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O processo de criação do projeto e a relação com o cliente: o arquiteto, o desenho

2. METODOLOGIA DE PROJETO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3. PROCEDIMENTOS DE TRABALHO

2.3.1. O processo de criação do projeto e a relação com o cliente: o arquiteto, o desenho

Os clientes chegavam por vários caminhos: desde pessoas amigas ou que haviam estudado com Toninho (casal Antonio César Lins de Lima / Olga Affonso Ferreira); também pessoas que receberam indicação de outras que já conheciam o arquiteto (Vitor Ramos de Souza); clientes trazidos por outros colegas, entre eles o arquiteto Araken Martinho (Paulo de Tarso B. Duarte) e até cliente que simpatizou com a franqueza da frase escrita em letras brancas e miúdas sobre o paredão preto da fachada do primeiro escritório do arquiteto à avenida Moraes Sales 1295, onde se lia: “Arquiteto recém formado” (Leandro Celso Grillo)81.

Figura 2.19. - Primeiro escritório do arquiteto – Av. Moraes Sales, 1295 Foto: Antonio da Costa Santos. Data provável: 1975

Arquivo da Família Costa Santos

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A partir de contatos iniciais, marcava-se a primeira reunião entre arquiteto e clientes. Nesse momento eram trocadas as primeiras informações sobre as necessidades e expectativas dos clientes e, de outro lado, sobre os serviços a serem prestados pelo arquiteto.

O segundo encontro acontecia, muitas vezes, em algum canteiro de obras, dentre aqueles em andamento sob a responsabilidade do arquiteto. Ali, com a presença dos trabalhadores e no calor da produção, Toninho aprofundava temas como sua forma de trabalho, a necessidade da participação constante dos proprietários nas decisões da obra; a valorização do trabalho e do talento dos empregados e tecnologia construtiva a explorar.

Em alguns casos, nessa fase inicial, Toninho chegou a levar os clientes a São Paulo para, através de visita a obras realizadas pelos mestres Artigas e Millan, conhecerem este tipo de arquitetura.82

Após mais alguns contatos para definição do programa, da tipologia e outros, tinha início a etapa de concepção do Estudo Preliminar que acontecia no mezanino do escritório na grande e única prancheta de desenho. Essa etapa do trabalho acontecia sem a presença dos clientes e, posso assegurar, era a fase mais rica e fecunda da etapa de criação. Nesse momento, entre folhas de desenhos, croquis e anotações o problema era abordado na busca da melhor solução83.

A apresentação do Estudo Preliminar acontecia poucas semanas depois. O material constava de desenhos feitos à mão, em grafite sobre papel fosco, geralmente em escala 1:50 e, muitas vezes, acompanhados de maquete volumétrica, pequena e esquemática. Os desenhos

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Assim aconteceu com os clientes Paulo de Tarso B. Duarte e Antonio Celso Rosa, ambos em 1979. Informação prestada pelos próprios clientes em entrevista realizada em 2007.

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Além do arquiteto Antonio da Costa Santos, também colaboraram no escritório Maria Luiza Matielo de Oliveira, de 1975 a 1978, ainda estudante e, de 1979 a 1982 já como arquiteta formada pela PUCCamp; e Antonio Luis Tebaldi Castellano, de 1978 a 1980, como estagiário e, em 1981, como arquiteto formado pela PUCCamp. Durante o ano 2000, já sem as participações de Maria Luiza e Antonio Luis, estagiou no escritório a estudante de Arquitetura e Urbanismo da PUCC e aluna de Toninho, Isabela Taxa Belém Brisighello. O escritório sempre contou também com o apoio da secretária Solemar Dias.

apresentados na escala 1:50 representavam plantas, cortes e elevações, além de algum detalhe ou situação que fosse relevante para a compreensão da idéia.

Algumas vezes o Estudo Preliminar era refeito em razão de redirecionamento da idéia a partir da sua apresentação aos clientes, mas era comum ser aprovado logo na primeira versão84. Quando isso acontecia, tinha início a realização de outros dois tipos de desenho: um para aprovação junto à Prefeitura Municipal de Campinas e outro para orientar a execução das obras. O primeiro, mais técnico, era sempre terceirizado e, esse último, longe de configurar Projeto Executivo pronto, continha apenas as informações necessárias aos contatos iniciais com os outros projetistas envolvidos – estrutura e instalações elétricas e hidráulicas, e também à locação e início das obras, tais como eixos principais, recuos e afastamentos, principais vãos e distâncias, alturas e outros.

É de se notar que a ausência do projeto executivo de arquitetura levava, por extensão, os outros projetistas a adotarem procedimento parecido, ou seja, os primeiros desenhos mostravam apenas o essencial para o início das obras. Desenhos complementares e simples (detalhes em papel pequeno) eram produzidos à medida que as soluções técnicas surgiam no canteiro.

Desnecessário dizer que essa maneira, inusual, de realizar obra exigia a presença constante no canteiro do arquiteto, demais projetistas e clientes, além do que trazia uma dificuldade natural em definir prazos de cada etapa de obra, gerando, em alguns casos, tensão nos clientes e também, na mão de obra.

Toninho trabalhou seis anos (1975-1980) sem firmar contrato escrito com seus clientes. O que cabia às partes, ou seja, arquiteto e clientes, era estabelecido de maneira tácita e consentida. Em fins de 1980, à mercê de situações desconfortáveis frente a determinado cliente, passou a adotar um contrato de prestações de serviços que esboçou e seu advogado de então,

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Toninho viveu os conflitos da prática profissional voltada a clientes particulares: entre agosto e dezembro de 1976, Toninho e Luiza desenvolviam estudos para a residência Jean Jacques. Cita em sua agenda: “Nova reformulação do projeto, depois da viagem do casal, abre perspectivas e ao mesmo tempo desestrutura.” Em 10/12/1976: “Estudos/angústias/falta de perspectivas res. Jean Jacques”.

aperfeiçoou. O primeiro cliente com relação profissional prevista em contrato foi Vitor Ramos de Souza.

Na maior parte dos casos, Toninho assumia a responsabilidade pela autoria do projeto e pela execução das obras - Residências Antonio Celso Rosa, Antonio Carlos Camargo Erbolato, Antonio César Lins de Lima e o Centro Comunitário do Jardim São Gabriel. Em alguns casos tratava também de ajudar na obtenção de financiamento junto a bancos, produzindo memoriais, orçamentos e cronogramas – caso do cliente José Maria Rodrigues. Em outros, sugeria conceitos de paisagismo e acompanhava os clientes em visita a viveiros de plantas (caso do cliente Vitor Ramos de Souza que Toninho acompanhou ao viveiro Dierberger, em Limeira, e Floriculturas Campineira e Nogueirapis, em Campinas), outros, ainda, acompanhou até antiquários (casos dos clientes Vitor Ramos de Souza e Antonio César Lins de Lima) e para alguns, chegou mesmo a desenhar o cartão de participação da conclusão da casa nova (caso da cliente Olga Affonso Ferreira).85