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1. INTRODUÇÃO

1.2.3. Processo de Adaptação Cultural de instrumentos de medidas

É crescente o uso de instrumentos de medidas pela comunidade científica com o intuito de mensurar constructos subjetivos nas diversas áreas, sobretudo na área de saúde. Essas pesquisas objetivam analisar as crenças, atitudes e os comportamentos relacionados à saúde, além de aspectos administrativos e econômicos (GUILLEMIN; BOMBARDIER; BEATON, 1993; SPERBER, 2004).

A maioria dos instrumentos de medida vem sendo desenvolvidos na língua inglesa para serem aplicados em indivíduos de sua população de origem. Desta forma, o pesquisador, para responder alguma questão, pode decidir por utilizar um instrumento

de medida existente ou construir um novo instrumento. Do ponto de vista do custo benefício, sempre é preferível e prático utilizar um instrumento de medida existente do que começar um longo e dispendioso processo de construção e validação psicométrica (KIMBERLIN; WINTERSTEIN, 2008).

A opção de utilizar um instrumento de medida já existente em outra cultura implica que o pesquisador realize uma série de procedimentos para adaptá-lo culturalmente (GUILLEMIN; BOMBARDIER; BEATON, 1993; SWAIDE-VERDIER et al., 2004; CASTRO; PORTELA; LEÃO, 2007). Assim, a adaptação cultural se faz importante e necessária e envolve não somente a tradução do instrumento, mas também a sua adaptação cultural, mantendo os diferentes tipos de equivalências entre a versão original e a adaptada, bem como as propriedades psicométricas da versão original (SPERBER, 2004; MCKENNA; DOWARD, 2005). Cabe ressaltar que a decisão do pesquisador deverá ser pautada em criteriosa seleção para escolha de um instrumento com comprovada validade e confiabilidade (COOK; BECKMAN, 2006; FAYERS; MACHIN, 2007; KIMBERLIN; WINTERSTEIN, 2008).

O processo de adaptação cultural envolve uma série de fatores, sobretudo a garantia da manutenção do constructo a ser estudado. Essa avaliação implica na avaliação da equivalência entre as versões original e adaptada. Na literatura há inúmeras e diferentes formas de avaliação das equivalências que podem e precisam ser verificadas, mas não há um consenso entre os pesquisadores sobre quais equivalências devem ser verificadas nesse processo, razão pela qual os pesquisadores têm seguido os métodos que consideram ser os mais adequados.

Neste estudo, os critérios adotados de avaliação das equivalências entre as versões foram os conceitos teóricos de quatro tipos básicos de equivalências, os quais foram estabelecidos por Guillemin; Bombardier e Beaton (1993), Guillemin (1995), Herdman e Badia (1997), Herdman. Fox-Rushby e Badia (1997) e Beaton et al., (2000): 1. Equivalência semântica: Baseia-se na avaliação gramatical e de vocabulário entre as palavras, pois muitas palavras de um determinado idioma não possuem tradução adequada para outro. Desta forma, ela avalia se houve a manutenção do significado de cada item, após a tradução para a língua da cultura alvo;

2. Equivalência idiomática: Identifica e avalia os termos de difícil tradução, tais como expressões coloquiais de um determinado idioma. Por exemplo, algumas expressões, quando são traduzidas para outra língua, perdem completamente o sentido, ou podem ser entendidas erroneamente ou com sentido diferente ao da língua original.

Desse modo, ela avalia se houve a adequação do significado desses termos para a língua da cultura alvo;

3. Equivalência cultural (ou experimental): Identifica e avalia se os termos utilizados na versão original são coerentes com as experiências vivenciadas pela população à qual se destina, ou seja, se os termos utilizados correspondem com as experiências vivenciadas pela população alvo;

4. Equivalência conceitual: Avalia a pertinência e a adequação dos itens na representação teórica do conceito avaliado da versão traduzida. Em outros termos, essa equivalência avalia a validade da versão final do instrumento de medida, ou seja, se as situações retratadas nos itens da versão traduzida realmente correspondem o conceito cultural da população alvo.

A falta de uma padronização entre os autores sobre o método para avaliação das equivalências também se apresenta no processo de adaptação cultural dos instrumentos de medida. Diante disso, alguns autores propuseram suas próprias metodologias, as quais foram sendo gradativamente aceitas internacionalmente e, em consequência, foram amplamente utilizadas. As orientações de Guillemin; Bombardier e Beaton (1993) têm sido as mais bem aceitas pela comunidade científica e engloba cinco passos: (1) - Tradução; (2) - Retrotradução; (3) - Avaliação por um comitê de juízes; (4) - Pré-teste e, (5) - Ponderação dos escores. Essa metodologia vem sendo bastante utilizada e, por isso, tem sido a base de aprimoramento por outros autores, a exemplo de Ferrer et al. (1996).

O método proposto por Ferrer et al. (1996) recomenda que, após realizadas as traduções, essas deverão ser sintetizadas e avaliadas por um comitê de juízes, a fim de avaliar suas equivalências para, em seguida, se realizar a retrotradução. Segundo os autores, essa alteração permite a detecção de erros e problemas de compreensão, os quais não poderiam ser percebidos após a realização da retrotradução. Essa alteração na ordem das etapas 2 e 3 do método de Guillemin; Bombardier e Beaton (1993) assegura que na retrotradução os pesquisadores possam detectar equívoco nas traduções e corrigí- los, a fim de manter as equivalências semânticas, idiomáticas e culturais, com a versão original (FERRER, et al., 1996).

A avaliação (ou validação) semântica também é uma nova etapa nesse processo. Ela objetiva avaliar o entendimento e a compreensão dos sujeitos da população alvo acerca de uma determinada situação, ou seja, visa a conhecer como eles compreendem cada item do novo instrumento de medida (PASQUALI, 1999) ou da

versão que está sendo adaptada (SCHMIDT; BULLINGER, 2003) e se os sujeitos modificariam alguns itens. Visa a verificar se os itens são inteligíveis cognitivamente a todos os extratos populacionais (PASQUALI, 1999; SCHMIDT; BULLINGER, 2003). Ela pode feita individualmente ou em pequenos grupos (PASQUALI, 1999) ou com uso de instrumentos específicos os quais permitem uma rigorosa documentação da avaliação dos sujeitos (SCHMIDT; BULLINGER, 2003). E sua metodologia de avaliação, baseada no uso de instrumentos de avaliação semântica, tem sido adotada pelos pesquisadores do grupo de pesquisa onde se desenvolveu esse estudo (ECHEVARRIA- GUANILO et al., 2006; FERREIRA et al., 2008; PELEGRINO et al., 2011; DANTAS et al. 2013).

Realizada a adaptação cultural, o próximo passo desse processo é a testagem psicométrica da nova versão do instrumento, com vistas a observar se ela mantém as propriedades de validade e confiabilidade da versão original.

1.2.4. Avaliação das propriedades psicométricas de um instrumento de medida