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1.2 Vitamina E

1.2.2 Processos metabólicos da vitamina E

Após a ingestão, a vitamina E dietética (principalmente alfa- e gama- tocoferol) requerem sais biliares e secreções pancreáticas para formar micelas, com consequente captação pelas células epiteliais intestinais (parte distal) e liberação para a circulação na forma de quilomícrons (Figura 6) (GAGNÉ et al. 2009; GONCALVES et al. 2015).

Figura 6. Absorção, transporte, distribuição e excreção da vitamina E.

-TTP (Proteína Transportadora de Alfa-Tocoferol). -TOH (Alfa-Tocoferol). LPL (Lipase Lipoprotéica). α, β, γ, δ- tocoferol (alfa, beta, gama e delta- tocoferol). HDL (Lipoproteína de Alta Densidade). IDL (Lipoproteína de Densidade Intermediária). LDL (Lipoproteína de Baixa Densidade). VLDL (Lipoproteína de Densidade Muito Baixa).

Fonte: Retirado de Clemente (2013) adaptado de Gagné et al. (2009).

Os quilomícrons são rapidamente hidrolisados pela lipase lipoprotéica (LPL) resultando em quilomícrons remanescentes. Nesta etapa, moléculas de vitamina E são transferidas diretamente para tecidos periféricos, enquanto que as restantes nos quilomícrons remanescentes são endocitadas pelas células hepáticas por mecanismo mediado por receptores (GAGNÉ et al., 2009). As outras formas da vitamina são eficientemente absorvidas e fornecidas ao fígado em quilomícrons, mas pouco são captadas em lipoproteínas recém- secretadas com destino ao suprimento dos tecidos periféricos (INSTITUTE OF MEDICINE, 2000).

Essas lipoproteínas são hidrolisadas no fígado e a vitamina E é liberada. A forma alfa-tocoferol é captada e transportada pela alfa-TTP (Proteína transportadora de alfa-tocoferol) até a membrana da célula, onde é segregada na circulação pelo receptor ABCA1 (do inglês, ATP-Binding Cassette

Transporter A1) e incorporada pela VLDL (Lipoproteína de Densidade Muito

Baixa). A alfa-TTP é uma pequena proteína citoplasmática hepática com afinidade diferencial para o alfa-tocoferol, também expressa em outros tecidos como cérebro e placenta. É a grande responsável pelo transporte intracelular do alfa-tocoferol e media sua secreção no plasma, o que justifica o alfa-

tocoferol ser a forma da vitamina mais abundante na circulação (KONO; ARAI, 2015).

Os triacilgliceróis da VLDL são catabolizados pela LPL na superfície de tecidos periféricos, o que resulta na transferência do alfa-tocoferol a tecidos adjacentes e às partículas de HDL (Lipoproteína de Alta Densidade). Partículas de VLDL remanescentes com alfa- tocoferol (ou IDL- lipoproteínas de densidade intermediária) são removidas pelo fígado e parte é catabolizada em LDL (Lipoproteína de Baixa Densidade), sendo a vitamina transferida a outros tecidos periféricos (TRABER, 2012).

As trocas entre LDL e HDL favorecem o transporte do alfa-tocoferol na circulação e sua transferência a tecidos reprodutivos e outros tecidos, especialmente fígado, pulmão, cérebro, placenta e glândula mamária. A aquisição de alfa-tocoferol por esses tecidos pode ser mediada por receptor SR-BI, localizado na superfície das células e capaz de se ligar a HDL e LDL para captar os lipídios (NICOD; PARKER, 2013).

O maior estoque corporal do alfa-tocoferol está no tecido adiposo (cerca de 90%), mas parece que sua mobilização é fraca em resposta a deficiência dietética de vitamina E na fase adulta (EL-SOHEMY et al. 2001; UCHIDA et al. 2012), o que pode provavelmente ocorre por uma redistribuição do alfa- tocoferol de outros tecidos para as células de gordura (BLATT; LEONARD; TRABER, 2001). Não se sabe como se comporta essa reserva na fase da lactação.

A permanência do alfa-tocoferol circulante tem sido associada a mecanismos que controlam a circulação de lipídios, sendo encontrada uma correlação positiva entre o alfa-tocoferol plasmático, sua meia vida e concentrações séricas de lipídios totais em indivíduos sem dislipidemias (TRABER et al. 2015).

O mecanismo de passagem da vitamina E através da placenta e glândula mamária ainda é desconhecido. O transporte e metabolismo da vitamina E mãe-feto, propõe-se que ela seja entregue à placenta principalmente pelas LDL e VLDL e transportada para o lado fetal com uma proteína de ligação do tocoferol, que transfere seletivamente a forma 2R para a veia umbilical. Em seguida é levada ao fígado fetal, retornando outros isômeros para a circulação materna (ACUFF et al. 1998). Tal fato pode ser corroborado

pelo conhecimento da expressão de enzimas capazes de metabolizar o alfa- tocoferol no fígado fetal e placenta de ovelhas (GRANUM et al. 2011).

Assim, com a transferência placenta-feto limitada, o leite humano passa a ser a única fonte desse micronutriente para o neonato em aleitamento materno. Diferente da placenta, parece não haver uma limitação na transferência da vitamina para a glândula mamária, já que a suplementação materna no pós-parto imediato aumentou as concentrações de alfa-tocoferol no leite (CAPPER et al. 2005; CLEMENTE et al. 2015).

Evidências comprovam que o conteúdo da vitamina E no leite materno, principalmente no leite colostro (produzido na primeira semana após o parto) contém uma elevada quantidade de alfa-tocoferol que contribui com o aumento da vitamina E em tecidos corporais do neonato (DEBIER; LARONDELLE, 2005; AZEREDO; TRUGO, 2008; LIMA; DIMENSTEIN; RIBEIRO, 2014).

Uma maior captação da vitamina E no tecido mamário durante a lactação pode ser resultado de uma maior distribuição do alfa-tocoferol circulante para a glândula mamária, em consequência do aumento na atividade da enzima LPL nesse tecido durante a gestação e lactação (MARTÍNEZ; BARBAS; HERRERA, 2002). Sugere-se também a participação da alfa-TTP na secreção da vitamina para o leite e ainda receptores de superfície celular expressos na glândula mamaria que facilitam a captação do alfa-tocoferol circulante e o transfere para o leite (DEBIER, 2007; TORRES et al. 2014).

A suplementação materna durante a lactação é uma estratégia viável e segura para satisfazer a necessidade de vitamina E dos recém-nascidos uma vez que ao melhorar o estado nutricional materno pode, consequentemente, prolongar a adequação do fornecimento de vitamina E através do leite (ALLEN, 2005). Estudos realizados com vitamina E suplementada para as mães no pós- parto imediato, demonstraram aumento das concentrações dessa vitamina no leite colostro 24 horas após a suplementação (GARCIA et al. 2010; MEDEIROS

et al. 2016) e também no leite de transição (MEDEIROS et al. 2016). Em outro

estudo as mulheres suplementadas com a forma natural da vitamina tiveram 57% mais vitamina no colostro do que as mulheres do grupo controle, contra 39% de aumento nas que receberam suplementação na forma racêmica, mostrando uma maior eficácia da suplementação natural (CLEMENTE et al. 2015).

Em relação ao uso de suplementos, o parâmetro de consumo utilizado na garantia da segurança da administração é a UL. Conforme as DRIs estabelecidas pelo Instituto de Medicina (2000), a UL de qualquer suplemento contendo alfa-tocoferol para gestantes e lactantes é a mesma adotada para mulheres adultas não grávidas e não lactantes (1000 mg/dia) uma vez que, dada a escassez de dados quanto à suplementação nesse grupo de mulheres, não há relatos de toxicidade da vitamina E em gestantes ou lactantes.

Assim, este estudo se propõe a avaliar o efeito da suplementação materna com alfa-tocoferol sobre a concentração de retinol e alfa-tocoferol no estado nutricional da mãe e do recém-nascido por meio do leite materno.

2 OBJETIVOS

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