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6.3 Produção Primária das Macrófitas Aquáticas

6.3.2 Produção primária de U breviscapa

Foi observado que na lagoa do Óleo, U. breviscapa encontra-se, via de regra, nas margens, enredada em outras espécies de macrófitas submersas, como E. najas ou nas raízes de E. azurea, Polygonum sp., Scirpus cubensis e Ludwigia inclinata, sendo incomum encontrá-la isolada. O mesmo comportamento foi verificado para U. gibba na lagoa Dourada (SP) (Pompêo e Moschini-Carlos, 1997).

Os estudos que abordam a produção primária de Utricularia são escassos e apresentam muitas vezes metodologias e tempos de incubação distintos. Dentre esses trabalhos, Menezes (1984), estudando a produção primária de U. breviscapa na represa do Broa, verificou taxas mais elevadas de PPL e PPB na primavera e verão, períodos em que a precipitação, temperatura, intensidade luminosa e vento são mais pronunciados, porém não detectou qual fator exerceu maior influência sobre essas taxas. Em experimento realizado em um rio de águas pretas da bacia do rio Itanhaem (SP), foi constatado que a PPL e PPB de U. foliosa foram mais elevadas na primavera e mais reduzidas no inverno (Assumpção, 2001).

Os resultados obtidos neste estudo confirmaram observações feitas em experimentos de curta duração (Petracco et al, submetido), nos quais U. breviscapa apresentou taxas mais elevadas de fotossíntese líquida no período

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chuvoso, estando relacionadas com a elevação do carbono inorgânico neste período. Nesse contexto, ressalta-se que há registro de que U. vulgaris possua elevado requerimento de CO2 para o crescimento, o que torna esta espécie mais

sensível ao enriquecimento de CID da coluna d’ água (Adamec, 1995).

A produção primária de U. breviscapa da lagoa do Óleo apresentou variação sazonal evidente, com taxas mais elevadas no período chuvoso. Considerando que para essa espécie a radiação não se constituiu em fator limitante, uma possível explicação é que no período seco, quando as concentrações de nutrientes e a temperatura são mais reduzidas, pode haver inibição do processo fotossintético. Moeler (1980), acompanhando o crescimento sazonal de U. purpurea relacionado à estratificação térmica de um lago oligotrófico, concluiu que esta espécie é intensamente limitada pelas baixas temperaturas se comparada a outras angiospermas submersas. Na lagoa do Óleo, U. breviscapa foi encontrada apenas na superfície, podendo ser em decorrência da elevada estratificação térmica verificada neste ambiente (Figura 15). Na lagoa Dourada, U. gibba foi encontrada em diferentes profundidades e os experimentos de produção primária apresentaram grande variação em função desta variável, sendo que os valores mais elevados de PPL e PPB foram observados na faixa de 2 a 4 metros; os valores mais reduzidos obtidos na superfície foram atribuídos à fotoinibição, devido à elevada intensidade

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obtiveram valores entre 1,0 e 6,4 µgC mg PS-1 h-1; Menezes (1984) entre 0,25 e

5,64 µgC mg PS-1 h-1; Assumpção (2001) entre 1,35 e 7,66 µgC mg PS-1 h-1. Uma

provável explicação pode ser os diferentes procedimentos adotados, principalmente o tempo de incubação, que foi de uma hora neste estudo, três horas em Pompêo e Moschini-Carlos (1997) e quatro horas Menezes (1984) e Assumpção (2001). Em laboratório Pompêo e Moschini-Carlos (1997) verificaram que os maiores valores de PPL e PPB foram observados em períodos de menor exposição. Por outro lado, é possível que as condições bióticas dessa lagoa do Óleo favoreceram o crescimento dessa espécie, tendo em vista que o ambiente foi classificado desde oligo até eutrófico.

O gênero Utricularia é uma planta submersa livre que não possui raízes, porém seu hábito carnívoro parece suprir a deficiência de nutrientes do meio, principalmente nitrogênio que assimila da digestão de suas presas, podendo desta maneira ser encontrada em ambientes oligotróficos (Menezes, 1984, Barbieri, 1984). Moeler (1980) observou que a absorção de nutrientes como N, P, K, Ca, Mg e Na em U. purpurea é sincrônica com a produção de biomassa. Os estudos desenvolvidos na represa do Broa inferiram que a produção primária de U. breviscapa seja limitada por outros nutrientes trazidos por precipitação e drenagem, ou suspensos do sedimento durante a época de maior precipitação e ventos (Menezes, 1984).

Os modelos elaborados neste estudo relacionaram positivamente a produção primária de U. breviscapa com as concentrações de ferro na água. O ferro é utilizado na síntese de clorofila, metabolismo basal e no metabolismo do

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nitrogênio, sendo acumulado principalmente nas folhas das plantas (Larcher, 2000). Foram encontrados poucos trabalhos tratando de aspectos fisiológicos relacionados ao crescimento e especificamente em relação à produção primária do gênero Utricularia, porém, no estudo desenvolvido por Pringsheim e Pringsheim (1962) foram pesquisadas respostas fisiológicas de Utricularia em culturas axênicas. Os autores observaram que nos meios com solução neutra de nutrientes inorgânicos e elementos-traço as plantas apresentaram crescimento restrito, com utrículos pálidos. Quando foi adicionada uma mistura de compostos orgânicos, particularmente peptonas e extrato de carne, as respostas melhoraram consideravelmente, de modo que o crescimento normal e até o florescimento foi alcançado. Em outro experimento, adicionaram cristais de FeSO4.7 H2O e verificaram que o crescimento vegetativo tornou-se muito

melhor, pois as plantas aumentaram de tamanho, permaneceram verdes depois de um mês, com inúmeros utrículos também verdes e continuaram crescendo por muitos meses.

Carigan e Neiff (1992) demonstraram que a produtividade dos humedales fluviais está fortemente condicionada pelo intercâmbio de água com o curso principal do rio. A produtividade primária e a decomposição da matéria orgânica estão reguladas principalmente pelo regime hidrológico que condiciona a velocidade e as condições deste processo (Neiff, 1999). A água no

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minerais na elevação da extensão do pulso de inundação, e a subseqüente permuta destes com a planície de inundação (Prach et al., 1996).

No geral, com base nos resultados obtidos, pôde-se concluir que por ser a lagoa do Óleo uma lagoa marginal, situada em área de preservação (Estação Ecológica de Jataí), as alterações ocorridas nas características limnológicas e bioquímicas desse ambiente sejam decorrências da sazonalidade e/ou do pulso de inundação (sensu Junk & Welcomme, 1990), e que essas alterações influenciam direta (e.g. temperatura) e indiretamente (e.g. disponibilidade de luz e nutrientes) a produção primária de E. najas e U. breviscapa.

Sempre que as gratuidades pousam em minhas palavras

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