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Processo de ocupação em Brasília Teimosa e os domicílios de

Sabe-se que boa parte dos assentamentos populares, sejam eles originados a partir de ocupações espontâneas (invasões), sejam resultantes de parcelamentos de solo irregulares ou clandestinos, se localizam em áreas ambientalmente frágeis. Assim, as análises das questões ambientais inerentes ao processo de uso e ocupação do solo tornam-se fundamentais quando se pretende reduzir os riscos, bem como buscar um “meio ambiente ecologicamente equilibrado”, direito garantido pela Constituição Brasileira (Art. 225).

O caso da Zeis Brasília Teimosa, localizada na bacia do Pina, entre o centro do Recife e o tão valorizado bairro de Boa Viagem (ver figuras 18 e 19), enquadra-se nesse contexto. Situa-se na península de areia que avança sobre o mar. De forma triangular, ela se limita com o estuário dos rios Capibaribe, Tejipió e Jordão, com o mar e liga-se ao continente, limitando-se com o bairro do Pina. A paisagem do seu entorno é uma das mais preciosas da RMR, fato que, somado a sua localização privilegiada, a coloca como alvo dos interesses do mercado imobiliário formal. Embora tenha sido (e continue sendo) objeto de tal interesse, o assentamento tem um histórico de resistência às várias tentativas de expulsão.

Figura 18: Brasília Teimosa Figura 19: Brasília Teimosa

Fonte: A autora (2004) Fonte: Barros Filho (2005)

Seu processo de ocupação tem sido caracterizado, principalmente, por intensas dinâmicas resultado de uma série de intervenções urbanas, tanto pelo Estado, por meio de programas de urbanização e melhoria em relação aos serviços públicos e às redes de infraestrutura, quanto pela sociedade.

O processo de formação do areal da península de Brasília Teimosa teve início com as obras de proteção do Porto do Recife em 1906, quando se fecha a abertura natural dos arrecifes – a barreta – e se dá um duplo processo de sedimentação, desencadeado pelo mar e pelos rios que nele desembocam.

Teve início em uma área denominada ‘Areal Novo’. Segundo informações da Empresa de Urbanização do Recife (URB-Recife), a ocupação foi iniciada em meados de 1956 por pessoas oriundas do interior do Estado, expulsas pela seca. As primeiras ocupações fizeram uso de qualquer material construtivo disponível, com uma primeira camada de moradias sobre palafitas. Nos anos seguintes, outras ocupações de caráter coletivo e organizado constituíram a configuração territorial que possui atualmente.

A área passou por uma série de transformações ao longo dos anos, sendo objeto de várias intervenções urbanísticas. A primeira delas correspondeu ao Projeto Teimosinho, implantado por meio do Programa de Urbanização de Favelas (PROMORAR), em 1979, com recursos do antigo Banco Nacional da Habitação (BNH). Em 1983 foi reconhecida, com mais 26 áreas do Recife, como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) pela Lei de Uso e Ocupação do Solo do Recife nº. 14.511/1983.

Ao longo dos anos, foram várias as tentativas de retirada das palafitas localizadas na orla, com a relocação das famílias para ‘vilas’ construídas para essa finalidade. A primeira retirada se deu em 1982, com a relocação das famílias para a ‘Vila da Prata’; a segunda ocorreu em 1986, com a transferência das famílias para a ‘Vila Moacir Gomes’; e a terceira, em 1989, para a ‘Vila Teimosinho’. As três vilas se localizam dentro de seu perímetro.

Todas essas ações previam a urbanização da orla para evitar novas ocupações, mas isso só ocorreu em 2004, mediante projeto para a faixa litorânea, elaborado pela Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) e viabilizado pela parceria com o Governo do Estado. O projeto incluiu além da urbanização da sua orla marítima, a retirada de palafitas que se projetavam sobre o mar e a transferência das famílias para dois conjuntos habitacionais, localizados um no próprio bairro e outro no bairro do Cordeiro, na região oeste do Recife. A urbanização da orla resultou no surgimento

da Avenida Brasília Formosa. Essas intervenções são apontadas como fatores que contribuíram para uma maior valorização da área como um todo, embora tal valorização se tenha dado de forma diferenciada internamente.

Com relação à ação do Estado, reconhece-se uma relativa melhoria, quando comparado com seu processo inicial de ocupação, em termos de infraestrutura e serviços urbanos, com reflexo direto nas condições de habitabilidade e salubridade. No entanto, as intervenções apresentem limitações enquanto instrumentos de transformação dos seus respectivos contextos de degradação ambiental. Atualmente, 3 postos de saúde, 3 escolas municipais, 3 escolas estaduais, 1 colégio e 1 creche atendem à comunidade. Quanto ao processo de regularização fundiária, encontra-se em andamento na URB-Recife.

Segundo os dados do Censo Demográfico de 2010, Brasília Teimosa, espraiada em 65,4 hectares, conta com uma população de 18334 habitantes e 5464 residências. Possui uma densidade demográfica de 280,34 hab/ha, cerca de quatro vezes maior que a da cidade (da ordem de 64,83 hab/ha), constituindo um de seus bairros mais populosos. A Tabela a seguir mostra a evolução dos dados populacionais nas duas últimas décadas o qual corresponde ao período em análise. Tabela 8: Evolução dos Dados Populacionais em Brasília Teimosa

Valores Absolutos Evolução

1991 2000 2010 2000/1991 2010/2000 V. Abs. % V. Abs. %

População (hab) 16919 19155 18334 2236 13,22 -821 -4,29

Dens. Demog. (hab/ha) 258,70 292,89 280,34 34,19 13,22 -12,55 -4,28 Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Os dados apresentados mostram o crescimento populacional (13,22%) na primeira década, seguido por uma pequena redução (-4,29%) na última década. Tal fenômeno pode ser explicado como a consequência da intervenção urbanística realizada na orla de Brasília Teimosa, entre os anos de 2003 e 2004, com a remoção de parte de sua população, como mencionado anteriormente. Embora haja sido detectado durante as pesquisas de campo, o retorno de parte dessa população – a qual constituiu parcela da demanda atendida pelo mercado imobiliário de locação – o Censo captou a referida redução.

Quanto à evolução da densidade populacional, em termos gerais, ela confirma a dinamismo demográfico. Todavia, a análise da densidade por setor censitário, permite apreender de que forma esse dinamismo ocorreu espacialmente. Em 1991, as maiores densidades correspondiam aos setores mais próximos da orla, explicadas pela presença das palafitas que se projetavam no mar. Em contrapartida, esses mesmos setores apresentaram, no período 2000 e 2010, um ritmo mais lento, quando comparado aos demais setores à conta da retirada dessas palafitas. Tal processo pode ser visualizado mediante as Figuras 20, 21 e 22.

Figura 20: Densidade Demográfica por setor censitário em Brasília Teimosa 1991

Figura 21: Densidade Demográfica por setor censitário em Brasília Teimosa 2000

Figura 22: Densidade Demográfica por setor censitário em Brasília Teimosa 2010

No que diz respeito à distribuição dos domicílios permanentes de aluguel, considerou-se que o importante é mostrar a relação entre a quantidade desses domicílios frente ao número de domicílios particulares permanentes por setor censitário. Tal distribuição, para os anos em estudo – 1991, 2000 e 2010 –, é apresentada a seguir nas Figuras 23, 24 e 25.

Os maiores percentuais de domicílios de aluguel sobre os particulares permanentes localizam-se principalmente ao sul de Brasília Teimosa. Em 1991, era 18,65 e 15,06%. Em 2000, não ocorreu grandes alterações (16,99% e 13,87%). Porém, em 2000, detecta-se um aumento dessa porcentagem na área mais central, onde se encontram inseridas as quadras onde serão validados, mais adiante, os novos indicadores propostos.

Quanto ao ano de 2010, a percentagem dos domicílios de locação aumentou em todos os setores, mais notadamente ao sul, onde se concentra o maior percentual de domicílios de aluguel (34,71%). Também chama a atenção a evolução significativa desse percentual apresentada pela área mais central, referida anteriormente. Não sem razão, essa é também a área a qual concentra o maior número de domicílios identificados e pesquisados pelo Gemfi. Justifica-se, portanto, a escolha dessa área (Setor censitário 261160605230373) para validação dos indicadores propostos, pelo fato de serem nessas quadras onde as transformações urbano-ambientais, advindas dessa recente dinâmica de ocupação, foram mais perceptíveis.

Figura 23: Distribuição % de domicílios de aluguel por setor censitário em Brasília Teimosa 1991

Figura 24: Distribuição % de domicílios de aluguel por setor censitário em Brasília Teimosa 2000

Figura 25: Distribuição % de domicílios de aluguel por setor censitário em Brasília Teimosa 2010

5.2. Condições de habitabilidade e características dos domicílios de locação