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Produção de energias renováveis

No documento da matriz energética Brasilieira (páginas 86-90)

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Trajetória evolutiva da matriz energética brasileira

5.1.1 Produção de energias renováveis

Partindo do ponto de partida da crise do petróleo, anteriormente discutida, observa-se que ela também foi responsável pela modificação nos programas energéticos mundiais, pois, a partir do entendimento de que os países estavam substancialmente dependentes de uma fonte energética não renovável, responsável por causar impactos de grande relevância no funcionamento das economias, devido à pressão ocorrente.

Nesta mesma época, começou uma corrida para a diversificação da matriz energética visando uma maior segurança no atendimento à demanda de energia. Com isso, a eficiência energética foi alçada à condição de instrumento privilegiado e, por vezes, um preferencial para a mitigação de efeitos decorrentes das emissões de gases de efeito estufa e destruidores da camada de ozônio. Ao mesmo tempo, ressaltou-se a percepção de que o aumento de eficiência pode constituir uma das formas mais econômica e ambientalmente favoráveis de atendimento de parte dos requisitos de energia.

No início da década de 1970, o Brasil apresentava uma matriz energética renovável composta com maior participação da lenha. Isso fazia com que o país sofresse uma maior pressão relativa ao meio ambiente, no intuito de executar práticas extrativistas, que muitas vezes estavam contidas no grupo da ilegalidade e sem delimitação de limites das próprias espécies que eram devastadas. A Tabela 1 e o Gráfico 6 expõem as principais fontes renováveis, frisando que a evolução das outras fontes renováveis (eólica, solar, biomassa e derivados animais) mostrou crescimento ascendente. A energia hidráulica desde 1970 já era uma das fontes mais produzidas no país, embora o potencial do país não seja totalmente aproveitado.

Tabela 1 – Produção de energia renovável no Brasil, 1970 a 2014

Produção de Energia Primária Renovável (103 tep) Ano Hidráulica Lenha

Produtos da cana-de-açúcar Outras renováveis Produção total renovável 1970 3.421,52 31.851,53 3.600,70 223,24 39.096,99 1971 3.713,63 31.807,22 3.841,81 232,82 39.595,48 1972 4.356,82 32.143,13 4.298,39 301,43 41.099,77 1973 4.976,55 31.897,40 4.644,41 310,58 41.828,93 1974 5.646,13 32.598,65 4.618,65 348,89 43.212,31 1975 6.214,20 33.153,94 4.179,51 362,61 43.910,26 1976 7.127,67 31.881,90 4.748,01 411,64 44.169,22 1977 8.036,06 30.822,13 6.538,73 470,39 45.867,32 1978 8.832,62 29.794,27 7.321,94 560,58 46.509,41 1979 10.021,87 30.374,67 8.254,13 821,72 49.472,38 1980 11.081,57 31.083,35 9.300,96 1.009,94 52.475,82 1981 11.241,29 30.414,95 10.196,41 1.094,36 52.947,01 Continua

Conclusão

Produção de Energia Primária Renovável (103 tep) Ano Hidráulica Lenha

Produtos da cana-de-açúcar Outras renováveis Produção total renovável 1982 12.132,50 29.108,82 12.139,97 1.168,81 54.550,10 1983 13.021,64 30.233,36 15.455,23 1.194,26 59.904,49 1984 14.321,27 33.339,56 16.792,92 1.425,18 65.878,92 1985 15.334,11 32.924,94 19.107,72 1.583,09 68.949,87 1986 15.681,76 32.765,98 17.256,55 1.769,69 67.473,98 1987 15.955,22 32.776,82 20.771,60 1.861,58 71.365,22 1988 17.115,15 32.565,18 19.031,50 2.001,77 70.713,60 1989 17.596,30 32.953,14 18.479,79 1.997,72 71.026,96 1990 17.769,78 28.536,79 18.451,28 2.126,36 66.884,20 1991 18.721,76 26.701,09 20.093,17 2.338,32 67.854,33 1992 19.199,82 25.089,42 20.063,84 2.745,35 67.098,42 1993 20.207,50 24.803,40 19.377,64 2.984,49 67.373,04 1994 20.864,28 24.857,63 22.009,85 3.004,31 70.736,07 1995 21.827,10 23.261,15 21.778,25 2.923,41 69.789,90 1996 22.846,99 21.969,28 23.397,36 3.087,96 71.301,59 1997 23.982,00 21.663,12 25.939,07 3.283,45 74.867,64 1998 25.056,31 21.260,59 25.155,22 3.449,10 74.921,22 1999 25.187,92 22.126,08 24.575,26 3.969,54 75.858,80 2000 26.168,19 23.054,15 19.894,60 4.438,59 73.555,53 2001 23.028,12 22.437,19 22.800,11 4.630,78 72.896,20 2002 24.495,38 23.541,58 25.271,78 4.954,49 78.263,23 2003 26.282,98 25.965,08 28.356,56 5.662,83 86.267,45 2004 27.588,53 28.187,44 29.385,40 5.860,42 91.021,79 2005 29.021,27 28.419,68 31.094,44 6.319,71 94.855,10 2006 29.997,27 28.495,82 35.133,23 6.753,79 100.380,11 2007 32.165,30 28.618,34 40.458,49 7.472,93 108.715,06 2008 31.781,85 29.226,58 45.018,52 8.475,41 114.502,36 2009 33.624,97 24.609,43 45.251,90 9.236,72 112.723,03 2010 34.682,92 25.997,35 48.852,28 10.439,97 119.972,53 2011 36.836,63 25.996,63 43.269,97 11.219,24 117.322,47 2012 35.719,43 25.682,62 45.116,93 11.374,01 117.892,98 2013 33.625,31 24.579,97 49.303,83 10.586,71 118.095,83 2014 32.115,76 24.728,21 49.231,86 12.637,32 118.713,15 Fonte: Elaborado a partir dos dados do Balanço Energético Nacional (EPE, 2015a).

Em complementação à Tabela 1, o comportamento da produção de energia renovável no Brasil pode ser mais bem interpretado quando se verifica o Gráfico 6.

Gráfico 6 - Produção de energia primária renovável no Brasil

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Balanço Energético Nacional (EPE, 2015a).

A produção de fontes energéticas renováveis ressalta uma evolução ascendente, com exceção da produção de lenha. Quando comparada sua produção na década de 1970 a 2014, nota-se que há uma disparidade, pois, no momento inicial da análise a mesma possuía uma participação significativa. Porém, ao logo dos anos, essa tendência foi se modificando, o que culminou numa queda drástica da produção ao final do período sob análise. Essa queda se justifica, possivelmente, pelas mudanças nos padrões de uso energético, com a entrada das grandes geradoras, a partir de fontes hidráulicas, principalmente. Deve-se ainda ao forte discurso de preservação das florestas, que se intensificou com a inserção do conceito de desenvolvimento sustentável, em que desmatar passou a ser um ato muito mal visto pela sociedade. Contudo, era no meio rural em que se utilizava mais lenha e carvão, como fonte energética. Essa realidade vem se modificando através do acesso à eletricidade, por meio de programas de incentivo à descentralização da energia elétrica no Brasil, como o Programa Luz para Todos, lançado em 2003, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, operacionalizado pela Eletrobrás e executado pelas concessionárias de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural, em parceria com os governos estaduais.

Para Pinto Júnior (2007), a lenha que, em 1970, era a principal fonte de energia primária na composição da oferta interna bruta (cerca de 47%), foi progressivamente substituída por outras fontes de energia e sua participação no Balanço Energético Nacional caiu para cerca de 13%, em 2005, seguindo a tendência de queda, chegando a uma participação de 8,1%, em 2014. (EPE, 2015a).

Apesar de haver um aumento no acesso à energia elétrica, tanto no meio urbano quanto no meio rural, o uso de lenha e carvão ainda é comum, pois essas fontes energéticas são responsáveis, principalmente, pelo fornecimento de energia para os setores industrial, serviço, residencial e agropecuário.

A busca por alternativas que viabilizassem a redução da utilização do petróleo como uma das principais fontes geradoras de energia levou o governo brasileiro a incentivar a produção de cana-de-açúcar com o objetivo de produzir etanol para servir como combustível. Nessa perspectiva, surgiu o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Como é possível observar, a produção de produtos da cana-de-açúcar teve um grande incremento a partir da década de 1980, comportamento que corrobora com o que é citado na literatura, chegando ao auge da produção em 2013, com 49.303,83 10³ tep. Coube à Petrobrás efetuar a compra, transporte, armazenamento, distribuição e realização da mistura do álcool à gasolina. (ANP, 2015).

Entre os anos de 2001 e 2002, houve a crise do apagão, crise nacional ocorrida no Brasil, que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica. Foi causada por uma soma de fatores: baixa incidência de chuvas, sobretudo no Sudeste e Sul do Brasil, além da falta de planejamento e investimentos insuficientes em geração e transmissão de energia. Com a escassez de chuva, o nível de água dos reservatórios das hidroelétricas reduziu e os brasileiros foram obrigados a racionar energia. Esse fato é confirmado pela queda na produção de energia hidráulica do ano 2000 para 2001.

Algumas medidas foram tomadas para evitar que esse problema tivesse continuidade. Uma delas foi a implantação Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), em 2004, que incentivou o aumento da capacidade instalada do país, por meio da inserção da produção de energia eólica e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). No mesmo ano, houve o lançamento do Marco Regulatório que estabeleceu as condições legais para a introdução do biodiesel na Matriz Energética Brasileira de combustíveis líquidos, através do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Essa medida possibilitou uma maior inserção de fontes alternativas e proporcionou maior incremento na produção de biomassa. Entretanto, apesar dos incentivos definidos pelo Programa, ainda assim a participação do biodiesel ainda permanece incipiente na matriz energética, tanto que é incluso no grupo de outras fontes renováveis, juntamente com a energia eólica, solar e energia derivada de restos vegetais e animais.

Para além de aspectos econômicos e técnicos, as esferas política e socioambiental da discussão também apontam de forma consistente na direção de energias, como a solar e a

eólica. Em nível global, as fontes renováveis são a principal saída para o desafio das mudanças climáticas, causadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis, como o petróleo. (UNICA, 2016). A saída é complementar a matriz energética, com utilização das fontes mais abundantes que as condições naturais possam oferecer.

Em complementação às discussões feitas anteriormente, o comportamento da produção energética renovável brasileira pode ser melhor representada quando se expõe a participação relativa por fonte, como mostrado no Gráfico 7.

Gráfico 7 – Produção relativa (%) de energia primária no Brasil

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Balanço Energético Nacional (EPE, 2015a).

É necessário citar que o Gráfico 7 evidencia a mudança nos padrões de uso energético no Brasil ao longo da série analisada (1970 a 2014), com maior atenção para a queda da produção de lenha, elevação da participação da energia hidráulica (devido à construção de um maior número de usinas hidroelétricas e maior aproveitamento do potencial hídrico do país), com um crescimento da produção de produtos da cana-de-açúcar (um dos motivos para esse crescimento foi a implantação do Proálcool para a produção de etanol), assim como as outras fontes renováveis (maiores incentivos à produção de fontes renováveis, como eólica, PCHs, solar e biomassa), mesmo que esta represente apenas uma pequena parcela da produção total. Nota-se que o Brasil ainda possui grande potencial a ser explorado.

No documento da matriz energética Brasilieira (páginas 86-90)