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Os quilombolas tem que ter um conjunto tanto de nós pescadores e marisqueiras.62

No capítulo anterior vimos como operam as coletividades e redes políticas das comunidades quilombolas Acupe, São Braz e Dom João em função dos conflitos vivenciados em torno da Ilha de Cajaíba. Neste capítulo faremos uma interface com as concepções adotadas por órgãos governamentais envolvidos nos processos de licenciamento ambiental, de regularização fundiária e de privatização da Ilha de Cajaíba, quais sejam: INEMA, FCP, INCRA, MPF, SPU, IPAC Secretaria Municipal de Turismo de São Francisco do Conde. Uma tentativa de articular o ponto de vista das comunidades pesquisadas, e compreender até que ponto são ouvidas, por meio da análise das relações institucionais. Entender os sentidos atribuídos à Ilha de Cajaíba contidos nos discursos apresentados pelos interlocutores desta pesquisa atuantes junto aos órgãos governamentais citados. Da mesma forma, identificar tais significados a partir da pesquisa documental realizada no que podemos denominar de “aldeias-arquivos”63 (CARRARA, 1998), acervos disponibilizados pela SPU, MPF

e FCP, cujos processos abrangem boa parte dos documentos produzidos acerca das demandas e conflitos envolvendo a Ilha de Cajaíba e as categorias utilizadas para designar procedimentos administrativos e jurídicos, bem como sua relação com as concepções das comunidades quilombolas.

62 Seu Niano, da comunidade quilombola Acupe.

63 “O ato de escrever qualquer que seja a sua finalidade implica sempre uma certa solenidade e se desenrola em meio a difíceis negociações. Negociações onde estão presentes medos, inseguranças, compromissos, pretensões, talentos, objetivos ocultos ou explícitos, suposições, estratégias, cálculos de toda natureza e outras tantas microdeterminações nem sempre fáceis de ponderar” (p. 55).

3.1 - Denominações e conceitos: “quem é você no jogo do bicho?!”64

O subtítulo pressupõe a ironia em tom de brincadeira sobre determinada situação de conflito. Me atrevo a utilizar o conceito de “relações jocosas” adotado por Radcliffe-Brown65 no que tange especificamente à análise das relações entre

parentes ou afins – relações jocosas ou “parentesco por brincadeira” (joking relationship). Aqui, sugere um olhar sobre as “relações jocosas” existentes entre as comunidades quilombolas pesquisadas e os atores sociais envolvidos nos processos judiciais e administrativos analisados, cuja burocracia visa intermediar interesses conflitantes diante das disputas pela Ilha de Cajaíba. Relações jocosas justamente por englobarem uma linguagem que pressupõe certo controle e acesso às informações diante de um conflito instaurado. Afinal, quem detém tal controle sobre tais relações de poder? E de que modo podemos pensá-las a partir das diferentes percepções sobre a Ilha de Cajaíba enquanto um direito de tais comunidades? Em outros termos: quem é quem; “quem é você no jogo do bicho?

De maneira também jocosa, atribuo à metáfora acima descrita o conjunto de visões contraditórias acerca do que deve ser e o que é de fato considerado como prioritário e relevante no contexto de sobreposição de interesses sobre a Ilha considerando os direitos das comunidades quilombolas e seu território marítimo. Ambigüidades e rupturas na lógica institucional vigente em um jogo que expõe práticas consideradas como legítimas/ilegítimas, prioritárias/preteridas a partir de um aparato burocrático utilizado para legitimar ou limitar a “lei do mais forte” diante dos direitos dos “mais vulneráveis”. Tais distinções também estão relacionadas ao lugar ocupado por atores sociais cujas funções exercidas e expectativas sobre o tipo de

64Expressão popular utilizada quando se trava uma relação de estranhamento ou dúvida em relação a alguém ou diante de uma atitude inesperada, positiva ou negativa. O jogo do bicho diz respeito a uma prática destinada ao jogo de apostas, considerada “ilegal” no Brasil. Consiste na escolha de um número e o respectivo nome de animal mediante valor definido pelo “jogador” a ser pago ao “dono do jogo do bicho”, que lhe confere o prêmio, em dinheiro, caso seu número (bicho) seja sorteado. Roberto DaMatta e Elena Soárez analisam o fenômeno do jogo do bicho enquanto elemento de ruptura sobre a ordem econômica capitalista, que se apropria e padroniza formas de se relacionar, significando também uma alternativa de autonomia a esta lógica de imposição de valores e padrões europeus e americanos. (DAMATTA; SOÁREZ, 1999)

65 O termo “relação jocosa” significa uma relação entre duas pessoas na qual uma delas tem permissão, pelos costumes, e em alguns casos a obrigação, de zombar ou fazer graça de outra que, por seu turno, não pode se ofender. É importante distinguir duas variedades principais. Em uma delas, a relação é simétrica; cada uma das pessoas provoca ou faz gozação da outra. Na outra variedade, a relação é assimétrica; A faz graça à custa de B e B aceita a provocação com bom humor, mas sem retaliação; ou A provoca B tanto quanto queira e B, em troca, provoca A apenas um pouquinho (RADCLIFFE-BROWN, 2013).

trabalho a ser realizado indicam direções de atuação bastante específicas mas que, em certas circunstâncias, se encontram.

Diante disso, em face ao entendimento que as comunidades tem sobre o

território pesqueiro, território quilombola e território da Ilha de Cajaíba, podemos

conceber a Ilha segundo a denominação utilizada por cada interlocutor aqui apresentado que busca referí-la em conformidade às relações institucionais das quais faz parte. Exemplo são os termos citados pelos mesmos também referidos nos documentos analisados como formas de se identificar as informações e os procedimentos a serem adotados referentes à Ilha de Cajaíba, tais como o processo

da Cajaíba (MPF); o RTID de São Braz (INCRA); os imóveis da Ilha de Cajaíba

(SPU); o Sobrado e a Fábrica do Engenho Cajaíba (IPAC); o licenciamento

ambiental da Property Logic (INEMA); o licenciamento ambiental na comunidade São Braz (FCP); o Arquipélago de Cajaíba e o Cajaíba Eco Resort (Proprety

Logic/Gaia Consultoria); o licenciamento ambiental ou o EIA/RIMA da Property Logic (INEMA); o projeto turístico da Cajaiba (SETUR). As comunidades quilombolas por sua vez entendem a Ilha como território pesqueiro e território quilombola,Podemos verificar que para cada denominação há um tipo de ação atribuída conferindo aos interlocutores uma interpretação sobre seu lugar. Além disto, outras categorias se somam constituindo um conjunto de procedimentos e ações específicas para cada

processo (jurídico ou administrativo) e projeto.

Adianto que os documentos pesquisados dizem respeito a processos jurídicos e procedimentos administrativos decorrentes das solicitações e denúncias feitas pela articulação das comunidades quilombolas do Recôncavo junto aos órgãos acima referidos, em função dos conflitos envolvendo o risco de perda de seus território étnicos e pesqueiro, especificamente:

- MPF / PR-BA – Inquérito Civil Público – ICP : “Apurar danos ao meio ambiente decorrentes de construções irregulares em área de preservação permanente nas Ilhas Coroa Branca, Passarinho e Cajaíba”;

- MPF / PR-BA - Inquérito Civil Público Civil Público – ICP: “Apurar danos ambientais decorrentes da construção do empreendimento “Ilha de Cajaíba Beach & Golf Resort66;

- SPU – Acervo documental dos procedimentos administrativos referentes aos registros de compra, venda e transferência de imóveis da União envolvendo os Ilhotes do Passarinho, Nordeste ou Guarapirá; Coroa Branca e Ilha de Cajaíba; - FCP – EIA/RIMA elaborado pela Property Logic quando do processo de licenciamento ambiental da Ilha de Cajaíba Beach & Golf Resort;

- INCRA-BA – Processo de regularização do território da Comunidade Quilombola São Braz;

Minha intenção não é esgotar a análise destes documentos mas apresentar aspectos acerca do modo com que certas concepções acerca do lugar da Ilha ora coadunam-se, ora se confrontam com as dos pescadores e marisqueiras Acupe, São Braz e Dom João. Trata-se na verdade.

Os primeiros contatos com o MPF67 foram intermediados pela antropóloga e

analista pericial, Sheila Brasileiro, que atuou também como coordenadora de equipes responsáveis pela regularização fundiária de Projetos de Assentamento Rural na Bahia junto ao INCRA-BA, durante quase dois anos. Sobre sua atual função, comenta que há poucos funcionários junto ao MPF de Salvador e que seu trabalho é bastante independente, assim como dos demais peritos de áreas de biologia e economia. As demandas eram encaminhadas à perita diretamente pelos Procuradores da República, mas, após mudanças ocorridas nacionalmente em toda a estrutura do MPF, atualmente são cadastradas por estes junto à Secretaria de Apoio Pericial68 que controla o fluxo das demandas que chegam ao MPF por meio de

67 Órgão que a partir da CF/88, ganha maior legitimidade na defesa dos chamados direitos difusos, sociais e coletivos nas esferas nacional - Ministério Público da União – MPU e suas sub-divisões - e estadual- Ministério Público Estadual (Art. 128). A inserção de antropólogos junto ao MP surge na década de 80, quando das desapropriações no território do grupo Suyá, no Parque indígena do Xingu, Estado do Mato Gross, dando início a uma série de ações judiciais e pagamento de indenizações por parte da União. (REGO, 2007: 91-93) Tal episódio culminou na parceria entre o MP e a ABA e a contratação de profissional da área de antropologia, que posteriormente passou a atuar junto à Secretaria de Coordenação de Direitos Difusos (SECODID). Após, o MPF passa a inserir antropólogos em sua estrutura, assim composta: “Procurador Geral da República, o Colégio de Procuradores da República, o Conselho Superior do Ministério Público Federal, a Corregedoria do Ministério Público Federal, os Subprocuradores-Gerais da República, os Procuradores Regionais da República, os Procuradores da República e as suas “Câmaras de Coordenação e Revisão” (CCR’s). Criadas pela lei de 1993, estas câmaras estão organizadas na Procuradoria Geral da República (PGR), uma unidade de administração e lotação situada em Brasília (...)”, dentre as quais se destacam “a 4ª CCR, relativa ao meio ambiente e ao patrimônio cultural, e a 6ª CCR, que trata da defesa dos direitos de índios e minorias; bem como a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão que coordena as ações do MPF relativas a estes direitos” (Idem).

68 Secretaria de Apoio Pericial é fruto do Projeto de Modernização dos Gabinetes de Membros (Mogab) e tem por objetivo implementar um Sistema Nacional de Perícia que visa a aumentar o nível de qualidade dos serviços técnicos não jurídicos aos procuradores de todo país alinhado às diretrizes das Câmaras de Coordenação e Revisão, bem como permitir a melhor qualificação do corpo pericial.

registro junto ao Sistema Nacional de Perícia que atende todo país, como aponta a Figura 5 abaixo.

Figura 3 - Fluxograma do Sistema Pericial Nacional – MPF.

Fonte: www.mpf.mp.br, 2016.

Antes, porém, chegavam direto às PRs, o que no entendimento de Sheila garantia certa autonomia à área técnica e aos procuradores. As demandas dos povos e comunidades tradicionais podem sofrer maior lentidão, mais que o normal,

um elemento a mais de intermediação entre comunidades e o MPF, como informa

Sheila. Por outro lado, permite concentrar uma série de informações acerca do está

A Secretaria está diretamente ligada à Procuradoria Geral da República (PGR) e faz a intermediação por meio de Sub-Secretarias: Sub-Secretarias de Gestão de Temas, Corpo Pericial e Sub-Secretaria de Convênios e Requisições (SubCORE). Disponível em:< http://www.mpf.mp.br/conheca-o- mpf/gestao-estrategica-e-modernizacao-do-mpf/modernizacao-dos-gabinetes/2014-estruturacao-do- projeto/mpf_plano-de-trabalho-v3.pdf>.

sendo ou não tratado como prioridade, uma espécie de “raio-x”, onde o antropólogo poderá ter acesso à lista de registros.

A partir deste sistema, o registro das demandas segue a seqüência de prioridades com base nos critérios de urgência devidamente justificados, como prazos e casos de conflitos territoriais, critério este indicado pelos procuradores quando do registro junto à Secretaria de Apoio Pericial.

Sobre o papel de mediadora mencionado durante a entrevista, entende que segue a lógica com o que se espera do MPF, cuja função é também intermediar conflitos, na visão da antropóloga, mas que isto dependerá de cada procurador responsável na gestão da PR. Legitima-se então o poder de decisão e de atuação desde sempre atribuído aos procuradores, dentro e fora do MPF, tanto em relação a determinadas obrigatoriedades quanto a ausência delas. A atuação e a produção de peças por parte dos antropólogos dependerão mais das necessidades dos procuradores em responder certas demandas, a partir das manifestações expostas pelas comunidades quilombolas, por exemplo.

Sob outro ponto de vista, e considerando a função de cada gestor no interior do MPF, a Procuradora da República, Bartira Araújo Goes, diz não se incomodar em seguir os novos procedimentos e entende que tal estrutura visa otimizar as demandas tendo em vista o volume de processos a serem atendidos e sem uma orientação específica dentro da lógica jurídica, a exemplo das “atribuições residuais”, em que não há um procurador específico para determinado caso. Além disto, entende que a estrutura interna é fruto de uma construção diária que depende de cada PR. Isso inclui articulações com outras instâncias governamentais:

A gente tá trabalhando em termos de atribuição do Ministério Público. Tem coisas que estão em construção e você não sabe se é minha [MPF] ou se é do Estado. Justamente por causa dessa atribuição residual. Nós trabalhamos no dia-a-dia a nossa atribuição, é uma construção... Nós passamos por várias mudanças aqui no estado da Bahia esse ano. Isso muda de Estado para Estado e é uma construção do conjunto de procuradores. Somos poucos e temos que lidar com muito mais coisa, a gente fica com tudo. A gente tenta otimizar nosso trabalho. Então, não tem procurador...

Podemos observar que as mudanças ocorridas na gestão do MPF acabam gerando um novo mecanismo de controle mais centralizado e direcionado . Tratar da definição de prioridades junto ao Estado é algo a ser observado com maior atenção

uma vez que interferem diretamente na relação entre os órgãos de governo envolvidos nos conflitos territoriais de comunidades quilombolas, como no caso de Acupe, São Braz e Dom João. Cada órgão de governo define critérios que julga ser imprescindíveis na construção de sua “lista de prioridades” ou “metas” a serem cumpridas em determinado período, outro elemento cujo entendimento é diverso perante a relação entre os agentes estatais. O que pode vir a ser considerado como “prioridade” para o INCRA-SR 05, por exemplo, pode não ser para o MPF-BA. Mais em função da natureza em trono de suas responsabilidades e menos em função do que julgam ser “mais” ou “menos” importante. Fato é que tais diferenciações sofrem mudanças a todo instante por motivos diversos (políticos, econômicos, jurídicos) o que leva à necessidade de novas configurações com ao que acabamos de observar acima acerca da atuação do MPF..

Flávio Luis de Assis dos Santos (38), professor, geógrafo, e analista em reforma e desenvolvimento agrário, atua como Coordenador juto ao Serviço de Regularização de Territórios de Comunidades Quilombolas do INCRA-SR 05. Chama atenção para o fato de que certas decisões, a depender do setor e do órgão, não são unilaterais, a exemplo dos critérios adotados para decidir o conjunto de RTIDs a serem elaborados.

Foi o primeiro pregão em 2011. Áreas a serem contemplada, na Bahia eram 20 relatórios. Nós discutimos os critérios que eram: áreas com maior incidência de conflito, demandas judiciais do Ministério Público, basicamente. Um diálogo muito forte com o Movimento dos Pescadores que sempre promoveu ações, reuniões, muito forte na SR da Bahia, um dos lotes ficou com o lote do Recôncavo, e a prioridade São Braz.

Nos discursos apresentados entre os profissionais do INCRA- SR 05 há um elemento comum acerca do papel de mediação que entendem exercer haja vista os gargalos de diálogo entre as comunidades quilombolas e o Estado.

Sem negar a importância de suas particularidades em termos de objetivos e formas específicas de atuação, que julgo ser fundamentais no diálogo com a realidade social que se apresenta de modo também diverso, o que entendo ser um desafio é a necessidade de flexibilização de suas relações institucionais. Esta dificuldade de interlocução nos dá a impressão de estarmos diante de um Estado

composto por vários outros de menor dimensão que agem de forma isolada e que, ao mesmo tempo, criam expectativas em torno de suas ações que incidem sobre o mesmo público-alvo, no caso, o território pesqueiro das comunidades Acupe, São Braz e Porto de Dom João.

Quanto à questão da mediação, Paulo Sérgio da Silva (2007) evoca o conflito entre a linguagem técnica e as categorias utilizadas pelas comunidades como um desafio aos mediadores sociais. Algo que, conforme acima demonstrado, se confunde com a própria função dos agentes do Estado:

A tradução se dá através de negociações em que os técnicos se apresentam como manifestação de um Estado supervisor. Embora os agentes do Estado busquem se siturar no plano de uma linguagem comum multifuncional não-especializada, seus instrumentos de trabalho estão inseridos na lógica do poder administrativo e não na busca do entendimento. (p. 29)

O tempo também pode tornar mais complexa a análise acerca da definição de prioridades, pois priorizar é solucionar com certa urgência, conforme indagado anteriormente. O que aumenta ainda mais a distância entre nossos interlocutores da esfera estatal considerando que cada “prazo” carrega consigo uma noção de temporalidade específica, algo bastante complexo quando somado à percepção das comunidades acerca dos processos de regularização dos territórios quilombolas e do território pesqueiro que lhes pertence.

A antropóloga do MPF me orientou sobre quais os procedimentos necessários para o envio das solicitações de entrevistas com os procuradores envolvidos em diferentes fases do processo de licenciamento ambiental da Ilha de Cajaíba e para o acesso ao material contido nos autos sob responsabilidade do MPF desde 2007. As quatro entrevistas foram marcadas com antecedência junto às assessorias dos procuradores e ocorreram na própria Procuradoria da República na Bahia – PR-BA. Por todos fui recebida de modo amigável e sem entraves no que diz respeito à disponibilidade e abertura de diálogo com tais interlocutores.

As entrevistas realizadas no MPF destinaram-se às questões internas ao órgão, tanto por parte dos procuradores quanto por parte da antropóloga. Tais diálogos foram interessantes no sentido de contextualizar questões inerentes ao cotidiano do MPF, que de outro modo não seriam possíveis.

Sr. Edson Abdon Peixoto Filho, procurador federal, ao ser indagado sobre a Ilha de Cajaíba agiu de modo similar à Dra. Bartira, limitando-se a buscar informações no processo propositalmente disposto em sua mesa de trabalho. Após tratar de sua trajetória profissional dentro do MPF, inicia uma fala bastante contundente sobre a atuação de outras instâncias governamentais perante as demandas expostas pela comunidade quilombola São Braz e as formas de legitimar os territórios quilombolas a partir do acesso às políticas públicas e aos direitos fundamentais, em sua maioria voltados à infra-estrutura, saúde, educação, conflitos territoriais, etc.

Tem a questão de saneamento básico, não tem água, não tem luz... porque se você coloca água e luz você faz com que aquelas comunidades não saiam dali de jeito nenhum!

O relato acima evidencia o uso do aparato estatal para fins outros que, para além de interesses pessoais, nos levam a refletir sobre as estratégias de legitimação dos territórios quilombolas pelas vias institucionais, como veremos ao longo deste capítulo. Sobre não legitimar as comunidades, essa é uma constante no trabalho exercido pelo procurador que diz estar acostumado com esse tipo de discurso pouco convincente por parte de diversos grupos locais No início da conversa informou que sobre a Ilha de Cajaíba atuou até certo ponto e que atuava mais na questão de infra-

estrutura, saúde, etc. Manteve o mesmo discurso da procuradora Barthira acerca

das inúmeras atividades a desempenhar junto ao MPF:

A gente não tem só isso. Tem muita coisa. Às vezes a gente é demandado demais por uma comunidade que tem um contato mais direto com a 6ª Câmara e fica meio que pressionado a agir de forma meio rápida..

Os discursos variam entre os setores do MPF, garantindo certa homogeneidade na postura adotada por ambos procuradores quanto aos discursos sobre “quais são suas atribuições” e quantidade de demandas, . Podemos considerar que o momento da entrevista junto ao órgão governamental segue a

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