras para a consulta, enquanto que na Zambézia não se definiu nenhum formato padrão, levando os solicitantes a apresentar documentos que podem não reflectir a consulta que se requer para o enqua- dramento das comunidades. Há referência de solicitantes de concessões florestais aos quais as comunidades estão exigindo o estabelecimento de escolas e postos médicos, que lhes conceda o documento de aceitação enquanto que os outros solicitantes apenas passaram por um processo de consulta ao chefe local e seus ajudantes, sem muitas exigências.

Relativamente ao período de processamento de documentos de pedido de concessão, não existe um padrão devido à falta de claridade e uniformidade nos critérios de avaliação. Há pedidos como o da ENACOMO, na Zambézia, submetido em 1996 e que em Abril de 2002 ainda não havia sido autorizado. Refira-se que algumas das empresas que estão solicitando concessões já estão estabelecidas há algum tempo no sector florestal e têm indústria estabelecida, mas que enquanto o seu processo de pedido de concessão decorre, estão explorando madeira em regime de licença simples.

A demarcação de concessões constitui outra fonte de gastos para o concessionário. Na Fase 11 indicada anteriormente estabelece- se que uma vez autorizada a concessão, o operador deve delimitar a área através de aceiros e marcas bem visíveis. Encoraja-se a definição de áreas de concessão com base em limites naturais ou artificiais já estabelecidos tais como rios, estradas, ou outros marcos claramente visíveis para minimizar os custos de demar-

cação (Saket et al. 1999), porém nem sempre isso vai ser possível dada a localização remota das áreas geralmente requeridas para concessão florestal.

Recomendação 10: O processo de concessões deve ser simplificado e os