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Entender como um spin off nasce é um grande desafio, pois tal processo é muito complexo devido às incertezas presentes no desenvolvimento do conceito do negócio, na maneira de adquirir os recursos necessários e na forma de tomar as decisões efetivas (RASMUSSEN; MOSEY; WRIGHT, 2011).

Porém, é possível elencar elementos interessantes sobre uma metodologia de criação de

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universidades da Europa, Estados Unidos, Israel e Canadá, os autores identificaram um processo de criação de spin offs baseado em 4 estágios, como seguem:

1. geração de ideias comercializáveis a partir da pesquisa; 2. tradução destas ideias em projetos;

3. lançamento de spin offs a partir destes projetos;

4. fortalecimento da criação de valor econômico destas spin offs.

Os autores também ressaltam que este processo não é linear, e a qualidade de cada um destes estágios depende do anterior. Um esquema do modelo proposto pode ser visto na Figura 2.

Figura 2. Processo de criação de um spin off

Fonte: elaborado a partir de (NDONZUAU; SURLEMONT; PIRNAY, 2002)

(1) Geração de ideias: a principal dificuldade deste estágio é conciliar os diferentes

objetivos que a pesquisa científica pode ter: voltada para si e regida pelo princípio do bem público ou voltada para um fim comercial (bem privado). Para tal, é preciso conciliar as diferenças entre a cultura acadêmica e a empresarial. Outro fator importante deste estágio diz respeito à necessidade de capacitação interna – da comunidade acadêmica da universidade – para identificar ideias promissoras dentre as várias invenções criadas, em termos tecnológicos, comerciais e pessoais.

(2) Transformar ideias em projetos: o objetivo deste estágio é o de transformar ideias

em projetos, considerando dois aspectos: a proteção e o desenvolvimento da ideia. Neste estágio é necessário desenvolver o projeto do ponto de vista tecnológico – criação do protótipo para

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mostrar o potencial de escala e de aplicação – e comercial – elaboração do modelo de negócios para mostrar a viabilidade econômica. Os autores consideram que nesta etapa é importante o acesso a financiamento para desenvolver estas duas atividades supracitadas; porém, ressaltam que nem sempre estes recursos estão disponíveis, dificultando a criação dos spin offs.

(3) Lançamento do spin off: nesta etapa, as dificuldades ainda se relacionam à falta de

recursos, tanto financeiros quanto de pessoal – especialmente para o gerenciamento da empresa –, e ao relacionamento com a universidade.

(4) Fortalecer a criação de valor econômico: avaliação de como como a economia

regional se beneficia da criação do spin off e como ela deve fazer para manter esta empresa em sua região/território. Também é preciso atentar para o risco de acabar não explorando por completo o potencial da tecnologia. Isto porque algumas empresas iniciam oferecendo serviços de consultoria, a fim de levantar capital para o desenvolvimento de seu produto, e por vezes mantém-se nesta atividade indefinidamente, não gerando o valor inicial que era previsto com a tecnologia.

Além da abordagem de quatro fases propostas por (NDONZUAU; SURLEMONT; PIRNAY, 2002) há outros modelos propostos por diferentes autores que vão de 3 a 5 fases. Cada um destes possui seus diferenciais sendo importante mencioná-los neste estudo.

Outro modelo para desenvolvimento de spin offs acadêmicos consiste de cinco fases totalmente iterativas e não lineares (VOHORA; WRIGHT; LOCKETT, 2004). São elas:

(1) Pesquisa: compreende a realização de pesquisas acadêmicas;

(2) Reconhecimento da oportunidade: a partir das pesquisas realizadas, ocorre a

identificação de aplicações com potencial comercial e dos recursos necessários para explorá-las; (3) Pré-organização: busca e desenvolvimento das habilidades e dos recursos

necessários para empreender a nova tecnologia, como, por exemplo, o desenvolvimento de protótipos industriais (ou primeiras unidades do produto) e a preparação do plano de negócio;

(4) Re-orientação: promove a reconfiguração dos recursos e a reavaliação do modelo de

negócios; e, por último,

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Outro sequenciamento para o processo de criação de spin offs, mais adequado ao estudo e elaboração de políticas de incentivo, foi proposto por Degroof e Roberts (2004). Nele, os autores distinguem, intuitivamente, três fases no processo de surgimento dos spin offs:

(1) Fase de origem: inclui a gênese do processo de surgimento da spin off. É nesta fase,

por exemplo, em que a oportunidade é identificada (seja por meio de uma iniciativa individual de um pesquisador empreendedor ou pela busca proativa de uma oportunidade tecnológica dentro de uma instituição de pesquisa). Nesta fase ocorre à primeira seleção, e muitas iniciativas acabam não passando desta etapa;

(2) Teste de conceito: a oportunidade é testada sob o ponto de vista técnico, de

propriedade intelectual e de negócio. Se confirmada a viabilidade, esta fase é finalizada, muitas vezes sua finalização acompanha uma rodada de investimento;

(3) Suporte ao início das operações: início da exploração da oportunidade do negócio.

Um quadro comparativo entre os três modelos de formação de spin offs pode ser visto na Tabela 2-3. Nela é possível verificar que o modelo proposto por Vohora, Wright e Lockett (2004) apesar de mais completo, engloba a fase de pesquisa, que não faz parte do escopo deste trabalho e, que os modelos propostos por Ndonzuau, Surlemont e Pirnay (2002) e por Degroof e Roberts (2004) são equivalentes, sendo este último mais robusto e mais adequado aos estudos de formulação de políticas de incentivo. Como este trabalho tem por objetivo a criação de uma metodologia que incentive a criação spin offs, adotar-se-á o modelo proposto por Degroof e Roberts (2004).

Tabela 2-3: modelos de formação de spin offs acadêmicas. (Elaboração própria)

Autores Fases

NDONZUAU; SURLEMONT;

PIRNAY, 2002

Geração de ideias Tradução de ideias em projetos Lançamento do spin off Fortalecendo a criação de valor econômico VOHORA; WRIGHT; LOCKETT, 2004) Pesquisa Reconhecimento

da Oportunidade Pré-Organização Re-Orientação Sustentabilidade DEGROOF;

ROBERTS, 2004 Fase de origem Teste de conceito

Suporte ao início das operações

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Face ao exposto, a criação do spin off é um processo complexo e não linear, que envolve o desenvolvimento de várias atividades e demanda a captação de diferentes recursos (ECKHARDT; SHANE, 2003; RASMUSSEN; MOSEY; WRIGHT, 2011). Muitos empreendimentos, entretanto, são criados sem a orientação das fases previstas na literatura. A maioria das empresas nascentes inicia-se sem todas as competências necessárias, tendo de desenvolvê-las ou adquiri-las em suas fases iniciais de desenvolvimento. Porém, o processo de desenvolvimento organizacional da empresa tem sido muito negligenciado (RASMUSSEN; MOSEY; WRIGHT, 2011).

Dessa forma, após o lançamento, estas empresas precisam revisar pontos fundamentais não planejados, tais como: escolha de aplicações viáveis tecnicamente e com bom potencial comercial, desenvolvimento de protótipos e obtenção de informações por parte dos clientes para desenvolver soluções apropriadas para o mercado (SHANE; CABLE, 2002; SHANE, 2004).

Compreendido o processo de formação de um spin off, parte-se para a compreensão dos agentes necessários para sua criação. Esta parte é de fundamental importância para a construção da metodologia de estímulo, já que sem os agentes não é possível obter os recursos necessários à criação dos spin offs acadêmicos.