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CAPÍTULO 2: O LETRAMENTO NA FORMAÇÃO LEITORA

2.2. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

2.2.4. Produção Escrita

A escrita é uma ferramenta muito valorizada na história da humanidade, pois é por meio dela que se conhece o passado do homem desde sua invenção. Para Cosson (2014 p.16), “a escrita é um dos mais poderosos instrumentos de libertação das limitações físicas do ser humano”. Logo, os seres humanos armazenam os saberes, os quais são acumulados através da produção escrita, e assim, ultrapassam fronteiras e sobrevivem ao tempo, pois quem escreve deixa seu legado às gerações futuras, e assim jamais será esquecido. Isso só é possível por meio dos sinais escritos em algum suporte que é o objeto físico da leitura.

o surgimento da escrita apresenta a intangibilidade, além de estabelecer regras e possibilitar o exercício de poder, ela se constitui em um lugar onde o ser humano consegue criar condições para superar o tempo e, inclusive, as vicissitudes da morte. A escrita pressupõe um leitor com liberdade de movimento (RIOLFI, 2014, p. 115).

O domínio da escrita e leitura exigem habilidades que devem ser adquiridas na alfabetização, bem como outras constituídas pelo processo de letramento. Este compreende as primeiras formas de registros alfabéticos e ortográficos até a escrita independente de textos nos diversos gêneros. Estes estão inseridos nas práticas sociais com a finalidade de atender as especificidades que o contexto demanda.

Na visão de Carvalho e Mendonça (2006), o ato de escrever requer o desempenho de outras habilidades além das já citadas acima, neste sentido as autoras afirmam que:

Saber escrever inclui, também, a capacidade de usar a variedade linguística adequada ao gênero de texto que se está produzindo, aos objetivos que se quer cumprir com o texto, aos acontecimentos e interesses dos leitores previstos, ao suporte em que o texto vai ser difundido, fazendo as escolhas adequadas quanto ao vocabulário e a gramática (CARVALHO; MENDONÇA, 2003, p. 22).

A produção textual é uma prática social que depende do desenvolvimento de múltiplos saberes, principalmente daqueles que se destacam na efetivação dos usos da linguística-discursivas (uso da linguagem nas interações sociais, que se realiza a partir do processo enunciativo). Usos que se estendem a inversões nas frases, inclusões de argumentos, escolhas entre um ou outro recurso linguístico. E ainda, saber adequar fala (escrita) à situação comunicativa que o momento exige, utilizando também uma linguagem específica - formal ou informal – bem como escolher a variedade linguística de acordo ao público que é destinada a mensagem.

No prefácio do livro Cidades Mortas (1919), de Monteiro Lobato, a escritora, Nerides, afirma que “Escrever não é nada mais do que acreditar em si mesmo”. Entretanto, sabe-se que o ato de escrever é um processo complexo, resultado do domínio de recursos linguísticos, organização das ideias colocadas no suporte utilizado, seja no papel ou numa tela do computador e, principalmente de um trabalho bem elaborado com a linguagem, tarefa árdua que se torna oculta o trabalho que na produção de sentidos do texto. Nestes pressupostos Riolfi (2014) afirma que:

O sujeito, ao escrever, precisa rever, corrigir, retirar as repetições e hesitações. Trata-se de um trabalho solitário, persistente e paciente para

com o texto escrito não se limite a um apanhado de palavras soltas no papel (RIOLFI, 2014, p. 120).

Escrever não é um ato simples, fácil ou rápido, mas um processo que requer cuidado devendo ser realizado com reflexão e análise das intenções pretendidas porque a escrita é uma representação da palavra, e esta tem o poder de dizer mais do que se queria transmitir ou ainda de dizer outra coisa distinta do que realmente se intencionava dizer. Nesse sentido, Riolfi (2014, p. 115) assegura que “não há formas seguras e garantias de que em um texto escrito exista somente aquilo que se quis escrever”.

É por isso que é imprescindível saber planejar a escrita de textos dos diversos gêneros desde os anos iniciais de escolarização. Para tanto, faz-se necessário fazer reflexão sobre o tema e seus desdobramentos, de forma que se apresente aos leitores numa sequência bem encadeada e sem contradições. A escrita é uma habilidade que deve ser desenvolvida na escola, primeiramente, antes das crianças dominarem o sistema ortográfico, por meio da oralidade com o auxílio do professor em produções coletivas.

Saber escrever inclui, também, utilizar a variedade linguística conveniente ao gênero de texto em produção, levando em conta os objetivos pretendidos com o texto, os saberes e interesses dos leitores em vista, o suporte de divulgação do texto, fazendo as escolhas apropriadas quanto ao vocabulário e a gramática. É necessário, ainda, saber recorrer aos recursos expressivos adequados ao gênero e a sua finalidade (provocar emoção, encantamento, comoção, humor, persuasão). Essas são capacidades de uso da escrita que devem ser ensinadas e aprendidas na escola, numa ação associada de alfabetização e letramento.

É importante enfatizar que a escrita não é uma representação gráfica da fala. Segundo ressalta Riolfi (2014, p.116), esse “equívoco foi superado há mais de um século, à luz da ciência linguística”. A escrita e a fala são modalidades distintas, uma vez que esta nunca será transcrita na íntegra por aquela, pois as especificidades atribuídas à oralidade são carregadas de gestos, expressões faciais, movimento corporal. Além disso, a voz traz muitas entonações que os recursos gráficos não têm capacidade de registrar esses tons. Por isso, Riolfi (2014, p. 118) sustenta que “falar e escrever são duas ordens distintas de uso da língua”.

Nessa perspectiva, Gnerre (1998, p. 3) afirma que “escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa que falar”, porque na transferência de um relato, por exemplo, para um texto escrito requer uma porção de outras ações com a linguagem, as quais corroboram para indicar que escrever envolve um trabalho com outra ordem da língua. Para Tinoco (2008, p. 95), “a oralidade e a escrita são modalidades opostas; a aprendizagem da escrita está unicamente correlacionada ao desenvolvimento cognitivo”.

Coube à escrita o papel de representante legítima da língua culta, isso ocorre, devido ao valor social que ela desempenha, na história da cultura letrada e a fala foi posta em segundo plano como um subproduto.

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