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Para que o projeto, na edição em que os dados foram coletados, pudesse acontecer, foi utilizada a seguinte metodologia (cf. LIMA, 2016): O Laboratório foi inicialmente desenvolvido e implementado na forma de uma Oficina de Leitura,

Escritura e Reescritura de Artigos de Opinião. Para isso, foi utilizada uma das salas

de informática da UTFPR, Campus Pato Branco, já devidamente equipada com 25 computadores. Além disso, foi utilizado o software Screen Hunter 3.1 que "faz a filmagem da tela do computador, o que permite registrar em vídeo diversos dados, tais como a consulta e leitura de websites na busca de informações e argumentos para compor textos" (LIMA, 2016, p. 06).

Foram empregadas também duas câmeras filmadoras, as quais foram adquiridas por meio do financiamento do CNPq. Além disso, foram selecionados 15 estudantes do terceiro ano do Ensino Médio, de um colégio da cidade de Pato Branco, para participar da pesquisa. Esta pesquisa passou pelo Comitê de Ética em pesquisas com seres humanos e foi aprovada sob o número 79366117.1.1001.5547.

A ideia é, de um lado, oferecer a esses alunos um “curso rápido” de leitura, escritura e reescritura de artigos de opinião nas dependências da Universidade e, de outro, registrar as aulas e a produção desses alunos ao longo do curso respectivamente por meio das câmeras filmadoras e dos softwares, de modo que a pesquisa possa se realizar com o material coletado. O curso será, portanto, na prática, do ponto de vista metodológico, uma forma mais ou menos autêntica de produção de dados para análise e, ao mesmo tempo, do ponto de vista da responsabilidade social imediata, uma contrapartida relevante oferecida aos sujeitos de pesquisa (LIMA, 2016, p. 06).

Diferentemente de outras pesquisas, o projeto não serviu apenas como forma de coleta de dados, mas contribuiu com os estudantes que participaram da formação.

Além disso, segundo Lima (2016), essa Oficina também possui preocupação constante com o ensino, uma vez que, em algumas edições, ela é ofertada para acadêmicos dos primeiros períodos de Letras, os quais, depois de formados nesta oficina, poderão tornar-se ministrantes dessa oficina, tendo, assim, a experiência docente já no início do curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês. Esse foi o caso de muitos acadêmicos desde o início da oferta da Oficina.

A "Oficina de leitura, escritura e reescritura de artigos de opinião” oferecida no primeiro semestre de 2018, que serviu para a coleta de dados desta pesquisa, (cf. LIMA, 2016) funcionou da seguinte forma2:

1) Os professores, Anselmo Pereira de Lima e Letícia Lemos Gritti Lehmkuhl, solicitaram aos alunos uma primeira produção de artigo de opinião, sem que recebessem ajuda ou orientações, com o objetivo de diagnosticar seu grau de desenvolvimento na leitura e na escrita no momento em que iniciaram o curso. Essa produção e todas as demais foram registradas pelo Screen Hunter 3.1; (cf. LIMA, 2016);

2) Os professores fizeram a leitura, correção gramatical e avaliação dos textos produzidos pelos alunos e lhes deram devolutivas e orientações sobre a produção desse gênero do discurso (BAKHTIN, 1979/2003b), com eles discutiram as ideias que foram apresentadas e como defendê-las argumentativamente. A avaliação por parte dos professores foi feita com base nas características do gênero artigo de opinião e nas questões formais ortográfico-gramaticais. Os apontamentos relacionados ao gênero foram feitos em forma de interrogações que levassem o aluno à reflexão. Por exemplo, “Qual a temática deste artigo de opinião?”, “Quais

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As informações sobre o funcionamento da "Oficina de leitura, escritura e reescritura de artigos de opinião” foram retiradas do projeto escrito por Lima (2016).

são os argumentos que embasam a sua opinião?”, “Qual o ponto de vista oposto à sua opinião?”, "Em quê esse ponto de vista se opõe ao seu?", "Estes argumentos provam seu ponto de vista?" etc.

Devemos salientar que houve conformidade entre os professores ministrantes que a avaliação seria no sentido de orientação dos alunos para uma reescritura, sem atribuição de uma nota. Os textos foram avaliados por um dos professores de forma aleatória, sendo que os dois efetuaram avaliações, mas em versões distintas. As sugestões de reconstrução do texto foram feitas na própria folha impressa, por meio de legendas, anotações, orientações e sugestões ao lado do texto. Além disso, algumas correções foram feitas no próprio texto, circulando e marcando usos linguísticos inadequados. Houve, também, orientações verbais através de esclarecimento de dúvidas em sala, os alunos já em poder do texto impresso e corrigido consigo durante as reescrituras. Essa e todas as outras aulas foram filmadas (cf. LIMA, 2016).

3) No encontro seguinte, foi apresentada,

como proposta orientadora, uma estrutura composicional de artigo de opinião que contenha seis parágrafos: no primeiro, apresenta-se uma temática polêmica da atualidade juntamente com um ponto de vista ou posicionamento frente a ela; no segundo, terceiro e quarto parágrafos devem-se apresentar argumentos que sustentem e defendam a opinião apresentada; no quinto, leva-se em consideração – por meio da contra- argumentação – o ponto de vista oposto e seu argumento central; finalmente, no sexto parágrafo, apresenta-se uma conclusão geral do texto; (LIMA, 2016, p. 07).

4) Os alunos foram orientados a definir um assunto polêmico atual sobre o qual desejariam produzir um artigo de opinião; fazer o levantamento de, no mínimo, três textos de jornais, revistas, blogs etc., que estejam ligados à temática selecionada, e lê-los reflexivamente; formular um projeto de texto que contenha brevemente a especificação da temática – ponto de vista, argumentos, ponto de vista contrário e conclusão; discutir, avaliar e ajustar em grupos os projetos de textos realizados; escrever e reescrever os textos arquitetados seguindo orientações; produzir um texto final com novo tema, sem receber novas orientações, como diagnóstico do curso, a fim de que possamos verificar o novo nível de desenvolvimento (VIGOTSKI, 2001; 1989) dos alunos em comparação com o nível inicial diagnosticado (cf. LIMA, 2016).

O curso teve uma duração rápida, com carga horária de 21 horas, divididas em sete encontros, e foi realizado às sextas-feiras durante os meses de abril, maio e junho de 2018, como pode ser visto resumidamente no cronograma a seguir.

Quadro 1 – Cronograma do curso de extensão "Oficina de leitura, escritura e reescritura de artigos de opinião”

1° encontro

20/04/2018 14h30min às

17h30min

Apresentação do Curso; orientações para escolha de temática; produção

de textos diagnósticos. 2° encontro 27/04/2018 14h30min às 17h30min

Devolutiva das produções diagnósticas (troca de textos com os pares) e instruções sobre a estrutura

do texto. 3° encontro 04/05/2018 14h30min às 17h30min

Continuação das instruções para produção do texto, norma padrão,

coesão e coerência. 4° encontro 11/05/2018 14h30min às 17h30min

Retorno dos alunos com textos que tratem das temáticas; orientações para produção de projetos de texto e

produção dos projetos de texto.

5° encontro

18/05/2018 14h30min às

17h30min

Devolutiva dos projetos de texto, discussão, avaliação e ajuste dos

projetos de textos. 6° encontro 25/05/2018 14h30min às 17h30min

Primeira produção de textos em sala e entrega ao final da aula.

encontro 01/06/2018

Leitura e discussão coletiva dos textos

Fonte: Oficina de leitura, escritura e reescritura de artigos de opinião, 2018.

Durante o primeiro encontro, os articulistas receberam informações sobre o curso, escolheram a temática do texto e produziram sua primeira versão do artigo de opinião sem contar com a ajuda dos professores. Apenas pesquisaram na internet

para sanar suas dúvidas. Na sequência, os professores corrigiram essa primeira versão e devolveram no segundo encontro.

Após as devolutivas dos professores, os alunos trocaram seus textos entre si e puderam colaborar uns com os outros, sugerindo quais aspectos do texto precisavam de mais atenção, especialmente os relacionados à estrutura do artigo apresentada pelos ministrantes do curso: ponto de vista, três argumentos, ponto de vista oposto e conclusão. Não foram feitos registros da avaliação dos pares. Além disso, receberam orientações sobre a estrutura do texto que foi citada acima: apresentação do tema polêmico e da opinião, argumentos, ponto de vista oposto e conclusão, distribuídos em seis parágrafos. Outro ponto importante desse encontro foi a diferenciação feita entre opinião e argumento, pois é necessário utilizar argumentos para comprovar a opinião.

No terceiro encontro, os alunos continuaram recebendo orientações de seus professores sobre norma padrão, coesão e coerência. Algumas das orientações dadas sobre a norma padrão foram: organização de parágrafos e sentenças, redução das sentenças que estavam extremamente longas, uso do ponto final em cada término delas e uso de letra maiúscula no início das sentenças, redução da repetição, falta de acentos gráficos, espaçamento de parágrafos etc. No que diz respeito à coesão e coerência, a aula versou sobre o clássico sobre esse tema; elementos linguísticos clássicos de coesão entre palavras, sentenças e parágrafos, tais como conjunções, preposições, pronomes possessivos, e afins, assim como questões de elucidação quanto à progressão temática. Em relação à coerência, a aula também versou sobre o padrão no assunto; a questão do sentido e de sua relação coerente entre as ideias presentes no próprio texto e extratextualmente com o mundo em si.

Fez-se indispensável levantar tais questões, pois, mediante as avaliações, viu-se a necessidade da abordagem específica destes que foram, em geral, os pontos comuns mais problemáticos dos textos dos alunos. Assim, quando se produz um texto a partir dessas orientações, busca-se seguir a norma padrão, mas o que normalmente ocorre é a produção da norma culta, ou seja, ensina-se uma codificação relativamente abstrata para o sujeito, mas ele produz um conjunto de fenômenos linguísticos que variam e são usados por pessoas escolarizadas em momentos de produção escrita monitorada, assim como ocorre na Oficina.

No quarto encontro cada aluno produziu um projeto de texto abrangendo as estruturas trabalhadas na aula anterior, mantendo o tema polêmico da primeira produção. Assim como em outros encontros, os alunos também puderam usar a internet como fonte de pesquisa.

Os alunos não tinham acesso a versões antigas de encontros anteriores, somente o texto impresso escrito no encontro anterior e que foi corrigido extraclasse pelos professores, não podendo editar o próprio arquivo em Word, mas sim digitar tudo novamente.

No quinto encontro os alunos receberam mais uma devolutiva dos projetos produzidos e continuaram fazendo alterações para adequar seu texto às características do artigo de opinião.

No sexto encontro os alunos puderam produzir um novo texto sobre outro assunto polêmico para demonstrar se haviam dominado a produção do artigo de opinião.

Por fim, no sétimo encontro, os alunos puderam socializar seus textos com os colegas e discutir sobre cada um deles e suas experiências de aprendizagem.

O curso foi ministrado pelos professores doutores Anselmo Pereira de Lima e Letícia Lemos Gritti Lehmkhul que atuam na UTFPR – Câmpus Pato Branco – os quais idealizaram e executaram o projeto do curso. Os cursistas foram alunos do terceiro ano do Ensino Médio de um colégio estadual da cidade de Pato Branco. Esses agentes foram fundamentais para a realização do curso e para o desenvolvimento desta dissertação. Ao todo, quinze alunos iniciaram o curso, mas somente oito concluíram e dois participaram de todas as etapas do trabalho. Eles produziram cinco versões do mesmo texto e foram os únicos a participar de todas as etapas do curso, por isso, foram selecionados para a análise de dados.