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Processos linguísticos, conceitos sobre lexicologia, semântica,

CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6. Processos linguísticos, conceitos sobre lexicologia, semântica,

Antes de entrar na análise textual no capítulo 3, apresentam-se neste subcapítulo conceitos básicos referentes a processos gramaticais, os quais servem de base nesta análise dos textos: fonte e respectivas traduções.

Como Azeredo (2012) ressalta, ao longo dos séculos XIII, XIV e XV o português era o meio de expressão de um vasto conjunto de obras escritas. Porém, foi durante o transcurso dos séculos XV, XVI e XVII, como sintoma da revolução cultural do Renascimento, que poetas, cro- nistas, historiadores e naturalistas, enriqueceram a língua portuguesa escrita com as chamadas formas eruditas, fundamentalmente de origem latina. Foi por influência do Renascimento que o português recebeu um número considerável de palavras relativas às artes, de origem italiana. Nos séculos XVII e XVIII foi a vez da língua francesa contribuir com um número significativo de verbos, substantivos e adjetivo. A chegada dos europeus e seu consequente contato com as populações indígenas do Brasil e com os indivíduos trazidos da África foi uma situação decisiva para o enriquecimento do léxico do português brasileiro com palavras como: arapuca, jabuti e moqueca, de origem tupi, e molambo, quitute, cochilar, de origem africana. Chegando ao século XX, e devido à inter- nacionalização da tecnologia americana, o inglês vem emprestando di- versos termos à língua portuguesa.

Existem, basicamente, dois processos de formação de palavras: derivação e composição. Segundo Azeredo (2012), o primeiro processo consiste, por definição, numa palavra formada por derivação quando provém de outra, dita primitiva, por exemplo: jardineiro deriva de jar- dim; incapaz deriva de capaz. No segundo processo, uma palavra é for- mada por composição quando resulta da união de dois ou mais vocábu- los simples, como por exemplo: guarda-roupa, porco-espinho, azul- marinho, fotomontagem, motosserra, eletrodoméstico.

Além das alterações na sua composição mórfica sofridas por uma língua ao longo do tempo, existe a mudança semântica. Por exemplo, do substantivo barco deriva o verbo embarcar, que ampliou seu uso e con- sequente o significado, para o ato de tomar qualquer condução, já seja barco, trem, ônibus, avião. Como exemplo de restrição semântica, pode- se observar a palavra ônibus que, como afirma Azeredo (2012), origina- riamente significava “para todos” (do latim omnibus), assumiu com o tempo o significado exclusivo de “veículo rodoviário para uso coletivo”. Para o gramático: “o que levou a comunidade a consagrar embarcar e

ônibus nos significados que conhecemos hoje foi o princípio da criativi- dade”. (AZEREDO, 2012, p. 398)

Os exemplos anteriores ilustram alguns dos aspectos através dos quais qualquer língua sofre modificações constantes: criação de novas formas lexicais ou acréscimo de novas acepções a formas lexicais já existentes. Este processo recebe o nome de neologia, e de neologismos às formas e acepções criadas ou absorvidas pelo seu léxico.

Para Alves (1990, p. 5): “o neologismo pode ser formado por me- canismos oriundos da própria língua, os autóctones, ou por itens léxicos provenientes de outros sistemas linguísticos”.

Em Alves (1990) encontra-se uma divisão da formação neológi- ca: neologismos fonológicos; neologismos sintáticos; conversão; neolo- gismos semânticos; outros processos: truncação, palavra-valice, redupli- cação e derivação regressiva; neologismos formados por empréstimos; sentimento de neologia: inserção do neologismo no dicionário.

A prefixação e sufixação são também processos de formação de palavras, alguns dos processos mais utilizados por Guimarães Rosa na criação de neologismos, como também a aglutinação; segundo Alves (1990), eles pertencem ao processo de formação dos neologismos sintá- ticos.

Essas técnicas de formação de vocábulos são processos tradicio- nais e naturais em muitas línguas e muitos textos, mas, que o criador de Grande Sertão: Veredas utiliza, como diz Proença (1958), de uma ma- neira inusitada e original:

Criava o seu vocábulo, sonoro e claro, sem preo- cupar-se com o veto gramatical aos hibridismos e proclamava sua adesão a um conceito de liberdade artística: daí por diante utilizaria o instrumento que melhor transmitisse sua mensagem, sem inda- gar-lhe a origem ou a idade. Dessa liberdade re- sultam aproximações que causam estranheza – re- gionalismos vizinhando com latinismos, termos da língua oral e da linguagem castiça entrelaçando- se, contiguidades -surpreendentes do português arcaico e de formas recém-nascidas, mal arranca- das do porão das latências idiomáticas, a estrita semântica dos termos etimológicos e translações violentas, de impulso metafórico ou não. (PRO- ENÇA, 1958, p. 71-72)

Também ocorre que a forma da palavra é sensível aos fenômenos sintáticos, portanto a morfologia trata de fatos que se relacionam ao léxico e a sintaxe.

Segundo Souza e Silva; Koch (1995), as frases são estruturas verbais por meio das quais se estabelece a comunicação. Elas descrevem juízos, ações, situações ou episódios, exteriorizam sentimentos, expõem solicitações ou ordens. As frases organizam e combinam elementos lexicais e morfológicos seguindo certas normas gramaticais, e isso ca- racteriza a estrutura sintática.

Para Souza e Silva (1995), o que denomina conteúdo proposicio- nal é àquilo do qual a frase fala e que se encontra veiculado por meio de elementos linguísticos: fonemas, morfemas, vocábulos escolhidos a partir dos inventários oferecidos por cada língua (paradigmas) e combi- nados seguindo certos princípios de organização (sintagmas), o que recebe a denominação de proposição ou oração. Cada língua possui um conjunto de fórmulas semelhantes, o que se conhece por regras de escri- tura, de estrutura frasal ou de base.

Coutinho (1991) destaca que o processo de evolução da lingua- gem tem demonstrado que as palavras começam sendo poéticas, porém acabam como puros conceitos. Após a revelação dos significados poéti- cos das palavras pelos artistas, estas entram no âmbito da linguagem corrente e, com o uso, sofrem um desgaste, e assim, tornam-se puros significados conceituais. A missão do poeta é, então, revitalizar a pala- vra, fazê-la recobrar a sua expressividade originária. Para isso, o escritor tem que chamar a atenção do leitor para o “significante”, o que pode ser realizado de muitas formas diferentes. Com base nas palavras de Couti- nho (1991), conclui-se que duas das técnicas mais comuns utilizadas por Rosa são: alterar o “significante” e criar um neologismo, e associar o “significante” a uma série de outros, fazendo-o funcionar como uma espécie de leitmotiv.

Outro aspecto importante analisado neste trabalho são as figuras de linguagem que fazem parte da retórica. Segundo Cherubim (1989), em quanto a gramática põe em destaque a técnica interna do sistema linguístico, a retórica classifica as diversas possibilidades de colocar em movimento essa funcionalidade com o fim de alcançar um efeito tão eficaz quanto possível.

Atualmente, existe um grande interesse pelo estu- do das figuras de linguagem, especialmente em re- lação ao estilo dos falantes-escritores, compreen- dendo por estilo a maneira de cada um, na qual

existem traços idiossincráticos que se repetem no contexto das próprias figuras, os quais engendram os traços pertinentes da língua idiolética. (CHE- RUBIM, 1989, p. 6)

Para Azeredo (2012), as figuras de linguagem podem operar no campo da semântica lexical, da construção gramatical, da associação cognitiva do pensamento ou da camada fônica da linguagem. Assim, dividem-se tradicionalmente em: figuras de palavras, figuras de constru- ção ou de sintaxe, figuras de pensamento e figuras tônicas. Como as palavras, as figuras de linguagem não possuem significação isoladamen- te, elas se encontram inseridas na macrossemântica do texto, tendo a sua funcionalidade no amplo complexo da textualidade.

À medida que estas figuras aparecerem no texto-fonte, e sendo consideradas relevantes para a análise, serão denominadas dentro da classificação tradicional, como por exemplo: pleonasmos, onomatopei- as, metonímias, metáforas, aférese, trocadilhos, aliterações, anacolutos, arcaísmos, polissemia, perífrases ou circunlóquios, etc. Recursos estilís- ticos utilizados constantemente por Guimarães Rosa na criação da sua prosa poética.

CAPÍTULO 3. ANÁLISE DOS TRECHOS SELECIONADOS: DO