2.4 GESTÃO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
2.4.2 Funções e processos gestão de inovação
2.4.2.1 Processo de gestão de inovação – Modelo de Nuchera 1999
NUCHERA (1999), salienta que gerir de forma eficiente uma tecnologia, requer considerar todos os aspectos relacionados com a capacidade da empresa em:
reconhecer oportunidades tecnológicas ao seu entorno; adquirir e desenvolver recursos tecnológicos necessários; assimilar as tecnologias incorporadas ao processo;
aprender a partir da experiência adquirida.
Desta forma, alcançar o objetivo de gerir corretamente uma inovação, perpassa, conforme o autor, em um conjunto de funções ou etapas que explicitem os requisitos para este processo. No modelo de Nuchera, as funções a serem desenvolvidas para atingir uma gestão eficiente são classificadas em funções ativas e funções de apoio, ver figura 1.
Figura 1 - Funções ativas e passivas -Modelo Nuchera 1999.
Fonte: Nuchera 1999.
As funções ativas são:
i. Função de avaliação da competitividade e do potencial tecnológico próprio. É a primeira etapa que a empresa desenvolve para poder defrontar novas estratégias de desenvolvimento. Esta se baseia em analisar suas capacidades, em mobilizar recursos tecnológicos. O plano de estratégia tecnológica a ser seguido pela empresa parte da identificação das tecnologias chaves que domina e na determinação de quão sólido é este domínio.
A identificação das tecnologias chaves pode ser realizada pelos funcionários da empresa ou por consultoria externa. Já a solidez do domínio, relaciona-se com a quantidades de funcionários especialistas na tecnologia em questão, além do nível de dependência externa.
Para que esta função seja realizada nas melhores condições, é necessário que a empresa desenvolva um inventário de seu patrimônio tecnológico e possua um sistema de monitoramento tecnológico.
ii. Função de especificação e realização de plano de estratégia tecnológica.
A estratégia de tecnologia deve expressar com clareza as opções tecnológicas da empresa. O sucesso ou fracasso da tecnologia será baseado na identificação de oportunidades e na concentração de recursos nas áreas em que a empresa possua melhores capacidades e que permitam atingir o objetivo final.
Desta forma, a estratégia de tecnologia deve definir claramente: o grau de risco envolvido na aquisição da tecnologia; o grau de intensidade do esforço tecnológico; a distribuição do orçamento a partir das opções de tecnologias disponíveis e a escolha de posição competitiva para cada tecnologia.
O plano de estratégia tecnológica deve basear-se em um período de reflexão, a partir das respostas das seguintes perguntas: em que estado estão as tecnologias que a empresa domina? Que alternativas tecnologias são percebidas pela empresa? Quais tecnologias são desenvolvidas por concorrentes? Quais são os aspectos positivos e negativos da empresa?
Seja qual for a escolha do plano estratégico, esta deve conceber equilíbrio entre o que a empresa pretende desenvolver e os recursos disponíveis para tal.
iii. Função de aumento ou enriquecimento do patrimônio tecnológico
A primeira consideração a ser feita é que dificilmente uma empresa pode lidar sozinha com o rápido e incessante crescimento dos campos tecnológicos de seu interesse. Assim, ao mesmo tempo que se necessita de um desenvolvimento tecnológico interno, também é importante aproveitar da capacidade de centro tecnológicos externos (universidades, empresas, etc.), encontrando novas formas de conduzir e administrar tecnologia geradas por outros.
Durand (apud NUCHERA, 1999), defende que uma estratégia para valorizar o patrimônio tecnológico deve ser baseada na análise das possibilidades externas antes da decisão de realizar o desenvolvimento internamente. Dessa forma, poupa-se tempo e esforços. Admite-se que uma empresa possa sobreviver sem a capacidade de originar internamente a tecnologia, mas esta necessita dispor de contatos externos que possam lhe proporcionar as tecnologias. Ademais, ter a capacidade de usar efetivamente a tecnologia adquirida. Neste caso, exigem habilidades e competência por parte da empresa no momento da seleção e transferência da tecnologia, já que não se trata de uma mera transação de compra.
Assim, o enriquecimento do patrimônio tecnológico não consiste, na sua totalidade, em desenvolver os recursos apenas internamente. Este preza, também, que a empresa saiba como, onde e quando obter os recursos de forma externa, tendo a capacidade de saber quais elementos deverá terceirizar e quais reter internamente.
iv. Função de implantação das fases de desenvolvimento do novo produto
Dentro do processo de gestão de tecnologia, esta função desempenha um papel importante na implementação e desenvolvimento necessários para o novo produto atingir objetivo central.
Nesta etapa, deve ser dedicada atenção suficiente à infraestrutura tecnológica, à gestão da questão da mudança cultural e à resistência para com a inovação. Uma gestão eficaz dessa função exige uma estreita interação entre as diferentes atividades que constituem o desenvolvimento do produto.
Essa interação permite identificar e resolver conflitos rapidamente, possibilitando a redução de problemas, atingindo soluções e aprendizados, de forma mútua. Contudo a definição dos processos internos na empresa deve ser contínua e constante.
As funções de apoio são: i. Vigilância tecnológica
Para Nuchera, a vigilância tecnológica constitui uma função de apoio no processo de gestão também tecnológica, sendo tão importante quão as funções ativas desse processo. Para o autor, essa função possui dupla finalidade: a primeira
é permitir que sejam detectadas mudanças tecnológicas, comportamento dos competidores e outros sinais indicadores de oportunidades, possibilitando, deste modo a empresa evoluir; a segunda finalidade é identificar contatos externos que proporcionem à empresa tecnologias capazes de enriquecer seu patrimônio tecnológico.
Segundo Palop e Vicente (apud NUCHERA, 1999), a vigilância tecnológica deve possuir três características: ser focada, sistemática e estruturada. Focada, na seleção de fatores e indicadores passíveis de vigilância, o que resulta na economia de tempo e custos; sistemática, no sentido de ser metodologicamente organizada no objetivo de explorar, de forma regular, os indicares selecionados; e estruturada, através de uma organização interna descentralizada, baseada na criação e operação de fluxo de redes, as quais assegurem um acompanhamento constante e a divulgação das informações.
Desta forma, o principal desafio da vigilância tecnológica reside na sua capacidade de obter, analisar, transformar e tomar decisões sobre informação tecnológica, oriunda de conhecimento externo da empresa, para contribuir dentro do processo de gestão tecnológica com maior eficiência.
ii. Proteção das inovações
O desenvolvimento de novos produtos envolve um custo elevado para as empresas. A atividade inovadora requer um elevado investimento de recursos. A perspectiva de explorar inovações e obter benefícios permite recompensar o risco assumido para iniciar o processo de gestão tecnológica.
A função proteção está presente e desempenha fator relevante em todas as funções definidas como ativas nesse processo de gestão tecnológica. Na função de avaliação de competitividade, está relacionada não só com o conhecimento do grau de proteção do seu patrimônio tecnológico, mas também com o dos seus aspectos favoráveis e desfavoráveis para realizar uma inovação. Na função de realização de plano estratégico, está relacionada com a definição interna da estratégia interna de proteção da tecnologia. Na função enriquecimento do patrimônio tecnológico, está relacionada com o conhecimento de níveis ou políticas de proteção as quais são aplicadas em organizações externas e que possam colaborar no desenvolvimento tecnológico da empresa. Por fim, na função de implantação das fases de desenvolvimentos de novos produtos, está relacionada no
sentido de evitar que a empresa infrinja uma patente ou faça uso de tecnologia pertencente a outra empresa.
Neste último caso, é válido destacar as opções, segundo Amador e Marquez (2008), que a empresa poderá utilizar uma determinada tecnologia:
apropriação de inovação: patentes, direitos autorais e marca registrada;
marketing da tecnologia: licenciamento de patentes e marcas;
desenvolvimento conjunto com um terceiro: o acordo de consórcio a definir as regras para todos os parceiros.
O desenvolvimento das funções propostas nesse modelo de NUCHERA, 1999, necessita, conforme o autor, da aplicação de um conjunto de ferramentas que se correlacionam com as funções supracitadas. No quadro 1, a seguir, é representada a classificação destas ferramentas de acordo com a função correlata.
Quadro 1 - Correlação funções/ferramentas - Modelo Nuchera 1999
Fonte: Nuchera 1999.