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4. PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL:

4.4 Dimensões Econômicas do Programa

4.4.1 Produção e Custos das Principais Oleaginosas

Conjuntamente com o álcool, os óleos vegetais compõem as principais fontes para obtenção de biocombustíveis. A tecnologia de produção de óleo diesel vegetal, por meio do processo de transesterificação, é conhecida e aplicada industrialmente, em diversas regiões do mundo (PERES et al, 2005).

No Brasil, existem diversas fontes potenciais de oleaginosas para a produção de biodiesel, dada a ampla diversidade do ecossistema. Essa é uma vantagem comparativa que o país possui em relação a todos os outros produtores de oleaginosas.

De modo geral, a diversidade de matérias primas, processos e usos para o biodiesel é uma grande vantagem, mas traz consigo um dos grandes problemas envolvendo o negócio de biodiesel em todo o mundo: a concorrência deste com as diversas cadeias e indústrias que utilizam as mesmas matérias-primas (óleos vegetais), que hoje são pleiteadas para produção do biocombustível (CARVALHO, VILELA & OLIVEIRA, 2007).

Indústrias químicas, de alimentos, farmacêuticas, de cosméticos e outras têm como base os mesmos óleos vegetais utilizados para produção de biodiesel, o que poderá gerar competição e elevação dos preços até um novo ajuste de oferta.

Os mercados interferentes geram uma maior complexidade para compreensão e ação no negócio de biodiesel, exigindo atenção em todos os movimentos nas diversas cadeias, além do próprio mercado de petróleo e diesel e de outros combustíveis, como o álcool. (Ver Figura 14)

Figura 14 – Biodiesel e Mercados Interferentes Fonte: CARVALHO, VILELA & OLIVEIRA, 2007.

De forma geral, pode-se afirmar que monoalquil-ésteres de ácidos graxos podem ser produzidos a partir de qualquer tipo de óleo vegetal, mas nem todo óleo vegetal pode (ou deve) ser utilizado como matéria-prima para a produção de biodiesel. Isso porque alguns óleos vegetais apresentam propriedades não ideais, como alta viscosidade ou alto número de iodo, que são transferidas para o biocombustível e o torna inadequado para o uso direto em motores do ciclo diesel. Portanto, a viabilidade de cada matéria-prima dependerá de suas respectivas competitividades técnica, econômica, sócio-ambiental e passam, inclusive, por importantes aspectos agronômicos, tais como: (a) o teor em óleos vegetais; (b) a produtividade por unidade de área; (c) o equilíbrio agronômico e demais aspectos relacionados ao ciclo de vida da planta; (d) a atenção a diferentes sistemas produtivos; (e) o ciclo da planta (sazonalidade); e (f) sua adaptação territorial, que deve ser tão ampla quanto possível, atendendo a diferentes condições edafoclimáticas (RAMOS apud RAMOS et al, 2003).

São diversas as fontes para extração de óleo vegetal que podem ser utilizadas para a produção de biodiesel, entre elas: a semente de girassol, a mamona, a semente de canola, a amêndoa do côco de dendê, a amêndoa do côco de babaçu, a polpa do dendê, o caroço de algodão, a semente de linhaça, o grão de amendoim, a amêndoa do côco da praia, a semente de maracujá, a polpa de abacate, nabo forrajeiro, a semente de tomate e de o caroço de oiticica. Algumas plantas nativas como o pequi, o buriti e a macaúba, apresentam um potencial relevante para a produção do diesel vegetal, entretanto, as suas produções são extrativistas e não há plantios comerciais para produção de biodiesel.

A produção mundial de oleaginosas é crescente. Cerca de 50% do total de óleos vegetais consumidos no mundo provém da soja e da palma. Estima-se que a produção das dez principais plantas oleaginosas do mundo deverá alcançar 386 milhões de toneladas em 2006/07, sendo 221 milhões de toneladas somente de soja (57% do total). (Tabela 5)

Tabela 5 – Produção mundial de oleaginosas.

Produto Previsão 2006/07 2005/06 2004/05 2003/04 Crescimento anual 1995/96 - 2005/06

Soja 220,81 220,19 216,55 185,39 + 6,1% Caroço de algodão 42,53 42,54 45,10 36,10 + 2,2% Amendoim 22,86 24,02 23,62 23,58 + 1,7% Girassol 29,67 30,17 26,24 26,91 + 2,0% Canola 47,02 49,07 46,09 39,00 + 4,2% Palma 10,30 9,67 8,90 8,13 + 7,5% Mamona 1,21 1,44 1,35 1,15 + 2,2% TOTAL 385,79 388,61 378,36 330,66 + 4,3%

Fonte: World Oil apud CARVALHO, VILELA & OLIVEIRA (2007).

Existem algumas características que podem ser analisadas para saber se o cultivo da matéria-prima agrícola é viável para a produção. Cada oleaginosa, por exemplo, dependendo da região na qual é cultivada e segundo as condições de clima e de solo, apresenta características específicas na produtividade por hectare e na percentagem de óleo obtida da amêndoa ou grão. A produtividade obtida também está diretamente associada às condições de clima e do sol, às tecnologias de cultivo, à qualidade de semente e às tecnologias de processamento praticadas. A seguir, a tabela 6 ilustra a relação das espécies, produtividade e rendimento de algumas oleaginosas com potencial uso para fins energéticos. Em termos de rendimento de óleo, merecem destaque o dendê, o côco e o girassol. Também merece ser comentada a cultura da mamona, pela resistência à seca (MEIRELLES, 2003).

Tabela 6 – Características de algumas oleaginosas com potencial de uso energético.

Espécie do Óleo Origem

Conteúdo de Óleo (%) Ciclo de Máxima Eficiência (anos) Meses de Colheita Rendimento (tonelada óleo/ha)

Dendê (Palma) Amêndoa 20,0 8 12 3,0 - 6,0

Abacate Fruto 7,0 - 35,0 7 12 1,3 - 1,5

Côco Fruto 55,0 - 60,0 7 12 1,3 - 1,9

Babaçu Amêndoa 66,0 7 12 0,1 - 0,3

Girassol Grão 38,0 - 48,0 Anual 3 0,5 - 1,9

Colza/Canola Grão 40,0 - 48,0 Anual 3 0,5 - 0,9

Mamona Grão 43,0 - 45,0 Anual 3 0,5 - 0,9

Amendoim Grão 40,0 - 43,0 Anual 3 0,6 - 0,8

Soja Grão 17,0 Anual 3 0,2 - 0,4

Algodão Grão 15,0 Anual 3 0,1 - 0,2

Fonte: NOGUEIRA, L.A.H et al apud MEIRELLES, Fábio (2003). Agência Nacional de Energia Elétrica. Adaptado pelo Departamento Econômico da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (FAESP).

De acordo com Meirelles (2003) e Peres et al (2005), a soja atualmente se afigura como uma das grandes opções para estimular o programa de obtenção de biocombustíveis, despontando, no curto prazo, como principal cultura oleaginosa para suprir a demanda por biodiesel. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja e o maior exportador. A extensão de área plantada é, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de aproximadamente 20 milhões de hectares em 2007, com produção em crescimento e estimada para 56 milhões de toneladas na última safra agrícola. (Figura 15)

Figura 15 – Série histórica da produção de soja no Brasil, em milhões de toneladas. Fonte: MAPA, 2007

Além da soja, outras oleaginosas como o dendê, o amendoim, a mamona, caroço de algodão e girassol também têm apresentado um crescimento significativo em suas produções e merecem destaque dentro da matriz energética de produção do biodiesel.

A produção de óleo de dendê no Brasil, em 2001, era de 100 mil toneladas, sendo que a área plantada desta oleaginosa era de 49 mil hectares. Em 2005, a expectativa de produção era de 170 mil toneladas e da área ocupada era de 64 mil hectares. Pode-se perceber através do gráfico, um crescimento ao longo dos anos. (Figura 16) 6

6 A série histórica da produção de óleo de dendê inicia-se somente em 1995 porque não há dados disponíveis

Figura 16 – Série histórica da produção de óleo de dendê no Brasil, em mil toneladas. Fonte: MAPA, 2007

No caso do girassol, em 1997/98 a produção dessa oleaginosa era de 15,8 mil toneladas em uma área plantada de 12,4 mil hectares. As expectativas para 2006/07 são de um grande crescimento: a produção vai para 120 mil toneladas de girassol em uma área de aproximadamente 80 mil hectares. (Figura 17)

Figura 17 – Série histórica da produção de girassol no Brasil, em mil toneladas. Fonte: MAPA, 2007

Atualmente, o Brasil é o quinto maior produtor mundial e o terceiro maior exportador de algodão do mundo. Para a produção de biodiesel, a parte do algodão que é utilizada é o caroço, que contém alto teor de óleo. A produção dessa matéria-prima no início da década de 1970 era de 1.2 milhões de toneladas e as estimativas para a safra 2006/07 eram de crescimento, com uma safra de 2.2 milhões de toneladas.

Figura 18 – Série histórica da produção de caroço de algodão no Brasil, em milhões de toneladas. Fonte: MAPA, 2007

O amendoim também tem se apresentado como uma alternativa interessante para a produção de biodiesel. No passado, o país produziu muito mais amendoim, mas em virtude de uma série de fatores (baixa tecnologia, presença do Aspergillus), a produção encolheu e, a partir daí, com a melhora dos fatores, atingiu a casa das 300 mil toneladas em 2004/05, voltando a apresentar taxas um pouco menores nos anos seguintes. (Figura 19)

Figura 19 – Série histórica da produção de amendoim no Brasil, em mil toneladas. Fonte: MAPA, 2007

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de mamona, respondendo por 11% da produção mundial com 149 mil toneladas produzidas. A produção brasileira apresentou altas taxas na década de 1980 e depois, sofreu forte queda chegando a 18,8 mil toneladas na safra de 1997/98. Atualmente, a expectativa de produção é de 152,5 mil toneladas (2006/07) em uma área de 209 mil hectares.

Figura 20 – Série histórica da produção de mamona no Brasil, em mil toneladas. Fonte: MAPA, 2007

Quanto aos custos de produção do biodiesel no Brasil, uma pesquisa realizada pelo CEPEA (2006) considerou o uso de matérias-primas compatíveis com as respectivas vocações agrícolas de cada região do país. Este estudo resultou, portanto, na análise das seguintes oleaginosas: Região Sul: soja e girassol; Região Sudeste: soja, girassol e amendoim; Região Centro-Oeste: soja, caroço de algodão e girassol; Região Nordeste: soja, caroço de algodão e mamona; Região Norte: soja, mamona e dendê.

O estudo apresentou cálculos e análises dos custos de produção do biodiesel partindo da agricultura até a usina. Foi considerada a produção do óleo diesel vegetal a partir das matérias-primas citadas anteriormente, nas cinco macrorregiões do país, em três escalas industriais (10.000 t/ano, 40.000 t/ano e 100.000 t/ano) . Em uma parte da análise, o custo foi calculado levando em consideração a inserção da matéria-prima agrícola a custo de produção e, na outra parte, foi feita uma avaliação do preço regional do mercado. O trabalho considerou unidades industriais que integram o esmagamento da matéria-prima agrícola para a obtenção de óleo e o processamento do biodiesel propriamente. (CEPEA, 2006)

Um resumo dos resultados apresentados pela pesquisa pode ser observado nas figuras 21 e 22. Como é possível perceber, as figuras são uma síntese dos custos de produção em unidades industriais de 40 mil toneladas por ano. Na primeira, quando o custo é analisado a partir da matéria-prima agrícola a custo de produção (com arrendamento), o valor do caroço de algodão no Nordeste apresentou-se mais baixo (R$ 0,712/L), seguido da soja no Centro-Oeste (R$ 0,883/L) e do caroço de algodão no Centro-Oeste (R$ 0,975/L). (Figura 21)

Figura 21 – Biodiesel a partir de matéria-prima agrícola a custo de produção agrícola (com arrendamento) em planta de 40 mil toneladas por ano – Safra 2004/2005.

Fonte: CEPEA, 2006.

Já na Figura 22, o custo do biodiesel é analisado a partir da matéria-prima comprada no mercado. O valor do caroço do algodão no Nordeste continua sendo o mais baixo (R$ 0,712/L), seguido do girassol no Sudeste (R$ 0,859/L) e do girassol no Sul (R$ 0,889/L).

Figura 22 – Biodiesel a partir de matéria-prima agrícola comprada no mercado em planta de 40 mil toneladas por ano – Safra 2004/2005.

Embora o estudo realizado pelo CEPEA tenha ficado restrito a algumas culturas, ele é bastante ilustrativo e inovador porque conseguiu calcular o custo do biodiesel em diferentes regiões do Brasil. Os resultados gerais da pesquisa, portanto, indicaram que o biodiesel a partir do caroço de algodão no Nordeste é o mais viável do Brasil.

A variedade de culturas para a produção de biodiesel, como pôde ser observado, é muito grande e o maior desafio atualmente é o de escolher a oleaginosa mais adequada para explorar ao máximo as potencialidades regionais. Há algumas que ainda dependem de maior estudo e do desenvolvimento de melhores tecnologias de produção e de industrialização. Porém, outras já estão em um estágio mais avançado de pesquisa e desenvolvimento tecnológico e estão recebendo investimentos para a expansão de suas produções. Independente da cultura, o plantio de oleaginosas para extração do biodiesel poderá significar para o Brasil, em futuro próximo, o que hoje representa a cana-de-açúcar na produção de álcool. (IICA, 2007)

Além de atender às características regionais, o plantio de oleaginosas permite o consórcio com outras culturas. Este cultivo integrado e a rotação de culturas têm proporcionado a manutenção da qualidade do solo e uma redução nos custos de adubação e de suprimentos de alimentos, além de potencializar o aproveitamento dos recursos da propriedade gerando uma renda a mais para o pequeno produtor e assim, garantir um desenvolvimento sustentável no interior do Brasil, especialmente das regiões mais remotas. Os cultivos consorciados das oleaginosas indicadas para o biodiesel permitem diversas composições como: mamona e amendoim, girassol e milho, mamona e feijão caupí, soja e eucalipto, mamona e dendê, dendê e pimenta, soja e braquiária e sorgo. Por causa dessa multiplicidade de combinações, a escolha das culturas deve ser compatível com a vocação regional, para que haja uma melhor produtividade com o menor custo. Órgãos técnicos, como a Embrapa, podem ser consultados para que o produtor tenha o maior número de informações sobre quais são as culturas de oleaginosas que podem ser consorciadas na região, bem como receber indicações dos locais para a obtenção das cultivares. (SEBRAE, 2007)

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