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2.5 O CONSUMO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS

2.5.1 Produção e consumo de orgânicos no Brasil

O Brasil, considerando o crescimento das atividades voltadas para a produção de alimentos caracterizados como orgânicos, editou a Lei nº 10.831/2003, definindo o produto organânico, no Art. 2°, como “produto da agricultura orgânica ou produto orgânico, seja ele in natura ou processado, aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local”. No Art. 3º da referida lei, destaca-se que: “Para sua comercialização, os produtos orgânicos deverão ser certificados por organismo reconhecido oficialmente, segundo critérios estabelecidos em regulamento”.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2017), a área de produção orgânica no país ultrapassa os 750 mil hectares cultivados e registrados em 2016, impulsionada, principalmente, pela agricultura familiar. Segundo a Coordenação da Agroecologia (COAGRE), houve um salto de 6.700 unidades de produção em 2013, para

aproximadamente 15.700 unidades em 2016, isto é, em apenas três anos foi registrado mais que o dobro de crescimento desse tipo de plantio nos solos brasileiros. A Tabela 4 apresenta a produção de alimentos orgânicos no Brasil, separada por regiões.

Tabela 4

Produção por regiões de alimentos orgânicos no Brasil

Região Mil de hectares

Sudeste 333 Norte 158 Nordeste 118 Centro-Oeste 101 Sul 37,6 Nota. Mapa (2017)

Segundo dados do Portal do Governo do Brasil (Brasil, 2018), a agricultura orgânica movimentou aproximadamente 2,5 bilhões de reais em 2016, com estimativas de crescimento entre 20% a 30% para os próximos anos e expansão para 950 mil hectares cultivados com esse tipo de atividade agrícola, variando entre produção de hortaliças, cana-de-açúcar, arroz, café, castanha do Brasil, cacau, açaí, guaraná, palmito, mel, sucos, ovos e laticínios, por exemplo. Entre esses produtos, o açúcar, o mel, as oleaginosas, as frutas e as castanhas são exportadas para mais de 76 países. No entanto, considerando os dados mundiais, o Brasil é o 102º colocado no que se refere ao total da área agrícola versus área para produção de orgânicos, fato que se comprova pela observação dos últimos dez anos, nos quais ocorreu uma redução de 182 mil hectares da área total (IFOAM, 2018).

O mercado consumidor brasiliero, com base no Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável1 (Organis, 2017), indica que 15% da população brasileira2 consome algum alimento orgânico. Entre as regiões, o Sul se destaca com a maior incidência de consumo de orgânicos, com 34% do total, seguido pela região Centro-Oeste, com 21%, Nordeste, 15%, e Sudeste, com 10%. Os dados do Organis (2017) revelam que, entre os protudos mais consumidos, a alface se destaca, com um em cada três consumidores declarando o consumo desse tipo de alimento, seguido pelo tomate (um em cada cinco consumidores) e as verduras em geral (seis em cada dez consumidores).

1 Segundo o Organis, a pesquisa de 2017 é a primeira nacional sobre o consumidor de produtos orgânicos. 2 Os números da pesquisa realizada pelo Organis não registraram dados da região Norte do País.

Ainda com base no Organis (2017) os vegetais representam 63% dos produtos orgânicos consumidos, enquanto as verduras e as frutas representam 25% cada uma do consumo geral e os cereais 12%. Dentre os motivos que levam a consumir produtos orgânicos, a busca pela saúde é o principal em todas as regiões pesquisadas, com destaque para a região Centro-Oeste, onde 86% dos consumidores ressaltaram a saúde como principal motivador. Analisando a frequência de compra, 11% dos consumidores adquirem esses produtos mais de uma vez na semana, enquanto 18% adquirem uma vez por semana. Referente à frequência de consumo, 30% consomem produtos orgânicos a cada 15 dias e 37% uma vez por mês, e a maior parte, quatro em cada dez, consomem orgânicos uma vez por mês (Organis, 2017).

Para o Organis (2017), o varejo convencional é o principal canal de compra de produtos orgânicos, representando 64% de vendas de orgânicos no Brasil, seguido pelas feiras, com 26%. O destaque de consumo de orgânicos é para a região Sul, com 71% das compras realizadas em supermercados, enquanto a região Nordeste, cujas feiras têm maior representatividade, apresenta 42% do total das compras da região. Considerando os fatores demográficos, a população com menores renda e escolaridade é a que menos tende a consumir orgânicos, enquanto a parte da população com 55 anos ou mais alega que a escolha de orgânicos se justifica com base na melhora da saúde.

Ainda segundo o Organis (2017), 95% dos consumidores destacam que a presença de selo certificando o produto como orgânico influenciou na decisão de compra, sendo que as mulheres apresentam maior confiança no selo como meio de informação sobre o produto. Observando os critérios de escolha, o preço é o principal fator decisor de compra (43%), seguido pela confiança (28%) e quantidade (21%). Apenas na região Nordeste, a confiança foi o principal fator na decisão de compra; nas demais regiões, o preço foi o principal elemento. Já o fator disposição em aumentar o consumo de orgânicos, 84% dos consumidores gostariam de consumir esses tipos de produtos, no entanto, oberva-se que a falta de preços acessíveis (62%) é uma das principais barreiras para se efetivar a compra/consumo. Outro fator é a falta de lugares próximos para a compra (32%). Na região Sul, por exemplo, a principal dificuldade foi a localização e, nas demais regiões, há predominância do fator preço.

Outro ponto fundamental associado ao mercado de produtos orgânicos é que metade da população tem interesse em consumi-los, só as regiões Sul e Centro-Oeste representam os maiores índices de receptividade para o consumo (Organis, 2017). Por outro lado, a região Sudeste apresenta a maior resistência à proposta de consumo de orgânicos. Quando questionados, os consumidores dessa amostra apresentaram maior interesse no futuro, pois tendem a esbarrar, em sua maioria, na falta de acesso, seguido dos elevados preços. Por fim, é

visível que existe uma demanda latente por maior clareza e informações sobre produtos orgânicos, mesmo que haja um indicativo de crescimento de 25% no consumo desse tipo de alimento por parte da população das grandes cidades.

3 O PRESENTE ESTUDO