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PROCESSO DE TRABALHO DO ENFERMEIRO NO CONTEXTO HOSPITALAR

O processo de trabalho em sua constituição apresenta alguns elementos básicos que são o objeto de trabalho, os instrumentos de trabalho e o próprio trabalho (LAUREL; NORIEGA, 1989). O homem, por meio de sua ação, utiliza-se destes instrumentos para transformar o objeto de seu trabalho em um produto final. Combina o consumo de produtos resultantes de trabalhos prévios, ou seja, “trabalho morto” e o trabalho em ato ou “trabalho vivo em ato”. Na saúde, a produção dá-se, especialmente, através do trabalho vivo em ato, ou seja, o produto do trabalho é consumido no mesmo instante da sua realização, interagindo, a todo o momento, com os instrumentos do processo de trabalho (FRANCO; MERHY, 2012).

não finalizar em um produto material, mas, sim, em produto indissociável do processo de produção. Esta condição faz com que o resultado do trabalho se traduza na própria assistência prestada a qual é, simultaneamente, consumida. Distingue-se dos outros processos de trabalho por envolver uma relação entre sujeitos em que o cuidador e o sujeito do cuidado precisam ter atendidas suas necessidades individuais (PIRES, 2009).

Segundo Sanna (2007) o processo de trabalho do enfermeiro compreende cinco dimensões: assistência, gerência, ensino, pesquisa e participação política. Na dimensão assistencial do trabalho do enfermeiro, o objeto é o cuidado direto, individual e coletivo, com o intuito de promover, manter e recuperar a saúde. Nesta dimensão, a assistência de qualidade exige do enfermeiro domínio de seus instrumentos e métodos de trabalho.

Já, na dimensão administrativa, o enfermeiro faz uso de ferramentas específicas para o gerenciamento do cuidado e/ou do serviço e tem como objeto os agentes do cuidado e os recursos empregados, com a finalidade de coordenar o assistir em enfermagem. Em relação à dimensão educativa, os agentes aplicam teorias, métodos e recursos de ensino-aprendizagem como instrumentos, a fim de formar e aperfeiçoar recursos humanos de enfermagem, ou atender às necessidades dos usuários relacionadas à educação em saúde. Na dimensão da pesquisa, o saber em enfermagem é o objeto de trabalho do enfermeiro. Este recurso permite identificar novas e melhores formas de atuar em todas as dimensões do processo de trabalho (SANNA, 2007).

Já, na dimensão gerencial, possui destaque o processo de trabalho do enfermeiro que visa garantir a qualidade da assistência de enfermagem, assim como o bom funcionamento da unidade (HAUSMANN; PEDUZZI, 2009).

A última dimensão, denominada participação política, é representada pela força de trabalho de enfermagem e sua representação social. Nesta dimensão existem outros elementos, além da simples filiação a órgãos de representação da categoria, como, por exemplo, a participação ativa na politica e o incentivo à discussão de temas de ordem social e ética da sociedade, marcando o posicionamento da enfermagem perante essas questões. Nesta dimensão, são empregados métodos para transformar a realidade do trabalho através de pressão política, negociação e representação da categoria em instâncias micro e macropolíticas (SANNA, 2007).

Diante disso, o enfermeiro é considerado um gerenciador do serviço de saúde, pois desenvolve um papel fundamental nas relações de equipe, articulando e interagindo com diferentes trabalhadores e sendo identificado pela liderança e coordenação do processo de trabalho em saúde (JACONDINO et al., 2014). Isso, por vezes, pode contribuir para uma sobrecarga de trabalho para esses profissionais.

O trabalho em enfermagem no ambiente hospitalar caracteriza-se por ser contínuo, com atividades ininterruptas durante as 24 horas do dia e distribuídas em turnos diurno e noturno, sendo realizados cotidianamente, incluindo os finais de semana e feriados (VEIGA; FERNANDES; PAIVA, 2011).

No Brasil, a Consolidação das Leis do trabalho - Art.73 § 2º da Lei nº 5.452 de 1º de maio de 1943 define que o trabalho noturno é compreendido entre as 22 horas de um dia até as5 horas do dia subsequente (BRASIL, 1943). Na enfermagem, a escala de horários está organizada, na maior parte das organizações hospitalares, em turnos de seis horas no período diurno e de 12 horas no período noturno (VEIGA; FERNANDES; PAIVA, 2013).

Mauro et al. (2010) referem que o ritmo intenso do trabalho da enfermagem relaciona-se ao acúmulo de funções decorrente da inadequação dos recursos humanos e materiais, o que exige do trabalhador maior energia para desenvolver as suas atividades e implica em sobrecargas físicas e psíquicas em seu corpo.

Segundo Girondi e Gelbcke (2011), a função do enfermeiro é árdua em virtude da rotatividade de escalas no serviço noturno, do excesso das jornadas com a presença de baixo salário, do sofrimento com as dores do paciente e da desvalorização de sua classe, causando estresse no profissional de enfermagem. Para Fakih et al. (2012), os afastamentos por doença, particularmente os de longa duração, são apontados como a principal causa de ausências ao trabalho e como fator de sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem.

Do ponto de vista do gênero, o serviço de enfermagem é formado em sua maioria por indivíduos do sexo feminino, por vezes sobrecarregando tal sexo com uma carga de trabalho dupla, sobretudo quando se adicionam as funções do lar ou quando se veem forçadas a trabalhar em mais de um local para complementar a renda familiar (MOGENTALE; VIZZOTTO, 2011).

Ribeiro et al. (2012) afirmam que os fatores desencadeantes da sobrecarga podem estar relacionados a agentes externos ao trabalho como sexo, idade, carga

de trabalho doméstica, suporte e renda familiar, estado de saúde geral do trabalhador e as características individuais do trabalhador; e relacionados a agentes internos ao ambiente e processo de trabalho, como turno, relacionamento interpessoal, problemas na escala, autonomia na execução de tarefas, suporte social, insegurança, conflito de interesses, estratégias de enfrentamento desenvolvidas e desgaste.

Diante disso, pode-se inferir que existem fatores relacionados à sobrecarga de trabalho de enfermeiros que trabalham em turnos.

3 MÉTODO

Neste capítulo, apresentam-se o tipo de estudo, local, participantes, coleta e análise dos dados, bem como os aspectos éticos.