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3. PONTO DE VISTA

3.2 Processos de produção

De acordo com Kuhn (1991) o cinema clássico é caracterizado por seus modos de produção e de exibição das indústrias cinematográficas, pois possui estruturas institucionais e fatores econômicos que permeiam a produção, distribuição e exibição de filmes. Para Barone (2009) as etapas produção – distribuição e exibição formam uma tríade (Figura 2) e dizem respeito ao processo que propicia integralmente a cadeia produtiva, desde a fase inicial da criação de um filme até seu consumo final por parte do público.

Este grupo composto por três tríades representa a maneira como a indústria audiovisual está constituída, de forma que o núcleo central é formado pela tríade produção – distribuição – exibição, enquanto as outras duas tríades são núcleos subjacentes do processo. Portanto, este núcleo central de trabalho da indústria do cinema opera em conjunto e com enfoque no mesmo produto, o filme, todavia, cada um destes campos atua de forma diferente e com distintos objetivos (BARONE, 2009).

Para Barone (2009), a produção se refere aos procedimentos de criação e de elaboração do produto audiovisual, sendo que este processo é constituído por atividades a nível industrial, que requerem abundante subsídio monetário, assim como aperfeiçoamento técnico e divisão de trabalho. São três as fases que dizem respeito a este processo: pré-

Figura 3 – Tríade produção – distribuição - exibição

produção, produção e pós-produção, de forma que estes estágios seguem um formato universal. Nesse sentido, Kuhn (1991) complementa que a produção é um requisito indispensável para qualquer obra cinematográfica, porém abrange um conjunto de tarefas e atividades que produzem consequências diretas na natureza e na recepção dos textos fílmicos. Ainda, a autora afirma que produzir um filme é uma atividade bastante cara, assim, poucos realizadores possuem o aporte monetário necessário para financiar suas produções, sendo indispensável buscar suporte econômico em empresas, sociedades privadas ou financiamentos estatais.

Por conseguinte, a distribuição, atua para que a comercialização do produto seja efetivada, esta subdivisão tem como objetivo atingir o maior número de público pagante possível, atuando para que o filme tenha uma boa circulação entre as salas de cinema. A concentração de capital e o alto grau de especialização são características marcantes deste setor. Além disso, esta área é embasada na aquisição de direitos autorais, ou seja, o distribuidor, mediante uma negociação de valores, adquire os direitos patrimoniais da obra, também do produtor, uma licença para a sua exploração comercial (BARONE, 2009).

Por este ângulo, conforme Kuhn (1991), a distribuição é um dos momentos que envolve os processos de produção de significado dos filmes, pois, para terem significado, os filmes precisam ser assistidos por alguém. Desta maneira, o principal trabalho dos distribuidores é assegurar que os filmes sejam assistidos por audiências já existentes, ou por audiências que serão prospectadas. Assim, a autora afirma que para se desenvolver uma obra apta para ser exibida, há que existir uma mediação entre a produção e a recepção, de maneira que este trabalho é desenvolvido pela distribuição, que possui e conserva as cópias, faz a publicidade e contrata e aluga as cópias dos filmes para os exibidores. Posteriormente, conforme os términos do contrato é designada a proporção monetária para o produtor.

Por fim, a exibição conforme Barone (1991) e está relacionada com os meios físicos e sistemas essenciais para que o filme possa ser exibido. Este setor trata de ser o mediador responsável entre produto e público e funciona a partir de um acordo entre exibidor e distribuidor. Assim, o exibidor loca cópias do filme do distribuidor, para garantir o direito de projetar o filme durante determinado tempo, e por meio da venda de ingressos, desta maneira, é possível, com a renda obtida com a venda dos ingressos, arcar com o custo da manutenção da sala de exibição, do aluguel do filme, assim como assegurar o lucro. Com isto, o bem simbólico, que é o filme, passa a adquirir sentido no momento em que é projetado e assistido

por um público. Nesta perspectiva, Kuhn (1991) acrescenta que um filme pode proporcionar um tipo de relação entre espectador-texto, porém, isso não significa que cada membro da audiência reaja da mesma maneira à determinada narrativa. Ainda, existe uma diferença entre espectador, que é considerado um sujeito situado dentro do processo de significação, e audiência, que se refere a um grupo social.

Portanto, conforme Kuhn (1991), o processo de realização de filmes envolve o trabalho de uma ampla gama de profissionais que desempenham diferentes ofícios, isto implica em uma divisão de trabalho. Contudo, o produto que é o filme não é considerado propriedade da maioria das pessoas envolvidas em sua produção, pois o direito de utilizar o filme como uma forma de transação comercial é adquirido a partir de uma série de negociações entre produtoras e distribuidoras.

Este sistema de trocas simbólicas, conforme Barone (2009) é definido por um alto grau de complexidade de relações comerciais mediadas e que são definidas por um alto risco no que diz respeito à aquisição de licenças entre produtores e distribuidores, que negociam o direito de comercializar os filmes com os exibidores, estes, por sua vez, adquirem o direito de cobrar ingressos dos consumidores finais, os espectadores.

Em consequência deste modelo de mercado, é possível que o produto seja comercializado de forma constante, sendo que o detentor dos direitos autorais terá garantia de receber um retorno financeiro. Além do que, devido a este formato de mercado, o filme tem a possibilidade de circular a nível global, sendo este o fator que diferencia este produto de outros da indústria cultural (BARONE, 2009).

Os filmes são um produto na sua forma física, pois os rolos, (ou atualmente, os arquivos digitais), são produtos e objetos de mercado. Ainda, um filme é considerado um objeto de transação comercial, pois são produzidos para serem exibidos a um grande número de público que compra o direito de assistir determinada narrativa (KUHN, 1991).

Kuhn (1991) compreende o cinema a partir de um âmbito laboral, que abrange diversos aspectos relacionados às instituições que permeiam os processos de produção, distribuição e exibição de filmes lançados comercialmente ou de produções independentes. Além disto, esta definição precisa incluir os filmes, que são o produto final, e as condições de produção e de recepção dos mesmos.

Desse modo, o cinema clássico é definido pelas expectativas com as quais os espectadores vão ao cinema, pois os indivíduos que já tiveram contato prévio com a prática de

ir ao cinema compartilham de alguns pressupostos: (i) que o cinema é composto por filmes que possuem certa duração de tempo, que é entre uma e duas horas, (ii) que são apresentadas narrativas com início meio e final, estas narrativas são geralmente sobre pessoas reais (documentários) ou personagens (filmes de ficção), sendo que uma destas personagens é protagonista, (iii) que os filmes são assistidos em ambientes construídos especialmente para propiciar a experiência cinematográfica. Estes ambientes são escuros, com assentos alinhados e diante de uma grande tela onde é projetada a imagem. (KUHN, 1991).

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