organizações ou trabalho, cujas ênfases sejam as diversas formas de processos organizativos)
15) Processos Terapêuticos (práticas terapêuticas envolvendo indivíduos ou grupos)
A psicoterapia é a intervenção psicológica mais conhecida e va-lorizada socialmente. A(O) psicóloga(o) hospitalar faz uso das inter-venções psicoterápicas, mas essa é uma dentre tantas possibilidades de intervenção existentes no escopo do exercício profissional. Geral-mente, utiliza a psicoterapia breve pelas características institucionais e de tempo de internação, salvo alguns serviços que permitem acom-panhamento longitudinal de longo tempo, como os serviços de renais crônicos ou de assistência a pacientes com HIV/Aids, dentre outros.
A Psicoterapia Breve (PB) tem suas origens na Psicanálise. É uma intervenção terapêutica com tempo e objetivos limitados. Os objetivos são estabelecidos a partir de uma compreensão diagnósti-ca do paciente e da delimitação de um foco, considerando-se esses objetivos passíveis de serem atingidos num espaço de tempo limita-do (que pode ser ou não preestabelecilimita-do), através de determinadas estratégias clínicas. Assim, a PB encontra-se alicerçadas no tripé:
foco, estratégias e objetivos.
Na nefrologia, por exemplo, os agravos mais comuns são crônicos. Esses pacientes, de acordo com Pascoal et al., (2009), vivenciam diversas mudanças em sua rotina como perda do em-prego, alterações na imagem corporal, além das dificuldades com restrição alimentar. Considerando este panorama, a pessoa assistida passa a conviver com uma série de limitações em suas atividades e a necessidade constante de idas ao hospital para dialisar.
A adaptação da pessoa a um tratamento de hemodiálise se dá de maneira paulatina, onde muitos sentimentos de insegurança, frustração, depressão, estresse e raiva, dentre outros, se intercalam e o acompanham durante o processo. Cada indivíduo lida com isso de maneira subjetiva, tendo como base sua própria história e suas
vivências de perdas anteriores.
De acordo com Nifa e Rudnicki (2010), torna-se fundamental a perspectiva do indivíduo que avalia como vê e sente a interferência da doença na sua vida pessoal, familiar e profissional. Desta forma, pontuam as autoras, é importante e necessário que o enfoque dos profissionais da área da saúde não esteja centrado somente na doen-ça, mas, na experiência de vida destas pessoas, bem como a maneira como eles entendem, respondem e lidam com sintomas e problemas decorrentes da doença e tratamento. Essa atenção propiciará aos pa-cientes um tratamento voltado para a melhoria da sua qualidade de vida, reconhecendo-os como inseridos num contexto sociocultural.
Esses pacientes inicialmente ficam em estado de alerta, ten-sos com a expectativa do que acontecerá. Criam fantasias e tem medo constante da morte, devido à vulnerabilidade de seu caso. O transplante renal é tido pelos pacientes como a solução para suas angústias e sofrimento. São grandes os benefícios que a cirurgia pro-picia ao rendimento físico, apetite, sono, vida sexual e nível de auto-nomia. Isto faz com que haja um grande desejo por parte de muitos pacientes pelo transplante, porém como o tempo de espera para doação de órgão é grande, isto acaba gerando novas angústias que interferem na estabilidade emocional.
As diversas situações de perda, medo e carência que estes indivíduos passam, tornam necessária a intervenção psicológica.
A abordagem psicoterápica é desafiadora entre os pacientes renais crônicos e isso se deve a autonomia comprometida, ao estresse con-tínuo a que são submetidos e, às vezes, a déficits cognitivos. Sessões breves que coincidam com os dias em que se submetem à hemo-diálise podem ser bastante eficazes (GARCIA & ZIMMERMAN, 2006).
Esses autores pontuam que os quadros depressivos são consi-derados uma grande complicação e estão relacionados ao aumento do número de mortalidade na população em hemodiálise. Confor-me elucida Pascoal et al., (2009), outras reações emocionais como a raiva e o inconformismo também trazem prejuízos contribuindo assim para o aumento da mortalidade, dificuldade na adesão ao tra-tamento e eficácia do processo hemodialítico.
A possibilidade de um transplante é para muitos pacientes sua
possibilidade de cura. Salientamos que o acompanhamento psi-cológico desde o início da enfermidade e a desmistificação desta idealização com o transplante, possibilita que o paciente vivencie sua doença se apropriando dos cuidados que a mesma requer, vis-lumbrando, porém, uma vida que vai muito além de sua doença (PASCOAL et al., 2009).
A presença da(o) psicóloga(o) em todo o tratamento estabe-lece com o paciente um vínculo de referência e segurança. Neste caso, a assistência prestada pela(o) psicóloga(o) costuma ser mais longitudinal, possibilitando o desenvolvimento do vínculo psicote-rapêutico. A psicoterapia neste caso objetiva trabalhar as fantasias e elaborar os conteúdos angustiantes projetados em sua situação atual, trazendo a oportunidade de ressignificar vários aspectos de suas vidas. O sofrimento trazido pelo adoecimento pode ser o início de um amadurecimento emocional no paciente e a(o) psicóloga(o) tem um papel ativo nesse processo.
Outra especialidade que, em geral, possibilita acompanha-mento mais prolongado temporalmente, é a oncologia. Vários es-tudos apontam evidências de que a resposta psicológica do pa-ciente ao câncer constitui variável interveniente significativa sobre os resultados do tratamento, podendo, inclusive, afetar a evolução da doença e de sua sobrevivência (CAREY & BURISH, 1988; SCOTT, 1994; SIMONTON, MATTHEWS-SIMONTON & CREIGHTON, 1987).
Acredita-se na possibilidade de contribuições psicológicas também no crescimento do câncer. Inúmeros pesquisadores vêm estudando possíveis efeitos de estados emocionais na modificação hormonal e desta na alteração do sistema imunológico
Santos (2004) infere que no decorrer do tratamento oncológi-co, alguns pacientes incorporam o câncer como uma experiência que a eles foi dada e que a eles pertencem. Fazem desse momento uma parte de sua história, favorecendo a aceitação e o acolhimento da vivência do adoecimento, implicando em convívio e conforma-ção, num sentido de apropriação.
De acordo com a autora, o preparo psicológico para uma ci-rurgia oncológica objetiva um processo de corresponsabilidade en-tre paciente, família e equipe, onde o que se procura garantir são:
• A compreensão do diagnóstico e prognóstico de tratamento;
• A reflexão sobre as consequências desse tratamento em sua vida;
• A ponderação sobre ganhos e perdas com a cirurgia;
• A participação ativa no processo;
• Os medos e fantasias frente ao tratamento que possam aparecer e ser expressados;
• A reorganização de sua vida frente a sua nova condição.
A psicoterapia com estes pacientes ajuda no enfrentamento de eventos estressantes, se não-aversivos, relacionados ao processo de tratamento da doença, entre os quais estão os períodos prolongados de tratamento, a terapêutica farmacológica agressiva e seus efeitos colaterais, a submissão a procedimentos médicos invasivos e poten-cialmente dolorosos, as alterações de comportamento da pessoa as-sistida (incluindo desmotivação e depressão) e os riscos de recidiva.
Percebe-se que os pacientes oncológicos vivenciam em seu mundo subjetivo um estereótipo negativo acerca da doença, o que pode dificultar sua adesão e recuperação no tratamento. Acredita-se também na possibilidade de que questões emocionais não elabora-das, como traumas e vivências de luto podem incidir no aparecimen-to e crescimenaparecimen-to da doença. Em relação a estas vivências, podemos destacar: eventos estressantes, divórcios, perda de um ente querido, cuidar de um parente em estado terminal, desemprego, dentre outros fatores que podem afetar o funcionamento imunológico do indivíduo.
Essa realidade faz com que o paciente e seus familiares assu-mam papéis que não foram escolhidos e sim impostos pela fatalidade do adoecimento, interrompendo planos, ideais e perspectivas futuras.
Por sua vez, saber que se tem uma doença sem causa definida traz ainda mais angústia e culpa. Vislumbrar o futuro passa a ser muito doloroso, uma vez que os tratamentos propostos implicam em possí-vel mutilação, náuseas, vômitos, alopecia, além de alterações na vida sócio afetiva. Ansiedade e depressão estão entre os problemas psico-lógicos mais frequentes entre as pessoas com câncer.