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2 FINANCEIRIZAÇÃO, FLEXIBILIDADE E TRABALHO NO CAPITALISMO

2.2 Trabalhos: caracterização do processo atual de transformação da força de

2.2.2 Produtividade, improdutividade, materialidade e imaterialidade no trabalhador

A caracterização do trabalhador bancário que realizamos aqui deve está submetida ao debate já realizado entre materialidade e imaterialidade, produtividade e improdutividade do capital e do trabalho. Este nos ajuda a perceber as intersecções, intercepções, difusões e disfunções. Selegrin (2013), levando em consideração a influencia da globalização neoliberal e do toyotismo na reestruturação bancária, vai nos apresentar dois tipos de bancários: um

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Valquíria Padilha (2000), através de sua obra Capitalismo e Tempo Livre, um par imperfeito, realiza uma esmiuçada pesquisa de autores do chamado trabalho imaterial/tempo livre, a exemplo de autores como André Gorz, Domenico de Masi, Claud Offe, Dumazedier. Realizaremos um debate mais aprofundado sobre a própria concepção de tempo livre, dialogando com alguns desses autores já citados, e outros, no capítulo O Mito da Sociedade do Tempo Livre e a Implicação no Trabalhador Bancário em São Luís do Maranhão.

antigo, que poderíamos definir como fordista, e um novo, que poderíamos chamar de fordista- toyotista.

Como veremos mais adiante, as transformações ocorridas na força de trabalho após a reestruturação produtiva neoliberal ensejaram na categoria bancária um processo de enxugamento de várias funções, algumas sendo delegadas a terceirizadas e outras, extintas. O próprio papel que os sistemas de informação, dos softwares, em geral, vão assumir na estruturação bancária influenciaram no tipo de bancária que emergia dali. Os bancários frutos do enxugamento, da intensificação, da flexibilização e da precarização se encontram em um quadro cada vez mais preocupante, como situações delicadas inclusive no âmbito da saúde.

O banco é o lócus de desenvolvimento da força de trabalho bancária. Por isso, que o debate sobre a caracterização do tipo de trabalho exercido neste setor nos parece um pouco precipitada, principalmente quanto inserida na polarização não dialética entre trabalho produtivo e improdutivo. Como divergimos dessa orientação, de inicio parece acertada a afirmação de Segnini (1998), quando diz que os bancos são serviços produtivos. Ao afirmar isso, nos aproximamos também da afirmativa de Dumenil e Lévy (2010) que afirmam que o trabalho improdutivo age como supervisor do capital, ou seja, está posto na própria dinâmica existencial do núcleo do capitalismo, contribuindo para sua valorização.

Parece-nos que outro debate, sobre materialidade e imaterialidade do trabalho bancário, tem assumido uma importância tão relevante, que a dimensão do trabalho coletivo é esquecida. Como já analisamos nesta pesquisa, a análise do que se chama de trabalho material e trabalho imaterial só tem relevância significativa se, e somente se desconectar da visão antagônica entre tais categorias. O estudo da expressão material e imaterial da produção não deve anular a totalidade que se encerra na própria força de trabalho, e não fora dela.

É bem verdade que o debate fomentado atualmente tem uma riqueza incalculável por permitir que mesmo que situemos o bancário dentro do que se chama de trabalho improdutivo, já que o mesmo não está diretamente ligado à produção de valor, isto não decreta que o mesmo é improdutivo para o capital, já que o bancário tem papel chave na sua valorização do mesmo. Outra questão importante é perceber que mais do que nunca se exige do bancário conhecimentos dos mais diversos, algo caro para aquilo que se define por capital imaterial - que não é o irmão bom do capital material e nem seu antagônico.

Como descreveremos mais adiante, a reestruturação bancária neoliberal impactou profundamente no tipo de bancário que se exige. A natureza multifacetária das atividades fins conduz a uma alteração tanto no sujeito social dentro da agência, quanto fora dela. O conhecimento e as tecnologias de informação que se constituem como chave em algumas

áreas, tem se tornado cruciais nas transações e tarefas executadas. Mais do que antes, ao novo bancário é exigido uma dimensão mais complexa de tarefas e obrigações.

O trabalhador bancário, como expressão do trabalho improdutivo, por não gerar valor, e implicado ao trabalho chamado imaterial cada vez mais devido ao desenvolvimento informacional e tecnológico, é uma síntese interessante, já que o mesmo é essencialmente produtivo como agente direito entre o banco e produtor, mesmo não gerando valor diretamente. E mesmo que tenhamos de concordar que há uma diminuição numérica de bancários – que não tem similaridade com o seu fim, como aponta Aznar (1995) –, estes mortos anunciados não deixaram de continuar a assumir um papel crucial, tanto é que geralmente uma greve de bancários tem como tendência demorar menos por causa da pressão que gera na sociedade, principalmente para o capital.

Em sua atividade funcional o bancário exerce importância não só na forma do Estado atual, mas na própria Forma-Estado27. É na circulação, por exemplo, que se pode

perceber o importante papel do trabalhador bancário. Aliado essencial da burguesia industrial, a burguesia bancária permite que a força de trabalho e meios de produção se manifestem na circulação, na forma capital-dinheiro. (SANTOS, 2013). Como bem aponta Marques e Nakatani, (2009, p. 28)

O dinheiro é capital devido à sua conexão com o movimento total do capital: é na forma dinheiro que se inicia o processo capitalista de produção, quando um empresário compra máquinas, matéria-prima e emprega mão de obra para dar início ou prosseguimento à produção de mercadorias [...]

Os trabalhadores bancários ao serem submetidos à ordem que concretiza os valores de troca e viabilizam a apropriação dos valores excedentes pelo capital, contribuem assim para que o capital se constitua como importante produtor de juros. (JINKINGS, 1996). Estes trabalhadores estariam dessa forma fundamentados em um processo fetichizado de dinheiro gerando dinheiro. (JINKINGS, 1996), ou seja, que a centralidade de suas atividades “[...] se dá na transferência de valores, e assim posta, exerce uma função mediadora [...]”. (SELEGRIN, 2013, p. 59)

Como categoria da classe trabalhadora que primeiramente obteve uma redução da jornada oficial do trabalho, o bancário estaria em uma condição privilegiada, e certamente deveria ser usado como parâmetro para a confirmação das teses do tempo livre e do aumento

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Farias (1999, p. 28/9), afirma que “O Estado é um movimento de totalização e de concretização que se situa no tempo e no espaço; é um silogismo que se compõe de três termos: a forma-Estado (generalidade), a forma de Estado (particularidade) e a forma do Estado (singularidade) [...]”.

revolucionário do trabalho autodeterminado, um mundo onde o poder da mercadoria estaria com seu tempo contado. De acordo com a literatura marxiana e marxista, “uma das peculiaridades do trabalho bancário é o seu objeto: a mercadoria-dinheiro [...]”. (JINKINGS, 1996, p. 17), e o mundo em voga é justamente onde esta mercadoria-dinheiro tem ganhado cada vez mais força.

A partir desses entendimentos tentaremos refletir de que forma este mundo da mercadoria-dinheiro se estruturou no Brasil e como o sistema financeiro brasileiro esteve intimamente ligado ao fortalecimento da fração industrial, agindo assim, com suas diferenciações, em conjunto. E, na medida do possível, demonstrar que sem o papel vanguardista do Estado, tal fração não se estruturaria e nem expandiria.