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Considerada a metodologia qualitativa como opção mais adequada para este estudo, segue-se a explanação de alguns pressupostos teóricos subjacentes à técnica da entrevista e da análise de conteúdo, assim como os procedimentos utilizados, quer na construção e aplicação da entrevista, quer na recolha e tratamento dos dados.

4.1- A entrevista

Na investigação qualitativa, a entrevista é uma técnica que tem como objetivo, segundo Carmo e Ferreira (1998:126) “abrir a área livre de dois interlocutores no que respeita à matéria da entrevista, reduzindo a área secreta do entrevistado e a área cega do entrevistador”. Também Gómez, Flores Jiménez (1996:167) referem que a entrevista “é uma técnica em que uma pessoa (entrevistador) solicita informação a outra ou a um grupo (entrevistados, informantes) para obter dados sobre um determinados problema”. Trata-se então de uma técnica que permite a interação entre o investigador e o sujeito ou sujeitos e que

37 visa obter informação sobre o tema em estudo. De acordo com Bogdan e Bilklen (1994:134) utiliza-se a entrevista “para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo”.

Quanto ao tipo de entrevistas que são utilizadas na metodologia qualitativa, Carmo e Ferreira (1998:129) afirmam que estas “podem adquirir vários formatos de modo a adequar- se convenientemente às contingências do ambiente e aos objetivos que o investigador pretende atingir”. Estes autores descrevem a tipologia de Grawitz (1993) para referir que as entrevistas variam entre um máximo e mínimo de liberdade que é concedida ao entrevistado e o grau de informação obtida. Também Bogdan e Bilklen (1994: 135) ao abordarem a técnica da entrevista, consideram que existe um contínuo na sua estruturação. Nas entrevistas mais estruturadas o entrevistador controla o conteúdo de uma forma demasiado rígida e nas entrevistas menos estruturadas ou abertas é o sujeito que desempenha o papel predominante na definição do conteúdo da entrevista e na condução do estudo. No contínuo de estruturação das mesmas encontram-se as entrevistas semiestruturadas que permitem, segundo os autores, “obter dados comparáveis entre os vários sujeitos”. A respeito deste tipo de entrevista, Estrela (1994:324) denomina-a de semidiretiva afirmando que se deve efetuar “uma prévia estruturação da entrevista em termos de objetivos gerais e específicos” e que devem existir alguns princípios orientadores na sua condução, nomeadamente “evitar, na medida do possível, dirigir a entrevista”, “não restringir a temática abordada” e “esclarecer os quadros de referência utilizados pelo entrevistado”.

No âmbito do presente trabalho procedeu-se, como eixo orientador, à construção de um guião de entrevista semidiretiva (anexo 1), com três temas ou blocos principais: o primeiro bloco visou a legitimação da entrevista e com o segundo e terceiro blocos, construção do CEI e desenvolvimento/implementação do CEI, pretendeu-se, respetivamente, a recolha de informação sobre aspetos centrais na construção de CEIs e sua implementação.

Os procedimentos para a concretização das entrevistas foram os seguintes:

- Pedido de autorização ao órgão da direção do agrupamento para efetuar as entrevistas;

- Agendamento prévio com cada docente, de acordo com a sua disponibilidade, e informação sobre a sua temática;

- Escolha, na escola, de um local tranquilo para a realização das entrevistas; - Garantia aos entrevistados do anonimato e confidencialidade das informações; - Pedido para gravação áudio das entrevistas;

38 - Realização das entrevistas permitindo aos entrevistados expressar abertamente as suas opiniões, ideias e representações sobre os temas e objetivos previamente estabelecidos.

Após as entrevistas foram solicitados aos docentes dados socioprofissionais para a sua caracterização.

As entrevistas foram realizadas individualmente e em dias distintos e a sua transcrição em formato de protocolo (anexo 2) foi efetuada logo após a sua realização.

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4.2- A análise de conteúdo

A análise de conteúdo constitui uma técnica utilizada para o tratamento de dados com aplicação a entrevistas. De acordo com Vala (1986:104), “pode integrar-se em qualquer dos tipos de procedimentos lógicos de investigação e servir igualmente os diferentes níveis de investigação empírica”. Entre as várias definições de análise de conteúdo existentes, Berelson (1950) e Krippendorff, (1990) citados por Serrano (1994:135) definem o termo, respetivamente, como“ uma técnica de investigação para a descrição objetiva, sistemática e qualitativa do conteúdo de informações com o fim de efetuar a sua interpretação” e “técnica de investigação destinada a formular, a partir de certos dados, inferências válidas que se podem aplicar a um contexto”. Comparando estas duas definições, é possível constar que a diferença fundamental entre elas reside na mudança de uma perspetiva ainda muito relacionada com o paradigma positivista e a abordagem quantitativa para uma perspetiva mais interpretativa e qualitativa.Para Vala (1986:104), a finalidade da análise de conteúdo é “efetuar inferências, com base numa lógica explicitada, sobre as mensagens cujas características foram inventariadas e sistematizadas”.

A análise de conteúdo pode ser realizada através de procedimentos abertos ou fechados (Bardin, 2008). Estes últimos requerem a preparação prévia do quadro de categorias, a partir da revisão da literatura ou de estudos empíricos já realizados. Nos procedimentos abertos, pelo contrário, as categorias vão sendo criadas a partir do próprio material em análise, tendo em conta os objetivos do estudo e o seu quadro de referências. Para o presente estudo, todas as entrevistas foram sujeitas a análise de conteúdo através de procedimentos essencialmente abertos. No entanto, os blocos do guião da entrevista deram origem aos temas do quadro de análise, configurando aquilo que poderia ser considerado como um processo misto. Segundo Ghiglione e Matalon (199:206) esta técnica “só terá sentido se for orientada por um objetivo que determine, condicione e direcione todo o percurso que o analista deverá fazer”.

39 Assim, após uma primeira leitura da informação, procedeu-se à sua codificação, que correspondeu a uma transformação dos dados, efetuada segundo regras precisas, por recorte, agregação e enumeração, visando atingir uma representação do conteúdo que permitisse esclarecer sobre as características do texto.

A primeira fase correspondeu ao recorte das unidades e criação de indicadores (exemplo em anexo 3). De acordo com Vala (1986:114) “uma unidade de registo é o segmento de conteúdo que se caracteriza colocando-o numa categoria”. Trata-se então de proposições com sentido que representam uma ideia. Segundo d´Unrug, citado por Estrela (1994:455) “por proposição entendemos uma afirmação, uma declaração, um juízo (ou uma interrogação ou negação), em suma, uma frase ou elemento da frase que, tal como a proposição lógica, estabeleça uma relação entre dois ou mais termos. É, em princípio uma unidade que se basta a ela própria”. As unidades de registo foram então agrupadas em indicadores, entendidos estes como frases simples e curtas que contêm a ideia base da unidade ou unidades de registo. Em simultâneo, procedeu-se à codificação dos entrevistados, enumerando, para cada entrevistado o número de unidades de registo obtido para cada indicador. Assim, considerámos a unidade de registo como unidade de enumeração (Bardin, 2008).

Na segunda fase da análise de conteúdo efetuou-se o agrupamento dos indicadores em subcategorias e categorias (anexo 4). A propósito desta fase, Amado (2000:55) afirma que o processo de categorização requer “leituras ativas e atentas: várias leituras sucessivas, verticais, documento a documento, cada vez mais minuciosas, a fim de possibilitar uma inventariação de temas relevantes do conjunto, ideologia, conceitos mais utilizados, etc.” e que, após a construção das categorias, estas “nos dão uma visão holística e uma unidade genérica das características do corpo documental, e nos permite descortinar consensos, oposições, contradições e clivagens no interior das condições de produção dos documentos em análise” (idem:58). Segundo Bardin (2008), para a criação de categorias são necessárias atender a algumas regras fundamentais: a exclusão mútua, cada elemento só poderá pertencer a uma categoria; a homogeneidade, as categorias são criadas a partir de um único princípio de categorização; a pertinência, face aos objetivos em estudo; a fidelidade, o mesmo material quando submetido a vários codificadores, deve ser codificado do mesmo modo e a produtividade, pois a categorização deve conduzir a resultados. No presente estudo, a criação de categorias e subcategorias baseou-se nos indicadores da primeira fase e nos temas que correspondem aos blocos temáticos do guião da entrevista. Assim, as subcategorias foram criadas a partir do sentido geral de um grupo de indicadores e as categorias a partir do

40 agrupamento de subcategorias que correspondem a um mesmo assunto. Ao longo desta fase, no decorrer da introdução de indicadores, algumas subcategorias e categorias foram reformuladas visando obter um quadro classificatório coerente face aos objetivos do estudo.

A terceira e última fase da análise de conteúdo, refere-se a preparação dos quadros finais para apresentação dos resultados que surgem na parte seguinte deste trabalho. Os referidos quadros referem-se aos dois temas em análise: a construção de CEIs e seu desenvolvimento/implementação. Trata-se então de atingir uma compreensão mais aprofundada do conteúdo das informações através da inferência e interpretação.

41 Parte III – Apresentação e interpretação dos resultados

Esta parte do trabalho trata da apresentação e interpretação dos resultados das entrevistas.

Inicia-se com um quadro síntese relacionado com os temas, categorias e quantificações globais.

Seguidamente surge um outro quadro com o primeiro tema das entrevistas: construção do CEI. São apresentadas as categorias, subcategorias e indicadores e as quantificações efetuadas aos docentes do regular e docentes do ensino especial. Na última coluna são apresentadas as quantificações totais.

Os dois quadros seguintes referem-se ao segundo tema das entrevistas: desenvolvimento/implementação dos CEIs. Optou-se pela divisão deste tema em dois quadros devido à sua extensão. São apresentados da mesma forma que o quadro relativo ao primeiro tema.

Todos os quadros decorrem da análise de conteúdo das entrevistas, através da qual foi possível reorganizar o discurso dos entrevistados.

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