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2. A III Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian

2.2. A III Exposição de Artes Plásticas

2.2.1. Produção da Exposição

A informação mais antiga conservada no Arquivo do Centro de Arte Moderna relativa à produção da III Exposição de Artes Plásticas82 é datada de 6 de Março de 1986, e é da autoria de Sommer Ribeiro83. Este documento diz respeito à reserva das Galerias de Exposições Temporárias de 20 de Julho até princípios de Setembro para “uma exposição de arte portuguesa”, justificando a realização da III Exposição de Artes

Plásticas, pelo sucesso das edições anteriores e pela sua influência na mudança do

panorama da arte portuguesa. Propõe, ainda, que, dada a sua dimensão, a sua organização fique a cargo não apenas do CAM e do Serviço de Exposições e Museografia, mas também do Serviço de Belas Artes. Neste documento, refere-se a intenção de constituir, para além de um júri de Selecção e Premiação, uma Comissão Executiva, tal como acontecera nas exposições anteriores, devendo esta integrar um professor de História da Arte Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, o Presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes e um representante da Secção Portuguesa da AICA.84 É ainda proposto que todas as obras premiadas sejam adquiridas e integradas no acervo do Centro de Arte Moderna.85

No fim deste apontamento, informa, ainda, que foi contactado pela Secção Portuguesa da AICA com o objectivo de se realizar uma exposição de Prémios por ela atribuídos ao longo dos anos, pedido esse que recusou com a justificação de considerar que “tal exposição nos iria criar problemas não só porque nos iria limitar o número de artistas a expor, como também, e muito principalmente, porque a maioria dos artistas

81

Ver nota 76. RIBEIRO, José Sommer, Nota nº 305/86, Lisboa: 4 de Setembro de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

82

Ver lista da documentação consultada na secção final do relatório.

83

RIBEIRO, José Sommer, Apontamento. Nota para o senhor presidente. Lisboa: 6 de Março de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

84

Associação Internacional de Críticos de Arte.

85

RIBEIRO, José Sommer, Nota nº 305/86. Lisboa: 4 de Setembro de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

contesta os critérios de escolha da Secção Portuguesa da AICA”8687

, o que não deixa de ter uma certa ironia, visto os critérios utilizados pelo Júri de Selecção e Premiação da III

Exposição terem sido um dos elementos mais contestados pela crítica na altura.

Nos meses que antecederam a primeira reunião, foram enviadas várias cartas com o propósito de divulgar a realização da III Exposição e de solicitar a participação de algumas figuras no Júri de Admissão e Premiação, como no caso da carta enviada a 26 de Março de 1986, pedindo a nomeação de um representante da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, ou no caso do convite dirigido a José-Augusto França, logo declinado por este ter assumido outros compromissos com o Congresso da AICA, que se realizaria logo após à III Exposição.

No mês seguinte, a 7 de Maio de 1986, reuniram-se pela primeira vez os membros do Júri de Admissão e Premiação, presidido por Pedro Tamen (administrador do pelouro das Belas Artes da FCG), e composto pelo Arquitecto Frederico George, representante da Academia Nacional de Belas Artes, o Escultor Lagoa Henriques, representante da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, o Professor Dario Alves, representando a Escola Superior de Belas Artes do Porto, o Pintor Fernando de Azevedo, da Sociedade Nacional de Belas Artes, Rui Mário Gonçalves, representante da Secção Portuguesa da AICA, e José Sommer Ribeiro, director do Centro de Arte Moderna e do Serviço de Exposições e Museografia.

Foi, ainda, durante esta reunião, aprovado o Regulamento da III Exposição de

Artes Plásticas, definidos os prémios a atribuir e decidido que todas as obras premiadas

seriam incorporadas no acervo do Centro de Arte Moderna. 88 Os prémios correspondiam às secções de Pintura, Escultura e Arquitectura /Design (500 contos cada), e Desenho, Gravura, Instalações/Objectos, Fotografia e Vídeo (200 contos cada).89 O júri poderia, ainda, recomendar a aquisição de outras obras, o que mostra a

86

RIBEIRO, José Sommer. Apontamento. Nota para o senhor presidente. Lisboa: 6 de Março de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

87 Sobre esta questão, lembramos o fim do financiamento da Soquil ao prémio da AICA, em 1972, como

reacção às polémicas geradas, opondo alguns artistas e intelectuais aos membros da SP/AICA. Tal como afirma Afonso Ramos: “um grupo de profissionais da crítica toma as rédeas e decide por fim ao velho costume dos artistas avaliarem os seus pares, distinguindo uma multidão de artistas plásticos em menos de cinco anos, acordou o meio artístico nacional com uma turbulência tremenda.” RAMOS, Afonso. 2011 P. 47.

88 Acta da primeira reunião do júri de Admissão e Premiação da III Exposição de Artes Plásticas. Lisboa: 7

de Maio de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

89

Nota para a alteração dos valores dos prémios a atribuir, que se tornam mais homogéneos, não sendo tao hierarquizados como pensado anteriormente: Pintura – 500 contos, Escultura – 500 contos,

grande preocupação da Fundação, através de Sommer Ribeiro, na aquisição de novas peças, a fim de de fortalecer a colecção do CAM.

O Regulamento da III Exposição de Artes Plásticas90, permitia a participação de todos os artistas portugueses e estrangeiros, desde que residentes em Portugal, com obras posteriores a 1980. Estas deveriam ainda estar disponíveis para serem adquiridas, não ultrapassando o total de cinco, aspecto que sofreu algumas alterações, pois nas primeiras versões do Regulamento, cada artista apenas se poderia fazer representar por dois trabalhos nunca antes apresentados em exposições públicas. Entre outros pontos explicitados no Regulamento, destaca-se o curto prazo disponível para a entrega de trabalhos (de 16 a 19 de Junho), o facto de todos os artistas premiados nas anteriores Exposições de Artes Plásticas poderem participar, não tendo o seu trabalho que passar pelo processo de admissão. Todas as obras seriam cobertas por um seguro, não excedendo o valor comercial de cada uma a quantia máxima de 500 mil escudos, deixando este de proteger as peças após 3 de Outubro, data limite para o seu levantamento.91

O Regulamento foi enviado para os diferentes Órgãos de Comunicação Social e a galerias de arte em Lisboa e no Porto, seguido de uma notícia institucional enviada pela Fundação, com a nota de que iria ser realizada uma Conferência de Imprensa antes da inauguração da Exposição.

Esta primeira reunião do Júri é, ainda, bastante esclarecedora quanto à preocupação de incluir, na Exposição, apenas os melhores artistas, mostrando-se os seus membros cépticos relativamente à excessiva facilidade na admissão dos candidatos: “porque estas ajudas poderiam facilitar a participação de artistas de menor qualidade e ainda porque se podia criar desigualdades em relação a artistas que residem em outras regiões do país”, referindo-se em concreto à possibilidade da Cooperativa Árvore poder ajudar no transporte de obras do Porto a Lisboa, facilitando o acesso de artistas que não viviam na capital. Ao mesmo tempo, Dario Alves levantou a dúvida em relação à premiação da categoria de Design, “pois isso iria permitir o aparecimento de cartazes,

Arquitectura – 300 contos, Desenho – 200 contos, Gravura – 100 contos, Instalações e Objectos – 250 contos e Fotografia e Vídeo – 150 contos.

90

Regulamento da III Exposição de Artes Plásticas. Lisboa: 7 de Maio de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

etc…”, o que teve como consequência que esta categoria fosse associada à de Arquitectura, que foi alterada, assim, para Arquitectura/Design.

Também a questão da participação de bolseiros e ex-bolseiros da FCG foi discutida, sendo colocada por Fernando de Azevedo, que sugeriu o envio da Circular com o respectivo Regulamento aos mesmos, com a intenção de não se ignorar a acção da própria Fundação.

Já na segunda reunião, foram convocados os representantes dos artistas, Gil Teixeira Lopes (GITELO) e Rocha de Sousa, que acabou por substituir Fernando de Azevedo por este já fazer parte do Júri.92 O processo de escolha dos representantes no Júri foi esclarecido por Gil Teixeira Lopes numa entrevista ao J.L., em que o mesmo explica que estes eram indicados pelos artistas concorrentes no Boletim de Inscrição, podendo ser, eles próprios, concorrentes.93

Para a análise da organização e museografia da III Exposição de Artes Plásticas muito teria contribuído a realização de um documentário de três minutos sobre os trabalhos preparatórios desta Exposição, que se focaria nos seus aspectos mais importantes, como a apreciação do Júri e inauguração, e que iria ser estreado em três cinemas de Lisboa e dois cinemas do Porto. Este projecto proposto pelo Jornal “Cineforma Magazine” a 17 de Junho de 1986, e a que Sommer Ribeiro faz referência numa carta a Pedro Tamen, chegou a ser autorizado, mas aparece num pequeno manuscrito de 19 de Julho do mesmo ano enquanto “sem efeito”.94

Foi, no entanto, realizado um vídeo da Exposição, a preto e branco, que integrou os programas culturais da RTP, transmitidos durante o mês de Agosto de 1986, e que incluiu uma apresentação da Exposição, na qual foi explicada a sua relevância. Além de uma entrevista a Sommer Ribeiro, o vídeo continha imagens dos prémios da I, II e III

Exposições de Artes Plásticas, em retrospectivas de 4 minutos para cada núcleo, e uma

92

Acta nº2 da reunião do júri de Admissão e Premiação da III Exposição de Artes Plásticas. Lisboa 21 e 22 de Junho de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

93 H.B. “Gil Teixeira Lopes: “O interesse pela gravura tem vindo a diminuir”” in J.L. Jornal de letras, artes e ideias. 11 a 17 de Agosto de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

94

RIBEIRO, José Sommer da França, Nota ao Dr. Pedro Tamen, Lisboa: 19 de Julho de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

entrevista a cada um dos artistas premiados no último certame. No final do vídeo, eram analisadas as tendências gerais evidenciadas por esta Exposição.95

Esta investigação permitiu, ainda, encontrar um conjunto de 29 questionários preenchidos anonimamente96 por visitantes da Exposição, cuja distribuição, explicada na Acta 41/86, foi determinada pelo Conselho de Administração com o objectivo de “auscultar as reacções do público”. Este documento era de preenchimento facultativo97

e questionava o público sobre a falta de uma alguma modalidade que não estivesse representada na Exposição, qual deveria ser a sua frequência (trienal/quatrienal/quinquenal) e, por último, quais as obras que mais tinha apreciado. Relativamente à primeira questão, é um muito interessante verificar o conhecimento sobre arte contemporânea dos visitantes que responderam a este questionário, tendo muitos respondido “Performance”. À segunda pergunta, a opção “Trienal” é a que tem mais votos. Quanto à terceira questão, também é interessante verificar que por vezes as obras mais apreciadas não são correspondem aos trabalhos premiados, nomeadamente nas categorias de Escultura (que tem em João Cutileiro o artista mais votado), Instalação/Objecto (em que se destaca Sam) e Fotografia (categoria em que se destacou Ana Esquível). Muitos inquéritos aparecem incompletos, mas mesmo nos que se encontram completos, a categoria de Vídeo surge por preencher.98

O catálogo da III Exposição de Artes Plásticas é introduzido por um texto assinado por Sommer Ribeiro, em que o mesmo justifica o atraso da Exposição pela programação e construção do Centro de Arte Moderna, que muito ocupou os serviços da Fundação, acrescentando o surgimento de iniciativas promovidas por outras instituições como Salões, Prémios e Bienais, o que levaria a Fundação a orientar o seu interesse para a arte internacional. No entanto, esta instituição não perdeu a vontade de acompanhar a

95

O vídeo teve o custo de 380 contos, o que incluía o custo total das filmagens (210 contos), as horas de montagem (10 contos), o custo total da realização técnica da montagem (70 contos), a elaboração do guião (10 contos), o custo total das entrevistas (40 contos), a locução e sonoplastia (20 contos), os efeitos especiais de montagem (20 contos) e as cassetes (10 contos).RTP. III Exposição de Artes Plásticas

da Fundação Calouste Gulbenkian [Registo Vídeo]. Lisboa: RTP. 1986. Inf nº 163/CAM/86. Lisboa: 1 de

Agosto de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

96

Embora estivesse inicialmente previsto que os inquéritos fossem assinados. Acta nº 41/86 da Reunião

do Conselho de Administração. Lisboa: 22 de Julho de 1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna. 97

Idem. Ibidem.

98

Algo que talvez se possa justificar pelo facto de os Vídeos exigirem um tempo maior de observação da parte dos visitantes da Exposição.

dinâmica das Artes Plásticas em Portugal, enumerando, de seguida, após a assinatura dos vários membros do Júri, os artistas e obras presentes em cada área:

Secções

Artistas

Obras

Pintura 100 130 Escultura 47 52 Arquitectura/Design 29 35 Desenho 30 39 Gravura 18 25 Instalação ou Objectos 11 13 Fotografia 31 41 Vídeo 7 9 Total 246 344

O texto seguinte do catálogo diz respeito à Acta nº3, da 6ªa sessão de trabalho do Júri de Selecção e Premiação. Nesta, surgem, em cada categoria, os nomes dos artistas indicados pelo Júri, aqueles que foram premiados e que obras recomendava para aquisição. A categoria de Vídeo destaca-se por ser a única de votação unanime e sem quaisquer recomendações de obras a adquirir.

Segue-se uma lista dos artistas premiados e, em cada secção, há uma lista dos artistas presentes na Exposição, seguida por imagens a preto e branco das peças apresentadas.99 A única excepção cabe à categoria de Vídeo, em que apenas os artistas representados são enunciados. O catálogo integra, nas suas ultimas páginas, biografias dos artistas participantes, realizada por uma equipa de investigação conduzida por Margarida Acciaiuoli Brito. A informação documental consultada respeitante à colaboração do Departamento de Documentação e Pesquisa na Exposição dá conta da dificuldade sentida ao nível da investigação para o Catálogo, dado que não se encontravam acessíveis ou não existiam quaisquer dados biográficos da maioria dos

99

Sobre estas imagens, existe na documentação respeitante à III Exposição de Artes Plásticas pertencente ao Arquivo do CAM uma nota de Sommer Ribeiro a Guimarães Lobato, autorizando o pagamento de 500 contos ao fotógrafo António Gois pela fotografia das peças a exibir no catálogo.

artistas seleccionados: de 102 artistas participantes, apenas 14 biografias se encontravam concluídas e arquivadas. Numa época em que a internet e os seus motores de pesquisa ainda não existiam, o tratamento da informação respeitante aos artistas e à produção artística contemporânea era um caminho por desbravar, começando-se, a partir deste evento, a estabelecer contactos com a intenção de actualizar os dossiers de artistas.100

A organização do catálogo respeita à museografia e premiação da III Exposição, apresentando os artistas e suas obras por categorias. A organização dos nomes da lista dos artistas seleccionados e das suas biografias parece, no entanto, não seguir qualquer critério, constando alguns através do seu apelido e outros através do primeiro nome, o que dificulta bastante a consulta.

O orçamento da exposição, num total de 24.646.967$00, revela a preocupação da Fundação em montar uma grande exposição que estivesse à altura do seu trigésimo aniversário. O quadro que se segue faz a discriminação dos custos de produção101:

Descrição

Custo (Escudos)

Fichas de inscrição 16.936

Transporte e embalagem de obras de arte 104.050 Fornecimento de pessoal (RN TRANS) 193.444

Montagem 52.066

Despesas de representação 55.978

Legendas 104.400

Construções António Martins Sampaio Lda 1.595.806

Prémios 2.500.000

100 ACCIAIUOLI, Margarida. Nota para o Senhor Director do Centro de Arte Moderna. Assunto: Panorama da organização documental do catálogo III Exposição Geral de Artes Plásticas. Lisboa: 27 de Junho de

1986. FCG: Arquivo do Centro de Arte Moderna.

101 O orçamento da Exposição encontra-se presente em várias notas relacionadas com a documentação

da III Exposição de Artes Plásticas pertencente ao Arquivo do Centro de Arte Moderna. Para uma informação discriminada destes apontamentos, ver Bibliografia - Orçamento da III Exposição de Artes Plásticas, p. 62.

Aquisições 4.591.000 Seguradora Fidelidade 460.000 Vídeo 380.000 Catálogo 4.949.600 Cartazes 374.000 Convites 45.000 Publicidade 2.766.221 Vigilância 749.401 Festa 30º aniversário 4.563.644

Fotografias para o catálogo (António Góis) 500.000 Pagamentos aos investigadores 150.000

Pagamentos ao Júri 469.900

Agencia Star (devolução de obras) 19.805 Deslocação de uma conservadora a Braga 5.725

Total 24.646.967

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