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OCUPAR PARA PRODUZIR

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

feijão. A maior média apresentada – não se levando em conta o único inventariado que criava gado e cultivava lavouras de tabaco, mandioca, algodão, café, milho e feijão, possuindo um total de 88 escravos – foi de 63,4 escravos para três inventariados que desenvolviam a pecuária associada à produção açucareira, mas que tinham nesta última a sua principal atividade. Quando essas duas aparecem associadas ao cultivo da mandioca, a média de 52 escravos ainda se mostra muito alta.

Os dados encontrados para a elaboração da Tabela 6 talvez não indiquem a realidade escravista que comumente é debatida por pesquisadores da área, quando afirmam a pouca presença de escravos nas fazendas de gado. Porém, a localização geográfica que privilegiou a diversidade econômica de Feira de Santana permitiu que se instalassem unidades policultoras – pecuária e agrícola –, com o uso da mão-de-obra escrava em pequena e em larga escala.

Na freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, zona de produção essencialmente de pecuária, Iara Rios, cruzando dados de várias fontes como cartas de alforria e livros de escrituras de compra, venda e hipoteca de escravos, encontrou 169 proprietários escravistas – correspondendo a 92% do total encontrado – com até cinco escravos nas fazendas da referida freguesia, entre o período de 1856 a 1883130.

Assim, gado miúdo ou de grande porte, a pecuária se manteve como uma atividade econômica importante para a região de Feira de Santana, sendo responsável, inclusive, pela ocupação das suas terras desde a época colonial. Essa ocupação inicial pela pecuária contribuiu, posteriormente, para a introdução de atividades agrícolas que ampliaram a presença do trabalho escravo na região.

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

129 Optamos em apresentar essa tabela no tópico seguinte sobre produção agrícola, em razão do uso da mão-de-

obra escrava ser mais explorada nessa atividade.

Dentro da região de Feira de Santana havia diferentes zonas de solo, clima e vegetação, como a de Humildes, com características semelhantes às do Recôncavo, e as restantes, onde o clima semi-árido favorecia a cobertura do solo pela caatinga. Entretanto, havia também subáreas favoráveis à produção agrícola, como os tabuleiros, cujo solo arenoso favorecia o cultivo de tabaco e mandioca.

Consorciada à pecuária, a produção agrícola de gêneros voltados para a subsistência – mandioca, feijão e milho – e exportação – tabaco, algodão e cana-de-açúcar – também se fez presente nas fazendas de Feira de Santana. O cultivo desses gêneros marcou algumas zonas da região desde os tempos da Colônia, como a lavoura do tabaco, principalmente em São José das Itapororocas. A mandioca, matéria-prima para a confecção da farinha, deixou marcas profundas na produção agrícola da região. Consumida pelos índios do Brasil antes da chegada dos portugueses, o seu cultivo era associado à plantação do feijão e do milho, cuja produção seguia para comercialização e consumo na fazenda. A produção do algodão e da cana-de-açúcar, embora não tenham deixado traços marcantes na economia local, figurando como produtos secundários, foram responsáveis pela grande utilização de mão-de-obra escrava em boa parte das terras de Feira de Santana.

Tabaco

Depois da pecuária bovina, o cultivo do tabaco foi a segunda atividade econômica mais importante da região. Planta nativa da América, sendo cultivada pelos índios, que a chamavam de petim ou petun, o tabaco, logo com a chegada dos portugueses, foi apreciado por eles que o tomaram por “gosto e vício”131.

O seu cultivo exerceu um grande papel na história da economia baiana, cuja a produção iniciou-se por volta da segunda década do século XVII, na zona de confluência dos rios Paraguaçu e Jacuípe e além da orla do Recôncavo132. Era essa região conhecida como os “campos da Cachoeira”, de onde se espalhou para os campos arenosos de São José das Itapororocas, Serrinha, Irará, Santo Amaro e Pedrão133.

Em 1711, Antonil dizia ser o fumo “um dos gêneros de maior estimação que hoje saem desta América meridional para o Reino de Portugal e para outros reinos e repúblicas de nações estranhas” 134. Naquele período, o seu comércio se fazia através da exportação para

131 VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p.

256.

132 MATTOSO, op. cit., p. 463. 133

SCHWARTZ, op. cit., p. 84.

Portugal e, deste, para outros países europeus como Holanda, França e Espanha, lugares onde reputavam a qualidade do fumo do Brasil. Comercializava-se com a África, na troca (escambo) por escravos, para utilizar a mão-de-obra destes nos engenhos, na exploração de minérios, bem como na própria lavoura fumageira. E, ainda que em menor volume, o fumo circulava na própria Colônia para consumo interno135. Durante aquele período, essa lavoura só perdia em importância para o açúcar136.

Embora não se disponha de uma descrição pormenorizada e completa de uma fazenda de fumo – como se encontra sobre o engenho de açúcar –, as informações minuciosas acerca do processo de cultivo e manufatura são suficientes para demonstrarem que a organização da produção do fumo era semelhante à complexidade que envolvia a da cana-de- açúcar. Podemos depreender que ambas as produções eram monocultoras e escravistas, cujos interesses comerciais estavam voltados para o mercado externo137.

A lavoura de fumo requeria um cuidado especial, cujo trabalho contínuo e infatigável justificava a utilização do braço escravo naquela produção. Como não encontramos dados quantitativos nos inventários que nos permitisse a elaboração de uma tabela referente à produção agrícola e pecuária amparadas no trabalho escravo, recorremos à uma outra onde separamos cada inventário com a produção existente e o número de escravos que atuavam nas referidas atividades.

TABELA 6