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Processo habitacional ludovicense de 1612 a

FICHA 02: Ficha lexicográfico-toponímica preenchida

4.6 Processo habitacional ludovicense de 1612 a

O povoamento marítimo de São Luís começou nas primeiras décadas do século XVII (08/09/1612) como propósito expansionista dos franceses de fundar a França Equinocial no Meio-Norte brasileiro, dessa forma, o processo habitacional maranhense iniciou-se a partir da Baía de São Marcos, local composto pelas embocaduras dos Rios Bacanga e Anil e que era propício à instalação de fortes e fortalezas para a orientação marítima e também para a defesa militar da Capitania.

D’Evreux (2002, p. 73-74) descreve a construção do Forte que homenageava o Rei-Menino da França e Navarra, Luís XIII, como sendo uma edificação de defesa em que, primordialmente, trabalharam os índios e suas famílias, inclusive crianças.

40 Os fatores linguísticos que nos referimos são: a etimologia, o esvaziamento semântico, a ressemantização.

41 Os fatores extralinguísticos que nos referimos são os aspectos: culturais, sociais, geográficos, históricos, econômicos, políticos.

Acrescenta o Padre francês que, chegada a ocasião de trabalhar nas fortificações da praça, designada à defesa dos franceses,

fincada a madeira segundo o plano dado para servir de cercadura do Forte e de sustentar as terras, mandou-se então avisar por todas as aldeias da ilha e da província de Tapuitapera que viessem índios uns após outros conduzir a terra tirada dos fossos para o terraço das cortinas, e esporões e plataformas, depois cobertas por grandes e grossas aparituries, mangues, arvores duras como ferro e incorruptíveis, de forma que seria contra ela quase inútil o tiro de canhão, e mui difícil a escalada: assim se disse e assim se fez (...). Apenas chegavam estes selvagens, entregavam-se ao trabalho com incompatível dedicação [acompanhados] das mulheres e filhinhos (...), perguntei a alguns velhos porque consentiam que trabalhassem os meninos (...) Respondeu-me assim o interprete: temos muito prazer vendo nossos filhos conosco trabalhando neste forte, para que um dia aos seus filhos e estes aos seus descendentes: eis a fortaleza, que nós e nossos pais fizemos para os franceses, que trouxeram padres, que levantaram casas a Deus, e que vieram defender-nos de nossos inimigos.

A partir de descrição feita por D’Evreux, deduzimos que os locais estratégicos não eram somente as Ponta d’Areia, de São Marcos e do São Francisco, mas a porção de terra entre o Bacanga e o Anil onde foi fundado o Fort Saint Louis, sede da Colônia. Começava aí a implantação da Capital do Maranhão, que ainda hoje está situada no mesmo local eleito por seus fundadores franceses, Daniel de La Touche e Fraçois de Rasilly – atual Palácio dos Leões, na Avenida Pedro II, Beira-Mar, Centro de São Luís. A partir daí, o povoamento seguiu pelo Largo do Carmo, Praia Grande, Desterro e Praia do Caju (Praia Grande). Para Tribuzi (2012, p. 272), a escolha do local da construção do

Fort Saint Louis

obedeceu tanto a razões econômicas pelo aproveitamento do ancoradouro fácil em região povoada por tribos indígenas de acesso tranquilo, com disponibilidade de produtos para escambo, quanto a razões de estratégias militar.

Upaon Açu (do Tupinambá Ilha Grande) foi conquistada e incorporada ao domínio português em 1615, três anos depois de fundada pelos franceses. Ao tomarem posse da Ilha, os portugueses deram ao forte o nome de São Felipe e mantiveram a denominação que a ilha já tinha. Mais tarde, porém, esse local seria alvo também de

holandeses que foram expulsos pelos portugueses em 1644, segundo consta na literatura do IBGE (1959, p. 341). Dessa forma, começa definitivamente nossa colonização portuguesa. E, segundo o IBGE (s/d, apud sebrae-legal), é dessa época o conjunto urbanístico composto de sobrados revestidos de azulejos portugueses que compõem nosso Centro Histórico.

Depois de tomar posse definitivamente destas terras, os desbravadores portugueses, além de manter as melhorias já efetivadas pelos franceses, tiveram que tomar medidas administrativas para a organização de sua estadia e exploração da terra recém-possuída, dentre as providências tomadas entre 1650 e 1750, elencamos: (i) a vinda de missionários para evangelizar, batizar, banir as falsas crenças e exorcizar os

demônios dos cativos, o que culminaria, posteriormente na implantação de freguesias e

vilas; (ii) a implantação e construção de igrejas (ermidas) que serviam não só à aculturação indígena, mas também para manter os cultos e tradições religiosas dos colonizadores e instituir a religião Católica Apostólica e Romana na Colônia; (iii) a dominação/escravização e contato com os índios através de missões de reconhecimento das aldeias do território que eram marcadas com o fincamento de uma cruz; (iv) a divisão da terra em grandes propriedades fundiárias (sesmarias), para alojar e fincar moradia dos colonos: soldados, religiosos, burocratas, mestres de ofício, gentis-homens, mercadores; (v) a edificação e manutenção de fortes/fortalezas com equipamentos e armamentos para a defesa terrestre/militar da Ilha e (vi) a introdução da mão-de-obra escrava dos africanos, principalmente para o trabalho da lavoura do algodão e cana-de- açúcar.

A partir de medidas como essas foi que a feitoria de São Luís, a partir do Centro, foi sendo povoada, foi tecendo-se como referência aos topônimos que seriam criados ao longo de 401 anos e passou a desempenhar importante papel na economia nacional. Para o IBGE (s/d apud sebrae-legal), o fato de a Capital do Maranhão ter sido formada sobre o estuário dos rios Anil e Bacanga fez com que ela fosse caracterizada como porto fluvial e marítimo que desempenhou importante papel na produção econômica do Brasil – Colônia dos séculos XVII ao XIX. São Luís foi considerada, nos referidos séculos, como o quarto centro exportador de algodão e arroz, depois de Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

Contudo, esse tênue surto de atividade econômica organizada chegou a permitir a acumulação de renda por um pequeno número de famílias

escravagistas que alternavam a moradia da Casa Grande dos latifúndios, a cidade de São Luís e a coleta de rendas pela administração provincial capaz de manter uma burocracia numerosa (...). Esse crescimento da burocracia civil e militar, da classe senhoria escravista e mercantil, e a diversificação dos serviços não foram suficientes para transformar o núcleo populacional de São Luís numa cidade significativa até os começos do século XVIII (TRIBUZI 2012, p. 272).

Em dois séculos de existência, todo o núcleo inicial de São Luís (Cento), que era toda a cidade, já estava povoado. Tribuzi (2012, p. 273-374) ressalta que, nas primeiras décadas do século XIX, a população ludovicense, em 1820, era estimada em orno de 30 mil habitantes, isto é, a quarta população urbana do País na época da Independência do Brasil.

É também no século XIX que o Maranhão foi fértil em acontecimentos decisivos para o desenvolvimento de sua economia, como é o caso: do ciclo algodoeiro, ainda em voga, que no final do século, possibilitou a instalação de fábricas têxteis; da abolição da escravatura e a introdução da mão-de-obra livre, mudanças que se refletiram na cidade de São Luís e em todo o Estado do Maranhão.

Em São Luís, especificamente, podemos destacar, de 1841 a 1906 os seguintes benefícios que contribuíram significativamente para o desenvolvimento econômico e demográfico da Capital: (i) construção do Cais da Sagração (Camboa) e da Casa dos Educandos Artífices (Diamante); (ii) inauguração das obras do Canal do Arapapaí (área Itaqui-Bacanga); (iii) reforma do Hospital Militar (Madre Deus); (iv) criação da Companhia de Abastecimento de Água do Anil (Anil), da Companhia de Navegação costeira do porto de São Luís (área Itaqui-Bacanga); (v) fundação da Escola Agrícola do Cutim (Cutim); (vi) inauguração do Passeio dos Remédios (atual Praça Gonçalves Dias/Camboa); (vii) primeiras ferrovias de bondes42 puxados a cavalo, que seriam substituídos posteriormente pelos a vapor, que não circulariam somente pelo Centro, mas por toda a extensão do Caminho Grande (Centro); (viii) construção do prédio do atual Ministério da Fazenda (Fabril) e (ix) aprovação da instalação da estrada de Ferro

42 A Ulen Management Company forneceu tanto serviço de bondes quanto de energia elétrica para São Luís, por isso tivemos, ao mesmo tempo, tanto a chegada da iluminação elétrica pública quanto o transporte dos bondes elétricos.

São Luís-Teresina – E.F.S.T., que seria inaugurada nos idos de 1920 assim como a implantação de rodovias estaduais e federais para o escoamento de produtos agrícolas.

Todos esses benefícios observados no século XIX em São Luís vão se estender também ao século XX, que, segundo Tribuzi (2012, p. 274), das décadas de 20 a 60, teve, além de administradores municipais mais eficientes, um lento crescimento da área urbana, que permitiu a aos Prefeitos Municipais aplicarem recursos mais significativos em urbanização, saúde, educação, transporte, energia e saneamento. A partir da década de 50, o crescimento demográfico de São Luís eleva-se consideravelmente. Segundo dados do recenseamento de 1950, a população de São Luís era de 119.785 habitantes. Dentre dessa composição, tínhamos 569 estrangeiros e 69 naturalizados brasileiros. Seis anos depois, segundo o IBGE (s/d apud sebrae-legal), a população de São Luís era de 144.304 habitantes.

São Luís, além de expandir sua área urbana central, muda de característica socioeconômica, isto é, de feição mercantil, passa a ser fabril, agregando dessa forma uma nova classe social, a proletariada, que por sua vez fez surgir os bairros urbanos (cortiços), os suburbanos, os proletariados, as vilas e as Vilas Operárias. No que se refere aos núcleos residenciais (conjuntos habitacionais) destinados ao trabalhador e construídos com verbas públicas federais, o primeiro de que temos notícia é o Núcleo Residencial Timon-Areial (Monte Castelo), inaugurado em 01/05/1948, seguido, em 1950, pelo Conjunto do Filipinho ou Cidade Residencial do Filipinho, financiado, segundo dados de Burnett (2012, p. 97), pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários – IAPC.

Com a consolidação dos bairros do corredor Centro-Anil, outro importante fator de crescimento ocupacional da Capital foi a construção de duas pontes na década de 1970: a Barragem do (Rio) Bacanga, que liga o Centro ao Porto do Itaqui, e a Ponte José Sarney, acesso sobre o Rio Anil aos bairros do São Francisco e à orla marítima adjacente ao Centro, como as Praias da Ponta d’Areia, São Marcos, Calhau e Olho d’água43.

A Barragem sobre o Rio Bacanga ou área/eixo Itaqui-Bacanga, como é conhecida, situa-se a oeste do Centro. Sua instalação foi um avanço significativo não só

na ocupação do solo, pelo desenvolvimento e surgimento de mais de 34 bairros para além do Bacanga, mas também por abrigar a Estrada de Ferro São Luís-Carajás (PA), órgãos e estabelecimentos ou vias de transportes importantes na manutenção da educação, cultura e economia maranhense, como é o caso: (i) do Campus da Universidade Federal do Maranhão; (ii) da Vale S.A (Companhia Vale do Rio Doce) e de sua estação de passageiros de trem, que liga o Porto de Itaqui ao município de Parauapebas (PA); (iii) do Consórcio de Alumínio do Maranhão – ALUMAR; (iv) da Empresa Maranhense de Administração Portuária – EMARP e do Complexo Portuário de São Luís; (v) da Avenida dos Portugueses e da BR 135 que dão acessa o Estreito dos Mosquitos, ao Porto do Itaqui e (vi) do Viva Anjo da Guarda, local onde acontece o imponente expetáculo tradicional da Senama Santa: a Via Sacra, evento realizado há mais de 30 anos no bairro do Anjo da Guarda e que atrai espectadores de todas as partes de São Luís e do Estado.

A Ponte Governador José Sarney, a conhecida Ponte do São Francisco, que dá acesso à área para do Rio Anil, viabilizou o desenvolvimento do chamado crescimento vertical (habitação em prédios residenciais). Nesse caso, ressaltamos a incidência massiça tanto de prédios habitacionais quanto comerciais que possibilitaram com que a área do São Francisco e adjacências atraisse investimentos imobiliários e funcionasse como ponto privilegiado de uma pequena para morar e investir comercialmente.

Percebemos agora que é inevitável a ocupação habitacional, planejada ou espontânea, de São Luís em todos os seus lados. A ilha cresce economicamente, o que atrai investidores, mas principalmente migrantes tanto de dentro quanto de fora do Estado. O crescimento demográfico desordenado ocasiona dois tipos de ocupação do solo para construção de moradias: a planejada, com a construção de conjuntos habitacionais por órgão estatais da União, construtoras ou cooperativas, e as espontâneas ou chamadas apropriação irregular da terra (invasões). A maior parte das ocupações espontâneas não aconteceu em terrenos aforados, mas em propriedades privadas ociosas, construídas ou não, que atraíram a atenção tanto de quem não tinha moradia quanto de quem se aproveitava/aproveita da situação por interesses políticos e econômicos, como é o caso de cabos eleitorais e posseiros.

Com a expansão urbana de São Luís a partir do Caminho Grande, do eixo Itaqui-Bacanga e a ponte sobre o Rio Anil, além do IAPC, vão surgir outros órgãos que

estimularão a fixação de moradias, não só para funcionários públicos (federais, estaduais e municipais), mas também para os da iniciativa privada ou à população em geral. Dentre os órgãos que vêm construindo/construíram conjuntos habitacionais em São Luís do século XX ao atual, destacamos: (i) o Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado – IPASE44; (ii) o Instituto de Previdência do Estado do

Maranhão – IPEM45; (iii) a Companhia de Habitação Popular – COHAB; (iv) a

Cooperativa Habitacional dos Trabalhadores Comerciários – COHATRAC46; (v) a

Fundação da casa Popular e tantos outros cujo agente financiador poderia ser os extintos BNH, Banco Estadual do Maranhão, ou a Caixa Econômica Federal que atua como agente financiador e promotor dos Programas de habitação popular Habitar Brasil e MCMV.

Depois dessa explanação sobre o processo habitacional ludovicense, questionamos: como os 401 anos de São Luís podem ser conhecidos através dos 81 nomes de bairros, testemunhas do desenvolvimento social, econômico, histórico e cultural? Como o topônimo não é apenas um nome de lugar, mas um invólucro da identidade social da Gente que se instala numa localidade, a Análise Toponímica dos 81 bairros de São Luís/MA tem como um dos objetivos responder a esse e outro questionamento elencado neste estudo: Quais são as causas denominativas, na origem e evolução histórica, dos 81 topônimos que nomeiam atualmente os bairros de São Luís? Quais são os fatores linguísticos que motivaram a formação dos nomes dos bairros ludovicenses? Quais são os fatores linguísticos e extralinguísticos que motivaram a formação de nomes dos bairros ludovicenses? Quais foram os fatores que motivaram a incorporação dos termos genéricos na maioria dos nomes dos bairros de São Luís? Qual é a categoria toponímica que evidencia a tendência denominativa que têm os nomes dos bairros ludovicenses atualmente, as taxes físicas ou as antropoculturais?

É interessante ressaltarmos que, inicialmente, os topônimos faziam referência a um local específico, às suas particularidades (sítio, quinta, ermida, rio, ponta litorânea, forte, fortaleza). Com o passar dos anos, foram agregando às características locais, outros elementos que passaram a identificar, por exemplo, o grupo social que habitava a

44 Memorizado no nome do bairro Ipase.

45 Memorizado nos nomes dos bairros Ipem Turu e Ipem São Cristóvão.

46 Memorizada nos nomes dos bairros: Cohatrac I, Cohatrac II, Cohatrac III, Cohatrac IV e Primavera Cohatrac.

localidade, o nome de empresas ou estabelecimentos instalados na localidade, atividades decorrentes da malha viária da localidade, entre outros (vilas operárias, educandários, cemitérios, hospitais, igrejas, matadouros, estação de telecomunicação, conjuntos habitacionais). Logo, essas particularidades influenciaram mormente no surgimento tanto de bairros planejados quanto de ocupações espontâneas.

4.7 Síntese Conclusiva

Neste capítulo que trata, especificamente, dos procedimentos metodológicos, descrevemos as técnicas e etapas para a coleta do corpus e identificação das fontes (busca de informações em fontes como jornais populares, Diário Oficial, documentos oficiais, pesquisa acadêmica, inquéritos, visitas a associações de moradores), delimitamos o corpus (81 nomes de bairros de São Luís), definimos os elementos que compõem tanto o Questionário toponímico quanto a ficha lexicográfico-toponímica e apresentamos as taxes de natureza física e antropocultural com suas exemplificações. A partir dessas informações, tecemos os três capítulos de análise.

Nesta parte da tese, fizemos também um breve histórico do processo habitacional ludovicense de 1612 a 2013, considerando informações sobre edificação e manutenção de fortes, fortalezas, sobre a divisão da terra em grandes propriedades fundiárias (sesmarias), sobre o ciclo de prosperidade algodoeira e sobre a instalação de fábricas têxteis na tentativa de desenhar o cenário que possibilitou a consolidação dos bairros de São Luís. Basicamente, os critérios que pautaram a escolha dos 81 topônimos se referem a todos esses fatores de expansão do território da Grande Ilha, principalmente aqueles que influenciaram a criação dos 11 bairros do Centro Histórico e como esses bairros influenciaram no surgimento dos demais adjacentes, localizados nas áreas do Centro-Rio Bacanga, Centro-Rio Anil e, mormente, no Caminho Grande. É nesse cenário que traçamos o perfil toponomástico ludovicense. No próximo capítulo, apresentamos os perfis em quatro sessões: Perfil Toponomástico de São Luís no período de 1612-1712, Perfil Toponomástico de São Luís no período de 1713-1812, Perfil Toponomástico de São Luís no período de 1813-1912 e Perfil Toponomástico de São Luís no período de 1913-2013. A análise em quatro períodos sincrônicos é relevante porque nos permite saber qual a tendência denominativa em cada século e como essas tendências se mantiveram ou não na nomeação dos bairros.

5. SÃO LUÍS QUATROCENTENÁRIA PELA ANÁLISE TOPONÍMICA DE