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A ausência de uma regulamentação jurídica, que só pode ser efetivada após a desapropriação das terras dentro do Parque e da elaboração de um plano de manejo, é um dos fatores responsáveis pela fragilidade do PNCD e pela incapacidade dos seus gestores em preservar suas áreas naturais. Embora a criação do Parque Nacional tenha sido decretada desde 1985 só em 1998 com o levantamento fundiário foi dado inicio ao processo de efetivação da área.

A efetivação consiste em transformar o decreto em prática, ou seja, segundo o Art. 3o e 5o do decreto de criação do Parque, o extinto IBDF102 – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – ligado ao Ministério da Agricultura, teria 4 anos a partir da data de criação do mesmo para tomar as medidas necessárias à efetiva implantação da reserva, que inclui entre outras coisas a execução de um Plano de Manejo.

O Plano de Manejo tem como objetivo, segundo o Decreto de Regulamentação dos Parques Nacionais “compatibilizar a preservação dos ecossistemas protegidos com a utilização dos benefícios deles advindos” (decreto 84.017, 1979). O que compreenderia então, segundo o mesmo documento, “técnicas de planejamento ecológico que determine o zoneamento de um Parque Nacional caracterizando cada uma das suas zonas e propondo seu desenvolvimento físico, de acordo com sua finalidades”.

O Plano de Manejo, de acordo com a definição disponível no site do IBAMA103, trabalha com 7 tipos de zoneamentos: Zona Intangível, Zona Primitiva, Zona de Uso Extensivo, Uso Intensivo, Zona Histórico-Cultural, Zona de Recuperação e Zona de Uso Especial. O Plano de Manejo é elaborado de acordo com as necessidades e a realidade de cada território e da população que o habita, seguindo as orientações da legislação de Parques Nacionais. Partindo desse princípio é possível que o Parque Nacional, uma vez

102 No Decreto de criação dos Parques Nacionais o IBDF aparece como órgão responsável pela efetivação, no entanto, tudo indica que o IBDF teria sido absorvido pelo IBAMA que é hoje o principal responsável pela efetivação dos Parques Nacionais.

regulamentado, possa acomodar algumas práticas de uso dos recursos naturais que já foram incorporadas ao sistema local. Sendo que:

“A coexistência de comportamentos distintos em face da violação das normas jurídicas no interior de uma mesma configuração social é reveladora da fragilidade da crença no direito como princípio de explicação para os comportamentos e sugere que tais princípios devam ser buscados para além do direito, de suas normas e instituições” (Sigaud, 1996).

O Decreto de Criação de uma unidade de conservação não se expira. A unidade, uma vez criada, poderá ser alterada ou suprida, somente através de uma outra lei (Constituição Federal 225, § 1º - III). O que expira nesse caso é o prazo para elaboração do Plano de Manejo, que é de quatro anos a partir da data de sua criação. Mas somente em 1998 é que foram tomadas medidas efetivas para a regulamentação do PNCD. A primeira medida tomada pelo IBAMA foi o levantamento fundiário do Parque, até então não se tinha conhecimento sobre a ocupação humana em sua área.

O levantamento fundiário foi realizado no período de Janeiro a Agosto de 1998, pela FAEPE - Fundação de Apoio ao Ensino e Pesquisa, empresa contratada pelo IBAMA. O levantamento dominial das ocupações no Parque Nacional foi realizado por uma pesquisadora, contratada pela FAEPE. O trabalho foi executado de acordo com as especificações técnicas indicadas pelo IBAMA (convite 060/97 - Processo nº 02001- 004002/96-8), no entanto, algumas inovações foram acrescentadas e uma nova metodologia foi criada.

Foi feita a apuração da cadeia sucessória da documentação pertinente a cada imóvel, conforme requerida nas especificações técnicas exigidas pelo IBAMA. O estudo sobre a legalidade dos documentos foi feito com base no levantamento dominial realizado nos Cartórios de Registro de Imóveis em cinco comarcas: Palmeiras, Lençóis, Andaraí, Mucugê e Barra da Estiva. Foi realizado também um levantamento das

103 www.ibama.br

benfeitorias em cada imóvel ocupado para posterior avaliação do valor para indenização. Sobre isso a autora relata:

“Muito embora esta tenha sido uma medida orientada pelo questionário (Levantamento e Avaliação de Benfeitorias- LVA) emitido pela coordenação do IBAMA, não vejo como algo essencialmente necessário nesta fase de implementação do Parque. Num trabalho como este é necessário um entendimento maior sobre a natureza dos vários processos sociais, antes que decisões sejam tomadas apenas em nível administrativo” (Relatório Levantamento Fundiário: IBAMA).

Do levantamento dominial realizado nos Cartórios de Registro de Imóveis e Hipotecas foram identificados apenas 6 imóveis considerados de domínio particular. Segundo pesquisa realizada não foi encontrado nenhum registro de propriedade adquirida por Carta de Sesmaria, Registro Torrens ou Registro Paroquial. Se for comprovado que a grande maioria dos imóveis que compõem o Parque Nacional da Chapada Diamantina não entraram legitimamente no domínio particular, as terras poderão ser caracterizadas como terras devolutas ilegalmente ocupadas. Neste caso, poderão ser incorporadas ao patrimônio do Estado, após ação discriminatória que julgar as terras como devolutas.

A localização geográfica dos imóveis rurais existentes na área do parque foi feita com base em levantamento planimétrico, com a ajuda de GPS (Sistema de Posicionamento Geográfico). A partir das bases referenciais, foi possível estabelecer o zoneamento das áreas de ocupação em 14 zonas. Sendo que 6 dessas zonas são áreas de povoamento, onde há maior concentração de famílias, veja a seguir:104

Marco Geodésico Zona de Ocupação Zona de Povoamento MUCUGÊ Mucugê Colonia-Itaitê Baixão Mucugê/Guiné * Capão do Correio Baixão Mucugê/Guiné Capão do Correio ANDARAÍ Andaraí Estrada Velha do Garimpo Marimbus Vale do Pati Andaraí-Igatu

Estrada Velha do Garimpo Marimbus Vale do Pati PALMEIRAS Pai Inácio ** Capão Lençóis Morrão

* Mucugê-Guiné refere-se à estrada que liga a cidade de Mucugê ao Distrito de Guiné no Oeste do Parque.

** Pai Inácio aqui não se refere ao Morro do Pai Inácio que pertence à APA ( Área de Proteção Ambiental) Marimbus-Iraquara e sim às áreas no seu entorno, que estão dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina.

O levantamento fundiário ocorrido em 1998 não reconhece o direito de indenização àqueles que possuem outros imóveis urbanos e/ou rurais, esse é o caso da grande maioria dos patizeiros que sempre tiveram a cultura da circulação presentes em sua dinâmica territorial, uma herança do garimpo mas também de outros fatores geográficos e climáticos105. Também não reconhece áreas que não constarem sinais de trabalho e não houver moradia (Decreto 87.620 - 21.09.82 e Lei 6.969 - 10.12.81). Os direitos legítimos dos possuidores de terras devolutas estão condicionadas ao requisitos indispensáveis da cultura efetiva (produção) e da morada habitual (art. 102 Lei 4504, de 30.11.1964 - Estatuto da Terra). Segundo o relatório fundiário, alguns imóveis rurais no PNCD não cumprem os requisitos acima, da cultura efetiva e da morada habitual, pelo contrário, são terras improdutivas e outras abandonadas.

105 No caso do Pati, as chuvas intensas entre dezembro e abril afastavam os moradores do vale; eles normalmente iam à procura de trabalho para as cidades vizinhas, até porque com as chuvas era impossível trabalhar na roça e circular dentro do vale que ficava intransitável por conta dos rios.

Algumas terras são áreas extensas e improdutivas, outras tiveram seus recursos naturais intensivamente explorados através do garimpo de diamantes, deixando para trás ecossistemas destruídos, paisagens alteradas, terras revoltas por ação das dragas e rios assoreados. Nestes casos, o relatório deixa claro que o Poder Público “poderá promover a gradativa extinção das formas de ocupação e de exploração da terra que contrariem a sua função social (art. 13 Lei 4,504/64)”.

Para a desapropriação das terras do Parque Nacional da Chapada Diamantina, o relatório fundiário orienta que sejam observadas as seguintes situações:

As terras de domínio privado - seja pela garantia constitucional do direito de propriedade (art. 5º, XXII da Constituição Federal) ou pela presunção de domínio exercida pelo seu detentor (art. 527 do Código Civil Brasileiro, que é o caso da posse). Seu proprietário terá direito à indenização pelo valor da terra e benfeitorias realizados no imóvel rural.

O direito de posse - A desapropriação da área é a regra, mas a posse legítima ou de boa fé também é expropriável por ter valor econômico para o possuidor, principalmente quando se trata de imóvel utilizado ou cultivado pelo posseiro. Certamente a posse vale menos que a propriedade, mas nem por isso deixa de ser indenizável.

Reassentamento - O Poder Público deve também se dispor a cooperar com os possuidores de baixa renda, oferecendo alternativas. Na área do Parque há ocupantes de condições econômicas diversas. Àquelas famílias das zonas de povoamento, como Estrada Velha do Garimpo e Marimbus, devem ser oferecidas condições em outras áreas para assentamento.

De acordo com o relatório fundiário o reassentamento dos atuais moradores de baixa renda em outras áreas fora do Parque Nacional pode ocorrer através da criação de um "Projeto de Assentamento". Dessa forma, os moradores só poderão ser retirados de suas posses, após o cumprimento de duas condições: a) a criação de um "Projeto de

Assentamento", com infra-estrutura para receber os moradores em área com boas condições ambientais; b) a indenização pelas benfeitorias. Mesmo com a realização do reassentamento, os moradores terão direito a indenização de suas posses, pois são duas coisas distintas: uma é o direito a indenização pelas benfeitorias existentes nos imóveis rurais, a outra é o direito a reassentamento. A “primeira deriva do direito constitucional a uma indenização justa e prévia, a segunda é a garantia constitucional à propriedade e ao acesso à terra” (Relatório Fundiário).

Perda da posse - os moradores que saíram de suas terras perderam o direito de posse e conseqüentemente o direito de indenização, pois abandonaram espontaneamente a terra, deixando de trabalhar nela. Segundo a legislação e os princípios agrários, o morador perde a posse quando cessar a possibilidade de exercê-la, ou seja, quando abandona a terra. Na Lei de Política Agrícola está prevista a desapropriação, sem indenização, quando o imóvel não estiver cumprindo a sua função social.

Terras adjudicadas pelo Banco do Brasil - Algumas terras no Vale do Pati, foram

adjudicadas106 pelo Banco do Brasil, na época da política de erradicação do café. Muitos

produtores de café perderam suas terras para o Banco porque não conseguiram pagar a dívida contraída nem produzir uma nova lavoura para substituir o café. Conforme já é do conhecimento do IBAMA não se sabe quais as divisas destas áreas dentro do Vale, pois esta adjudicação ocorreu há muito tempo e a vegetação existente nas áreas já se tornou “mata” não deixando vestígios de divisas. Pelo que se sabe essas terras agora, estão sendo negociadas para serem repassadas ao IBAMA.

Terras devolutas ocupadas - Excetuando as terras de particulares que possuem documentos comprovando o seu domínio, o restante das áreas ocupadas no Parque são terras devolutas possuídas, porque não foram adquiridas regularmente pelo “Poder Público”. O direito à indenização cabe apenas ao que se refere às benfeitorias realizadas

106 Segundo o Dicionrio Aurélio da Lingua Portuguesa, “adjudicar” é conceder a posse de algo por decisão ou sentença judicial ou administrativa.

na área ocupada. O direito de posse cabe apenas àquelas consideradas legítimas, onde ocorra cultura efetiva e morada habitual. De qualquer modo, o IBAMA deve requerer ao INCRA, juntamente com o Instituto de Terras da Bahia - INTERBA, que se proceda a ação discriminatória judicial ou administrativa na área do Parque Nacional, para que as terras devolutas, uma vez discriminadas, sejam efetivamente integradas ao patrimônio do Estado e depois da União.

Outras Situações - Na zona de povoamento do Vale do Pati a solução do problema fundiário deve ocorrer de forma especial. Algumas famílias desejam sair da área do Parque, porque acham que não saberiam conviver com as novas regras de protecionistas. Outras famílias no entanto, querem permanecer morando no Vale do Pati e participar do manejo de conservação do Parque. Com essas famílias que desejam ficar seria conveniente negociar, conjuntamente com o IBAMA, a forma de compartilhar direitos de uso da terra (como por exemplo concessão de uso) e responsabilidades de manejo, de forma a conciliar os interesses e aptidões de ambas as partes.

A maior parte das terras do PNCD está, ironicamente, nas mãos de alguns poucos fazendeiros. O IBAMA calcula que tenha aproximadamente 5 grandes proprietários de terras na área do PNCD e todos elas são latifúndios utilizados para os mais diversos fins. Havendo em sua área grandes fazendas que não cumprem a “função social da propriedade”107, ou seja, que não são usadas para fins agrícolas, a maior parte são usadas por garimpeiros de diamantes que pagam o “quinto”108 para os proprietários das terras pelo direito de extração de diamantes. Os proprietários dessas fazendas também cobram taxas para a extração de flores secas, pedras e para o uso do pasto nativo. A maior parte

107 A Lei Agrícola e Estatuto da Terra que orientam o levantamento fundiário, etapa fundamental na regulamentação dos PARNA’s, estabelece que a produção agrícola é a atividade que fundamenta a “função social” de uma propriedade (Anexo da Análise Sumária do Levantamento Fundiário do Parque Nacional da Chapada Diamantina, pág. 6 do anexo).

108 O “quinto” é um sistema de pagamento relativamente corrente no sertão, é o mesmo encontrado entre os vaqueiros: de cada 5 bezerros nascidos, o trabalhador recebe 1. No caso do diamante, o proprietário das terras recebe 1 parte do valor de cada diamante vendido

desses proprietários são pessoas de famílias tradicionais da região, todas com uma história secular de envolvimento com o garimpo e o comércio de pedras preciosas.

Uma outra parcela considerável de terras está situada no Vale do Pati, que já falamos anteriormente, entre os municípios de Andaraí e Mucugê e que é hoje uma zona natural de fundamental importância para a preservação do ecossistema do PNCD. No Pati há um núcleo populacional forte, não apenas pela quantidade de agricultores mas principalmente pelo envolvimento dos moradores do Vale com o turismo “rural”. Contudo, uma boa parte do Pati são terras inabitadas que outrora (década de 70) abrigava grandes plantações de café, com o fim da economia cafeeira na região as terras que estavam alienadas devido aos empréstimos bancários para o plantio do café foram agregadas ao Banco do Brasil. Naturalmente essas terras não precisaram ser avaliadas pelo levantamento fundiário realizado em 1998 pois elas já são um patrimônio público.

Uma outra parte do Pati é a região conhecida como Gerais, uma ampla área inabitada e de vegetação rasteira que mistura espécies do cerrado, caatinga e semi árido. Essa área foi considerada terra “devoluta” pelo levantamento de 1998. De qualquer modo, é preciso distinguir terras “devolutas” de terras “públicas”, de acordo com a Constituição Federal as terras devolutas são consideradas terras adéspotas, ou seja, sem dono e podem ser transmitidas para o patrimônio federal, mas antes essas terras precisam ser arrecadadas e integradas ao governo do Estado onde elas estão situadas. Diante disso, o levantamento fundiário de 1998 leva à conclusão de que o maior problema do PNCD hoje é separar as terras públicas das terras devolutas e particulares, o que exigiria um novo levantamento fundiário que estava previsto pelo IBAMA para acontecer até o final do ano de 2004.

Quanto às terras particulares que já foram definidas e analisadas, 11 propriedades já estão com a documentação encaminhada faltando apenas a análise por parte do IBAMA Salvador, segundo Barrios (Informativo IBAMA, dezembro de 2003) boa parte do dinheiro para o pagamento dessas indenizações já está disponível. Até o momento

dessa pesquisa (março de 2004) nenhum proprietário havia recebido indenização pelas suas terras. É importante observar que é muito comum que diferentes propriedades dentro do Parque tenha o mesmo dono, ou seja, é possível que apenas 3 ou 4 proprietários sejam donos das 11 propriedades citadas por Barrios. Um exemplo disso são as terras deixadas por Manoel Alcântara à sua família, quase todos os garimpos de Lençóis estão dentro dessas terras, segundo os herdeiros, são mais de 4 propriedades só dentro do PNCD.

Após o levantamento fundiário, o IBAMA priorizou as desapropriações das grandes fazendas da região, essa estratégia justifica-se por dois motivos: primeiro, para obter a curto prazo grandes áreas sob o seu domínio, podendo dar início à elaboração do plano de manejo nessas áreas, uma situação que é emergencial, segundo metas do próprio Parque. Segundo, porque os proprietários das grandes fazendas não apresentam nenhuma resistência à desapropriação. As fazendas são, em sua maioria, improdutivas e arrendadas para usos complementares tais como garimpo, pasto nativo, coleta de flores, entre outras coisas.

Para os proprietários essas fazendas representam um pequeno complemento de renda e muitas vezes geram mais prejuizos do que renda. As fazendas usadas pelos garimpeiros possuem “ranchos” que compreendem pequenos casebres improvisados, um pequeno açude anexado à casa, e o cultivo de algumas hortaliças. Os proprietários dessas terras arrendadas não costumam visitar os garimpos e nem se envolver com as atividades desenvolvidas em suas terras.

No caso do garimpo, existe uma porcentagem (o quinto) pela extração dos diamantes, garantida ao proprietário da terra, antigamente esse acordo era fiscalizado pela presença de um gerente, personagem comum nos primeiros anos de garimpo na região, normalmente o gerente é alguém de total confiança do proprietário das terras garimpadas e acompanha o garimpeiro fazendo a sua segurança e principalmente

controlando os veios109 quando estes começam a dar diamante, normalmente quando

chega no cascalho a atenção já deve ficar redobrada pois pode haver diamante a partir dessa etapa do solo.

Uma vez comprovado que a grande maioria dos imóveis que compõem o Parque Nacional da Chapada Diamantina não entraram legitimamente no domínio particular, as terras poderão ser caracterizadas como terras devolutas ilegalmente ocupadas. Neste caso, poderão ser incorporadas ao patrimônio do Estado, após ação discriminatória que julgar as terras como devolutas. Algumas ocupações também, não poderão ser legitimadas porque os ocupantes possuem outros imóveis rurais ou urbanos, as áreas ocupadas excedem 25 hectares, não são produtivas por força de nenhum trabalho e nela não tem moradia (Decreto 87.620 - 21.09.82 e Lei 6.969 - 10.12.81).

Os direitos legítimos dos possuidores de terras devolutas estão condicionadas ao implemento dos requisitos absolutamente indispensáveis da cultura efetiva e da morada habitual (art. 102 Lei 4504, de 30.11.1964 - Estatuto da Terra). De acordo com o levantamento realizado, alguns imóveis rurais no PARNA - Chapada Diamantina - não cumprem os requisitos indispensáveis da cultura efetiva e da morada habitual; muito pelo contrário, são terras improdutivas e outras abandonadas.

Algumas glebas de terras são áreas extensas e improdutivas, outras tiveram seus recursos naturais intensivamente explorados, como diamantes e carbonatos, deixando para trás ecossistemas destruídos, paisagens alteradas, terras revoltas por ação das dragas e rios assoreados. Nestes casos, o Poder Público poderá promover a gradativa extinção das formas de ocupação e de exploração da terra que contrariem a sua função social (art. 13 Lei 4,504/64).

Enquanto a desapropriação é um processo aparentemente pouco conflituoso para os fazendeiros o mesmo não podemos afirmar com relação aos moradores que são pequenos proprietários de terras dentro do Parque. Calcula-se que exista

aproximadamente 6 núcleos populacionais dentro do PNCD e que esses núcleos são compostos por pessoas que têm a propriedade legal (titulada) sobre suas terras. Os núcleos populacionais ou “comunidades agrícolas”, como os analistas do IBAMA costumam chamar, são: Fazenda Velha, Estrada Velha do Garimpo, Baixão, Capão Correia, Estrada do Guiné e Vale do Pati.

Há muitas controvérsias a respeito dessas comunidades e os seus limites dentro do Parque. Por exemplo, o Baixão (município de Ibicoara) foi incluído por conta daquele sobrevôo final dos técnicos que dobrou o tamanho do Parque Nacional e criou uma delimitação irregular em muitos pontos, cortando o povoado ao meio.

“Uma parte da comunidade é Parque e a outra ficou para fora, minha casa que eu tenho lá é Parque, já a da minha filha não é... Eu sai porque arrumei serviço de pedreiro aqui no Tanquinho (povoado de Lençóis) mas volto prá lá depois que o serviço terminar, volto mesmo... Porque com essa história do IBAMA querer botar Parque em cima das nossas casas a gente não pode vacilar não... não pode ficar fora muito tempo, ah... porque... se não eles dizem que você não mora, que abandonou a roça, que não é da comunidade entende? Ai, a gente perde o direito... e eu tenho direito né... porque eu tenho

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