• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4. DINÂMICAS ECONÔMICAS E SOCIAIS DE GUIRICE-

5.2 Produtores e a continuidade da atividade agropecuária

O propósito desse subitem é delinear a trajetória da atividade leiteira dos produtores pela dinâmica da atividade leiteira nas propriedades investigadas nos últimos anos e pela expectativa dos pecuaristas sobre a produção de leite nas propriedades nos próximos anos. Os principais problemas relacionados à atividade leiteira nesses locais são identificados pelos respectivos produtores.

Segundo os produtores, nos últimos anos o número de cabeças de gado em suas propriedades aumentou para 47% dos produtores de Ubá e para 18% dos produtores de Guiricema (Tabela 10). Para os demais produtores, o rebanho teria se mantido constante ou diminuído. Desta forma, a perspectiva promissora da exploração leiteira foi maior entre os produtores investigados no Município de Ubá. Não houve, contudo, diferença nesse aspecto entre os residentes “perto” e “longe” das cidades-sede dos municípios.

Tabela 10. Variação no tamanho dos rebanhos das propriedades nos últimos anos, segundo os produtores.

Guiricema Ubá Total Perto Longe Total

Propr % Propr % Propr % Propr % Propr % Propr %

Aumentou 3 18 7 47 10 31 4 34 6 30 10 31

Manteve-se 14 82 6 40 20 63 7 58 13 65 20 63

Diminuiu 0 0 2 13 2 6 1 8 1 5 2 6

Total 17 100 15 100 32 100 12 100 20 100 32 100

Fonte: Dados dessa pesquisa.

A Tabela 11 acrescenta informações a essa inferência. Isto é, apenas um produtor está disposto a parar de produzir leite entre os entrevistados em Ubá. Este dado corrobora a inferência anterior sobre a estabilidade e propensão da expansão dessa atividade em Ubá, uma vez que apenas quatro produtores pretendem diminuir a       

9

produção. Esses dados contrastam com os investigados no Município de Guiricema, pois três produtores pretendem parar com a produção de leite e 10, em 17, pretendem aumentá-la.

Comparativamente, os produtores de leite investigados nos dois municípios não apresentam tendências distintas de evolução e nem de estagnação da atividade. A comparação em termos da distância da propriedade em relação à sede municipal mostra que a disposição de diminuir ou parar a produção é maior entre os produtores residentes “longe” da cidade-sede (35%), em relação àqueles residentes “perto” (8%). Deduz-se dessas evidências que há elementos nos locais distantes das sedes municipais que desestimulam a continuidade do trabalho com pecuária de leite.

Tabela 11. Tendências sobre a atividade leiteira por localidade de residência.

Guiricema Ubá Total “Perto” “Longe” Total

Disposição do

produtor Freq % Freq % Freq % Freq % Freq % Freq %

Aumentar a produção 10 59 6 40 16 50 6 50 10 50 16 50 Manter a produção 4 23 4 27 8 25 5 42 3 15 8 25 Diminuir a produção 0 0 4 27 4 12,5 0 0 4 20 4 12,5 Parar de produzir leite 3 18 1 6 4 12,5 1 8 3 15 4 12,5 Total 17 100 15 100 32 100 12 100 20 100 32 100

Fonte: Dados dessa pesquisa.

A decisão de reduzir ou parar a produção de leite, na opinião dos produtores dos dois municípios, estava associada à mão-de-obra escassa e de alto custo (onze citações), baixo preço do leite (quatro citações), falta de recursos financeiros para investimentos (duas citações), idade do produtor (duas citações) e tamanho reduzido da propriedade (uma citação). Não há, nesta pesquisa, informações suficientes para testar todas estas variáveis que interferem na disposição de aumentar, manter, diminuir ou parar de produzir leite. No entanto, testou-se a correlação entre a idade do produtor e estas disposições (Figura 14).

Para o futuro você pretende parar de produzir leite diminuir a produção de leite manter a produção de leite aumentar a produção de leite Idad e do pr od utor 80 70 60 50 40 12 18

Figura 14. Correlação entre idade do produtor e a disposição em aumentar, manter, diminuir ou parar de produzir leite.

Na Figura 14, a amplitude (tamanho da caixa) e a mediana (traço central dentro da caixa) das idades em cada grupo de disposição dos produtores não mostra diferença estatística significativa entre estes grupos. Assim, não ficou evidenciada a correlação entre a idade e a disposição dos produtores em aumentar, manter, diminuir ou parar de produzir leite10. Ou seja, os planos de continuidade na atividade leiteira pelos produtores independiam do fato de serem jovens ou idosos. Tampouco houve correlação entre estas disposições com o tamanho total das propriedades11, outra variável relacionada com as disposições dos produtores, empregada como justificativa para reduzir a produção de leite. Em outras palavras, não se pode inferir, por exemplo, que nas pequenas propriedades estariam os produtores com maior disposição de reduzir ou parar de produzir leite.

Recorrendo aos comentários de produtores que pretendem parar com a atividade leiteira, é possível qualificar as informações da Tabela 11 e Figura 14. O primeiro (tem 51 anos) disse: “Meu filho saiu... tá sujeito mais tarde até parar (de produzir leite)... a gente vai cansando... mão-de-obra tá muito difícil, não tá tendo gente pra trabalhar.” O segundo e o terceiro produtores (com 63 e 55 anos de idade):       

10

Correlação entre a idade e a disposição dos produtores em aumentar, manter, diminuir ou parar de produzir leite: r = 0,189, p = 0,299.

11

“Não tá dando resultado. Leite a cinquenta centavos! Tá todo mundo acabando com o gado... nem pode dar ração.” “Não tô satisfeito. Um homem tem coragem de pedir trinta reais por dia [para trabalhar como diarista]! Sessenta litros de leite para pagar um dia de um homem! Temos que ficar arrebentando de trabalhar sozinho. As coisas da roça não têm valor.” O quarto produtor (de 64 anos) também atribuiu à baixa rentabilidade da atividade (em função do alto valor do adubo e da ração para vacas) e à falta de mão-de-obra como motivos para encerrar a atividade leiteira.

A falta de mão-de-obra e o baixo preço do leite foram os argumentos mais recorrentes entre os produtores para reduzir ou deixar a atividade leiteira. Ubá se destacou como o município onde o rebanho mais teria aumentado nos últimos anos, segundo a opinião dos produtores. De fato, entre 1990 e 1996 houve o crescimento do rebanho e da produção em Ubá, corroborando os dados do IBGE apresentados na Figura 10. O desestímulo com relação à atividade leiteira esteve mais evidente no grupo procedente de “longe” das cidades-sede dos municípios, tema que será ressaltado no subitem seguinte.